A arte passou por um processo de espiritualização e conscientização no período atual e assumiu uma vasta diversidade atuando como expressão da linguagem visual. Trata-se da arte em atíntese à comercial e consumista que abunda na atualidade. Destacamos alguns artistas da Região do Cariri, região Sul do Ceará, também bastante conhecidos no meio artístico e em toda a sociedade local. Eles possuem marcas históricas reconhecidas no exterior, sendo ainda muito pouco valorizados na própria pátria.
Dois artistas representam com bastante mérito a linguagem visual na região do Cariri, no Sul do Ceará, na cidade de Juazeiro do Norte, são Luis Karimai e seu “discípulo”, parceiro e amigo, Petrônio Alencar. Estes dois grandes artistas buscaram difundir um “jovem impulso” de querer uma arte transformadora da sociedade, no sentido “mais raso da coisa”. Com a sabedoria de Karimai e Petrônio, que deram aulas de postura artística, de conhecimento estético e de consciência de linguagem, recebemos uma grande contribuição nesse tipo de linguagem.
Luís Karimai e Petrônio Alencar [1]Falaram sobre a arte e os problemas por ela enfrentados na região do Cariri cearense, em entrevista a Reginaldo Farias, na edição 28 d’O Berro, em abril de 2000. Os artistas falam sobre a necessidade que o povo tem de se alimentar de arte e qual a função desta, qual o papel das artes plásticas nesse ramo por aparentar ser mais afastada do popular.
Karimai afirma que a arte tem função de reflexão, de fazer com que elementos que não são claramente definidos pelo discurso formal possam ser entendidos pelo sentimento, e por intuições que são sentidas. Ele diz que ela faz com que eclodam nas pessoas sensações de harmonia, reflexão, meditação e de provocar o que ele considera como belo, com o sentido de fazer com que as pessoas se elevem no comportamento e no sentimento. O pensamento de Karimai reforça as análises feitas nos capítulos anteriores, pois ele afirma que existem muitas artes que levam as pessoas ao prazer ou à alienação, ao discurso panfletário, doutrinário, e cita como exemplo as artes plásticas da Rússia no período da Revolução e na instalação do regime Comunista. Ele completa ainda que a Arte Plástica em geral não seja apenas um apelo visual, pois leva ao entendimento de coisas que ficam dentro da alma dos indivíduos, gerando meditações que fazem com que o espectador vislumbre possibilidades que não tinha pensado ainda. Diz que é uma abertura de posicionamentos, de entendimentos e de raciocínios.
Petrônio Alencar completa o pensamento de Karimai afirmando que o homem sente a necessidade da arte desde a pré-história, quando pintava e desenhava nas cavernas a sombra de animais que eram abatidos em caças, e estes desenhos participavam de um ofício religioso. Diz que Durante muito tempo a arte teve seu papel religioso, um papel político também, mas com os romanos ela passou a ter um caráter mais estético, para apreciar a arte por si mesma, apreciar o belo.
Karimai fez um posicionamento bastante interessante a respeito de Salvador Dali, ele diz que o mesmo afirma que pintaria uns moluscos que, apesar de serem conhecidos pela ciência, mostraria um lado desconhecido que a ciência ainda não teria condições de perceber e este conhecimento novo de algo já conhecido seria através das relações de cores e de formas. Diz que a arte é uma forma de conhecimento de vanguarda, ou seja, que possui a possibilidade de fazer novas descobertas sobre aquilo que pensamos conhecer.
No decorrer da história o artista teve um papel religioso, depois a importância era a cor, a luz, a forma e em outro momento só o interior do artista era importante. O artista contemporâneo possui um papel sócio-político e Karimai juntamente com Petrônio Alencar, na sociedade caririense, formaram um grande marco transformador com as idéias que transmitiram, principalmente por suas grandes influências na sociedade, especialmente no Cariri. Eles compreendiam perfeitamente a responsabilidade que o artista tem sobre a obra que produz. Essencialmente verificamos que a mídia se ocupa basicamente da arte, quer seja música, dança, teatro ou cinema. Todo o universo que rodeia o ser humano contemporâneo é preenchido pela arte em geral. É grande a responsabilidade, talvez muito mais que a dos políticos e dos economistas. Mas esta presença constante e, muitas vezes, massiva da arte na vida das pessoas não é percebida de uma forma consciente pela população, que acaba também sendo manipulada.
Segundo Alencar, esta questão é muito discutida, é muito cheia de oposições. Alguns acham que sua obra deve estar a serviço da transformação da sociedade e outros acham que não. O artista deve fazer o seu trabalho independente de qualquer luta social e política, mas durante toda a história encontramos sempre os dois segmentos. O artista deve participar das transformações da sociedade. Tendo importância na história da arte faz geralmente um trabalho de vanguarda, então ele deve fazer esse trabalho de conscientização. Não que seu trabalho deva virar panfletário, mas deve contestar a sociedade em que vive. Isso não é sem fundamento, porque a sociedade tem muitos erros, muitos vícios, precisa ser transformada. Não se trata de todos retratarem sempre a luta política.
[2]Desenho de Karimai
[3]Pintura de Karimai
Também existe uma grande influência da sociedade sobre o artista. Na música, por exemplo, são poucos os que se arriscam a “ir na contramão” de uma “sociedade com os valores perdidos”. Não que o artista deva viver “na contramão” da sociedade. Os artistas não estão mais fazendo uma obra de vanguarda, acabam produzindo aquilo que as pessoas querem consumir no momento, não estão mais preocupados em fazer uma revolução na arte. Nesse sentido acabam perdendo a qualidade de artistas e se transformam apenas em “fabricantes de peças”. Contestamos isso, porque ele deve ser legítimo em seu ato de criação e a criação deve ser sagrada, intocável. É claro que ele está “antenado” com as suas preocupações mais interiores, também vinculado com o tempo e a sociedade, e nesse sentido se poderia entender que é como andar na contramão do consumismo. Karimai afirma que o artista tem o compromisso em relação a uma nova sociedade, sobretudo com as crianças, que afirma que são as bases onde se deve empregar todo o nosso talento, nossa experiência, para que possamos fazer com que elas conheçam a liberdade e possam manifestar-se livremente.
Petrônio Alencar afirma que a questão da influência e da vanguarda é muito discutível. Primeiramente, porque a vanguarda hoje em dia caminha também para o comercial. Diz que no Cariri é mais difícil porque a gente do interior não tem um contato tão grande com o que se chama arte de vanguarda dentro do cenário das artes plásticas atual. Então, os dois segmentos, tanto na arte tradicional como na de vanguarda, existem segmentos comerciais. Como Karimai cita, aquele que é artista mesmo faz um trabalho que lhe satisfaz como pessoa, que transmite o que quer transmitir e não o que os outros querem ver.

