Martinho Lutero
Este ilustre alemão, teólogo e reformador da Igreja, filho de Juan Lutero e Margarita Ziegler, nasceu em Eisleben, uma cidade da Saxônia, no condado de Mansfield, no dia 10 de novembro de 1483.
A posição e condição de seus pais eram originalmente humildes, e a profissão de seu genitor era trabalhar nas minas; porém, é provável que por seu esforço e trabalho ajuntara uma fortuna para a sua família, porquanto, posteriormente, chegou a ser um magistrado de classe e dignidade. Lutero foi prontamente iniciado nos estudos, e aos treze anos de idade foi enviado a uma escola de Magdeburgo, e dali a Eisenach, na Turíngia, onde permaneceu por quatro anos, onde demonstrou as primeiras indicações de sua futura eminência.
Em 1501, foi enviado à Universidade de Erfurt, onde passou pelos costumeiros cursos de lógica e filosofia. Aos vinte anos de idade, recebeu o título de licenciado, e passou logo a ensinar a física de Aristóteles, ética e outros assuntos ligados à filosofia. Posteriormente, por indicação de seus pais, dedicou-se à lei civil, a fim de trabalhar como advogado; porém, foi separado desta atividade devido ao incidente relatado a seguir.
Ao andar certo dia pelos campos, foi lançado ao solo por um raio, enquanto um amigo morreu ao seu lado. Este fato afetou-o de tal modo que, sem comunicar o seu propósito a algum de seus amigos, retirou-se do mundo e enclausurou-se junto à ordem dos eremitas de Santo Agostinho.
Dedicou-se ali à leitura das obras de Santo Agostinho e dos escolásticos; porém, ao vasculhar a biblioteca, encontrou, acidentalmente, uma cópia da Bíblia latina que jamais havia visto antes. Esta atraiu poderosamente a sua curiosidade; leu-a ansiosamente e sentiu-se atônito ao perceber que apenas uma pequena porção das Escrituras era ensinada ao povo.
Fez a sua profissão de fé no mosteiro de Erfurt, após ter sido noviço durante um ano; e tomou ordens sacerdotais, ao celebrar a sua primeira missa em 1507. Um ano mais tarde foi transferido do mosteiro de Erfurt à Universidade de Wittenberg, pois, após a fundação da Universidade, pensava-se que nada seria melhor para dar-lhe reputação e fama imediata do que a autoridade e a presença de um homem tão célebre, por seu grande temperamento e erudição, como era Martinho Lutero.
Em Erfurt havia um certo ancião no convento dos agostinianos, com quem Lutero, que pertencia à mesma ordem, como frade agostiniano, conversou sobre vários assuntos, especialmente a remissão dos pecados. Sobre este tema, este sábio padre foi franco com Lutero, ao dizer-lhe que o expresso mandamento de Deus é que cada homem creia particularmente que os seus pecados foram perdoados em Cristo; disse-lhe ainda que esta interpretação particular fora confirmada por São Bernardo: “Este é o testemunho que o Espírito Santo te dá em teu coração, quando diz: Os teus pecados te são perdoados. Porque este é o ensino do apóstolo, que o homem é livremente justificado pela fé”.
Estas palavras não serviram somente para fortalecer Lutero, mas também para ensinar-lhe o pleno sentido do ensino do apóstolo Paulo, que insiste tantas vezes na seguinte frase: “Somos justificados pela fé”. E, após ler as exposições de muitos sobre esta passagem, logo percebeu, tanto pelo discurso do ancião como pelo conselho que recebeu em seu espírito, o quão vãs eram as interpretações que antes havia lido nos trabalhos dos escolásticos. E assim, pouco a pouco, ao ler e comparar os ditos e os exemplos dos profetas e dos apóstolos, com uma contínua invocação a Deus, e com a excitação da fé pelo poder da oração, deu-se conta desta doutrina com a maior evidência.
Assim prosseguiu os seus estudos em Erfurt pelo período de quatro anos no mosteiro dos agostinianos.
Em 1512, sete mosteiros de sua ordem tiveram uma divergência com o seu vigário geral. Lutero foi escolhido para ir a Roma e defender a sua causa. Naquela cidade, observou o papa e a sua corte, e teve também a oportunidade de contemplar as maneiras do clero, cujos modos precipitados, superficiais e ímpios de celebrar a missa foram severamente por ele criticados. Assim que ajustou a disputa que havia motivado a sua viagem, voltou a Wittenberg e foi constituído doutor em teologia, às custas de Federico, da Saxônia, que freqüentemente lhe ouvia pregar, e que estava familiarizado com o seu mérito, e que lhe reverenciava muito.
Continuou na Universidade de Wittenberg de onde, como professor de teologia, dedicou-se à atividade de sua vocação. Neste ponto deu início à leitura extremamente intensa das conferências sobre os livros sagrados. Explicou a Epístola aos Romanos e os Salmos, que esclareceu e explicou de uma maneira tão completamente nova e diferente do que havia sido o estilo dos comentaristas anteriores, que “era como, após uma longa e escura noite, amanhecesse um novo dia, a juízo de todos os homens piedosos e prudentes”.
Lutero dirigia de modo cuidadoso a mente dos homens ao filho de Deus, do mesmo modo que João Batista anunciava o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; do mesmo modo Lutero, ao resplandecer na igreja como uma luz brilhante após uma longa e tenebrosa noite, mostrou de maneira clara que os pecados são livremente remidos pelo amor do filho de Deus, e que cada pessoa deveria fielmente abraçar a este generoso dom.
A sua vida estava de acordo com o que ele professava; e evidenciou-se de modo claro que as suas palavras não eram meramente a atividade de seus lábios, mas que procediam de seu próprio coração. Esta admiração por sua vida de santificação atraiu muito os corações de seus ouvintes.
A fim de preparar-se melhor para a tarefa que havia empreendido, aplicou-se atentamente ao estudo dos idiomas grego e hebraico; e a isto estava dedicado quando se publicaram as indulgências gerais em 1517.
Leão X, que sucedeu a Júlio II em março de 1513, teve o desígnio de reconstruir a magnífica Catedral de São Pedro em Roma, cujas obras haviam sido iniciadas por Júlio, mas que ainda precisava de muito dinheiro para ser concluída. Por esta razão, Leão X, em 1517, aprovou a concessão de indulgências gerais a toda Europa, em favor de todos os que contribuíssem com qualquer soma de dinheiro para a reedificação da catedral; e designou pessoas em diferentes países para proclamarem estas indulgências e receberem o dinheiro das mesmas. Estes estranhos procedimentos provocaram muito escândalo em Wittenberg e, de modo particular, inflamaram o zelo de Lutero, o qual era por natureza ardente e ativo. Neste caso, por ser incapaz de conter-se, estava decidido a declarar-se contrário a tais indulgências em todas as circunstâncias.
Por esta razão, na véspera do dia de todos os santos, em 31 de outubro de 1517, fixou publicamente, na igreja adjacente ao castelo naquela cidade, as noventa e cinco teses contra as indulgências, onde desafiava a qualquer que se opusesse a elas, fosse por escrito ou por debate oral. As proposições de Lutero acerca das indulgências haviam sido publicadas há pouco, quando Tetzel, o frade dominicano comissionado para a sua venda, manteve e publicou suas teses em Frankfort, que continha um conjunto de proposições diretamente contrárias às de Lutero. Fez ainda mais: agitou o clero de sua ordem contra seu companheiro; considerou-o, do púlpito, um anátema e herege condenável, e queimou em público as suas teses em Frankfort. As teses de Tetzel também foram queimadas em Wittenberg, como reação, pelos luteranos. Porém o próprio Lutero negou ter parte nesta ação.
Em 1518, Lutero, ainda que dissuadido disto por seus amigos, porém, para mostrar obediência à autoridade, foi ao mosteiro de Santo Agostinho em Heidelberg, onde havia uma assembléia reunida; ali manteve, no dia 26 de abril, um debate sobre a “justificação pela fé”, que Bucero, o qual na ocasião estava presente, tomou por escrito, e comunicou-a posteriormente a Beatus Rhenanus, sem poupar as maiores críticas.
Enquanto isto, o zelo de seus adversários cresceu mais e mais contra ele; finalmente, foi considerado, diante de Leão X, um herege. Então, logo que regressou de Heidelberg, aquele papa lhe escreveu uma missiva nos termos mais submissos; Lutero enviou-lhe, ao mesmo tempo, uma explicação de suas proposições sobre as indulgências. Esta carta tinha a data do domingo da Trindade do ano de 1518, e foi acompanhada de um protesto no qual se declarava que ele não pretendia propor e nem defender algo em contrário às Sagradas Escrituras e nem à doutrina dos padres, recebida e observada pela Igreja de Roma, nem aos cânones nem aos decretos papais; contudo, pensava que possuía a liberdade suficiente para aprovar ou reprovar as opiniões de São Tomás, Boaventura e outros escolásticos e canonistas que não se baseavam em texto algum.
O imperador Maximiliano estava igualmente solícito de que o papa detivesse a propagação das opiniões de Lutero na Saxônia, que eram perturbadoras, tanto para a igreja como para o império. Por esta razão, Maximiliano escreveu a Leão X uma carta datada de 5 de agosto de 1518, a fim de pedir-lhe que proibisse, por sua autoridade, estas inúteis, desconsideradas e perigosas disputas; também lhe assegurava que cumpriria estritamente, em seu império, tudo o que sua santidade ordenasse.
Enquanto isto, Lutero, quando soube o que era levado a cabo em Roma, por sua causa, empregou todos os meios imagináveis para que não fosse levado para lá, e para fazer com que a sua causa fosse julgada na Alemanha. O governador também estava contrário a que Lutero fosse a Roma, e pediu ao cardeal Caetano que pudesse ser ouvido diante dele, como representante papal na Alemanha. Com isto, o papa consentiu que a sua causa fosse julgada diante do cardeal Caetano, a quem havia dado poderes para decidi-la.
Por esta razão, Lutero dirigiu-se imediatamente a Augsburgo, e levava consigo cartas do governador. Lá chegou em outubro de 1518 e, após haver-se-lhe dado segurança, foi admitido na presença do cardeal. Porém, Lutero logo percebeu que tinha mais a temer por parte do cardeal do que pelas discussões sobre quaisquer temas; por esta razão, ao temer ser preso caso não se submetesse, retirou-se de Augsburgo no dia 20 de outubro. Porém, antes de partir, publicou uma apelação formal ao papa e, ao ver-se protegido pelo governador, transmitiu suas pregações sobre as mesmas doutrinas em Wittenberg, e enviou um desafio a todos os inquisidores que comparecessem e discutissem com ele.
Quanto a Lutero, Miltitius, o camarista do papa, tinha ordem de exigir do governador que o obrigasse a se retratar, ou que lhe negasse a sua proteção; porém, as coisas não poderiam ser feitas com tanto orgulho, pois o crédito de Lutero estava demasiadamente bem estabelecido. Além disto, aconteceu que o imperador Maximiliano morreu no dia 12 daquele mês, o que alterou muito o aspecto das coisas, e fez com que o governador estivesse mais livre e capaz para decidir a sorte de Lutero. Por esta razão, Miltitius pensou que o melhor seria ver o que se poderia fazer por meios limpos e gentis, e com esta finalidade começou a conversar com Lutero.
Durante todos estes acontecimentos a doutrina de Lutero era cada vez mais divulgada e prevalecia sobremaneira; e ele mesmo recebeu ânimo dos alemães e dos outros povos.
Naquela ocasião os boêmios lhe enviaram um livro do célebre Juan Huss, que havia sido martirizado durante a obra da reforma, e também cartas nas quais o exortavam à constância e à perseverança e reconheciam que a teologia que ele ensinava era pura, sã e ortodoxa. Muitos homens eruditos e eminentes colocaram-se ao seu lado.
Em 1519, Lutero manteve um célebre debate em Leipzig com Juan Eccius. Porém, esta discussão terminou finalmente como todas as outras, e não teve o privilégio de ver as partes aproximar-se, de modo algum; mas que se sentiam ainda mais como inimigos pessoais, do que antes do debate.
Por volta do final do ano, Lutero publicou um livro no qual defendia que a comunhão fosse celebrada de ambos os modos; isto foi condenado pelo bispo de Misnia em 24 de janeiro de 1520.
Enquanto Lutero trabalhava para defender-se perante o novo imperador, e diante dos bispos da Alemanha, Eccius foi a Roma para pedir a sua condenação, o que, como se pode perceber, não seria agora tão difícil de conseguir. Certo é que as contínuas importunações dos adversários de Lutero perante Leão X levaram-no finalmente a publicar uma condenação contra ele, e o fez em uma bula datada de 15 de junho de 1520. Isto teve lugar na Alemanha, e foi ali publicada por Eccius, que a havia solicitado em Roma, e que estava encarregado da execução da mesma, juntamente com Jerónimo Alejandro, pessoa eminente por sua erudição e eloqüência. Enquanto isto, Carlos I da Espanha e Carlos V da Alemanha resolviam as suas dificuldades nos Países Baixos. Em seguida, Carlos V dirigiu-se à Alemanha, e foi coroado imperador no dia 21 de outubro de 1520, em Aquisgrán.
Martinho Lutero, após ter sido acusado pela primeira vez em Roma, através da censura papal, em uma quinta-feira santa, dirigiu-se pouco depois da páscoa a Worms, onde compareceu diante do imperador e dos governantes de todos os estados da Alemanha. Manteve-se constante na verdade, defendeu-se e respondeu a todas as perguntas de seus adversários.
Lutero permaneceu alojado, bem agasalhado, e visitado por muitos condes, barões, cavaleiros de ordem, homens gentis, sacerdotes e pelos membros do parlamento comum, que freqüentavam o seu alojamento durante a noite.
Veio de modo contrário às expectativas de muitos, tanto dos adversários como dos amigos. Os seus admiradores deliberaram juntos, e muitos trataram de persuadi-lo para que não se aventurasse ao perigo de ir a Roma, pois consideraram que tantas vezes não se havia respeitado a promessa de segurança para as pessoas nesta condição. Ele, após ter ouvido todas as suas persuasões e conselhos, respondeu-lhes do seguinte modo: “No que a mim me diz respeito, uma vez que me chamaram, resolvi e estou certamente decidido a ir a Worms, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo; sim, mesmo sabedor de que há ali tantos demônios para resistir-me, em número tão grande como o das telhas que cobrem as casas da cidade de Worms”.
Lutero na Dieta de Worms
No dia seguinte, ele foi conduzido de seu alojamento à corte do imperador, onde permaneceu até as seis horas da tarde, porque os príncipes estavam ocupados na solução de diversos problemas do reino; ao permanecer ali, encontrava-se rodeado de um grande número de pessoas, quase prensado por tamanha multidão... Logo, quando os príncipes terminaram a primeira reunião e o chamaram, entrou Lutero, e Eccius, o oficial, falou do seguinte modo: “Responda agora à demanda do imperador. Manterás todos os livros que reconheceste serem de tua autoria, ou revogarás parte dos mesmos e te humilharás?”.
Martinho Lutero respondeu modesta e humildemente; porém, não desprovido de uma determinada firmeza e constância cristãs:
“Considerando que vossa soberana majestade e vossos honoráveis demandais desejam uma resposta plena, isto digo e professo tão resolutamente quanto posso, sem dúvidas e nem sofisticações, que se não me convencerdes através do testemunho das Escrituras (pois não dou crédito nem ao papa e nem aos seus concílios gerais, que têm errado muitas vezes, e que têm sido contraditórios contra si mesmos), a minha consciência está tão ligada e cativa destas Escrituras que são a Palavra de Deus, que não me retrato nem posso me retratar de absolutamente nada, considerando que não é piedoso nem legítimo fazer qualquer coisa que seja contrária à minha consciência. Aqui estou e nisto descanso: nada mais tenho a dizer. Que Deus tenha misericórdia de mim!”.
Os príncipes consultaram-se entre si sobre a resposta dada por Lutero e, após terem-no interrogado diligentemente, o porta-voz respondeu-lhe assim:
“A majestade imperial demanda de ti uma simples resposta, seja negativa, seja afirmativa, se pretendes defender todos os teus livros como cristãos, ou não”.
Então Lutero, dirigindo-se ao imperador e aos nobres, rogou-lhes que não o forçassem a ceder contra a sua consciência, confirmada pelas Sagradas Escrituras, sem os argumentos manifestos que os seus adversários alegaram, e declarou:
“Estou atado pelas Escrituras”.
Antes que se concluísse aquela reunião, chamada de Dieta de Worms, Carlos V fez com que se redigisse um edito, datado de 8 de maio, decretando que Martinho Lutero fora, de conformidade com a sentença do papa, considerado desde então membro separado da Igreja, cismático e um herege obstinado e notório. Enquanto a bula de Leão X, aceita por Carlos V, era divulgada por todo o império, Lutero ficou detido no castelo de Wittenberg; porém, cansado de seu silêncio obsequioso, voltou a aparecer em público em Wittenberg no dia 6 de março de 1522, após uma ausência de cerca de dez meses.
Lutero promoveu então uma guerra aberta ao papa e aos bispos; e com a finalidade de conseguir que o povo menosprezasse a autoridade destes, tanto quanto fosse possível, escreveu um livro contrário à bula papal, e outro intitulado “A Ordem Episcopal”. Também publicou uma tradução no Novo Testamento no idioma alemão, que foi posteriormente revisado por ele e Melanton.
Reinava a confusão na Alemanha, e não menos na Itália, porque surgiu uma contenda entre o papa e o imperador, durante a qual Roma foi tomada por duas vezes, e o pontífice, preso. Enquanto os príncipes estavam assim ocupados em suas pendências mútuas, Lutero levou adiante a obra da Reforma, ao opor-se também aos papistas e combater aos anabatistas e outras seitas fanáticas que, ao aproveitar o seu gesto de enfrentar a Igreja Romana, haviam surgido e se estabelecido em diversos lugares.
Em 1527, Lutero sofreu um ataque de coagulação de sangue ao redor do coração, que quase pôs fim à sua vida. Ao perceber que as perturbações na Alemanha não pareciam ter fim, o imperador viu-se obrigado a convocar uma dieta na cidade de Spira, em 1529, para pedir a ajuda dos príncipes do império contra os turcos. Os reformadores de quatorze cidades alemãs, ou seja:
Estrasburgo, Nuremberg, Ulm, Constanza, Retlingen, Windsheim, Memmingen, Lindow, Kempten, Hailbron, Isny, Weissemburg, Nortlingen, e St. Gal uniram-se contra o decreto da dieta e emitiram um protesto contra as sanções que lhes foram impostas, o qual foi redigido e publicado em abril de 1529. Este foi o célebre documento que deu aos reformadores da Alemanha o nome de “Protestantes”.
Depois disto, os principais protestantes empreenderam a formação de uma aliança firme, e instruíram o governador da Saxônia e os seus aliados que haviam aprovado o que a dieta estabelecera; porém, os disputados redigiram uma apelação, e os protestantes apresentaram rapidamente uma apologia por causa de sua “Confissão”, a famosa declaração redigida por Melanton. Tudo isto foi firmado por vários príncipes, e Lutero já não tinha muito mais a fazer além de sentar-se e contemplar a magnânima obra que tinha levado a cabo.
Por ser somente um monge, foi capaz de dar à Igreja de Roma um golpe tão rude, que apenas mais um da mesma intensidade seria o suficiente para derrubá-la completamente; por esta razão, esta pode ser considerada uma obra magnânima.
Em 1533 Lutero escreveu uma epístola consoladora aos cidadãos de Oschatz, que haviam sofrido algumas penalidades por terem aderido à confissão de fé de Augsburgo; e, em 1534, foi impressa a Bíblia que Lutero havia traduzido para o alemão, como protótipo do antigo acordo fechado em Bibliópolis, por mãos do mesmo editor, e que foi publicada no ano seguinte.
Naquele ano Lutero também publicou um livro, intitulado “Contra as Missas e a Consagração dos Sacerdotes”.
Em fevereiro de 1537 foi celebrada uma assembléia em Smalkalda sobre questões religiosas, para a qual Lutero e Melanton foram convidados. Durante esta reunião, ele ficou tão enfermo, que não havia esperança de que se recuperasse. Enquanto o levavam de volta, escreveu o seu testamento, no qual legava a seus amigos e irmãos o seu desdém pelo papado. E assim esteve ativo até a sua morte, que aconteceu em 1546.
Naquele ano, na companhia de Melanton, foi à Saxônia, sua província natal, que há muito tempo não visitava, e ali chegou são e salvo. Porém, pouco depois, foi chamado pelos condes de Mansfelt, para que arbitrasse umas diferenças que haviam surgido acerca de seus limites e, ao chegar, foi recebido por mais de cem ginetes e conduzido de maneira muito honrosa. Porém, ficou tão enfermo naquela ocasião, que se temeu que pudesse morrer. Lutero disse, então, que estes ataques de enfermidade sempre lhe sobrevinham quando tinha qualquer grande obra a empreender. Porém, nesta ocasião, não se recuperou, mas morreu no dia 18 de fevereiro, com sessenta e três anos de idade. Pouco antes de expirar, admoestou àqueles que estavam em volta de si a que orassem a favor da propagação do Evangelho, e disse-lhes:
“Porque o Concílio de Trento, que teve uma ou duas reuniões, e o papa, inventarão coisas estranhas contra o Evangelho”.
Ao sentir que se aproximava o desenlace fatal, antes das nove horas da manhã, encomendou-se a Deus com esta devota oração: “Meu Pai celestial, Deus eterno e misericordioso! Tu manifestaste a mim o teu amado Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ensinei a respeito dEle, e tenho-o conhecido; amo-o da mesma forma que preservo a minha própria vida, minha saúde e minha redenção; a Quem os malvados têm perseguido, caluniado e afligido com vitupérios. Leve a minha alma a Ti”.
Depois disto, citou a frase a seguir, e repetiu-a por três vezes: “Em tuas mãos entrego o meu espírito. Tu me remiste, ó Deus, de verdade!”.
Em seguida, citou João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Após repetir as suas orações várias vezes, foi chamado à presença de Deus.
Desta forma, a sua alma limpa foi pacificamente separada de seu corpo terrestre.
Vida e Obra de Martinho Lutero
Biografia.
Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Foi criado em Mansfeld. Na sua fase estudantil, foi enviado às escolas de latim de Magdeburg(1497) e Eisenach(1498-1501). Ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505).
Seu pai, um aldeão bem sucedido pertencente a classe média, queria que fosse advogado. Tendo iniciado seus estudos, abruptamente, os interrompeu entrando no claustro dos eremitas agostinianos em Erfurt. É um fato estranho na sua vida, segundo seus biógrafos. Alguns historiadores dizem que este fato aconteceu devido a um susto que teve quando caminhava de Mansfeld para Erfurt. Em meio a uma tempestade, quase foi atingido por um raio. Foi derrubado por terra e em seu pavor, gritava "Ajuda-me Santa Ana! Eu serei um monge!". Foi consagrado padre em 1507.
Entre 1508 e 1512, fez preleções de filosofia na Universidade de Wurtenberg, onde também ensinou as Escrituras, especializando-se nas Sentenças de Pedro Lombardo. Em 1512 formou-se Doutor em Teologia.
Fazia conferências sobre Bíblia, especializando-se em Romanos, Gálatas e Hebreus. Foi durante este período que a teologia paulina o influenciou, percebendo os erros que a Igreja Romana ensinava, à luz dos documentos fundamentais do cristianismo primitivo.
Lutero era homem de envergadura intelectual e habilidades pessoais. Em 1515, foi nomeado vigário, responsável por onze mosteiros. Viu-se envolvido em controvérsias com respeito a venda de indulgências.
Suas Lutas Pessoais.
Lutero estava galgando os escalões da Igreja Romana e estava muito envolvido em seus aspectos intelectuais e funcionais. Por outro lado, também estava envolvido em questões pessoais quanto à salvação pessoal. Sua vida monástica e intelectual não forneciam resposta aos seus anseios interiores, às suas aflitivas indagações.
Seus estudos paulinos deixaram-no mais agitado e inseguro, particularmente diante da afirmação "o justo viverá pela fé", Romanos 1:17. Percebia ele que a Lei e o cumprimento das normas monásticas, serviam tão-somente para condenar e humilhar o homem, e que nesta direção não se pode esperar qualquer ajuda no tocante à salvação da alma.
Martinho Lutero, estava trabalhando em "repensar o evangelho". Sendo monge agostiniano, fortemente influenciado pela teologia desta ordem monástica, paulina quanto aos seus pontos de vista, Lutero estava chegando a uma nova fé, que enfatizava a graça de Deus e a justificação pela fé.
Esta nova fé tornou-se o ponto fundamental de sua preleções. No seu desenvolvimento começou a criticar o domínio da filosofia tomista sobre a teologia romana. Ele estudava os escritos de Agostinho, Anselmo e Bernardo de Claraval, descobrindo nestes, a fé que começava a proclamar. Staupitz, orientou-o para que estudasse os místicos, em cujos escritos se consolou.
Em 1516, publicou o devocionário de um místico desconhecido, "Theologia Deutsch". Tornou-se pároco da igreja de Wittenberg, e tornou-se um pregador popular, proclamando a sua nova fé. Opunha-se a venda de indulgências comandada por João Tetzel.
As Noventa e Cinco Teses.
Inspirado por vários motivos, particularmente a venda de indulgências, na noite antes do Dia de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg, sua teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das Indulgências". Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à idéia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições temporais. Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do purgatório. Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos, durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação sacerdotal.
João Eck, denunciou Lutero em Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e excluído do Igreja Romana. Silvester Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o parecer condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano.
Em 1518. Lutero escreveu "Resolutiones", defendendo seus pontos de vista contra as indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Entretanto, o livro não alterou o ponto de vista papal a respeito de Lutero. Muitas pessoas influentes se declararam favoráveis a Martinho Lutero, tornando-se este então polemista popular e bem sucedido. Num debate teológico em Heidelberg, em 26 de abril de 1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.
Reação Papal.
A 7 de agosto de 1518, Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado como herege. Mas apelou para o príncipe Frederico, o Sábio, e seu julgamento foi realizado em território alemão em 12/14 de outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano, em Augsburg. Recusou-se a retratar-se de suas idéias, tendo rejeitado a autoridade papal, abandonando a Igreja Romana, o que ficou confirmado num debate em Leipzig com João Eck, entre 4 e 8 de julho de 1519.
A partir de então Lutero declara que a Igreja Romana necessita de Reforma, publica vários escritos, dentre os quais se destaca "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã Sobre a Reforma do Estado Cristão". Procurou o apoio de autoridades civis e começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. Em sua obra "Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que pelas Escrituras só podem ser distinguidos dois sacramentos o batismo e a Ceia do Senhor. Opunha-se à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, por ocasião da missa. Em outro livro, "Sobre a Liberdade Cristã", ele apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor.
Lutero obteve grande popularidade entre o povo, e também considerável influência no clero.
Em 15 de julho de 1520, a Igreja Romana expediu a bula Exsurge Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado, a menos que se retratasse publicamente. Lutero queimou a bula em praça pública. Carlos V, Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em praça pública.
Lutero compareceu a Dieta de Worms, de 17 a 19 de abril de 1521. Recusou-se a retratação, dizendo que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus, pelo que a retratação não seria seguro nem correto. Dizem os historiadores que concluiu a sua defesa com estas palavras : "Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém". Respondendo a Dieta em 25 de maio de 1521, formalizou a excomunhão de Martinho Lutero, e a Reforma nascente também foi condenada.
Influência Política e Social
Por medidas de precaução, Lutero este recluso no castelo de Frederico, o Sábio, cerca de 10 meses. Teve tempo de trabalhar na tradução do Novo Testamento para a língua alemã. Esta tradução foi publicada em 1532. Com a ajuda de Melancton e outros, a Bíblia inteira foi traduzida, e, então, foi publicada em 1532. Finalmente, essa tradução unificou os vários dialetos alemães, do que resultou o moderno alemão.
Tem-se dito que Lutero foi o verdadeiro líder da Alemanha, de 1521 até 1525. Houve a Guerra dos Aldeões em 1525, das classes pobres contra os seus líderes. Lutero tentou estancar o derramamento de sangue, mas, quando os aldeões se recusaram a ouvi-lo, ele apelou para os príncipes a fim de restabelecerem a paz e a ordem.
Fato notável foi o casamento de Lutero, com Catarina von Bora, filha de família nobre, ex-freira cisterciana. Tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham preferido adotar a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.
Houve controvérsia entre Lutero e Erasmo de Roterdã, que nunca deixou a Igreja Romana, por causa do livre-arbítrio defendido por este. Apesar de admitir que o livre-arbítrio é uma realidade quanto a coisas triviais, Lutero negava que fosse eficaz no tocante à salvação da alma.
Outras Obras.
Em 1528 e 1529, Lutero publicou o pequeno e o grande catecismos, que se tornaram manuais doutrinários dos protestantes, nome dado aqueles que decidiram abandonar a Igreja Romana, na Dieta de Speyer, em 1529.
Juntamente com Melancton e outros, produziu a confissão de Augsburg, que sumaria a fé luterana em vinte e oito artigos. Em 1537, a pedido de João Frederico, da Saxônia, compôs os Artigos de Schmalkald, que resumem seus ensinamentos.
Enfermidade e Morte.
Os últimos dias de Lutero tornaram-se difíceis devido a problemas de saúde. Com freqüência tinha acesso de melancolia profunda. Apesar disso era capaz de trabalhar tenazmente. Em 18 de fevereiro de 1546, em Eisleben, teve um ataque do coração, vindo a falecer.
A Teologia de Lutero.
Como monge agostiniano, Lutero dava preferência a certos estudos, dentre os quais se destacam a soberania de Deus, dando uma abordagem mais bíblica às questões religiosas e às doutrinas cristãs. Alguns pontos defendidos por Lutero são :
1. Nem o papa nem o padre, tem o poder de remover os castigos temporais de um pecador.
2. A culpa pelo pecado não pode ser anulada por meio de indulgências.
3. Somente um autêntico arrependimento pode resolver a questão da culpa e do castigo, o que depende única e exclusivamente de Cristo.
4. Só há um Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo.
5. Não há autoridade especial no papa.
6. As decisões dos concílios não são infalíveis.
7. A Bíblia é a única autoridade de fé e prática para o cristão.
8. A justificação é somente pela fé.
9. A soberania de Deus é superior ao livre-arbítrio humano.
10. Defendia a doutrina da consubstanciação em detrimento da transubstanciação.
11. Há apenas dois sacramentos : o batismo e a ceia do Senhor.
12. Opunha-se a veneração dos santos, ao uso de imagens nas Igrejas, às doutrinas da missa e das penitências e ao uso de relíquias.
13. Contrário ao celibato clerical.
14. Defendia a separação entre igreja e estado.
15. Ensinava a total depravação da natureza humana.
16. Defendia o batismo infantil e a comunhão fechada.
17. Defendia a educação dos fiéis em escolas paroquianas.
18. Repudiava a hierarquia eclesiástica.
Bibliografia
1 - "Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia"; R. N. Champlin; J. M. Bentes; Candeia; 1994.
2 - "Enciclopédia Histórico-Teológica"; W. A. Elwell, ed.; Edições Vida Nova;1990.
3 - "Teologia dos Reformadores"; T. George; Edições Vida Nova; 1994.
4 - "História da Igreja Cristã"; R. H. Nichols; CEP;1992.
Quais foram os principais reformadores?
· Na Alemanha, Martinho Lutero (1483/1546)
· Na Suíça, Huldreich Zwínglio (1484/1531) e João Calvino (1509/1564)
Quais foram as principais obras de Lutero?
Lutero expressa suas ideias através de três obras. São elas:
a) A Liberdade Cristã.
b) Apelo à Nobreza. Aqui Lutero faz um apelo para o povo se unir contra a Igreja Católica Romana.
c) Cativeiro Babilônico da Igreja. Afirmava que a Igreja estava vivendo num cativeiro, assim como o povo de Israel esteve na Babilônia escravizado.
Quais eram as principais doutrinas defendidas por Lutero?
a) Justificação pela fé. Baseado nos ensinos de Paulo, ele ensinava que o homem não é justificado pelas suas obras, mas pela fé em Jesus Cristo.
b) A infalibilidade da Bíblia. Ele considerava a Bíblia infalível e acima de toda e qualquer tradição religiosa. Enquanto a Igreja Católica Romana defendia a ideia de que o papa era infalível e a Bíblia era sujeita à sua interpretação, Lutero afirmava que A Bíblia estava acima do papa, pois ela é a Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo.
c) Sacerdócio de todos os crentes. Lutero negava o conceito que afirmava ter o papa poderes sobrenaturais como intermediário entre o povo e Deus. Ele defendia a ideia de que todo crente é um sacerdote e tem livre acesso à presença de Deus. Não precisamos de um intermediário, o único intermediário entre o homem e Deus é o Senhor Jesus Cristo.
Quais eram os princípios fundamentais da Reforma?
a) Supremacia das Escrituras sobre a tradição.
b) A supremacia da fé sobre as obras.
c) A supremacia do povo sobre o sacerdócio exclusivo.
Lutero foi vitorioso?
Sim. Apesar das tentativas para condenarem Lutero, o papa e o Imperador Carlos V não conseguiram. Quando foi convocado a comparecer ao concílio diante do imperador, ele expressou-se destemidamente da seguinte forma: "É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Não posso confiar nas decisões de concílios e de Papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm contraditado uns aos outros. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus. Assim Deus me ajude. Amém".
Uma das expressões mais profundas do sentimento de Lutero está no hino Castelo Forte que diz:
"Que a Palavra ficará, sabemos com certeza, e nada nos assustará, com Cristo por defesa; se temos de perder os filhos bens, mulher, embora a vida vá, por nós Jesus está, e dar-nos-á seu Reino".
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Florêncio Moreira de Ataídes é pastor da IPRB desde 09/12/1989.
Detentor do prontuário 521.
Desde 2009 é diretor da EMPA, Escola de Missões Priscila e Áquila - Assis, SP.
Artigo publicado no Jornal Aleluia de fevereiro de 2004.
Inserido no site em 28/10/2007.
Detentor do prontuário 521.
Desde 2009 é diretor da EMPA, Escola de Missões Priscila e Áquila - Assis, SP.
Artigo publicado no Jornal Aleluia de fevereiro de 2004.
Inserido no site em 28/10/2007.
Teologia Calvinista Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus Ef2.8 | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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October 3, 2011
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Teologia Calvinista | ||||
Reforma Protestante e Contra-Reforma
“Só a Fé Salva” – Martinho Lutero
“Deus criou vasos para a salvação e vasos para a danação eterna. Se a Mão de Deus estiver sobre a tua cabeça tu será beneficiado aqui na terra com muita saúde e prosperidade. Por este indício compreenderás que estás predestinado à salvação” – João Calvino
O desenvolvimento do comércio e a conseqüente ampliação do poder político e econômico da burguesia tornavam anacrônico o discurso da Igreja Católica Romana, que pregava “ser mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” por um lado e, por outro, vender indulgências e ficar com parte do lucro auferido “pecaminosamente” daquele ponto de vista.
A Igreja Católica Romana tinha uma pregação – a cobiça, fundamentalmente, era condenada pela Igreja! – e uma prática diferente de seu discurso (mais ou menos como nossos governantes hoje fazem, dizem uma coisa e fazem outra...). Por outro lado ao burguês que enriquecera comprando barato (ou saqueando) e vendendo com largo lucro, além de cobrar juros, não era interessante:
a) Partilhar a sua riqueza com um clero cuja prática era incongruente com seu discurso.
b) Ouvir sermões ameaçando-o com as penas do Inferno se não abandonasse a prática da usura, da “venda do tempo”, etc.
Com isto, no Renascimento está formado o caldo de cultura necessário ao surgimento do protestantismo.
Dentro do Individualismo, um dos principais valores renascentistas, o protestante conversa diretamente com Deus; não encomenda a um padre uma missa pedindo a um santo que interceda a Deus por ele numa hierarquia que já não lhe diz respeito. O burguês conversa direta e individualmente com Deus.
O Início da Reforma – Lutero
Tradicionalmente diz-se que a Reforma Protestante foi iniciada por Martinho Lutero, monge agostiniano alemão 91483 – 1546), cujo pensamento sofreu profunda influência de São Paulo de Tarso.
Numa Epístola de Paulo aos Romanos encontrou a “chave” para consolidar uma idéia nova de salvação: “O justo viverá pela fé.” E “não são as obras, mas é a fé que conduz à salvação”. Não importa como você aja no mundo. Se a sua fé for “do tamanho de uma raiz de mostarda” você está no caminho da salvação, não importa o que faça. Desprezando olimpicamente os vários trechos bíblicos que rezam: “o que é a fé sem as obras?”; “A fé sem as obras é morta!” e “Mostra-me a tua fé sem as obras que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé!” Lutero criou um novo sistema religioso abrindo um cisma com a Igreja Católica Romana.
Em 1517 afixou na Abadia de Wittenberg suas famosas "95 Teses Contra a Venda de Indulgências"[11] , sendo excomungado e correndo o risco de, a exemplo de Jan Hus e Thomas Münzer, ser martirizado pela Igreja. A diferença é que estes dois, com profunda sinceridade de coração, desejavam voltar ao princípio da fé cristã, em grande medida desvirtuada pela Igreja, mas para tanto aliaram-se aos pobres, aos desvalidos e deserdados da sociedade. Já Lutero, espertamente, aliou-se aos príncipes interessados, como se disse, em apoderar-se das terras da Igreja...
Lutero encontrou terreno fértil à sua pregação nas regiões em que era interessante aos nobres se apoderarem das terras da Igreja Católica. Aliando-se aos príncipes, conseguiu principalmente o apoio do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico Carlos V, que convocou a “Dieta de Worms” em 1521. As doutrinas luteranas causaram grande agitação, principalmente sua idéia subversiva de confiscar os bens da Igreja.
Sua aliança aos príncipes fica mais clara à medida em que analisamos sua reação aos camponeses da região da renânia que, uma vez convertidos, passaram a apoderar-se dos bens da Igreja Católica Romana. Lutero apoiou uma violenta repressão aos camponeses em 1525 dizendo: “A espada deve se abater sobre estes patifes! Não punir ou castigar, não exercer esta sagrada missão é pecar contra Deus!”
Na Dieta de Augsburgo, convocada pelo Imperador Carlos V em 1530, estabeleceram-se as bases fundamentais da nova religião luterana. Ficava abolido o celibato ao clero protestante; proibido o culto a “imagens de escultura e a Virgem Maria”; proclamava a Bíblia e sua interpretação subjetiva do leitor como autoridade, renegando os dogmas de Roma, entre outras medidas.
Aprofundando a reforma – Calvino - Igreja Presbiteriana
Uma das principais conseqüências do cisma provocado por Lutero no seio da cristandade foi a difusão de suas idéias como um rastilho de pólvora por toda a Europa Central, onde se concentravam os burgueses enriquecidos e os príncipes interessados no confisco dos bens da Igreja.
A Reforma foi aprofundada por alguns de seus seguidores, com particular ênfase a João Calvino (1509 – 1564) que dinamizou o movimento protestante através de novos princípios, como o da predestinação absoluta, que enfatizava o quanto uma pessoa estava “sendo abençoada por Deus” uma vez enriquecesse e o quanto estava predestinada à danação eterna uma vez pobre, doente e miserável... Quem nisso acredita trabalha como louco para “provar” a seus vizinhos, pelos aspectos exteriores de suas posses e bem-estar físico e material que é um “vaso reservado para a salvação”.
Pense: se você fosse um burguês enriquecido preferiria a pregação de um sacerdote católico a acusá-lo de desonestidade, heresia por haver enriquecido através da prática condenável do lucro e da usura ou a pregação de um sacerdote protestante a informar que a sua riqueza é um sinal de que está predestinado para a salvação eterna? Não é de admirar que os países mais prósperos do mundo capitalista professem a fé protestante em seus mais diversos matizes...
Um caso singular – Henrique VIII e a Reforma Anglicana
Vários pregadores e potentados ingleses estavam ansiosos para aderir também à Reforma e, com isso, confiscar terras da Igreja a exemplo do que havia ocorrido em boa parte da Europa continental. O rei inglês Henrique VIII (1509 – 1547), contudo, era muito devoto e recebeu uma comenda do papa Clemente VII: “Defensor Perpétuo da Fé Católica”.
De repente, um coup de foudre (paixão avassaladora) muda os rumos da situação: casado por interesse com Catarina de Aragão, Henrique VIII apaixona-se cegamente por Ana Bolena e solicitou ao papa a anulação de seu casamento para que pudesse contrair novas núpcias. Diante da resposta do papa “o que Deus uniu o homem não separará” e da pressão dos príncipes e pregadores ingleses, pelo Ato de Supremacia proclamado pelo rei e votado pelo Parlamento inglês, a Igreja, na Inglaterra, ficava sob total autoridade do monarca.
Inicialmente o anglicanismo manteve todas as características da Igreja Católica Romana, excetuando-se o direito ao divórcio (de interesse do rei!) e a obediência à infalibilidade do papa. Com o passar dos anos a Igreja Anglicana agrega muitos dos valores do Calvinismo, afastando imagens de escultura, fazendo uma leitura singular da Bíblia, etc.