[4]Quadro de Karimai
O artista autêntico é um pouco elitista, principalmente aqui no interior, onde não há museus, espaços para as pessoas de um nível social mais baixo ter acesso a esta arte. Então, quanto à arte autêntica, há uma preocupação de levá-la para um nível social onde as pessoas possam ter acesso. Na verdade o povo faz arte e sempre fez em todos os momentos. Karimai expõe que a arte não existe apenas nos salões e nos templos da contemplação artística, que esse é um preconceito que a sociedade, sobretudo as elites têm em relação ao povo. Pois não reconhecem que a arte do povo seja arte. Quando esta mal ocupa a mídia não tem o devido reconhecimento. Se fosse sempre assim, nós não teríamos Patativa do Assaré, não teríamos essa recriação do popular, sobretudo em Juazeiro do Norte. O popular que é “endeusado como primitivo” também deve buscar transformações, sua espontaneidade deve conhecer algo mais, porque a arte não tem fronteiras. Muitas vezes parte dos intelectuais, dos chamados de vanguarda, recomendara aos xilogravuristas que não tentem outras formas de artes plásticas. Todavia, a pessoa não tem que ficar preso a uma única forma de arte, ser o que chamam “artista popular”, porque isso se torna uma grande miopia.
[5]Padre Cícero Por Petrônio
[6]Cartoom de Petrônio
Segundo Petrônio Alencar, falar em arte de elite e arte popular é algo perigoso, que na época de Stálin, ele decidiu que abstracioninsmo, expressionismo, surrealismo e outras correntes eram artes de elite e o que o povo entendia, o popular, era o realismo. Mas o que acontece é que as pessoas não têm contato com a arte. Então, aquilo que se desconhece geralmente se rejeita. O problema é falta de espaço, de incentivo e de uma programação adequada para o povo entrar em contato com arte. Ela só é elitista no fato de que só quem pode comprar um quadro são as pessoas que têm um poder aquisitivo maior. Tudo dependeria do esforço do setor público de levar essa arte. É difícil para um artista fazer sua exposição, porque gasta-se muito com emoldurações, transportes para os trabalhos, algumas vezes até com aluguel do espaço.
Karimai argumenta que a presente geração foi bem contemplada em Juazeiro do Norte, porque ele, Petrônio, Lurdinha e Zé Lourenço ensinaram arte para as novas gerações, sem que as pessoas tenham a dimensão da importância desse trabalho. Acrescenta que se mais artistas partirem para esse tipo de ensino — não que isso seja como um emprego de professor de arte, mas que seja o engajamento de cada artista em um setor, pois temos instituições que trabalham com crianças abandonadas, crianças de rua, e precisamos passar a essas crianças a superação das suas condições —, é nesse sentido que a arte tem o seu papel de transformação, de mudança, e que não podemos colocar eternamente sobre as costas do poder público essa responsabilidade, cabe a nós também como educadores.
Petrônio discorda de Karimai quanto ao poder público, pois acha que ele tem um papel muito importante na arte, e que constitui a principal barreira enfrentada pelo artista na região. São poucas as empresas que se habilitam a cooperar com a cultura da região, então o setor público tem um papel fundamental nesse momento. O Governo Tasso Jereissatti reduziu muito o investimento em arte e cultura, principalmente na nossa região. Em Fortaleza há o Instituto Dragão do Mar e em Juazeiro não existe nem a “Lagartixa do Sertão”, pelo menos para cobrir um pouco essa brecha. Então, se preocupam em fazer uma torre com mais de cem metros de altura (Luzeiro do Nordeste, de Juazeiro do Norte), que aparentemente não possui nenhuma utilidade, e as prioridades são esquecidas. Tem também o Museu Vivo do Pe. Cícero, revitalização do Horto, mas, que mais parece o “Museu Morto do Pe. Cícero”, o Museu que fica na casa onde morreu o Padre Cícero, na Rua São José, que não possui atividades, nenhuma reforma ou reestruturação. Os artistas deveriam se unir mais, ter mais consciência política e atuação.
[7]Tela de Luiz Karimai
[8]Patativa do Assaré por Karimai