Reação da Igreja Católica Romana – a Contra Reforma
Convocando o Concílio de Trento (1545 – 1563), a Igreja Católica estabeleceu um conjunto de medidas defensivas e ofensivas. A fim de impedir a contaminação pelo protestantismo dos países ainda não atingidos, criou um Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos), dentre os quais encabeçavam as obras de Lutero, Calvino, etc. Reativou o Tribunal da Santa Inquisição, com a finalidade de reprimir heresias. Criou o catecismo, catequese e os seminários com vistas a discutir e persuadir os fiéis reconquistando o terreno perdido. Além disso, receberam incentivo as novas Ordens de pregadores apostólicos romanos com vistas a “levar a fé católica ao “Novo Mundo”. Neste contexto surge a Companhia de Jesus, de Inácio de Loyola, subordinada diretamente ao papa e que levava sua pregação ao continente americano e até à Ásia. Também os dominicanos (domini = do Senhor; cani = cães), portanto caninamente obedientes e devotados a propagar a fé católica.
Jamais houve uma discussão ou um debate sério entre um papa e qualquer autoridade protestante acerca de temáticas doutrinárias. Todos ficam presos às suas metáforas e interpretações diferentes dos mesmos textos bíblicos e muito sangue foi derramado por causa disso.
A relembrar ainda a coincidência entre o protestantismo e o capitalismo e, de outro lado, entre o catolicismo e o tradicionalismo. Os países mais prósperos, do ponto de vista burguês, capitalista (ou (“capetalista”, como preferem os puristas) seguem todos majoritariamente a fé protestante em seus diversos matizes: EUA, Inglaterra, Suíça, Holanda, Alemanha, Suécia... Por outro lado, aqueles ligados ao catolicismo e à ética do amor ao próximo, que não foram profundamente tocados pelo protestantismo, seguem subdesenvolvidos do ponto de vista capetalista – casos dos países Ibéricos e da América Latina, por exemplo.
Lázaro Curvêlo Chaves
Bibliografia:
História das Sociedades – Rubem Aquino
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo – Max Weber
Print version ISSN 0104-8775
Varia hist. vol.23 no.37 Belo Horizonte Jan./June 2007
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-87752007000100008
ARTIGOS
As Reformas Religiosas na Europa Moderna notas para um debate historiográfico
The Religious Reformation in Modern Europe notes for a historical debate
Rodrigo Bentes Monteiro
Doutor em História Social - Universidade de São Paulo. Departamento de História - Universidade Federal Fluminense. rodbentes@terra.com.br. http://www.historia.uff.br/ciadasindias/
RESUMO
O artigo, como um verbete destinado aos cursos em História, pretende analisar a produção historiográfica, sobretudo européia, acerca das Reformas Religiosas no início da Europa Moderna. Evidencia a crítica de abordagens mais tradicionais adotadas por autores comprometidos com sua fé, e os estudos meramente institucionais, doutrinários ou funcionalistas. O artigo destaca a atenção dada por historiadores do século XX ao contexto da "pré-reforma", à intensa devoção religiosa então vivida, e à conexão entre aspectos da vida religiosa, cultural, política e social da Europa Moderna.
Palavras-chave: Reformas Religiosas, Europa Moderna, debate historiográfico
ABSTRACT
The article, as an introduction aimed to the course in History, intends to analyze the European historical production, related to the Religious Reformation in the Early Modern Europe. It focuses the more traditional approaches adopted by authors compromised with their own faith and on merely institutional, theological and functional studies. The article points to the attention given by the XXth Century historians, to the "pre-reformation" context, to the profound faith of the time, and to the connection of the religious, cultural, political and social aspects of life in Modern Europe.
Key words: Religious Reformation, Modern Europe, historical debate
Os homens modernos
não foram projetados no mundo,
mas para dentro de si próprios.
Hannah Arendt
não foram projetados no mundo,
mas para dentro de si próprios.
Hannah Arendt
No século XVIII, com o surgimento da filosofia da história em meio ao ambiente iluminista potencialmente revolucionário e anti-eclesiástico, o movimento conhecido como Reforma protestante era inserido no processo de modernização da sociedade ocidental, conforme as idéias de Hegel. Era a "mundanização positiva", diferente da conotação negativa atribuída pelo filósofo alemão ao contexto anterior da Escolástica. Enquanto estudiosos laicos entendiam a Reforma como fundação do caminho para a liberdade, católicos ultramontanos, defensores da infalibilidade papal, observavam-na como um equívoco que desestabilizou princípios de autoridade, ordem social e disciplina, característicos da cristandade medieval.1
Na primeira metade dos Oitocentos, Leopold von Ranke inaugurou uma abordagem menos confessional e apologética, concomitante ao estabelecimento da História como disciplina e aos propósitos nacionais e políticos da Prússia após o Congresso de Viena, em 1815. No preâmbulo de sua história sobre os papas, as nações nórdicas e mediterrânicas ocultavam a tradicional dicotomia entre católicos e protestantes. Ranke queria enfatizar as relações entre setentrionais e meridionais, na passagem do século XV ao XVI. Mas, por trás de sua conhecida erudição no lidar com fatos militares, políticos e diplomáticos, subsistiam juízos de valor. Não obstante a aplicação do método de Barthold Niebuhr no estudo crítico das fontes, o jovem e fervoroso luterano centrou-se no período em que papado e império perdiam poder. Com a Reforma luterana, nascia a Idade Moderna, quando o "povo" tornava-se protagonista na história. Sua concepção de História Moderna não era assim forjada apenas por governantes e sacerdotes. Ela harmonizava-se também às necessidades do Estado prussiano, cuja política eclesiástica naquele momento dependia dos delicados matrimônios mistos entre protestantes e novos súditos católicos, cheios de soberba e inspirados nas tradições renanas. Também em sua obra maior sobre a história alemã na época da Reforma, Ranke mal disfarçou sua admiração por Lutero, embora afirmasse fazer uma história desapaixonada e imparcial do papado, pois a Roma católica já não ameaçava a nova e grande Prússia, fortalecida desde o século XVIII, até a unificação alemã em 1870-1871. Reprovava-se assim a Ranke a sua "malignidade protestante", bem como ter considerado a história da Igreja e da cristandade, mormente em seus aspectos político e institucional.2
Em 1906 o teólogo e filósofo Ernst Troeltsch - colega de Max Weber - apresentava seu livro sobre o protestantismo e o mundo moderno em um congresso de historiadores. Seu tema era a relação entre a herança religiosa do século XIV e a modernidade. Sem dogmatismo, o autor expôs a influência do protestantismo nas novas formas de ser e de pensar do final do século XVIII. Troeltsch defendia que a religião protestante assemelhava-se ao catolicismo medieval, em seu intento por restaurar a cultura religiosa antiga, com a novidade de enfatizar a liberdade individual. Embora tenha assinalado características próprias do luteranismo e do calvinismo, especialmente ante as autoridades políticas, o estudo de Troeltsch, na linha de uma teologia liberal, caracterizou-se por ser uma reflexão geral.3
Fome de Deus
Com efeito, o tema das Reformas Religiosas pertinente ao início da Época Moderna possui implicações que ultrapassam as mudanças institucionais eclesiásticas no século XVI, relacionando-se também a aspectos culturais, econômicos e de poder vividos na Europa. A historiografia nem sempre foi atenta a esses desdobramentos e relações, e pode-se afirmar que uma transformação significativa na análise das questões religiosas referentes ao século XVI começou a ocorrer a partir da década de trinta do século XX, com os trabalhos de Delio Cantimori, Lucien Febvre e Hubert Jedin, até os anos cinqüenta. A explicação das novidades desta tríade de estudiosos e de seus respectivos desdobramentos, poderá esclarecer melhor o "antes" e o "depois" da produção historiográfica sobre as Reformas.4
Delio Cantimori é bastante conhecido por suas reflexões acerca dos problemas de periodização do Renascimento. Mas não somente. Em Umanesimo e Religione nel Rinascimento, o historiador italiano que propôs o termo Idade Humanística para a Época Moderna também procura relações entre o humanismo e a Reforma, concluindo que o protestantismo em seu advento representou o próprio fracasso do ideal humanista, da autoconfiança exacerbada no potencial do homem, otimismo excessivo em sua transformação através do livre arbítrio. Dessa forma, o servo arbítrio de Lutero seria não apenas o antídoto contra o livre arbítrio de Erasmo – princípio essencial à teologia católica -, mas a confirmação da onipotência divina em oposição ao programa educacional encetado pelos homens do Renascimento. Em Storici e Storia, grande obra do estudioso acerca da discussão historiográfica sobre Renascimento e Reforma, Cantimori coteja as interpretações realizadas sobre a Reforma protestante, desde o século XIX até meados do XX. Transparece assim a inovação do autor - também interessado em heterodoxias e heresias -, ao defender uma pesquisa mais argumentativa, que contemple a piedade e a sensibilidade religiosa, rompendo com controvérsias teológicas e eclesiásticas que caracterizavam muitos dos estudos.5
Lucien Febvre, como Delio Cantimori, não se particularizava por realizar uma história confessional – algo ainda relativamente novo entre estudiosos da Reforma – e como o italiano propunha também uma história da espiritualidade mais abrangente que as questões institucionais e teológicas vividas no século XVI, na Europa ocidental. No célebre estudo sobre os "problemas de conjunto", em Au Coeur Religieux du XVIe Siècle, publicado postumamente, este historiador interroga-se sobre as origens da Reforma em França. Febvre refere-se ao problema dos historiadores franceses que, absorvidos pelas questões da "especificidade", da "prioridade" e da "nacionalidade", buscavam uma origem para a Reforma francesa em Lefèvre d'Étaples – um dos primeiros "pré-huguenotes" a realizar colóquios com Margarida de Valois, objeto de outro livro de Febvre -, em comparação a Lutero. Ao questionar, neste caso, a validade da história comparada, Lucien Febvre indica que o suposto primeiro reformador francês não criticava os abusos da Igreja, e que o problema do surgimento da Reforma deveria levar em conta a intensa religiosidade vivida na Europa – inclusive na França – ao final do século XV e no início do século XVI: fidelidade às velhas crenças, devoção tradicional, a fé concretizada nos "testemunhos de pedra" do gótico tardio e no sucesso de obras surgidas no século XV, como a Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, que iria mais tarde conquistar a admiração de Erasmo de Rotterdam. Se a realidade devocional era forte, entre ela e o clero existia um abismo marcado pela insensibilidade. Deste modo, o historiador francês justifica o sucesso da Reforma – na França e alhures – mediante dois fatores: pelo surgimento da Bíblia em língua vulgar, e pela questão da justificativa da salvação pela fé. Em conclusivo, defende que a Reforma deve ser relacionada a uma crise moral e religiosa de muita gravidade que assolou a Europa naquele tempo. Para compreender este fenômeno, seria preciso pesquisar todas as manifestações diversas então vividas, na política, na economia, na sociedade, na cultura intelectual e artística. Portanto, para Febvre, os historiadores franceses atrapalhavam-se, quando buscavam origens específicas em situações que eram gerais. A história da Reforma, segundo o historiador dos Annales, não poderia limitar-se em marcos institucionais, políticos e eclesiásticos. No entender de Cantimori, Febvre seria o "historiador psicólogo" atento, entretanto, às especificidades do homem do século XVI.6
Pode-se afirmar que Jean Delumeau desenvolveu e ampliou questões já estabelecidas por Lucien Febvre. Em Un Chemin d'Histoire, Chrétienté et Christianisation, Delumeau estuda os cristãos no tempo da Reforma e, também como Febvre, indaga-se sobre as causas do movimento protestante, mencionando a princípio duas explicações mais tradicionais: uma primeira que remete aos abusos da Igreja, e outra de cunho economicista, sobre a luta da burguesia contra o feudalismo. Delumeau argumenta que os protestos contra os abusos da Igreja não eram novidade, e que esta possibilidade explicativa não responde, por exemplo, ao fato de Erasmo, apesar de seus "protestos", ter continuado na Igreja católica, e nem à situação dos protestantes que não retornaram a ela quando o catolicismo se reformou. A explicação marxista, por sua vez, não esclarece a razão da Península Itálica, região próspera economicamente no início do século XVI, ligada ao comércio mercantil, ter permanecido católica. O historiador francês indica as fragilidades existentes neste tipo de discussão, mais concentrada na difusão da Reforma que em suas causas, negligenciando também aspectos teológicos do debate.7
A seguir Delumeau – como já o fizera Lucien Febvre – detém-se na análise dos comportamentos religiosos na Europa do início do século XVI. Em resumo, ele verifica a existência de um cristianismo popular mais íntimo e profundo, cristianismo vivido de forma plena – em seu aspecto formal – somente pelas elites. Tratava-se então de um mundo de ignorância religiosa, distante dos abusos da Igreja. O historiador refere-se, como exemplo, ao livro de Keith Thomas, Religion and the Decline of Magic, que retrata a sociedade inglesa do século XVI repleta de práticas mágicas e crenças, relacionadas pelo autor aos mecanismos de solidariedade aldeã, em contraposição à afirmação da propriedade privada e do individualismo. Processo no qual o(a) outro(a), o(a) estranho(a), o(a) diferente, tendia a ser acusado(a) de feitiçaria pelos vizinhos. Delumeau também – repetindo Febvre – refere-se ao sucesso de Imitação de Cristo, obra que resume o ideal de devotamento, pobreza e piedade na Europa de então. Era um mundo também de medo – retomando um dos mais conhecidos temas do historiador abordado em La Peur en Occident, tão bem expresso pelo holandês Johan Huizinga, já em 1919, no seu Herfsttij der Middeleeuwen, literalmente Outono da Idade Média. Peste, fome e guerra estavam relacionadas ao pânico, e à superstição como solução para os problemas. O combate à superstição constitui outro tema desenvolvido por Delumeau, luta importante efetuada por Lutero e Calvino. Tentando analisar os escritos dos reformadores como material etnológico, o historiador francês concebe a Reforma como promoção da vontade cristianizadora, contra o catolicismo, mas também contra a idolatria, vilões não distintos para eles.8
A realidade conflituosa e mesclada em termos religiosos, recuperada por Delumeau, deve alertar os estudiosos do período sobre a imprudência que podem demonstrar ao tentar separar, sempre, o que é religioso do que é mágico. São muitos os exemplos procedentes em relação a esta questão: o estudo de Emmanuel Le Roy Ladurie, Montaillou, village occitan de 1294 à 1324, demonstra que, já no final da Idade Média, cristão e religioso não eram sinônimos. Em Le Carnaval de Romans. De la chandeleur au mercredi des cendres 1579-1580, sobre os festejos realizados naquela cidade francesa, que misturavam aspectos religiosos e profanos, Ladurie verifica a mesma dificuldade de classificação, bem percebida por Natalie Davis na coletânea de ensaios intitulada Society and Culture in Early Modern France, sobre a Reforma e os grupos sociais populares franceses no século XVI. O exemplo mais conhecido talvez seja o estudado por Carlo Ginzburg – discípulo de Cantimori em sua atenção às heresias e à micro-história - em Il Formaggio e i Vermi. Il cosmo di un mugnaio del 500. Na cosmologia toda especial de Menocchio, percebe-se não somente a circularidade cultural, mas a dificuldade de tipificação do que seria a boa religião, aceita pelos inquisidores. O moleiro era batizado e se confessava e, no entanto, foi considerado blasfemador e herege pela Igreja. O livro de Ginzburg chama atenção para a possibilidade de diferentes leituras sociais e culturais do cristianismo. Em conclusivo, na obra há pouco referida, Jean Delumeau concebe a marcha do cristianismo como progressiva e não triunfal dentro da cristandade, sublinhando o equívoco perigoso para os historiadores que lidam somente com os aspectos institucionais da filiação religiosa.9
A consideração de outra obra do mesmo historiador, Le Catholicisme entre Luther et Voltaire, indica o caminho para a abordagem da Reforma católica, e para o modo como o referido autor concebe as reformas: como atos não seqüenciais entre si, tentando entender sua gênese para além da tradicional questão em torno dos abusos da Igreja. Neste livro, Delumeau argumenta que a renovação da Igreja se deu em dois momentos, o da pré-reforma e o iniciado no Concílio de Trento (1545-1563), quando os prelados ali reunidos atenderam alguns pleitos de João Huss, Bernardo de Siena e Savonarola. O autor também chama atenção para o ambiente de solidez teológica da Espanha no século XVI, onde surgiu a vocação religiosa de Inácio de Loyola e o neotomismo da Universidade de Salamanca. Em relação ao Concílio de Trento, Delumeau desenvolve seu estudo em torno de uma questão: como um evento que contou com tantas dificuldades, que foi iniciado com tanto ceticismo e com tão pouco expressivo número de clérigos, como este acontecimento que enfrentou obstáculos por parte de soberanos europeus como Francisco I, e que precisava tanto do apoio dos chefes de Estado católicos, como pôde este evento marcar de tal forma a história da Igreja. Delumeau responde a esta questão defendendo que a grandeza do Concílio de Trento consistiu em atender às necessidades religiosas de seu tempo, tal como a Reforma protestante. Estabelece um paralelo entre o Édito de Nantes (1598) e este concílio, pois os dois acontecimentos efetivamente realizaram o que os anteriores decretos de tolerância – no caso do primeiro – e as anteriores reformas, no segundo, não concretizaram, permanecendo letra morta. Segundo o autor, a cristandade ocidental, em meados do século XVI, vivia uma mutação profunda, tinha "fome de Deus". Esta fome se manifestava, por um lado, pela busca da palavra da vida, mas também pelo pânico dos pecados. A saciedade desta fome pode ser percebida, após o Concílio, pelo comportamento mais moralizado de alguns papas, pela renovação de Roma enquanto capital religiosa, pelos sínodos, seminários e visitas pastorais intensificados, e pelas novas ordens religiosas criadas. Algumas ordens, como a dos capuchinhos e das ursulinas, precederam o próprio Concílio, impressionando a sensibilidade religiosa da época. Outras se destacaram pela pujança de suas realizações, como foi o caso notório dos jesuítas, soldados de Cristo que abrangeram o além-mar, e dos carmelitas descalços liderados por Teresa d'Ávila, renovando o catolicismo na Espanha de Felipe II. Deste modo, nesta obra, o autor propõe duas leituras da Reforma católica: uma sobre o endurecimento das estruturas, com um clero mais firme e com ênfase na catequese; e outra, a falar de santidade e piedade, de exemplos heróicos testemunhados nas vidas de papas e religiosos do século XVI.10
Torna-se oportuno, assim, em se tratando de Reforma católica, recuperar um nome apenas mencionado ao início como componente de uma tríade fundamental para o entendimento das inovações historiográficas sobre a Reforma. Coube a Hubert Jedin, jesuíta alemão que conseguiu o acesso aos documentos do Concílio de Trento, a criação do conceito de Reforma católica, diferente de Contra-Reforma. Em sua história sobre o Concílio de Trento, Jedin renova os estudos da estrutura organizacional da Igreja no século XVI, contemplando também o período da pré-reforma, o que possibilita pensar as mudanças vividas no papado durante os Quinhentos. O autor alemão enfatiza as linhas de força do Concílio, caracterizadas pelo reforço das escrituras e da tradição, seguindo passo a passo a marcha do evento, analisando a diplomacia entre Roma, Trento e Salamanca, e a influência das idéias erasmianas. Jedin é mencionado por Jean Delumeau como o melhor historiador da Reforma católica.11
Contudo, a Reforma católica, como já foi indicado, não pode ser restrita ou tipificada apenas pelas decisões conciliares. John Bossy, em Christianity in the West 1400-1700, fornece-nos o interessante exemplo de uma reforma silenciosa, caracterizada pela investida dos clérigos em disciplinar as práticas do casamento - em oposição às fiançailles, que consumavam a união antes do laço institucional definitivo -; do batizado logo após o nascimento; da confissão periódica. Nesses casos, tratava-se de promover a passagem de uma cristandade medieval para um moderno catolicismo, mediante rompimento dos vínculos de uma solidariedade grupal para uma delegação de responsabilidades ao indivíduo como católico.12 A Reforma católica em Portugal tem sido trabalhada por Federico Palomo com ênfase neste catolicismo moderno. Retomaremos essa questão tão importante sobre a "modernidade" das Reformas Religiosas ao final do artigo.13
Deve-se ainda mencionar, para que se tenha noção de um quadro mais rico e complexo acerca do universo religioso no século XVI - não necessariamente polarizado entre protestantismo e catolicismo -, a existência de outras correntes de pensamento não tão engajadas em disputas. O historiador italiano Alberto Tenenti desenvolveu um já clássico estudo sobre o libertinismo, publicado nos Annales, no qual se faz evidente - mais uma vez - a dificuldade de classificação sobre o que seria herético ou ortodoxo em termos religiosos. Não obstante, o autor indica três tipos de libertinismo entre a metade do século XVI e o início do século XVII. Um libertinismo espiritual, mais relacionado aos místicos medievais; o demonstrado por Jean Bodin, em seu Heptaplomeres, que Tenenti relaciona a um tempo futuro, o das Luzes; e aquele praticado por Pierre Charron, este sim, segundo o autor, mais identificado ao seu tempo. Posteriormente, o libertinismo foi estudado por Sergio Bertelli, em Rebeldes, Libertinos y Ortodoxos en El Barroco. Este historiador italiano organizaria ainda o colóquio Il Libertinismo in Europa, que resultou em obra também publicada.14
O quadro complexo, referente ao universo religioso e cultural na Europa do início da Época Moderna, também deveria englobar outros movimentos, dentro do próprio contexto de pré-reforma no século XV, como o evangelismo e, posteriormente, no século XVII, o jansenismo.15 Também seria importante aprofundar o entendimento do papel fundamental desempenhado pela eloqüência e pela retórica na Reforma católica, em especial na obra dos jesuítas, tema desenvolvido por Marc Fumaroli, em L'Âge d'Éloquence.16
Secularização desencantada
Mas para se buscar coerência em relação ao sugerido, sobre a indistinção na Europa de início da Época Moderna entre múltiplos aspectos componentes daquele mundo e o tema das Reformas Religiosas, alguns estudos complementam o argumento proposto.
Na segunda metade do século XX, enquanto estudiosos marxistas identificavam na figura de Thomas Müntzer um líder revolucionário em meio às guerras camponesas no século XVI,17 a historiografia revisionista esforçava-se por atacar modelos teóricos de interpretação. Em ensaio bastante divulgado, Hugh Trevor-Roper dialoga com a conhecida tese de Max Weber sobre a ética protestante e o espírito do capitalismo. Após investigar trajetórias e comportamentos de empresários calvinistas neerlandeses, soberanos católicos e protestantes, em meio à Guerra dos Trinta Anos (1618-1638) que assolou a Europa, o historiador inglês conclui sobre a existência de um vínculo indireto entre calvinismo e capitalismo na Europa ocidental – e não direto, como advogavam interpretações marxistas e weberianas, ainda que de modos muito distintos. Em síntese, Trevor-Roper constata uma conversão generalizada de empresários "capitalistas" erasmianos (simpatizantes de Erasmo), perseguidos pela Igreja de Roma e desfavorecidos pelas cortes católicas, para o calvinismo. Esta conversão teria sido acompanhada de uma migração dos mesmos de países católicos para repúblicas protestantes, por conta do avanço da burocracia estatal das cortes européias, que sufocava o capitalismo independente dos simpatizantes de Erasmo. Portanto, segundo o autor, não seria propriamente o catolicismo a impedir diretamente o capitalismo nas cidades do sul do Sacro Império, das Penínsulas Ibérica e Itálica, pois nessas regiões já existiria um "capitalismo medieval" feito por católicos – termo excêntrico empregado por Roper. Nessa perspectiva seria imprópria a idéia weberiana acerca da ética calvinista como principal motor, de forma direta, do desenvolvimento capitalista. Talvez a tendência conservadora do autor na política inglesa ajude a entender a redução excessiva que ele opera em relação ao peso das causas e ideologias nas transformações sociais. Pinta, assim, um quadro de meras disputas por oportunidades e conveniências ao hiperdimensionar o avanço das cortes absolutistas como sistemas de poder. Mas é evidente em sua análise o valor da pesquisa histórica em contraposição a modelos sociológicos generalizantes. Não obstante também transparece de modo diferente de outras análises economicistas, a relação entre a vida econômica e social e a religião.18
A menção crítica à sociologia de Weber abre espaço para considerar a incidência de suas idéias nos estudos históricos sobre a Reforma e o alvorecer da Idade Moderna, sobretudo no que se refere à categoria de secularização. Segundo o filósofo Giacomo Marramo, o termo secularizar surgiu ao final do século XVI nas disputas canônicas francesas, relacionado à passagem de um religioso regular ao estado secular. Foi empregado também nas longas negociações em Münster, 1646, para a Paz de Vestfália em 1648, sobre a transferência de propriedades religiosas para mãos seculares. O neologismo indicava a expropriação de bens eclesiásticos a favor de príncipes ou igrejas reformadas. Desde as lutas pela Reforma, o termo relacionava-se à afirmação de uma jurisdição secular – ou estatal – sobre setores da vida social até então sob domínio da Igreja.19
Como sabemos pelo trabalho de Reinhart Koselleck, em meados do século XVIII era forjado o conceito de progresso na forma que nos é familiar, com uma prospectiva futurizante. Nesse tempo a secularização aparecia ligada ao conceito unitário de tempo histórico. Surgia assim a idéia do progresso como temporalidade cumulativa e irreversível, a representar o moderno processo de secularização.20 O tempo como mudança e transformação constante tornava-se assim a forma por excelência da modernidade. No século XIX, a palavra secularização conheceu uma extensão semântica, primeiro no campo político, com a expropriação dos domínios religiosos pelo decreto napoleônico, de 1803, posteriormente na sociologia.
Com efeito, o desenvolvimento da moderna sociedade européia ocidental foi pensado pela primeira vez, de forma completa, por Max Weber, no início do século XX, como "processo de secularização". Por um lado, a expressão remetia a uma concepção geral do processo cultural no Ocidente; mas por outro, a concepção deste mesmo processo rompeu com as filosofias da História anteriores, na versão idealista de Hegel, ou na materialista de Marx. Para Marramao, o papel da secularização em Weber seria incompreensível sem a tese da ética do protestantismo calvinista como base do espírito do capitalismo, aspecto do crescente "racionalismo ocidental moderno". Contudo, a amplitude do panorama não caracteriza uma filosofia da História na obra weberiana. As categorias de Weber foram extraídas de uma seleção empírica e comparativa que identificou traços peculiares no interior de expressões genéricas como "capitalismo" ou "racionalismo ocidental". Para explicar esse processo, Weber fez referência a condições econômicas, científicas e jurídicas, mas também à capacidade e à disposição dos agentes sociais para adotarem condutas racionais de vida. Nesta via, evidenciou o fator ético do agir que, identificado na ascese característica da Reforma, conectava-se à problemática da secularização.21
Para Weber, o aspecto decisivo da secularização ligava-se à prevalência de um modo de agir racional, que encontrou sua expressão na ética da renúncia e da ascese no protestantismo calvinista puritano. Mediante a doutrina da graça e sua ratificação manifesta nas obras e no sucesso, a atitude protestante daria lugar a um rigor religioso, mas também a uma aderência ao mundo que – constituindo o espírito do capitalismo – induziria nas relações sociais um forte efeito de dessacralização. Em Die Protestantische Ethik un der Geits des Kapitalismus, a secularização enquadrava-se nesse processo de desencantamento do mundo, traduzindo-se numa recusa dos meios mágicos e sacramentais de busca da salvação. O tópico foi esclarecido em Wirtschaft und Gesellschaft, obra póstuma na qual o sociólogo separou as figuras do profeta e do sacerdote pela vocação pessoal. Essa separação foi decisiva para captar a dimensão dessacralizante do profetismo, como manancial da dinâmica secularizante. Se o sacerdote era legitimado pelo cargo, o profeta atuava em virtude dos seus dons pessoais. Pela amplitude de perspectiva e riqueza de conteúdo, a sociologia religiosa de Weber representou um divisor de águas nos estudos sobre a secularização.22
Mas a grandeza da descoberta de Weber sobre as origens do capitalismo encontra-se em demonstrar que uma intensa atividade mundana era possível sem se desfrutar do mundo excessivamente, apenas na valorização do trabalho, uma atividade cuja motivação, ao contrário, era a preocupação e interesse de cada um por si próprio. Segundo Marramao, a alienação do mundo, portanto, e não a alienação de si, como pensava Marx, seria a característica distintiva da Idade Moderna. Entretanto, a tese weberiana exerceu influência sob o signo do processo de "desencantamento do mundo". O poder sugestivo desta fórmula marcou a discussão sobre a secularização da sociedade moderna.23
Nesse sentido, para Marramao, a tese da dessacralização foi precipitadamente atribuída ao sociólogo alemão. Em Weber, a análise da secularização excluiu qualquer sentimento ou juízo de valor ameaçador da eficácia do processo. Ele perseguiu o nexo entre secularização e racionalização, como um destino histórico irreversível. Mas seu "desencantamento" não comportaria um mundo desideologizado e dessacralizado. Faz-se evidente assim a inconsistência do esquema sacro-profano para exprimir a complexidade da categoria de secularização.
Marramao observa o problema desta ampliação de sentidos ocorrida com a palavra, pois secularização acabou figurando como uma filosofia da história camuflada, um termo indeterminado e controverso, interpretado como descristianização ou dessacralização. No âmbito político, utilizado para tratar da perda de modelos tradicionais de valor e de autoridade, fenômeno que, a partir da Reforma protestante, consistiu na ruptura do monopólio da interpretação. Já no debate filosófico figura como sinônimo da erosão dos fundamentos teológicos e da abertura à dimensão da escolha, da responsabilidade e do agir do homem no mundo. Para o filósofo italiano é necessário distinguir entre esses dois paradigmas: o da secularização, do moderno como mundanização de um núcleo original meta-humano; e o da laicização, ou libertação, ou seja, do moderno como desimpedimento do indivíduo em sua progressiva auto-afirmação.
É curioso perceber que os fenômenos da expropriação de bens e da alienação do mundo, na construção de uma identidade mais individualizada, coincidiram no tempo. A Idade Moderna começou por alienar do mundo certos extratos da população. Tendemos a negligenciar a importância desta alienação, porque sublinhamos seu caráter secular, e identificamos a secularização também à reconquista do mundo. No entanto, historicamente a secularização apenas significou a separação entre Igreja e Estado, religião e política. De um ponto de vista político, parece um retorno à máxima cristã "dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" e não o desaparecimento da fé na transcendência, ou um interesse enfático pelas coisas do mundo. Portanto, a suposta perda da fé na Idade Moderna não pode ser relacionada às Reformas Religiosas. Lutero substituiu a religiosidade exterior pela interior, a fé na autoridade pela autoridade da fé.
Religião política
Entretanto, são muitos os exemplos de interação entre religião e política, no início da Época Moderna, em Cortes reformadas ou católicas, que relativizam a separação entre Igreja e Estado no campo institucional ou nas idéias relativas ao governo e à moral. Para Marc Bloch, no célebre Les Rois Thaumaturges, publicado em 1924, o absolutismo era uma espécie de religião. Sob a influência da Sociologia de Durkheim, Bloch estuda os rituais de cura de escrófulas, a unção régia e o leque de legendas que envolvia as monarquias na Inglaterra e na França, desde tempos medievais. O historiador francês deixa evidente a simbiose existente entre a realeza e o sagrado, que perdurou na Corte inglesa até a ascensão da dinastia Hanover, e na França até a Revolução, com uma revivência efêmera na coroação de Carlos X, em 1825. Por sua vez, Ernst Kantorowicz, inspirado na teologia política de Carl Schmitt, estuda em dois capítulos inciais de The King's Two Bodies a elaboração dos juristas da era Tudor em torno da ficção dos dois corpos do rei inglês: quanto ao primeiro, sujeito a paixões e morte como qualquer outro homem, mas quanto ao segundo, imortal e sagrado, idéia também presente nas peças de Shakespeare. O tema seria retomado por Ralph Giesey, discípulo de Kantorowicz, ao estudar os funerais dos reis franceses nos séculos XV e XVI, em Le Roi ne Meurt Jamais, e por Agostino Bagliani, ao sublinhar as diferenças em relação ao funeral papal.24
No âmbito das idéias políticas, Quentin Skinner concede atenção em The Fundations of Modern Political Thought às idéias de Erasmo e outros humanistas, bem como a luteranos e calvinistas e suas concepções no século XVI. Embora a Sociologia de Weber seja referencial na sua interpretação do "moderno", o historiador de Cambridge contempla um universo vasto de textos, muitos deles medíocres, de forma a estabelecer o "contexto intertextual" e posicionar melhor obras consideradas seminais do pensamento político moderno. Destaca-se o estudo sobre a mudança da política protestante: da consideração do príncipe como predestinado por Deus, ao dever de resisitir e lutar pela deposição de um tirano, mormente em Cortes católicas, como Escócia e França. O universo neotomista também é contemplado no ambiente da Reforma católica e do caráter contratual vigente nas monarquias ibéricas.25
Em perspectiva diferente de Skinner, pela maior especificação das situações políticas, encontram-se os estudos dos irmãos Firpo. Luigi Firpo é autor de uma introdução primorosa a uma edição italiana de O lamento pela paz, texto de Erasmo feito para o encontro em Cambrai, 1516, reunindo o imperador, os reis de França e da Inglaterra. O historiador italiano ressalta a influência do contexto do ducado da Borgonha e suas possessões – entre elas Rotterdam – no pensamento de Erasmo pela paz e por uma monarquia universal. Após narrar os episódios que culminaram na derrota borgonhesa em Nancy, Firpo interpreta o "lamento" de Erasmo como melancolia pelo ocaso de uma civilização perdida – a da Borgonha -, que buscava, pela diplomacia, algum melhor tratamento entre soberanos mais poderosos. Por sua vez, Massimo Firpo escreve sobre os homens do clero no artigo intitulado O cardeal, na obra organizada por Eugénio Garin acerca do homem renascentista. Ante o quadro comumente aceito para pintar o vértice da Igreja em Roma, no início do século XVI, de violência, devassidão, avidez e corrupção, o autor observa que, naquele tempo, nada disso provocava escândalo, pois a consciência comum não separava clérigos e leigos. Uma imagem austera e contrita da vida religiosa só seria afirmada no contexto posterior da Reforma católica. Firpo evita assim as avaliações moralistas sobre a mundanidade da hierarquia eclesiástica entre os séculos XV e XVI, e o anacronismo das interpretações.26
Particularizando o âmbito católico, os estudos inquisitoriais têm sido altamente renovados em Roma, para o caso itálico, com a recente abertura do Archivio della Congregazione per la Dottrina della Fede, do extinto Santo Ofício, projeto que compreende em sua comissão Massimo Firpo, Carlo Ginzburg e Adriano Prosperi, entre outros. Neste setor também destacam-se os estudos ibéricos, pela riqueza dos arquivos existentes. Em síntese, a farta bibliografia sobre inquisição espanhola pode ser tipificada em duas vertentes principais: os estudos de historiadores espanhóis sobre tribunais, capitaneados por Jaime Contreras, e uma linha socio-cultural exemplificada pelos livros de Bartolomé Benassar. Trata-se de uma historiografia mais concentrada nos resumos dos processos. No meio portuguuês, destacam-se os trabalhos de Francisco Bethencourt, que produziu uma visão de conjunto sobre a dinâmica inquisitorial em Portugal, Espanha e Itália. A superação de uma abordagem mais institucional tem sido empreendida por José Pedro Paiva, seja pela contemplação da fetiçaria lusa, seja pelo instigante capítulo que assina na História Religiosa de Portugal, no qual versa sobre a interpenetração entre Igreja e Estado no Portugal do Antigo Regime.27
Entretanto, pode-se explicitar com mais vagar um caso de vínculos estreitos entre as Reformas Religiosas e as questões políticas, desfazendo fronteiras entre religião, magia, filosofia, e o próprio exercício do poder. Ao enveredar pelo ambiente intelectual da monarquia francesa no tempo das Guerras de Religião (1559-1598), Denis Crouzet identifica, após a eclosão dos conflitos, duas respostas da realeza – não excludentes entre si - às violências interconfessionais. A mais evidente, de matriz humanista, tentava fundar a paz pela tolerância da fé reformada. Provavelmente de fonte erasmiana, foi dominante de 1560 a 1568, liderada pelo chanceler Michel de L'Hôspital, que se esforçou com alguns intelectuais – os politiques, entre eles Jean Bodin - para tornar política uma visão da ordem régia. Além dos ódios, existia a solução da tolerância como preservação do Estado, pois sem um poder dominante, os homens guerreariam ao infinito. O rei devia manter a paz, justificativa da organização social e política capaz de findar os conflitos.28
Mas havia outra corrente filosófica que convém enfatizar. No século XVI, diálogos de Platão eram lidos nas academias italianas, sobretudo em Florença, onde conferências sobre a filosofia do amor eram freqüentes. Obras de Platão e dos antigos platônicos, além das atribuídas a Orfeu, Zoroastro, Hermes e aos pitagóricos, eram editadas em grego e latim. Os escritos platônicos renascentistas também foram difundidos em línguas vernáculas, sobretudo francesa e italiana. Na França, doutos como Lefèvre d'Etaples e poetas religiosos como Margarida de Valois valiam-se das idéias de Marsílio Ficino, no seu apelo à contemplação e à experiência interior. O amor platônico tornava-se então uma moda nas academias literárias. A influência do platonismo também ocorria na matemática apreciada por Platão e seus seguidores, a expressar a superioridade do conhecimento quantitativo sobre o qualitativo, da matemática sobre a física, do platonismo sobre o aristotelismo.
Nesse âmbito, segundo Crouzet, o poder régio francês da Renascença se caracterizava pela capacidade do rei governar como um iniciado nos segredos do universo. No sistema neoplatônico de Ronsard, poeta da corte, o universo era regido por uma lei de alternância. Mesmo que o dia seguisse a noite, que as estações se sucedessem, o bom tempo viria após a tempestade. Em 1566, um teórico definia o príncipe como aquele que devia, por suas virtudes, ser sábio para guiar o povo aos bons modos, na crença e no amor de Deus. As festas da Corte no tempo de Catarina de Médici e de seus filhos podiam chocar pela suntuosidade. Mas a diversão civilizada afirmava a virtude pacificadora do príncipe que vivia em tranqüilidade, oferecendo prazeres e diferenciando-se do tirano, que proporcionava opressão, angústias, medos. As festas eram então espelhos da justiça e piedade régias, incluindo os presentes na consagração das virtudes, reflexos da beleza universal cuja sabedoria só o príncipe possuía. Nesse sentido, festas, quadros, túmulos e poesias organizados na corte Valois atuavam como talismãs, inspirados em teorias neoplatônicas e herméticas.
A educação principesca, através de Plutarco, visava fazer de Carlos IX um rei filósofo à semelhança dos descritos na República de Platão. Como a força unificadora do mundo era um fogo, a chama da realeza por meio da educação e da ciência devia ser mantida acesa, contra a degenerescência. Rei filósofo e mago que se ocupava das ciências da natureza e agia no plano natural. Contra a violência, uma realeza da harmonia dos contrários se impunha. Os problemas da França eram naturalizados assim pela lógica da instabilidade das coisas humanas, da bonança ao sofrimento, e vice-versa. A harmonia universal era esse movimento pendular incessante, cabendo aos governantes promover a concórdia.
Nesse mundo religioso dilacerado, o amor neoplatônico era a última defesa contra a ruptura, tentativa de adesão da monarquia ao movimento universal, a esta sabedoria ou prudência que afastava os efeitos astrais, superando os desafios políticos e religiosos, pela harmonia de contrários que assegurava a perpetuação da vida. O homem era, portanto, ambivalente, definindo-se numa dualidade conservadora das coisas. Os que detinham o poder político deviam atuar segundo essa compensação para atingir o equilíbrio. Catarina de Médici, nos libelos huguenotes, após o massacre de 1572, tornou-se uma feiticeira, responsável pelos males da França. De fato, ela pertencia a uma cultura mágica. Na Renascença, poder significava também atração de forças, comunhão com o fluxo vital, parte de um sistema esotérico de conhecimento que condicionava a política. Além dos eventos das guerras de religião, existia uma cultura que aglutinava poder monárquico, neoplatonismo e hermetismo, ou seja, realeza, filosofia e magia. A "religião" dos últimos Valois era então diferente das confrontantes, catolicismo e protestantismo, ao fazer da arte política uma arte mística. Denis Crouzet defende a busca do poder na França, da segunda metade do século XVI, nas imagens do mundo que seus contemporâneos compunham, em função dos seus sistemas filosófico-metafísicos.