Karimai expressa que teve grande desencanto com a política, que acredita mais em si mesmo e que não nega a responsabilidade do poder público como contestado por Petrônio, mas afirma que o desencanto leva a procurar outras saídas que existem, desde que se empenhe e tome coragem para se unir a outros artistas. Afirma que o que falta é trabalhar mais, ir à luta. Completa seu pensamento afirmando que o certo era que tivéssemos um reconhecimento do quanto os artistas populares, eruditos, cantadores, o Reisado, os artesãos, já fizeram pela cidade de Juazeiro do Norte, pela sociedade em geral. O quanto o Mestre Noza é reconhecido, Ciço do Barro Cru e tantos outros artistas anônimos que não tiveram respaldo. São muitos artistas que estão trabalhando e procurando elevar o nome de sua cidade. O que seria de Assaré se não fosse Patativa?
Quanto à união dos artistas, já existe uma Associação de Artistas (AMAR), a Casa da Gravura, mas o que se vê é o afastamento de muitas pessoas. Durante as décadas de 60, 70 e 80, tivemos uma forte manifestação política por parte da juventude, dos artistas. Muitos que estavam engajados na luta contra a ditadura militar, então existia um inimigo concreto e todo mundo reconhecia e se dispunha a lutar contra ele. O fim da ditadura militar e outras coisas, como a queda do muro de Berlim, o fim da URSS, diminuiu muito os ânimos, muita gente pensou que o sonho tinha acabado. Esse pensamento faz com que as pessoas abandonem a luta. Vivemos um novo momento, chamado neoliberalismo. Ele até o momento guarda um grande trunfo de desmobilizar toda a sociedade. Mas falta uma liderança que leve as pessoas à ideia de que ainda é preciso lutar, inclusive porque o neoliberalismo é um inimigo concreto, na imagem do nosso presidente, nosso governador, nosso prefeito, segundo a visão dos artistas.
As instituições de artistas deveriam organizar melhor o seu planejamento de trabalho. Precisam abrir frentes de trabalho, encaminhar a produção, ter criatividade, não só na obra, mas também no emprego. Se os espaços são poucos, alguma coisa existe e deve-se aproveitar, de forma metódica; e o que não existir cabe aos artistas criar. Alguns artistas procuraram Karimai e receberam a assessoria dele, elaborando projetos e fazendo encaminhamentos, e como um primeiro passo para viabilizar soluções. Determinados artistas do Cariri só conseguiram trabalho porque foram buscar espaço em outras cidades, nas capitais ou no exterior. Karimai foi a Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, levando os trabalhos em suas costas, não somente os seus, mas dos gravadores do Cariri, dos artesãos, tentando “abrir clareiras” e ter reconhecimento fora da cidade que reside. Ele diz: “Ô, meu filho, se você quiser ser artista você tem que fazer isso aí, cair na romaria que a gente faz aí fora, dormindo em que lugar for, comendo um dia e não comendo no outro, ouvindo muito “não” e se deparando com a incompreensão das pessoas.” Assim o artista é obrigado a sair de sua terra para buscar espaço em outro lugar, quando poderia crescer e ter reconhecimento junto de seu povo.
A questão não é estar interessado em que a cultura não ande, é apenas desinteresse, descaso de determinadas camadas. Não se para sequer para pensar que existe a arte, a cultura. Muita gente rica em Juazeiro do Norte que compra quadro ou escultura de fora desta cidade, não compra no local em que vive, na cidade de Juazeiro. Como se os trabalhos da região não tivessem qualidade. O artista tem que pegar seu trabalho e cair no mundo. Todo artista da região tem que fazer isso, ninguém lhe dá apoio no Cariri. Karimai foi o único que fez o contrário, veio para o Cariri. Mas os outros terem que ir para fora é um prejuízo muito grande para a região. O Horto inteiro deveria ser tombado.
[9]Tela de Petrônio Alencar
[10]Infogravura de Petrônio Alencar
A subida, os casarios, a estátua e tudo mais. Esses casarios populares representam uma arquitetura consolidada desde a época da colonização até os nossos dias atuais e que, infelizmente, está havendo uma modificação, também pela questão do azulejo, que a gente compreende, porque isso lembra a tradição portuguesa de colocar azulejo no frontal das casas. Mas com isso nós perdemos uma coisa muito interessante em Juazeiro do Norte, retratado muito nos quadros de Petrônio, pois isso lhe chama muito a atenção.
[11]Desenho de Logomarca de Petrônio


[12]Arte de Karimai
Em Julho de 2010, Juazeiro do Norte e todo o Cariri perderam um dos seus maiores artistas plásticos, Luiz Karimai. Natural de São Paulo, mas em Juazeiro desde a década de 70, onde sua arte ganhou força. Sua arte “impregnou artistas locais, que fizeram laboratório em seu ateliê: Petrônio Alencar, Reginaldo Farias, entre outros. Sua arte viajou o mundo levando um pouco da nossa cultura Heterogênea de uma forma mais Homogeneizada. Assim é que ocorre com todo artista e com todo estudioso em geral que deixa através de suas obras o seu maior legado como herança para a humanidade que é o Conhecimento. E os artistas plásticos escrevem de uma forma direta com materiais mais sofisticados mas com uma linguagem simples e bastante rica ao mesmo tempo. Transcrevendo com suas formas e cores a sua linguagem visual.
Na região do Cariri vislumbramos uma vasta riqueza cultural, onde se desenvolvem e convivem em grande harmonia diversos estilos de arte, especialmente as que compõem a linguagem visual. É de vital importância analisarmos alguns tipos de arte que sofrem grande preconceito e discriminação, sendo taxados como instrumentos de marginalização e de vadiagem por pessoas que não possuem uma compreensão destes tipos de linguagem.
Saulo Romero seria um exemplo do que Karimai considera como arte comercial ou arte copista, que copia imagens de outros autores para fins comerciais sem transmitir uma idéia própria ou pessoal. É bem verdade que na região do cariri é bastante abundante este tipo de arte, porém é necessário destacar que nas obras de Saulo Romero existe um grande diferencial, onde o autor busca destacar os contrastes existentes na região com imagens européias e paradisíacas e isso se torna o seu diferencial.
Nas obras de Saulo verificamos características mais realistas onde ele busca, através de suas obras, causar o impacto da realidade seca do sertão com o sonho do nordestino. Nesse sentido, o mesmo atinge os parâmetros artísticos identificados por Karimai e Petrônio da arte como elemento transformador da sociedade, se preocupando com características sociais e culturais.
[13]Sertão por Saulo Romero