Ao conceber o poder como discurso, o historiador francês explica o massacre de 24 de agosto de 1572 como um sonho perdido da Renascença, e alivia o drama da violência religiosa na França do século XVI, que recebeu outra abordagem, por exemplo, de Natalie Davis. No ensaio, intitulado Ritos de violência, a historiadora de tendência etnográfica recupera cenas cotidianas que opunham católicos e protestantes, demonstrando que os massacres não podem ser explicados apenas pelas ordens vindas de cima, nem pela alta dos preços, nem como loucura coletiva. Segundo Davis, a religião era vivida de forma violenta por vários segmentos sociais. Deste modo a autora recupera o tema da devoção religiosa, e aproxima sua análise das anteriores inovações de Febvre e Delumeau, ao rejeitar explicações puramente economicistas ou institucionais.29
Não obstante a leveza dos conflitos inerentes às guerras religiosas no ensaio de Crouzet, ele desenvolve versões acerca do evento e da família real, católicas e protestantes, que lhe permitem trabalhar a construção de estereótipos políticos de personagens como Catarina de Médici e Carlos IX: a rainha feiticeira, o rei caçador. Entretanto, o ponto central para a argumentação proposta neste artigo surge ao se buscar a ponte com a idéia lançada por Delio Cantimori, sobre a Reforma como "fracasso" do humanismo.30 Denis Crouzet aborda o massacre de 24 de agosto de 1572 como um sonho perdido da Renascença, um ideal neoplatônico de amor e tolerância religiosa - expresso nas formações intelectuais e de governo incidentes em membros da família real dos Valois Angoulême. Sonho destruído pela estratégia do malfadado assassínio do almirante Gaspar de Coligny – na época influente sobre o rei Carlos -, pelo acuamento político da família régia ante os radicais protestantes, e pela falência da tolerância religiosa promovida pela monarquia. Esse conjunto resultaria no plano do massacre, polêmico no referente à extensão da ordem do rei, se dirigida aos chefes protestantes, ou a todos os huguenotes em Paris. De qualquer modo, a fúria coletiva foi desencadeada em todo o reino, mediante oposições religiosas que eram ao mesmo tempo políticas.31
Reforma moderna
Atento às relações entre linguagem e história, Koselleck observa que - ao menos no espaço alemão -, somente nos Setecentos começou-se a tratar dos "tempos modernos", o termo implantando-se lexicalmente no século XIX. Assim, o conceito de modernidade impôs-se séculos após o início do período que pretendia abarcar - o século XVI. Como sabemos, a expressão relaciona-se à criação do conceito de Idade Média. O recurso dos humanistas ao modelo da Antiguidade limitava o ínterim bárbaro em um período, e conduzia Petrarca, no século XIV, ao primeiro uso histórico do medium tempus. Embora o termo tenha ingressado nos círculos eruditos, a Idade Média como período despontou apenas no século XVIII, solidificando-se no XIX. Como o seu par moderno.32
Com efeito, Idade Média e Idade Moderna encontram-se entrelaçadas a Renascimento e Reforma. Mas, enquanto a idéia do Renascimento em oposição aos tempos medievais necessitou de tempo até consolidar-se como um período nos Oitocentos, a palavra Reforma no âmbito protestante ganhou rapidamente um sentido, evoluindo depois para a concepção de um período específico. Inicialmente apresentava um significado não cronológico, referindo-se à vida religiosa, ao ordenamento da Igreja ou ao direito tradicional. Posteriormente, a historiografia protestante singularizou a expressão como um conceito de época - a Reforma de Lutero e seus companheiros, vinculada à restauração da pureza da mensagem da sagrada escritura, inaugurando o último período cristão.
Entretanto, a remissão ao ensaio de Delio Cantimori encaminha melhor a reflexão final do artigo, sobre as Reformas Religiosas como tópico característico da Época Moderna. Lembrando ainda as idéias do historiador italiano, percebe-se a aproximação feita por ele entre os dois movimentos culturais, Humanismo e Reforma: pelo espírito crítico presente em ambos, e pelo conhecimento do idioma a fim de se conhecer a verdade no lidar com os textos antigos – os provenientes de autores clássicos, ou a Bíblia traduzida e interpretada. Cantimori também enfatiza o autoconhecimento como aspecto fundamental aos humanistas autores de tratados de educação, bem como aos reformadores protestantes e seus adeptos. Em sua digressão, identifica diferentes gerações de humanistas, desde o otimismo de Ficino e Mirandola na oração que dignificava o homem, até o realismo moralista de Erasmo ou o pessimismo racional de Maquiavel, a observarem a mesma natureza humana de modos diferentes. Não obstante, humanistas e reformadores concediam a ela grande atenção. A passagem do tempo do Humanismo ao tempo da Reforma, da grandeza do homem a sua pequenez perante Deus, teria seu marco simbólico no saque de Roma em 1527, quando tropas de Carlos V mostraram à Península Itálica a impotência daquela civilização brilhante. No dispersar dos humanistas, solapava-se o entusiasmo restaurador de uma idade do ouro, que cedia lugar às controvérsias doutrinais, e ao espírito teológico dos reformadores. Desse modo, no original ensaio do historiador italiano, a Reforma protestante manifestou-se historicamente como inimiga do Humanismo. Não por acaso, alguns humanistas italianos e franceses posicionaram-se a favor da Reforma católica, mais simpática à idéia de livre-arbítrio.33
Contudo, será preciso recuperar um elemento comum aos dois movimentos – Reformas Religiosas e Humanismo -, e situá-lo no contexto tratado. Ele se encontra na negativa da oposição entre os conceitos laico e religioso. Vimos como Giacomo Marramao sublinhou o despertar da consciência individual, presente na Reforma, como gérmen da modernidade ocidental, no âmbito filosófico que destaca a laicização como libertação do homem em relação às instâncias universais. Por sua vez, Hannah Arendt disserta sobre um limiar da Idade Moderna, que consistiria em três grandes eventos, entre eles a Reforma protestante. Por meio da estatização de bens eclesiásticos, o movimento reformador desencadearia o duplo processo de expropriação e de acumulação de riqueza social. Mas Arendt também identifica um traço da modernidade no fenômeno religioso da alienação do mundo que, sob o nome de ascetismo mundano, Weber identificou como origem da nova mentalidade capitalista. Para Arendt, longe de contradizerem-se, as duas tendências – a expropriação e a alienação do mundo – coincidem. A secularização não implica o desaparecimento da fé ou um novo interesse pelas coisas deste mundo. Consequentemente, o perfil do homem moderno não seria dado pela mundanidade, mas pela sua interioridade.34
Não obstante as descontinuidades entre linguagem e história para a conceituação de uma Época Moderna desde o século XVI - já apontadas por Koselleck -, verifica-se o surgimento da questão da individualidade em meio ao contexto das Reformas Religiosas. Uma consciência mais individual encontra-se contemplada no incentivo ao conhecimento de si mesmo apregoado por Lutero e Calvino. Mas também na ação católica de maior vigilância sobre os fiéis, exemplificada pelos trabalhos de Hubert Jedin e John Bossy. Processo concomitante à construção de identidades próprias mediante a constatação das diferenças alheias, algo tão característico do homem moderno – ou renascentista, na acepção de Garin -, evidente na dimensão antropológica dos trabalhos de Carlo Ginzburg, entre outros.35 Portanto, parece apropriada a acepção das Reformas Religiosas como elementos de uma modernidade germinal, não obstante as permanências vigentes nos séculos XVI, XVII e XVIII.
O debate apresentado, ao eleger como objeto principal as Reformas Religiosas na Europa ocidental durante o século XVI, mostrou a consideração do mundo popular, devocional e mágico, além das questões puramente institucionais e teológicas, ou exclusivamente econômicas, em relação a outros aspectos do mundo moderno. Tal quadro era composto por uma realidade plural e multifacetada, destacada no âmbito religioso. Ao priorizar trabalhos historiográficos de meados do século XX, o artigo também cotejou a incidência de certos modelos de interpretação nos estudos históricos, e a discussão sobre a "modernidade" pertinente ao tema. No presente, novos objetos de pesquisa, recortes conceituais e abordagens possibilitam pensar as Reformas Religiosas com um distanciamento que Cantimori, Febvre e Jedin, por exemplo, não puderam vivenciar. As hagiografias, o culto aos santos, o messianismo e os sermões, as festas e a vida paroquial, as visitas inquisitoriais como percepção da comunidade, a mestiçagem cultural e as histórias de grupos eclesiásticos representam algumas dessas perspectivas temáticas, dos temas e abordagens encontrados em vários trabalhos acerca do universo colonizador nas Américas espanhola e portuguesa, alguns deles inspirados em autores citados no decorrer deste texto. Mas esta já seria uma outra história, certamente objeto para outro artigo.
Artigo recebido 10/01/2007. Aprovado em 15/04/2007.
O PROTESTANTISMO E AS IGREJAS DA REFORMA Sérgio Bradanini Revisão: Francisco Cézar Fernandes Alves Origem e significado do termo O uso do termo "protestante" pode indicar, numa primeira e superficial interpretação, os cristãos que se separaram da Igreja de Roma. Se, por um lado, isso pode sugerir uma conotação negativa, por outro, há todo um embasamento histórico que não pode ser desconsiderado. Assim, "protestante" deriva de um fato histórico, isto é, da grande manifestação feita por alguns Estados e príncipes alemães, em 1529, em protesto contra decisões de caráter religioso, mas de motivação também política. O termo ainda foi utilizado em referência aos movimentos reformadores que se seguiram. No entanto, procurando evitar a acentuação crítica contra a Igreja de Roma, muitos preferem empregar o termo "evangélico", certamente menos polêmico e que lembra uma das características positivas de todo o movimento reformador: a volta à mensagem evangélica original. Muitas Igrejas surgidas desse movimento também se denominaram "Igrejas reformadas", evocando o propósito de uma permanente disponibilidade à conversão e à renovação. Um pouco de história O surgimento da Reforma protestante foi e continua sendo considerado um dos mais importantes acontecimentos da história, pois suas conseqüências, ainda hoje, permanecem vivas em nível religioso, político, econômico e cultural. Para entender esse fenômeno, devemos enquadrá-lo no contexto da época e, sobretudo, evidenciar as causas que o determinaram. Antes de mais nada, é necessário limpar o terreno da interpretação preconcebida, muito difundida no passado entre protestantes e católicos e que ainda encontra seguidores nas obras de divulgação e nos meios de comunicação social e esclarecer que a causa da Reforma protestante não foram apenas os abusos e desordens tão comuns na Igreja de então, sobretudo na cúria romana. O próprio Lutero desmente tal causa: " A vida é má entre nós como entre os papistas, mas nós não os condenamos por sua vida prática. A questão é outra: se eles seguem a verdade". Causas da Reforma Causas político-religiosas A partir do século XIV, a autoridade dos papas sofreu um forte declínio: de um lado, perderam a força política com que, embora em meio a lutas e resistências, nos séculos anteriores conseguiram erigir-se como supremos moderadores nas controvérsias políticas. No século XIV, na Europa, começou a afirmar-se o nacionalismo com os soberanos locais, que se desvinculavam da submissão ao imperador e ao papa. Do outro lado, o exílio de Avinhão (1309-1376), com a dependência do papa ao rei da França, e o cisma do Ocidente (1378-1417), durante o qual houve até três papas ao mesmo tempo, abalaram muito a autoridade e o prestígio do pontífice romano diante do povo. Nesse contexto, surgiram teorias chamadas conciliaristas, que sustentavam a superioridade do concílio sobre o papa, chegando a propor modelos de Igreja de tipo "democrático". Como conseqüência de tudo isso, afirmou-se a tendência para a formação de Igrejas nacionais (na França, Alemanha e Inglaterra), o que constituiu uma das principais causas da revolução protestante. Causas culturais Um vento de novidade percorreu a Europa a partir do século XV: era o Renascimento que, reagindo à fuga do mundo e à subordinação direta de tudo à religião, típicas da Idade Média, reivindicava a necessidade da autonomia das atividades humanas, com o risco, porém, de chegar à separação. Era o início do caminho que levou o homem ocidental ao progressivo afastamento e até negação de Deus, característicos da época moderna e contemporânea. Ao mesmo tempo, a teologia perdera o contato com a reflexão dos grandes autores medievais (Tomás de Aquino, Boaventura) para reduzir-se a discussões vazias, longe da realidade (nominalismo). Occam, que exerceu grande influência sobre Lutero, reduzia muito a capacidade da mente humana de atingir a realidade, enquanto exacerbava a onipotência divina. Em geral, "a teologia", como dizia o próprio Lutero, "está reduzida a meras opiniões... sem mais certeza alguma". Wycleff, Hus e Wessel, fundadores de movimentos reformadores nos séculos XIV e XV, contrapunham à Igreja visível uma Igreja espiritual e pobre, sem poderes nem estruturas. Nesses mesmos séculos, difundiram-se correntes espirituais e místicas, que acentuavam a dimensão íntima e subjetiva na experiência com Deus ou que evidenciavam unilateralmente a onipotência da graça divina, chegando até a considerar inúteis as obras do cristão para sua salvação. Essas idéias terão lugar fundamental na doutrina luterana. Causas religiosas Além daquelas que apareceram anteriormente, há uma causa que já lembramos: a corrupção da Igreja. Dissemos que esta não pode ser considerada a causa principal da Reforma protestante, mas é inegável que ela tornou mais fácil a difusão da revolta. Os bispos provinham exclusivamente da nobreza, levavam uma vida mundana, ocupados em ficar cada vez mais ricos, sem preocupar-se com sua responsabilidade pastoral. Os sacerdotes eram numerosos, mas constituíam, sobretudo no campo, o proletariado clerical: pobres, pouco instruídos, em sua grande maioria não observavam o celibato. Também nos conventos, masculinos e femininos, a situação muitas vezes era lamentável. Isso, porém, não deve fazer esquecer que, já antes de Lutero, havia notáveis iniciativas de reforma em toda a Igreja por parte de religiosos, bispos e leigos. Causas sociais Sobretudo na Alemanha, duas classes sofriam com a crise econômica surgida após a descoberta da América: os cavaleiros e os camponeses. Os primeiros tinham perdido seu antigo poder e procuravam o meio para recuperá-lo: assim, a posse dos bens da Igreja poderia oferecer-lhes uma cômoda e fácil oportunidade. Entre os camponeses, ainda na condição de escravos, há muito estava incubado o fermento revolucionário, que já havia explodido com violência em revoltas que, periodicamente, sacudiam a Alemanha, desde o final do século XV. Eles esperavam a hora da própria libertação. Todo esse conjunto de fatores religiosos, culturais, políticos e sociais constituía um imenso material explosivo. Bastava uma centelha para fazê-lo estourar. Lutero foi o estopim, com sua personalidade forte e inspirada. A data exata do começo desse processo foi estabelecida a partir das 95 teses de Lutero, publicadas em novembro de 1517 (e não fixadas no dia 31 de outubro nas portas da Igreja de Wittenberg, como tradicionalmente se pensava). · Na mesma época,independentemente de Lutero,começaram sua pregação Zwinglio, na Suíça de língua alemã, e João Calvino, na de língua francesa.O movimento reformador, surgido em países diferentes e em determinadas situações históricas, apresenta - dentro de algumas diferenças inevitáveis - uma característica de unidade fundamental. Antes, porém, de apresentarmos os grandes protagonistas da Reforma e suas idéias, é necessário levarmos em consideração um pouco mais de história. Os principais acontecimentos Em primeiro lugar, é preciso lembrar o fato de que o movimento evangélico da Reforma teve seu epicentro na Alemanha, com Lutero, e daí envolveu toda a Europa. 1.º No final de 1517, Lutero interveio contra os abusos relacionados com a venda das indulgências, publicando 95 teses sobre o assunto e que se difundiram rapidamente, suscitando um grande movimento de cunho nacionalista, tendo como alvo principal a cúria romana. A briga com Roma já vinha se arrastando,quando Lutero foi defendido pelo príncipe da Saxônia, Frederico o Sábio,na disputa, sem êxito, com o cardeal Caetano, em Augusta (1518). Após a disputa em Lípsia (1519), com o teólogo João Eck, o mais duro adversário de Lutero, evidenciou-se o abismo intransponível entre as duas posições a respeito da doutrina do papado e da Igreja. A ruptura foi selada em 1521, quando Lutero acabou sendo excomungado por Roma. O imperador Carlos V, que era o mais fiel e decidido defensor da Igreja católica, convidou Lutero a retratar-se diante dos príncipes, na Dieta de Worms(1521), mas ele se recusou. Assim, o movimento evangélico desencadeado ia crescendo e não podia mais ser reprimido. O imperador não pôde intervir, porque estava ocupado em outro lugar, defendendo-se das agressões da França e das invasões dos turcos. 2.º Os anos 1519-1525 representaram o ponto culminante da Reforma, na medida em que o movimento evangélico suscitou também o entusiasmo popular que encontrava nas idéias luteranas a base para sustentar suas reivindicações (revolução dos cavaleiros, dos anabatistas e dos camponeses). Mas o movimento escapou das mãos do reformador e a anarquia e o caos alastraram-se pela Alemanha. Lutero, que inicialmente reconhecera como justas muitas reivindicações dos camponeses, depois exortou os príncipes a sufocar a rebelião em sangue(1525). Essa aliança com os príncipes acarretou-lhe uma grande perda de popularidade. Foi um momento crucial para Lutero que, embora sabendo dos perigos ao encontro dos quais caminhava, acabou reconhecendo no príncipe e no Estado o apoio de que sua reforma tinha necessidade. Com a sujeição do movimento ao poder civil, a renovação interior da Igreja por ele pregada recebia um duro golpe. A partir de 1524, começou a divisão política e confessional da Alemanha, segundo o princípio posteriormente aprovado na Paz de Augusta entre protestantes e católicos (1555): "Cuius regio, eius et religio"("Quem manda na região, manda também na religião", isto é, os súditos devem seguir a religião do príncipe). Nesses anos, foi criada a palavra "protestante", quando um grupo de príncipes e de cidades protestaram contra a decisão do imperador Carlos V de revogar uma decisão anterior (primeira Dieta de Espira em 1526), que dava aos príncipes a liberdade de aderirem ou não ao movimento da Reforma (segunda Dieta de Espira em 1529). Houve também profundas mudanças da liturgia, nas comunidades e nas Igrejas territoriais evangélicas. Muitos conventos ficaram vazios, muitos frades, freiras e padres diocesanos casaram. 3.º Na Dieta de Augusta (1530), os luteranos apresentaram sua profissão de fé (Confissão Augustana), que assumiu para a Igreja luterana o valor de um símbolo de fé. A Igreja católica replicou, mas a conseqüência de tudo foi simplesmente a constatação de que a divisão era um fato consumado e irreversível. Com efeito, os Estados evangélicos formaram, em 1531, a Liga de Esmalcalda, sinal de que a Alemanha setentrional tornara-se quase totalmente luterana. Houve também tentativas de reconciliar algumas divergências doutrinais, que tinham surgido dentro do próprio movimento evangélico, mas sem êxito. O imperador Carlos V conseguiu dominar a oposição protestante, derrotando a Liga de Esmalcalda em Mühlberg (1547), mas essa vitória militar contra um movimento espiritual não deu nenhum resultado. 4.º O Concílio de Trento, convocado pelo papa em 1536 e iniciado só no final de 1545, chegou tarde demais para restabelecer a unidade da Igreja. A Paz de Augusta (1555) não tinha outra alternativa senão a de reconhecer a situação existente naquele momento, sancionando a divisão da Alemanha, segundo a geografia religiosa. A Reforma dividiu-se em duas tendências - luterana e calvinista - que se combateram constantemente e de forma acentuada. O período de 1555 a 1648 representou o ponto culminante do absolutismo confessional. Em resumo, quem tomou conta das Igrejas foi mais uma vez o poder político: na qualidade de "summus episcopus"(bispo supremo), assistido por representantes eclesiásticos, estava o príncipe. Essa função do soberano permaneceu na Alemanha evangélica, até a queda do imperador, em 1918. 5.º Uma reforma marcada pelo humanismo bíblico e fortemente politizada foi introduzida na Suíça por Zwinglio e influenciou as regiões da Alemanha meridional, mas foi logo absorvida pelo calvinismo. Este, muito mais importante, iniciou-se em Genebra, na Suíça de língua francesa, espalhou-se pela França e por outros países europeus (Inglaterra, Escócia, Hungria, Polônia, Holanda e também por muitos territórios e cidades da Alemanha). Calvino deu ao seu movimento de reforma um caráter "presbiteriano-democrático", frisando quatro ministérios eclesiais (pregador, doutor, ancião, diácono) e introduzindo uma rigorosa disciplina eclesiástica. A Igreja "reformada" ou "presbiteriana" acabou se transformando numa poderosa força política. Um pouco mais tarde, tornou-se uma Igreja militante internacional, protagonista no desenvolvimento cultural e econômico nos países onde se instalou. O resultado final do movimento da Reforma não foi o restabelecimento do cristianismo das origens, mas uma de suas mais dolorosas divisões. Da única Igreja de Cristo surgiram várias Igrejas que combatiam duramente no campo confessional com a Igreja católica e entre si, provocando graves conseqüências ao longo desses últimos séculos. Todas as tentativas de reconciliação não tiveram êxito. Somente no séc. XX acordou, em todas as Igrejas cristãs, a consciência da pertença comum e a aspiração de todos os cristãos para formar uma autêntica fraternidade na única Igreja de Cristo. A doutrina essencial do processo da Reforma Podemos dizer que a doutrina comum e fundamental sustentada pelos três grandes reformadores - Lutero, Zwinglio e Calvino - apresenta resumidamente três dimensões: a prioridade das Escrituras, a justificação pela fé e o sacerdócio universal dos fiéis. A prioridade das Escrituras. Para as Igrejas surgidas da Reforma, o conjunto de textos do Antigo e Novo Testamento - as Escrituras - representam a única autoridade em matéria de fé, isto é, toda verdade em que acreditamos deve estar contida neles. A Escritura é uma mensagem de Deus para nós: ela narra o encontro misterioso de Deus com seu povo, o povo escolhido, ou seja, o povo judeu e agora, a Igreja, o novo povo de Deus. Narra também a encarnação de Deus em Jesus Cristo morto e ressuscitado e deixa transparecer a verdade e a justiça do Criador. Se a Escritura é mensagem de Deus, cada um pode e deve se alimentar dessa Palavra. Para ajudar as pessoas a ler e a entender a Bíblia, o Espírito Santo dá, segundo o pensamento de Lutero, seu testemunho interior, iluminando as mentes e dirigindo os corações dos fiéis, sem a necessidade da interpretação da Igreja: é o princípio do "livre exame" da Palavra de Deus. É preciso reconhecer que Lutero teve grandes méritos no que se refere à divulgação da Palavra de Deus: de um lado, ele estimulou sua leitura no meio do povo, do outro, os estudos para um conhecimento cada vez mais aprofundado dos textos sagrados. Uma parte da Bíblia foi escrita em hebraico, outra, em grego e, mais tarde, foi traduzida para o latim. Até a Reforma, ela só podia ser lida nessas línguas e, portanto, poucas pessoas tinham acesso direto à Palavra de Deus. O povo podia conhecê-la apenas através das homilias e da catequese. Assim, a primeira coisa que os reformadores fizeram foi traduzir as Escrituras para torná-las acessíveis a todos visto que, segundo eles, essas não necessitam de intermediários para serem compreendidas. Com efeito, os reformadores recorrem ao testemunho da Bíblia para interpretar os acontecimentos vividos pelo povo de Deus ao longo do tempo, mas procurando fugir de um perigo: o de pensar que precisamos entender tudo o que está na Bíblia ao pé da letra, como se ela fosse um código definitivamente fixo e imutável. Uma palavra, uma frase e certas comparações podem ter, agora, alguns milhares de anos depois, um significado diferente do que tinham quando foram escritas. É preciso buscar o verdadeiro significado do que se encontra na Bíblia para entender o que o autor quis dizer quando escreveu um determinado texto. É assim que Lutero entendia que a Bíblia devia ser interpretada, é assim que os católicos pensam também. Algumas seitas, que se chamam cristãs e que vieram muito tempo depois da Reforma, tendem a interpretar cada palavra da Bíblia ao pé da letra: é uma atitude perigosa que pode levar ao fundamentalismo e ao radicalismo. Por isso, o movimento da Reforma introduziu o princípio do estudo da Palavra de Deus à luz da pesquisa crítica, histórica, lingüística e teológica. Para a Igreja católica e ortodoxa, a Tradição também é um critério para julgar a veracidade da fé cristã. Quando falamos em Tradição, entendemos as obras dos escritores cristãos da Igreja primitiva (época patrística), as definições dos concílios (reuniões gerais de todos os bispos convocadas pelo papa), o ensinamento oficial da Igreja (Magistério) e a fé do povo. Isso quer dizer que a Igreja católica e a ortodoxa não se baseiam somente na Sagrada Escritura para fundamentar as verdades da fé, mas também nas outras fontes. Lutero não aceitou a Tradição. Numa atitude polêmica contra a Igreja católica, considerou a Bíblia como único critério sobre o qual se baseia nossa fé. Por exemplo, analisando os sete sacramentos a partir das bases bíblicas, ele chegou à conclusão de que só o Batismo e a Ceia (Eucaristia) estão em conformidade com a Escritura e que todos os outros foram instituídos pela Igreja. A justificação pela fé. A doutrina da justificação pela fé, uma das causas da ruptura de Roma com Lutero e de Lutero com Roma, segundo interpretação dos reformadores, decorre essencialmente do pensamento de são Paulo, sobretudo na Carta aos Romanos. Lutero quis realçar o fato de que a salvação não seria fruto da conquista do homem mediante suas obras, mas dom do amor de Deus. Isso poderia levar à conclusão de que não adianta esforçar-se para fazer o bem e conseguir a salvação eterna, pois a sorte de cada um já estaria determinada por Deus, independentemente do fato de a pessoa agir bem ou mal nesta vida. Basta aceitar, diz Lutero, Cristo como Salvador, isto é, basta crer com confiança que Deus Pai, em vista dos méritos de Jesus, não leva em conta os pecados do indivíduo: assim, a fé confiante faz com que Deus nos recubra com o manto dos méritos de Cristo, declarando-nos justos. A doutrina da justificação pela fé não nega que as boas obras tenham seu valor, mas nega que influam na salvação, pois não passam de sinal da fé e de ato de culto que o homem presta a Deus. Não podemos esquecer o fato de que a intuição reformadora da justificação pela fé surgiu de uma experiência pessoal de Lutero que, em sua crise espiritual, buscava um Deus misericordioso que salva apenas por um ato de sua bondade infinita. Podemos lembrar também algumas afirmações de Lutero sobre as quais se baseia a doutrina da justificação: · a natureza humana está radicalmente corrompida pelo pecado original; · a vontade humana não pode fazer nada para alcançar a salvação; · a má inclinação e a tendência ao mal, no homem, não podem ser eliminadas; · o processo de salvação está relacionado unicamente com a fé. Se é Deus quem faz tudo, se a vontade humana nada pode fazer e se as obras do homem não servem para alcançar a salvação, Lutero conclui que não é necessário nenhum sacerdócio, nem conventos nem votos religiosos, pois estes não passam de instituições em que o homem ocupa um lugar que seria de Deus. Tudo isso foi o principal instrumento de luta contra os abusos e as deformações do cristianismo da época e, particularmente, contra a cúria romana e o papado que o reformador identificava com o anticristo. Toda essa polêmica visava a reconduzir a Igreja a uma renovação e a uma reforma que levasse a viver a vida cristã com mais seriedade e profundidade, visto que, muitas vezes, esta se reduzia a meros gestos exteriores e sem vida. Além do mais, Lutero queria dar destaque e importância a Deus e a Jesus Cristo, em oposição às tendências da época - o Renascimento - que valorizava demais as capacidades intelectuais humanas. Tanto Lutero como todos os outros reformadores proclamaram que somente Deus, por uma graça absolutamente gratuita, oferece aos homens a salvação que não pode ser 'comprada' nem 'merecida', em vista do que fizemos de bom na vida, mas que é dada a quem tem fé, isto é, àquele que aceita que somente Deus pode salvar. Em outros termos, não seria necessário que o homem tivesse um bom comportamento para ser amado por Deus, basta que o tenha porque ele é amado por Deus! Portanto, a doutrina da justificação pela fé opõe-se a toda tentativa de obedecer às leis, à moral e de fazer o bem, práticas vistas como meios que garantem a salvação. Devemos fazer isso, sim, mas de maneira desinteressada, como resposta ao amor de Deus por nós. O sacerdócio universal dos fiéis. As Igrejas da Reforma não se apresentam como uma instituição imutável. Para elas, é natural evoluir, transformar-se e enriquecer-se de novas perspectivas. Com efeito, a Igreja existe em conformidade com a Palavra de Cristo: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles" (Mt.18, 20). Isso significa que a Igreja - organização humana e, portanto, falível - não pode ser considerada, pelos reformadores, como intermediária entre Deus e os fiéis: ela é simplesmente o espaço e o tempo reservado ao anúncio da Palavra de Deus. Para o protestante, entre o homem justificado pela fé e Deus, não há sacerdote a não ser Jesus, que está nos céus, e não há outro mestre a não ser o Espírito Santo, que fala nas Escrituras e no coração de cada um. Os pastores, nas Igrejas da Reforma, não são sacerdotes: eles não possuem nenhum poder especial que os distinga dos leigos. Esses, teoricamente, podem realizar as mesmas funções, todas as vezes que houver necessidade, ou que a autoridade o peça. Lutero, ao falar do sacerdócio de todos os fiéis, afirmou, em 1520, que "todos os cristãos batizados podem gloriar-se de ser padres, bispos e papa", embora nem sempre seja conveniente que isso aconteça. Com isso, Lutero quis mostrar que todos os leigos são chamados a participar ativamente da vida da Igreja. A Igreja anglicana O movimento reformador de Lutero não foi o único daquela época. Também na Inglaterra, quase na mesma época, mas por outros motivos, houve uma revolta contra a Igreja católica que levou à separação entre Roma e Cantuária (sé do arcebispo primaz da Igreja anglicana). É freqüente ver nessa ruptura apenas a conseqüência das paixões de Henrique VIII da Inglaterra. O rei, que havia sido declarado "defensor da fé" pelo papa Leão X, pediu a anulação do seu casamento com Catarina de Aragão, mas o pontífice não a concedeu. Assim, em 1534, Henrique VIII deixou de reconhecer a autoridade papal e separou-se da Igreja católica. Considerar esse como o único ou, praticamente, o mais importante fator da separação da Igreja inglesa de Roma é fruto de uma mentalidade simplista que desconhece a história. Na separação, influiu e muito também o caráter particularista do povo inglês, o seu desejo de independência ou, pelo menos, de grande autonomia. O Prayer Book (Livro da Oração Comum) da Igreja anglicana afirma que eles se consideram "uma Igreja católica para toda a verdade de Deus e protestante contra todos os erros dos homens". A Igreja anglicana não reconhece a autoridade do papa e distancia-se de Roma a respeito de algumas questões de doutrina. No entanto, conserva vários elementos católicos, como os sacramentos, os ritos litúrgicos e o conceito de hierarquia, baseado nas figuras do padre e do bispo; ao mesmo tempo, introduz alguns elementos característicos da reforma protestante, como a abolição das ordens religiosas, o casamento dos padres e o lugar central da Bíblia nas celebrações religiosas. Na Igreja anglicana distinguem-se a High Church (literalmente Igreja Alta, "anglo-católica" muito próxima ao catolicismo), e a Low Church, (Igreja Baixa, com muitos elementos protestantes, praticamente "evangelical"). Todavia, trata-se de uma única Igreja. Numa mesma diocese, encontramos paróquias com traços acentuadamente católicos e outras com expressões mais evangélicas, porém, ambas em plena comunhão com o bispo local. No mundo inteiro, existem 34 províncias ou Igrejas nacionais em plena comunhão com a Sé de Cantuária. Por isso, o arcebispo de Cantuária é o símbolo da unidade Anglicana. As Igrejas da Unidade Anglicana estão interligadas por laços de afeição e lealdade comum. Em cada país, cada província tem um nome próprio. Ex. : em Portugal, Igreja evangélica católica lusitana; na Espanha, Igreja episcopal reformada; na Inglaterra, simplesmente Igreja da Inglaterra e no Brasil, Igreja episcopal anglicana do Brasil. Atualmente, existe uma comissão de alto nível, nomeada pela Santa Sé e pela Sé de Cantuária, que se reúne periodicamente e que vem produzindo vários documentos, mostrando os pontos de convergência entre as comunhões romana e anglicana. Desde a década de 60, o arcebispo de Cantuária tem mantido encontros com o papa. Vale lembrar que, quando João Paulo II esteve na Inglaterra, visitou a catedral de Cantuária. A Igreja metodista Pela iniciativa de John Wesley (1703-1791), pastor anglicano formado pela Universidade de Oxford, surgiu, nos meados do século XVIII, outro movimento de renovação religiosa. Suas características espirituais marcantes são: estudo metódico da Bíblia (daí o nome de "metodista"); horas fixas reservadas diariamente à oração; participação quotidiana da santa Ceia e prática de obras de caridade. Quando a Igreja Anglicana proibiu a John Wesley de pregar em seus templos, ele começou sua pregação itinerante ao ar livre, dirigindo-se principalmente às massas proletárias provenientes da incipiente Revolução Industrial. Do ponto de vista espiritual, o movimento metodista exigia conversão e mudança radical de estilo de vida. No aspecto social, organizava "cruzadas" contra a escravidão, o alcoolismo, a prostituição e promovia obras assistenciais em favor das vítimas de calamidades sociais. O movimento não chegou a formar uma Igreja separada da anglicana, embora conservasse, de forma simplificada, a mesma riqueza litúrgica. Mais do que doutrina, o metodismo acentua a vida prática e a experiência religiosa. Wesley morreu como presbítero, em plena comunhão com a Igreja anglicana. Só anos após sua morte é que seus seguidores romperam com a Igreja da Inglaterra. Hoje, porém, existe um forte movimento trabalhando para a união de metodistas e anglicanos. O movimento anabatista Para muitos protestantes do século XVI, a Reforma não pareceu bastante radical. Outro grupo,denominado "anabatista", visava a uma renovação da Igreja até às conseqüências mais extremas. Queriam seus idealizadores uma Igreja espiritual, sem hierarquia visível e constituída exclusivamente por pessoas cuja adesão à Palavra de Deus fosse plenamente consciente. O batismo, portanto, deveria ser ministrado só aos adultos e não às crianças. Todo fiel que quisesse aderir a esse movimento, deveria ser rebatizado. Daí, o nome de "anabatistas" ou "rebatizadores". Pregavam eles uma total independência frente às autoridades civis; queriam viver separados do "mundo". Alguns isolaram-se pacificamente para fundar suas comunidades; outros enfrentaram violentamente a autoridade civil, considerada corrupta e perseguidora. Em 1534, um grupo ocupou a cidade de Münster, na Alemanha, matando os adversários do regime político e denominando a cidade "Nova Jerusalém". No ano seguinte, a cidade foi ocupada pelas tropas fiéis ao governo e toda a população masculina foi massacrada. A partir dessa data, os anabatistas foram sempre perseguidos, contudo, uma parte deles, relacionada com o calvinismo holandês, organizou-se nas comunidades dos menonitas, assim chamados por causa de seu fundador, Menno Simons. Eles também só aceitavam o batismo de adultos, mas eram pacíficos e reconheciam a autoridade civil, desde que não lhes impusesse obrigações em oposição à Palavra de Deus. A Igreja batista O pastor anglicano inglês John Smyth (1570-1612) é considerado fundador das primeiras comunidades denominadas "batistas". Também ele queria uma reforma mais radical e não se conformava com a organização hierárquica da Igreja anglicana, isto é, com o fato de bispos e padres ocuparem os lugares de comando. Perseguido por suas idéias, teve que se refugiar na Holanda. Lá encontrou um padeiro menonita que o convenceu da não validade do batismo ministrado às crianças. Ele mesmo se batizou novamente e, voltando à Inglaterra, fundou a Igreja batista que, no século XVIII, estabeleceu-se sobretudo nos Estados Unidos, espalhando-se, em seguida, pelo resto do mundo. Características típicas dessa religiosidade viva, que constantemente apela para uma decisão e um compromisso pessoal, são: · batismo dos fiéis como testemunho de fé e sinal da graça divina; · sacerdócio universal dos fiéis, sem qualquer distinção entre pastores e leigos; · estrutura eclesial que afirma a autonomia da comunidade local; · negação de todo ritualismo, para deixar espaço à religiosidade espontânea e individual. A Igreja adventista do sétimo dia (ou sabatistas) O termo "adventista" decorre de uma doutrina fundamentada sobre a espera da volta de Cristo à terra para proclamar o "fim dos tempos". O movimento surgiu nos Estados Unidos com a pregação de um batista, William Miller (1792-1849), que havia profetizado que Jesus viria em 1844. A profecia não se realizou e os seguidores de Miller dividiram-se em vários grupos, sendo que o mais importante assumiu a denominação de "adventistas do sétimo dia". Além de estabelecer o sábado como "Dia do Senhor", esse movimento pratica o princípio bíblico do dízimo, está relacionado com o movimento milenarista que coloca no centro de seu interesse o retorno de Cristo para os últimos tempos, reconhece a autoridade da Bíblia, o dogma da Trindade, mas tem uma concepção peculiar quanto à ressurreição dos mortos e ao reino de Deus. Proíbe o uso de álcool, cigarro e carne de porco e promove um tipo de vida natural. Essa Igreja possui muitas clínicas e casas de repouso onde seus princípios são aplicados. Movimentos colaterais à Reforma Entre as correntes religiosas da época, podemos lembrar a dos antitrinitários, chefiados por Miguel Servet, o qual foi condenado à fogueira em 1553, em Genebra, por Calvino. Não podem ser consideradas parte integrante do protestantismo os movimentos pseudo-cristãos: mórmons, testemunhas de Jeová, Igreja universal do Reino de Deus, os meninos de Deus. Conclusão Os objetivos da Reforma acabaram também sendo instrumentalizados pelo poder político. A tão proclamada liberdade do Evangelho e de seus pregadores, em pouco tempo, foi fechada dentro de um sistema de Igrejas de Estado ou de Igrejas nacionais, sob controle dos príncipes. A partir da intuição e do desejo de reforma e de renovação do cristianismo e da Igreja, surgiram muitas Igrejas cristãs e novos movimentos religiosos, com diversas e diferentes confissões de fé. O luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo foram as principais Igrejas dentro de um movimento complexo e diversificado. Para a Igreja católica, tudo isso representou uma das mais amargas experiências de sua história. A Europa setentrional, de cultura germânica, e muitas outras regiões européias separaram-se da antiga Igreja. Nas Igrejas territoriais evangélicas, foi suprimido todo elemento católico. Houve muita desconfiança, luta, incompreensão entre as Igrejas cristãs e só mais tarde, a partir do movimento filosófico chamado Iluminismo, abriu-se o caminho da tolerância recíproca entre elas. Aos poucos, percebeu-se também que é preciso algo mais que a simples tolerância. Neste século, diante da constatação da existência de várias Igrejas que querem ser cristãs, começou a surgir esta preocupação: como eliminar as barreiras e os preconceitos para chegar a uma convivência pacífica e até a uma verdadeira amizade entre os cristãos? Já no século passado, na Europa, com o movimento de Oxford buscava-se a união das Igrejas. E no começo deste século, as igrejas de tradição evangélica deram início ao movimento ecumênico que as levou, mais tarde, a fundar o Conselho Mundial de Igrejas. O próprio papa João XXIII falou em "encontrar-se para conhecer-se e conhecer-se para amar-se". O movimento ecumênico conseguiu sensibilizar os católicos, especialmente após o Concílio Vaticano II (1963-1965). Antes, já se falava dos protestantes como irmãos separados, mas se pensava assim: eles, que saíram da Igreja, devem voltar e então, haverá unidade. Agora, pensamos assim: todas as Igrejas cristãs devem fazer uma boa reflexão para ver se são totalmente fiéis ao ensinamento de Cristo e se aceitam todo o Evangelho ou só em parte. Esse exame de consciência, essa conversão a Cristo, que todos os cristãos devem fazer, são condições iniciais e indispensáveis para que se possa continuar o discurso sobre unidade entre os cristãos, eliminando, aos poucos, as barreiras e as incompreensões. Na Igreja católica, depois do Concílio, houve, com efeito, profundas mudanças na liturgia, no relaçionamneto da Igreja com o mundo, com as outras Igrejas e religiões, com as ideologias não religiosas e até com o ateísmo. A perspectiva atual das Igrejas cristãs não é mais de desconfiança ou de condenação, mas de positiva e recíproca compreensão, na acolhida de novas idéias e experiências. Questões para sua reflexão 1.º Se fosse possível fazer um julgamento crítico da atuação de Lutero e considerando a situação histórica daquela época, quais outras atitudes você acha que ele poderia ter tomado e que não levassem à separação? 2.º Em sua opinião, quais são os pontos mais significativos que unem e "separam" protestantes, anglicanos e católicos? 3.º Procure descobrir a diferença entre "ecumenismo"e "diálogo inter-religioso" e analise quais as mudanças que ambos poderiam trazer para as relações entre os povos.
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No século XVI a Europa foi abalada por uma série de movimentos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da igreja católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos genericamente como Reforma, foram sem dúvida de cunho religioso. No entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo que as mudanças na economia européia, juntamente com a ascensão da burguesia. Por isso, algumas correntes do movimento reformista se adequavam às necessidades religiosas da burguesia, ao valorizar o homem “empreendedor” e ao justificar a busca do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica.
Os fatores que desenvadearam a Reforma
Uma das causas importantes da Reforma foi o humanismo evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento. No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura (1509), de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero efetivasse o rompimento com a igreja católica.
O papa Leão X, no centro, em pintura de Rafael Sanzio, de 1518.
Durante o seu papado (1483 - 1520) surgiu o movimento reformista,
que levaria à divisão do Cristianismo na Europa (Galeria delli Uffizi, Florença)
Moralmente, a Igreja estava em decadência: preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos, venda de relíquias e, principalmente, a venda das famosas indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Lutero. O papado garantia que cada cristão pecador poderia comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um sentimento de nacionalidade às pessoas que habitavam uma mesma região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
Outro fator muito importante, ligado ao anterior, foi a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que representou na formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi fundamental na Reforma religiosa. Ora, na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que é a essência do capital, era pecado. A burguesia precisava, portanto, de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as atividades ligadas ao comércio.