[14]Marinha por Saulo Romero
Em suas obras, Saulo retrata o que o nordestino mais venera que são imagens com excesso de água e que arremetem a uma sensação de vitalidade e bem estar a quem as observa. São figuras que representam a visão do que seria o paraíso para o povo nordestino. A população identificada com tais obras busca o autor para fazer encomendas, vislumbrando as suas figuras que falam por si só com características próprias da personalidade do próprio autor, as quais transparecem livremente em cada traço, em cada pincelada, como se pudéssemos transpassar uma janela para uma realidade completamente diferente da nossa. Uma realidade onde pudéssemos nos separar de tudo aquilo que nos aflige e percebermos que os problemas enfrentados pela sociedade podem ser transformados como uma imagem em uma tela, onde se pode modificar sua composição, suas cores, seu formato e até mesmo sua estrutura, mudando as formas com que pintamos nossa realidade. Neste panorama os pincéis, as tintas, a aguarrás e todas as ferramentas usadas para criar nossa obra de arte são as nossas ações, nossos pensamentos, nossas idealizações e inspirações, enfim, todas as formas de interação com o meio exterior a nós.
[15]Paisagem de Saulo Romero





[17]Paisagem 5 de Saulo Romero
Dentre as obras de Saulo Romero, encontramos Naturezas-Morta, que representam a antítese da fome enfrentada pelo povo nordestino durante as grandes secas e a pobreza que a maioria da população sofre nas camadas mais pobres da sociedade. É uma forma de protesto e de reinvidicação dos direitos humanos, sendo que cada vez que se olha para uma mesa farta, cheia de frutas que nem mesmo são típicas da região se pensa nas diversas pessoas que não têm nem mesmo o que comer em casa, ou mesmo causa uma certa refrescância para tais pessoas que vivem nessa situação. Pessoas que muitas vezes não têm em casa nem mesmo o arroz com feijão típicos do cardápio brasileiro e que sofrem amargas penas pela ausência do poder público, vivendo mazelas do período medieval em pleno século XXI.
[18]Natureza-Morta de Saulo Romero

Não poderia faltar, é claro, a imagem da religiosidade fortemente marcante na região, representada pela imagem do Cristo de Nazaré, que é comum em diversas religiões e seitas religiosas que compõem basicamente a cultura local, mais efetivamente ainda na cidade de Juazeiro do Norte, com grande presença da igreja católica e das tradições religiosas como as romarias.
[19]A Imagem do Criso Por Saulo Romero

Ainda em Juazeiro do Norte, no início do século XXI, houve um grande desenvolvimento da cultura do Hip-Hop, que tem como elementos principais o Rap ou a música, o DJ ou MC ou os cantores, o Breake Dance ou a dança e o Graffiti ou a pintura. Trata-se de um movimento que surgiu nos Estados Unidos no início do século XX para tentar acabar com as gangs que atormentavam a população e promover a paz entre elas com campeonatos que uniam seus quatro elementos. Era uma evolução do Movimento Hippie, instaurado na década de 60 e 70 em diversos países, incluindo o Brasil, com os princípios fundamentais de paz e amor.
O movimento Hip-Hop teve tanto sucesso que se espalhou pelos principais países onde há o sistema em torno da democracia e defesa dos direitos humanos. Porém tal movimento era sempre visto com desconfiança pelas diversas classes sociais e recebia apenas o apoio de jovens que defendiam a causa. Isso porque como era um instrumento de regeneração social, abrigava pessoas muitas vezes viciadas em drogas ou criminoso, que eram acolhidos pelo movimentos para terem uma oportunidade de superação. Porém, a mídia se utilizou também deste movimento para vender seus diversos produtos e tentar alienar os jovens e afastá-los de sua causa original, o que fez com que o movimento entrasse em decadência e que florescesse apenas em algumas regiões. Além disso os jovens também recebiam grande repressão da polícia, sendo julgados como criminosos apenas pelo estilo que se vestiam, reprimindo completamente a liberdade de expressão. Até os dias de hoje um jovem que se vista de tênis, boné, calça e camisa largas e que ande com grandes cordões no pescoço, heranças do Movimento Hippie, são tratados como criminosos, enquanto os maiores criminosos usam terno e gravata.
[20]Graffiti de Índio Tapajó