A doutrina protestante, criada pela Reforma, satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo de capital como forma de obtenção do paraíso celestial. Assim, grande parte da burguesia, ligada às atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.
Por que a Reforma começou na Alemanha?
No século XVI, a Alemanha não era um Estado politicamente centralizado. A nobreza era tão independente que cunhava moedas, fazia a justiça e recolhia impostos em suas propriedades. Para complementar sua riqueza, saqueava nas rotas comerciais, expropriando os mercadores e camponeses.
A burguesia alemã, comparada à dos países da Europa, era débil: os comerciantes e banqueiros mais poderosos estabeleciam-se no sul, às margens do Reno e do Danúbio, por onde passavam as principais rotas comerciais; as atividades econômicas da região eram a exportação de vidro, de metais e a “indústria” do papel; mas o setor mais forte da burguesia era o usurário.
Quem se opunha à igreja na Alemanha.
A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domínios se localizavam às margens do Reno, chamadas de “caminho do clero”, e eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à Igreja.
A Igreja era sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a Igreja como inimiga. Seus anseios eram por uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos impostos e, principalmente, que não condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Os senhores feudais alemães estavam interessados nas imensas propriedades da Igreja e do clero alemão.
Os pobres identificavam a Igreja com o sistema que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos.
Às vésperas da Reforma, a luta de classes e política acabou assumindo uma forma religiosa.
Fonte: www.saberhistoria.hpg.ig.com.br
Reforma Protestante
O movimento reformista deu-se num período em que as exigências espirituais dos fiéis já não mais encontravam respaldo na Igreja Católica. Ao final da Idade Média, havia um clima de total inquietação religiosa entre a população européia, que se sentia culpada e certa de que seria castigada após a morte.
Contribuiu para isso as desgraças que marcavam a época (guerras, pestes) e as profecias de pregadores populares, que viam aqueles anos como prenúncio do Juízo Final. A Igreja Católica tirava proveito desse contexto. Seus representantes entoavam sermões apocalípticos, denunciavam pecados e exigiam do povo que recebesse, com passividade, seu destino. Havia, contudo, uma maneira de se salvar: as indulgências.
Em resumo, os pontífices vendiam a salvação aos seus fiéis e, em virtude da mentalidade da época, isso gerou lucros fabulosos para a Igreja, que explorava uma população já miserável e carente, desvirtuando-se totalmente de sua mensagem original: a da fé. Para completar, inúmeros indivíduos que exerciam atividades eclesiásticas eram completamente despreparados para a função e preocupavam-se exclusivamente com os lucros fáceis que ela, e a posição social que dela advinha, gerava. No entanto, certos teólogos passaram a denunciar todo esse panorama e, gradualmente, a Igreja Católica caiu em descrédito. Membros da elite intelectual eclesiástica passaram a estudar novas formas de espiritualidade, baseando-se no humanismo, misticismo, filosofia clássica e outras vertentes do pensamento humano.
Porém, aquele que detonou a Reforma foi Martinho Lutero. Seu pensamento foi concebido a partir das Cartas de São Paulo e, em suma, pregava que Deus julgava os mortais por sua fé e não por seus pecados e obras. Assim, era impossível atribuir-se valor a obras de caridade: condenava-se a prática da venda de indulgências. Lutero foi mais longe, afirmando que apenas Deus perdoava, sendo que o papa ou poder algum possuía nesse sentido. A reação da Igreja Católica foi imediata. Toda a classe eclesiástica repudiou as convicções de Lutero e proibiu que seus fiéis a seguissem. Mas logo o luteranismo difundiu-se, com o apoio de intelectuais, humanistas, estudantes e da nobreza, que sonhava em abocanhar os bens da Igreja.
A partir daí, inúmeras religiões foram formadas, sempre tendo um pensador central como seu mentor.
Ulrich Zwinglio, João Calvino (Calvinismo) e Henrique VIII (Anglicanismo), dentre muitos outros, fundaram suas próprias religiões, impulsionando a revolução protestante. Contudo, a partir de meados de 1540, a Igreja Católica contra-atacou. Condenou o protestantismo e instituiu a Santa Inquisição, que perseguia todos aqueles que se guiassem pelas novas crenças em detrimento da ortodoxia católica. A Inquisição deu resultado na Itália e, principalmente, na Espanha. Paralelamente a isso, os candidatos à vida eclesiástica passaram a ser cuidadosamente selecionados e submetidos a uma rigorosa educação antes de passar a exercer suas funções espirituais, criou-se ordens (como a dos capuchinhos e a Companhia de Jesus) para disseminar a religião e proibiu-se a leitura de diversos livros reformistas. O intuito era brecar o avanço protestante e, apesar de apenas reafirmar todos os seus ortodoxos preceitos, a Contra-Reforma permitiu que a Igreja Católica continuasse sustentando-se nessa nova era.
Reforma Calvinista
A Reforma de Lutero causou reviravoltas religiosas em toda a Europa. O protestantismo alastrou-se rapidamente e ganhou inúmeras novas interpretações em todo o continente. Uma dessas novas interpretações foi perpetrada pelo humanista João Calvino, francês que, logo que se converteu à religião protestante, passou a estudar sistematicamente essa nova crença. Do seu pensamento, surgiram tratados religiosos que traziam uma nova visão da Reforma e logo uma nova doutrina foi formada, o calvinismo.
Apesar da nacionalidade francesa de seu criador, o calvinismo alcançou particular influência na Suíça, onde a burguesia local lutava contra os desmandos do católico Duque de Savóia, adotando ideais protestantes. Calvino percebeu que se pregasse para uma população propensa a aceitar suas idéias, como estavam os suíços, o sucesso seria inevitável, o que, de fato, aconteceu. Segundo o calvinismo, o homem nasce predestinado, não detém o menor controle sobre o seu destino. Ao contrário do que afirmava Lutero (que pregava que o homem poderia ser salvo pela fé), a doutrina de Calvino afirmava que Deus já escolhera os indivíduos que seriam salvos e os que seriam condenados, e suas ações no campo terreno de nada adiantavam para reverter sua situação. No que se refere às questões éticas e morais, o calvinismo era conservador e tinha como particularidade a rigidez de costumes que impunha aos fiéis. Na Suíça, por exemplo, após a queda do Duque de Savóia, implementou-se o governo da Igreja Calvinista do país. Resultado: foi adotado um severo órgão de vigilância, responsável por fiscalizar a existência de atividades amorais e de punir aqueles que as praticassem. Proibiu-se a dança e os jogos, os altares foram retirados dos templos e a liturgia foi extremamente simplificada, de modo que se tornasse inteligível não só para os intelectuais clericais. Talvez aí esteja o maior motivo para explicar o fascínio que o calvinismo, tão opressor, causou na Europa, encontrando muitos adeptos na Europa, em especial na Suíca, França, Holanda, Escócia e Inglaterra.
Reforma Anglicana
A Reforma Protestante de Lutero causou reviravoltas religiosas praticamente em toda a Europa. As novas religiões, baseadas no princípio da livre interpretação bíblica, expandiram-se por todo o continente. Uma delas, o anglicanismo, foi criada pelo rei inglês Henrique VIII. Durante o governo desse monarca (1509-1547), a burguesia exercia enorme pressão para que o aumento do poder do Parlamento fosse autorizado pelo monarca. Com isso, os burgueses buscavam fortalecer sua presença na sociedade, o que apenas um Parlamento (formado por burgueses e senhores simpáticos a eles) forte poderia garantir. Caso conseguisse seu intento, a burguesia passaria a ter poder para legislar sobre as atividades comerciais e financeiras, diminuindo o poder da Igreja e do próprio rei. Henrique VIII, para não ceder às pressões, necessitava angariar mais fundos para o Estado. Assim, confiscou bens da Igreja. Essa decisão enfureceu o papa, que ficou ainda mais abestalhado quando Henrique solicitou a anulação de seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão. Com o divórcio, o monarca pretendia impedir que a Inglaterra viesse a cair em mãos espanholas após sua morte, já que não possuía herdeiros masculinos com a princesa. A população britânica também apavorava-se com a idéia de um possível jugo espanhol sobre si e apoiou totalmente seu rei na questão com o papa. Este último, contudo, emburrado com o confisco de riquezas, negou o pedido. Por seu lado, Henrique rompeu com o Vaticano e, alegando fidelidade aos princípios da Reforma, iniciou uma na Igreja inglesa. Autocoroou-se chefe religioso e obrigou os líderes clericais do país a reconhecê-lo como tal, jurando-lhe fidelidade. Com a artimanha, conseguia não só calar o papa, como também livrava-se de Catarina. Mais: assegurou a continuidade da soberania inglesa sobre seu próprio trono e, com a apropriação (agora legal, já que o rei era também chefe religioso) das riquezas da Igreja, financiou a Coroa, calando as pressões burguesas. Em suma, porém, o anglicanismo não representou uma Reforma teórica de fato (como o foi o calvinismo, por exemplo). Foi, isso sim, uma autêntica manobra política, sagaz e oportuna, que foi tão bem sucedida que tornou-se uma religião de fato (embora muitos de seus preceitos sejam idênticos aos católicos) _ principalmente após 1563, com a publicação da Lei dos Trinta e Nove Artigos, onde se encontram todos os fundamentos da doutrina anglicana, pela rainha Elizabeth I.
Fonte: www.renascebrasil.com.br
Reforma Protestante
O movimento reformista deu-se num período em que as exigências espirituais dos fiéis já não mais encontravam respaldo na Igreja Católica.
Ao final da Idade Média, havia um clima de total inquietação religiosa entre a população européia, que se sentia culpada e certa de que seria castigada após a morte.
Contribuiu para isso as desgraças que marcavam a época (guerras, pestes) e as profecias de pregadores populares, que viam aqueles anos como prenúncio do Juízo Final.
A Igreja Católica tirava proveito desse contexto. Seus representantes entoavam sermões apocalípticos, denunciavam pecados e exigiam do povo que recebesse, com passividade, seu destino.
Havia, contudo, uma maneira de se salvar: as indulgências. Em resumo, os pontífices vendiam a salvação aos seus fiéis e, em virtude da mentalidade da época, isso gerou lucros fabulosos para a Igreja, que explorava uma população já miserável e carente, desvirtuando-se totalmente de sua mensagem original: a da fé.
Para completar, inúmeros indivíduos que exerciam atividades eclesiásticas eram completamente despreparados para a função e preocupavam-se exclusivamente com os lucros fáceis que ela, e a posição social que dela advinha, gerava.
No entanto, certos teólogos passaram a denunciar todo esse panorama e, gradualmente, a Igreja Católica caiu em descrédito. Membros da elite intelectual eclesiástica passaram a estudar novas formas de espiritualidade, baseando-se no humanismo, misticismo, filosofia clássica e outras vertentes do pensamento humano.
Porém, aquele que detonou a Reforma foi Martinho Lutero. Seu pensamento foi concebido a partir das Cartas de São Paulo e, em suma, pregava que Deus julgava os mortais por sua fé e não por seus pecados e obras.
Assim, era impossível atribuir-se valor a obras de caridade: condenava-se a prática da venda de indulgências. Lutero foi mais longe, afirmando que apenas Deus perdoava, sendo que o papa ou poder algum possuía nesse sentido.
A reação da Igreja Católica foi imediata. Toda a classe eclesiástica repudiou as convicções de Lutero e proibiu que seus fiéis a seguissem. Mas logo o luteranismo difundiu-se, com o apoio de intelectuais, humanistas, estudantes e da nobreza, que sonhava em abocanhar os bens da Igreja.
A partir daí, inúmeras religiões foram formadas, sempre tendo um pensador central como seu mentor. Ulrich Zwinglio, João Calvino (Calvinismo) e Henrique VIII (Anglicanismo), dentre muitos outros, fundaram suas próprias religiões, impulsionando a revolução protestante.
Contudo, a partir de meados de 1540, a Igreja Católica contra-atacou. Condenou o protestantismo e instituiu a Santa Inquisição, que perseguia todos aqueles que se guiassem pelas novas crenças em detrimento da ortodoxia católica.
A Inquisição deu resultado na Itália e, principalmente, na Espanha. Paralelamente a isso, os candidatos à vida eclesiástica passaram a ser cuidadosamente selecionados e submetidos a uma rigorosa educação antes de passar a exercer suas funções espirituais, criou-se ordens (como a dos capuchinhos e a Companhia de Jesus) para disseminar a religião e proibiu-se a leitura de diversos livros reformistas.
O intuito era brecar o avanço protestante e, apesar de apenas reafirmar todos os seus ortodoxos preceitos, a Contra-Reforma permitiu que a Igreja Católica continuasse sustentando-se nessa nova era.
Reforma Luterana
Martinho Lutero (1483-1546) procurou aproximar o povo da celebração do culto, além de introduzir o canto coral coletivo na igreja.
O Canto Gregoriano foi substituído por canções rimadas e divididas em estrofes, muitas delas oriundas do cancioneiro popular. Consciente dos grandes valores do canto litúrgico, Lutero (1483-1546) introduziu, na música religiosa, sensíveis modificações, que culminaram com a popularização dos Corais.
Reforma Anglicana
A Reforma Protestante de Lutero causou reviravoltas religiosas praticamente em toda a Europa. As novas religiões, baseadas no princípio da livre interpretação bíblica, expandiram-se por todo o continente.
Uma delas, o anglicanismo, foi criada pelo rei inglês Henrique VIII. Durante o governo desse monarca (1509-1547), a burguesia exercia enorme pressão para que o aumento do poder do Parlamento fosse autorizado pelo monarca.
Com isso, os burgueses buscavam fortalecer sua presença na sociedade, o que apenas um Parlamento (formado por burgueses e senhores simpáticos a eles) forte poderia garantir. Caso conseguisse seu intento, a burguesia passaria a ter poder para legislar sobre as atividades comerciais e financeiras, diminuindo o poder da Igreja e do próprio rei.
Henrique VIII, para não ceder às pressões, necessitava angariar mais fundos para o Estado. Assim, confiscou bens da Igreja. Essa decisão enfureceu o papa, que ficou ainda mais abestalhado quando Henrique solicitou a anulação de seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão.
Com o divórcio, o monarca pretendia impedir que a Inglaterra viesse a cair em mãos espanholas após sua morte, já que não possuía herdeiros masculinos com a princesa. A população britânica também apavorava-se com a idéia de um possível jugo espanhol sobre si e apoiou totalmente seu rei na questão com o papa.
Este último, contudo, emburrado com o confisco de riquezas, negou o pedido. Por seu lado, Henrique rompeu com o Vaticano e, alegando fidelidade aos princípios da Reforma, iniciou uma na Igreja inglesa.
Autocoroou-se chefe religioso e obrigou os líderes clericais do país a reconhecê-lo como tal, jurando-lhe fidelidade. Com a artimanha, conseguia não só calar o papa, como também livrava-se de Catarina.
Mais: assegurou a continuidade da soberania inglesa sobre seu próprio trono e, com a apropriação (agora legal, já que o rei era também chefe religioso) das riquezas da Igreja, financiou a Coroa, calando as pressões burguesas.
Em suma, porém, o anglicanismo não representou uma Reforma teórica de fato (como o foi o calvinismo, por exemplo).
Foi, isso sim, uma autêntica manobra política, sagaz e oportuna, que foi tão bem-sucedida que tornou-se uma religião de fato (embora muitos de seus preceitos sejam idênticos aos católicos) _ principalmente após 1563, com a publicação da Lei dos Trinta e Nove Artigos, onde se encontram todos os fundamentos da doutrina anglicana, pela rainha Elizabeth I.
Reforma Calvinista
A Reforma de Lutero causou reviravoltas religiosas em toda a Europa. O protestantismo alastrou-se rapidamente e ganhou inúmeras novas interpretações em todo o continente.
Uma dessas novas interpretações foi perpetrada pelo humanista João Calvino, francês que, logo que se converteu à religião protestante, passou a estudar sistematicamente essa nova crença.
Do seu pensamento, surgiram tratados religiosos que traziam uma nova visão da Reforma e logo uma nova doutrina foi formada, o calvinismo.
Apesar da nacionalidade francesa de seu criador, o calvinismo alcançou particular influência na Suíça, onde a burguesia local lutava contra os desmandos do católico Duque de Savóia, adotando ideais protestantes.
Calvino percebeu que se pregasse para uma população propensa a aceitar suas idéias, como estavam os suíços, o sucesso seria inevitável, o que, de fato, aconteceu.
Segundo o calvinismo, o homem nasce predestinado, não detém o menor controle sobre o seu destino. Ao contrário do que afirmava Lutero (que pregava que o homem poderia ser salvo pela fé), a doutrina de Calvino afirmava que Deus já escolhera os indivíduos que seriam salvos e os que seriam condenados, e suas ações no campo terreno de nada adiantavam para reverter sua situação.
No que se refere às questões éticas e morais, o calvinismo era conservador e tinha como particularidade a rigidez de costumes que impunha aos fiéis. Na Suíça, por exemplo, após a queda do Duque de Savóia, implementou-se o governo da Igreja Calvinista do país.
Resultado: foi adotado um severo órgão de vigilância, responsável por fiscalizar a existência de atividades amorais e de punir aqueles que as praticassem.
Proibiu-se a dança e os jogos, os altares foram retirados dos templos e a liturgia foi extremamente simplificada, de modo que se tornasse inteligível não só para os intelectuais clericais.
Talvez aí esteja o maior motivo para explicar o fascínio que o calvinismo, tão opressor, causou na Europa, encontrando muitos adeptos na Europa, em especial na Suíca, França, Holanda, Escócia e Inglaterra.
Fonte: urs.bira.nom.br
Reforma Protestante
A história da Reforma Protestante e a Contra-Reforma Católica
Introdução
A Igreja foi uma poderosa instituição medieval. Mas entre os séculos XI e XIII, ela passou por diversas crises e mudanças, surgindo daí inúmeros movimentos que criticavam seus valores e posturas:
As heresias, que contestavam certos dogmas da Igreja Católica e por isso foram duramente perseguidas;
As ordens mendicantes, correntes internas que questionavam a preocupação da Igreja com as questões materiais;
As reações da própria Igreja para combater esses movimentos, principalmente a reforma gregoriana (do papa Gregório VII, na primeira metade do século XI) e a instituição da Santa Inquisição, no século XIII.[1}
A partir do século XV as críticas à Igreja Católica retornaram, ganhando muitas forças no século XVI. Os conflitos e as diferenças dentro da Igreja tornaram-se tão séria neste século, que acabaram gerando uma cisão na cristandade por meio da Reforma Protestante.
Alguns fatores gerais
No século XV, com as profundas transformações que ocorriam na Europa (a expansão marítima, o renascimento urbano e comercial e o humanismo/Renascimento), os movimentos que questionavam o excessivo comprometimento da Igreja Católica com os problemas mundanos e materiais ganharam mais espaço e força para se desenvolverem.
Dois fatos colaboraram muito para agravar ainda mais a situação da Igreja ao longo dos séculos XV e XVI:
A crescente onda de corrupção com a venda de indulgência, relíquias religiosas e cargos eclesiásticos importantes, bem como a concubinagem do clero.
E, ao mesmo tempo que o papa (autoridade máxima da Igreja) perdia poder para monarquias nacionais, enfraquecendo-se, cometia abusos políticos, envolvendo-se em acordos e golpes políticos com o objetivo de universalizar sua influência na Europa católica.
A Igreja tornava-se cada vez mais vulnerável tanto no aspecto moral quando no religioso. As insatisfações generalizavam-se por toda a Europa.
A burguesia estava insatisfeita porque seus interesses chocavam-se com as posturas da Igrejas, como, por exemplo, a condenação da usura (lucro proveniente de juros exagerados) e da cobiça (desejo de possuir bens materiais e poder). Os Estados nacionais (ou o rei) queriam limitar os poderes temporais da Igreja nas suas fronteiras. O fiel de origem humilde via a Igreja defendo a exploração feudal e não encontrava nela o apoio espiritual de que tanto precisava naquela época de crise.
No aspecto teórico, o Renascimento foi muito importante, uma vez que, de acordo com sua postura antropocêntrica valorizava o homem e sua individualidade e ainda o espírito critico do intelectual e cientista. Isto contribuiu muito para uma aproximação entre fé e razão e para a revisão de atitudes religiosas, como a idéia de que a interlocução com Deus poderia ser individual, sem a mediação do clero; ou ainda que a interpretação da Bíblia deveria ser livre e pessoal.
Gradativamente, forma sendo criadas na Europa condições para o surgimento de religiões mais adaptadas ao espírito capitalista.