[21]Graffiti com Tema do Padre Cícero
Este movimento floresceu bastante na cidade de Juazeiro do Norte, onde a formação da cidade com pessoas emigrantes de diversas partes do Brasil e do mundo convivem em paz com sua diversidade cultural. Com a união dos diversos artistas em associações as diversas culturas assumiram intercessões, desta forma, uma se fundia com a outra. É claro que a cidade como qualquer outra convive com diversos problemas sociais e o Graffiti foi abraçado nesta localidade como mais uma ferramenta de transformação e expressão em combate aos problemas sociais.
[22]Graffiti com Tema de Reisado


[23]Graffiti Realista com Tema de Pirata
No que diz respeito a linguagem visual, destacamos o Graffiti como foco de estudo, mesmo a dança do Break sendo também uma expressão de linguagem visual. O Graffiti teve maior difusão em Juazeiro do Norte porque iniciativas privadas de empresas que acreditaram nos ideais do Movimento Hip-Hop apoiaram este elemento que já era considerado como arte por aqueles que o conheciam. A principal empresa patrocinadora trabalhava com telas para o comércio, ou seja, com Artes Plásticas.
Na sua origem o Graffiti surgiu quando diversas gangs marcavam o seu território com seus nomes ou apelidos em forma de sinais que eram reconhecidos pelas outras rivais. O Hip-Hop integrou isso a seus elementos transformando a maneira de uso e transformando em verdadeiros painéis ao ar-livre. A arte passou a se diferenciar da pichação e passou por um grande processo evolutivo. Iniciando com letras chapadas, passando a arredondadas, depois com letras que lembravam montes de espinhos chegando ao que é conhecido como 3D ou 3 Dimensões, uma obra mais realista.
[24]Graffiti em 3D


[25]Graffiti em 3D Metálico
O Graffiti conservou a técnica primitiva de produzir nomes de formas embaralhadas que eram usadas anteriormente para que os autores não fossem identificados ou presos. Com o passar do tempo as formas que tomavam estas letras tomaram composições que lembravam obras de arte abstrata ou surrealistas e aderiam a si diversas imagens e desenhos cada vez mais realistas.
O mais comum do uso do Graffiti era ser usado como forma de protesto para combater as diversas formas de injustiças sociais como a fome e a miséria. Era o grito do jovem frente a opressão política e capitalista que o sufocava e reprimia a um regime mecanicista e consumista onde os bens valiam mais que a vida das pessoas.


Outro tipo de arte bastante comum entre os jovens e que sofre sérios preconceitos da sociedade é a tatuagem usada como expressão da linguagem visual no próprio corpo. A origem da tatuagem está presente nos diversos povos indígenas, os mesmos se pintavam com tintas extraídas de plantas para realizarem seus rituais e para a guerra com outras tribos inimigas. Alguns povos adotaram técnicas para tornar essas pinturas mais permanentes, que iam desde queimaduras com tintas como também picadas na pele com agulhas ou espinhos.
Em algumas culturas dos povos celtas, elas eram usadas para marcar o grau que a pessoa assumia na sociedade e na maioria das vezes estavam ligadas a rituais. Na cultura egípcia tomou maior força com imagens de animais que representavam a mitologia como o escorpião e o escaravelho. Também na cultura chinesa eram feitas com os símbolos orientais da cultura budista. No ocidente se desenvolveu muito mais com a liberdade de expressão que era promovida pelo sistema democrático e liberalista. Começou a perder o seu sentido original ao ser associado ao Movimento do Rock and Roll difundido com Elvis Presley, e mais tarde foi associada a um sentido satânico ao ser aderido pelo Movimento Heavy Metal. Também passou pelo Movimento Hippie e diversos outros se integrando ao Movimento Hip-Hop, mesmo sem fazer parte de seus elementos.
[26]Tatuagem de Bob Marley


[27]Tatuagem de Escorpião
Na atualidade as Tatuagens ou Tatoos são mais comuns no meio jovem, mas também guardam resquícios dos jovens de meados do século XX. Para muitos, representam sinal de revolução ou rebeldia contra um regime ou sistema opressor, mas para outros é uma forma de eternizar algo que gostam muito, prestar alguma homenagem ou mesmo ter sempre perto aquilo que lhes inspira.
[28]Tatuagem com Imagem do Pai


Algumas pessoas chegam aos extremos e acabam tatuando o corpo inteiro ou representando temas anti-religiosos ou anti-sociais, até mesmo pornográficos ou violentos, mas isso também ocorre com os diversos outros meios de comunicação, com esse não seria diferente.


[29]Tatuagem com a Virgem
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