Nesse quadro de insatisfações surgiram os primeiros reformistas [também chamados de pré-reformadores]: o inglês John Wycliffe, professor da Universidade de Oxford, já defendia (entre o final do século XIV e o início do XVI) a livre interpretação da Bíblia, o fim dos impostos clericais e questionava a existência da hierarquia eclesiástica.
O tcheco John Huss, professor da Universidade de Praga, foi um seguidor das idéias de John Wycliffe. Ele defendia, nessa mesma época, a utilização das línguas nacionais nos cultos religiosos, em vez do latim; chegou até a traduzir a Bíblia para seu idioma, o que era um sacrilégio. Foi condenado pela Igreja em 1417 e morto na fogueira.
Essas primeiras iniciativas não tiveram muita repercussão, ficando restrita às igrejas de seus países, o que não ocorreu com os reformadores seguintes.
A Reforma Protestante na Alemanha
No século XVI a Alemanha não existia como a conhecemos hoje; ela fazia parte de um império mais extenso, o Sacro Império Romano-Germânico. O Império estava divido em diversas regiões independentes, os principados. Logo, o poder estava descentralizado nas mãos dos príncipes (a centralização do Estado alemão só viria a ocorrer no século XIX), que comandavam todas as ações na sua região.
O Sacro Império e a Igreja Católica disputavam o poder na região, produzindo alguns conflitos. Grande proprietária de terras, a Igreja alemã continuava vinculada ao mundo feudal, explorando os camponeses e impedindo o desenvolvimento do comércio e, conseqüentemente, da burguesia. Além disso, em razão da sua grande força nas questões temporais, a corrupção e a decadência moral da Igreja assumiam grandes proporções na Alemanha. A sociedade, de maneira geral, a via de forma muito negativa.
Por isso, em outro de 1517, o monge agostiniano (portanto, membro da Igreja Católica) e professor universitário Martinho Lutero (1483 – 1546) afixou na porta da catedral de Wittenberg 95 teses e que denunciava e protestava contra a venda de indulgências.
O papa, na época Leão X, exigiu sua retratação, o que não ocorreu, prolongando o conflito por cerca de três anos. Finalmente, em 1520, Lutero foi excomungado pelo papa. Para demonstrar sua insatisfação, ele queimou em público a bula papal que o condenava. Em virtude de sua radicalidade, Lutero foi proscrito do Império. No entanto, o príncipe Frederico da Saxônia o acolheu em seu castelo.Protegido no castelo, Martinho Lutero traduziu a Bíblia do latim para o alemão (o que era proibido na Época [pela Igreja Católica]).
A difusão da Reforma e as lutas religiosas
As idéias da Reforma Luterana espalharam-se pelo Sacro império Romano-Germânico e provocaram diversos conflitos sociais, políticos e religiosos.
Alguns nobres, por exemplo, apropriaram-se de terras da Igreja, pela conversão ao luteranismo. De outro lado, de forma violenta, vários nobres decadentes atacaram, em 1522 e 1523, principados católicos (a Revolta dos Cavaleiros) par se apoderarem de suas riquezas. Houve reação dos católicos, que impediram e esmagaram a revolta.
Esses conflitos armados motivaram a organização de camponeses e trabalhadores urbanos envolvidos na Revolta dos Cavaleiros. Liberados pelo sacerdote luterano Thomas Munzer, esse movimento foi profundamente influenciado pelo anabatismo.
O anabatismo era um corrente reformista mais radical; rejeitava qualquer sacerdócio, já que Deus se comunicava diretamente com os eleitos, combatia a riqueza, a miséria e a propriedade privada e pregava a igualdade social. Por causa desses princípios, o anabatismo era muito divulgado entre a população mais pobre e deu um tom revolucionário às revoltas.
Temendo p desenvolvimento das revoltas populares, nobres e burgueses, católicos e luteranos (com a concordância de Lutero) uniram-se pra combater o inimigo comum. Em 1525 um grande exército marchou contra os revoltosos, eliminando cerca de cem mil pessoas e decapitando o líder Thomas Munzer.
Após o fim das revoltas populares, as nobrezas católicas e luterana voltaram a se enfrentar, lutando por terras e poder. O imperador Carlos V, fiel à Igreja, procurou pôr fim às agitações convocando, em 1530, a Dieta de Augsburgo (uma espécie de assembléia de nobres) para discutir os conflitos. Ele tentava conciliar as posições de reformistas e católicos. Mas os luteranos, através de Melachton, discípulo de Lutero, reafirmaram suas posições na Confissão de Augsburgo , e as lutas reiniciaram.
A nobreza luterana organizou uma Liga militar (Liga de Esmalcalda), para combater os exércitos imperiais. As lutas estenderam-se até 1555, quando foi assinada, pelo novo imperador Fernando I, a paz em Augsburgo. Este tratado de paz reconheceu a divisão religiosa da Alemanha e determinou que o povo da cada principado deveria seguir a religião de seu príncipe.
Com o fortalecimento de luteranismo na Alemanha, ele começou a influenciar os paises escandinavos (Suécia, Dinamarca e Noruega). Todos os reis dessa região se converteram à Reforma Protestante, determinando o fim da influencia católica nesses paises.
A Reforma Protestante na Europa
O Calvinismo
Na França, antes da forte influência luterana, alguns humanistas haviam tentado realizar uma reforma religiosa mais pacífica, mas não alcançaram nenhum sucesso. O catolicismo na França era bastante forte e tinha o apoio da monarquia.
As idéias de Lutero continuavam se espalhando pela Europa. Na França, um estudioso das artes liberais e de Direito chamado João Calvino (1509 – 1564) aderiu à reforma pregada por Lutero. O reformismo Luterano ganhou certa radicalidade nas concepções da Calvino:
O homem, um pecador, só podia ser salvar pela fé (Ef 2.1, 8). [Depravação total - Todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de escolher o bem em questões espirituais.]
Deus é transcendente (superior, acima do mundo real) e incompreensível; Ele só revelou aquilo que quis revelar através das Escrituras. [Soberania de Deus - Spurgeon (1834-1892) enfatiza corretamente: “Deus é independente de tudo e de todos. Ele age de acordo com Sua própria vontade. Quando Ele diz: ‘eu farei’, o que quer que diga será feito. Deus é soberano, e Sua vontade, não a vontade do homem, será feita”. Deus se apresenta nas escrituras como todo-poderoso (onipotente), com capacidade para fazer todas as coisas conforme sua vontade (SI 115:3; 135:6; Is 46:10; Dn 4:35; Ef 1:11) [a]]
A predestinação divina absoluta já destinava o futuro do homem à salvação ou à condenação. [A doutrina da Predestinação - Deus escolheu dentre todos os seres humanos decaídos um grande número de pecadores por graça pura, sem levar em conta qualquer mérito.
Perseguido, Calvino refugiou-se na cidade suíça de Genebra, 1536 [b]. A Suíça era um país onde as idéias reformistas luteranas já tinham alguma força devido à pregação de Úlrico Zwinglio (1484-1531).
Apoiado pela burguesia local. Calvino desenvolveu suas idéias e deu um novo vigor militante ao reformismo. Ele pregava a valorização do trabalho (veja artigo de Hermisten M. P. Costa sobre A Reforma e o Trabalho); não condenava o empréstimo de dinheiros a juros, como a Igreja Católica fazia.
Por isso, Calvino acumulou força política e assumiu o governo da cidade. Governando como [autoridade], sua administração impôs rígidos costumes morais: proibindo o jogo de cartas, a dança e o teatro.
Como suas idéias iam diretamente ao encontro das necessidades burguesas de acúmulo de capital (veja artigo Calvinismo e Capitalismo: Qual é Mesmo a Sua Relação? [d]) e de valorização do trabalho, o calvinismo se espalhou rapidamente pela Europa. Na Escócia foi organizada a Igreja Presbiteriana (leia sobre John Knox e também John Knox: O Reformador da Escócia ); no norte dos Paises Baixos (Holanda), originou-se o movimento dos puritanos, que se difundiu para a Inglaterra e para a França. (na França os Calvinistas eram chamados de huguenotes, na Inglaterra de puritanos). [O presbiterianismo (igreja Calvinistas) foi levado da Escócia para a Inglaterra; de lá, para os Estados Unidos da América. Em 1726 teve início um grande despertamento espiritual nos Estados Unidos. Este despertamento levou os presbiterianos a se interessarem por missões estrangeiras. Missionários foram enviados para vários países, inclusive o Brasil. No dia 12 de agosto de 1859 chegou ao nosso país o primeiro missionário presbiteriano: Ashbel Green Simonton. Este foi fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil www.ipb.org.br.] Leia a História do Presbiterianismo e sua confissão de Fé - Westminster.
O anglicanismo
A Reforma na Inglaterra tomou um caráter bem original.
A igreja católica, ao mesmo tempo que era muito rica em terras, dependia da proteção do Estado. Henrique VIII, rei da Inglaterra, condenou, a principio, o ideário luterano e perseguiu seus seguidores, sendo condenando pela igreja como “Defensor da Fé”.
Por outro lado, o rei pretendia assumir as terras e as riquezas da igreja católica e, ao mesmo tempo, enfraquecer sua influência.
A justificativa para concretizar o cisma foi a recusa do papa em dissolver o casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão, que não podia lhe dar um filho herdeiro (o que criaria problemas políticos de hereditariedade do Reino). O rei não recuou diante da recusa da Igreja e casou-se novamente com Ana Bolena, sendo excomungado. Henrique VIII repetiria o ato, de acordo com seus interesses políticos, casando-se seis vezes.
O rompimento oficial deu-se em 1534, quando o Parlamento inglês aprovou o Ato de Supremacia, que colocava a Igreja sob a autoridade do rei. As propriedades da Igreja Católica passaram às mãos do rei e da nobreza. Todos os dogmas da Igreja Católica forma mantidos, exceto a autoridade papal, que devia se submeter à do rei. Nasci, assim, a Igreja Anglicana, gerando insatisfação entre católicos e protestantes. Portanto, as razões da separação entre o Estado e a Igreja não eram religiosos, mas políticos e econômicas.
Após a morte de Henrique VIII, assumiu o trono seu filho Eduardo VI, assumiu o trono seu filho Eduardo VI, que morreu logo em seguida, ainda criança. Ele foi sucedido por Maria Tudor, filha da Catarina de Aragão; católica, perseguiu os protestantes durante todo seu reinado (1547 – 1558), gerando inúmeros conflitos político-religiosos.
Nesse clima tenso assumiu o trono Elizabeth I, filha de Henrique VIII com Ana Bolena. Nesse período (1558-1603), a Inglaterra alcançou a paz religiosa, e o anglicanismo ganhou uma face mais definida, misturando elementos do ritual católico com os princípios da fé calvinista.
Trinta e nove artigos da Igreja da Inglaterra (1563)
Em 1552, o arcebispo de Cantebury, Thomas Cranmer, elaborou com outros clérigos Quarenta e Dois Artigos da Religião; após minuciosa revisão, foram publicados em 1553 sob a autoridade do rei da Inglaterra, Eduardo VI. Mais tarde, esses Artigos foram revistos e reduzidos a 39 pelo arcebispo de Cantebury, Matthew Parker (1504-1575), e outros bispos. Esse trabalho de revisão e redução foi ratificado pelas duas Casas de Convocação, sendo os Trinta e nove artigos publicados por autoridade do rei em 1563. Em 1571, tornou-se obrigatória a subscrição desses Artigos por todos os ministros ingleses. Os Trinta e nove artigos e o Livro de oração comum (1549) são os símbolos de fé da Igreja da Inglaterra e, com algumas alterações, das demais igrejas da Comunhão Anglicana. Leia a Confissão de Fé da Igreja da Inglaterra.
A Contra-Reforma Católica
A Reforma Protestante implicou mudanças sócias e políticas em toda a Europa. Com a crise da Igreja Católica romana, a maioria das populações do centro e do norte da Europa convertia-se ao protestantismo, principalmente porque ele se ajustava melhor ao universo do capitalismo em evolução[e]. Isso causou imediatamente sérios problemas políticos, levando ao conflito violento os adeptos das duas religiões e ao confronto os Estados católicos e protestantes.
A Igreja católica romana cada vez mais perdia espaços no quadro geopolítico europeu, além de sofrer pesadas perdas de fiéis. Procurando impedir o avanço da Reforma Protestante, ela realizou sua própria reforma nos padrões mais tradicionais do catolicismo, também conhecida como a Contra-Reforma.
A Igreja católica tentaria combater o protestantismo e restaurar a hegemonia do catolicismo por meio de doutrina e força. Para alcançar tal objetivo a Igreja precisou tomar algumas atitudes:
A reativação da Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício. A Inquisição foi criada no século XIII para julgar e punir os hereges. Ela reassumiu esse papel, no século XVI, e obteve muita força nas monarquias católicas de Portugal e Espanha, que usaram a Inquisição para perseguir principalmente os judeus; estes transferiram-se em grande número para os Paises Baixos ou se converteram (os cristãos novos).
A criação da Companhia de Jesus, em 1534, por Inácio de Loyola, com o objetivo de divulgar o catolicismo, principalmente por meio da educação. Organizados em moldes quase militantes, os jesuítas foram muito importantes para a defesa do catolicismo e sua propagação na América e na África. Nesses dois continentes recém-colonizados eles conseguiram um grande espaço para o catolicismo pela educação e catequização dos indígenas (é o caso de lembrar aqui dois destacados jesuítas na catequização dos índios brasileiros, José de Anchieta e Manoel da Nóbrega).
No campo doutrinário, o papa Paulo III organizou o Concílio de Trento (1545 – 1563) para definir quais as novas posturas católicas. De forma geral, todos os dogmas e sacramentos condenados pelos protestantes foram reafirmados nesse Concílio.
Foi criado o Índice de Livros Proibidos (Index Librorum Prohibitorum), em 1564. Tratava-se de uma lista de livros proibidos elaborada pelo Tribunal do Santo Ofício. Toda obra impressa deveria passar pela análise do Tribunal, que o “recomendava” ou não aos católicos. Na realidade a Igreja estava censurando obras artísticas, cientificas, Filosóficas e teologias. Um cientista que teve suas obras reprovadas foi Galileu Galilei.
Foi reafirmada a infalibilidade do papa, defendendo sua autoridade sobre todos os católicos.
As obras e sacramentos foram mantidos com fundamentais para a salvação da alma.
Foram criados seminários para formação intelectual e religioso dos padres.
Foi proibida a venda de indulgência e relíquias eclesiásticas.
Foi mantido o celibato clerical (proibição do casamento de padres e freiras).
Como se vê, a Contra-Reforma mantinha-se dentro da tradição. Tal postura acabou produzindo intolerância religiosa de ambos os lados, acirrando os conflitos entre católicos e protestantes por toda a Europa.
Nota:
[1] colar aqui parte do cap 14, und 3
Nota do editor do site:
[a] Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, Fundamentos da Teologia Reformada, Editora Mundo Cristão.
[b] Em 1536 João Calvino escreve a obra prima da Reforma protestante chamado Institutio christianae religionis (Instituição da Religião Cristã) onde ele faz uma suma da fé reformada calvinista. Leia esta obra na seção Institutas.
[c] Hermisten Maia Pereira da Costa, Coleção Pensadores cristãos - Calvino de A a Z, Editora Vida,
[d] Leia também o seguinte artigo A “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” de Franklin Ferreira
[e] Contrário à descrição do autor, neste todos se tornavam reformados por esta razão, mas muitos se converterão por obra do Espírito Santo. Por primeiramente a Reforma era espiritual. O retorno as Escrituras. Leia excelente estudo: As doutrinas dos cinco solas da Reforma: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria
Autor: José Geraldo Vinci de Moraes
Fonte: Caminhos das Civilizações – Da Pré-História aos dias atuais / José Geraldo Vinci de Moraes. – São Paulo : Atual, 1993. pg. 173-180.
Adaptado por Nilson Mascolli Filho com textos entre chaves e tabela acrescentados e links..
Fonte: www.teuministerio.com.br
A reforma protestante | ||||
Por: Juberto Santos | ||||
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Foi o movimento que rompeu a unidade do Cristianismo centrado pela Igreja de Roma. Esse movimento é parte das grandes transformações econômicas, sociais, culturais e políticas ocorridas na Europa nos séculos XV e XVI, que enfraqueceram a Igreja permitindo o surgimento de novas doutrinas religiosas – Protestantes. A Igreja estava em crise, a burguesia crescia em importância, o nacionalismo desenvolvia-se nos Estados modernos e o Renascimento Cultural despertava a liberdade de Crítica. O aumento populacional somado às transformações que vêm junto com esse aumento acarreta em um baque entre a Igreja e essas transformações. Os intelectuais das cidades pensam hipóteses, passam a ter idéias, problemas que antes não existiam. O termo “Igreja Católica” é posterior ao Concílio de Trento, uma forma de diferenciação perante os protestantes. Antes só existia a Cristandade.
A esse movimento de divisão no cristianismo e surgimento das novas doutrinas dá-se o nome de REFORMA e à reação da Igreja, realizando modificações internas e externas, de CONTRA-REFORMA. Contudo, esse movimento foi precedido por várias manifestações nos séculos anteriores, mas nenhuma delas conseguiu o rompimento definitivo com a Igreja Romana. Dentre elas, vemos:
- Heresias Medievais (Arianismo, Valdenses, Albigenses);
- Querela de Investiduras (disputas entre os papas e os imperadores da Alemanha a partir de 1074, pelo direito de nomear bispos e abades. Só se resolve no século XII);
- Cisma do Ocidente – (Ocorrido em 1378, em que a Igreja passa a ser governada por TRÊS papas – ela se unifica em 1417);
- Movimentos Reformadores – John Wiclif (1320? -1384) e Jonh Huss (1369-1415;.
- Querela de Investiduras (disputas entre os papas e os imperadores da Alemanha a partir de 1074, pelo direito de nomear bispos e abades. Só se resolve no século XII);
- Cisma do Ocidente – (Ocorrido em 1378, em que a Igreja passa a ser governada por TRÊS papas – ela se unifica em 1417);
- Movimentos Reformadores – John Wiclif (1320? -1384) e Jonh Huss (1369-1415;.
Os primeiros questionamentos são referentes à questão das Indulgências (documentos assinados pelo papa, que absolviam o comprador de alguns pecados cometidos, diminuindo o tempo de sua pena no purgatório, era um comércio em vista da salvação); a Simonia {comercialização de coisas sagradas (Cargos eclesiásticos, cobrança por sacramentos, objetos...)}; o celibato, culto às imagens, excesso de sacramentos, atitude mundana do Alto Clero, dentre outras. Havia um abismo muito grande entre o que a Igreja pregava e o que fazia.
A REFORMA LUTERANA
A região da atual Alemanha não está centralizada, é agrária e feudal. A Igreja possui um terço das terras. Há descontentamento geral. Vendo tantos abusos por parte do Clero, o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) não se calou. Elaborou 95 teses e afixou-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 1517. A maioria era contra as indulgências. Principalmente as indulgências visando à construção da Basílica de São Pedro. Apoiado pela nobreza alemã, Lutero pôde divulgar suas idéias, calcada em dois princípios que se constituiriam no núcleo de sua doutrina: A Salvação somente pela fé e não pelas práticas religiosas e a Inutilidade dos Mediadores (Clero).
A região da atual Alemanha não está centralizada, é agrária e feudal. A Igreja possui um terço das terras. Há descontentamento geral. Vendo tantos abusos por parte do Clero, o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) não se calou. Elaborou 95 teses e afixou-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 1517. A maioria era contra as indulgências. Principalmente as indulgências visando à construção da Basílica de São Pedro. Apoiado pela nobreza alemã, Lutero pôde divulgar suas idéias, calcada em dois princípios que se constituiriam no núcleo de sua doutrina: A Salvação somente pela fé e não pelas práticas religiosas e a Inutilidade dos Mediadores (Clero).
Em Junho de 1518 foi aberto o processo contra Lutero, com base na publicação das suas 95 Teses. Alegava-se que este incorria em heresia, a ser examinado pelo processo. Nas aulas que dava na Universidade de Wittenberg, espiões registram os comentários negativos de Lutero sobre a excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo é alterado para heresia notória. Lutero é convidado para ir a Roma, onde desmentiria sua doutrina. Lutero recusa-se a fazê-lo, alegando razões de saúde e pretende uma audiência em território alemão. O seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma audiência com o cardeal Caetano de Vio (Tomás Caetano), durante a reunião das cortes (Reichstag) imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de Outubro de 1518, Lutero fala a Caetano. Este pede-lhe que revogue a sua doutrina. Lutero recusa-se a fazê-lo.
Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (Janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de junho de 1519), o processo de Lutero voltará a ser reatado. Em junho de 1520 reaparece a ameaça no escrito "Exsurge Domini", em Janeiro de 1521 a bula "Decet Romanum Pontificem". Com ela foi excomungado Lutero.
Ele queima publicamente a carta do papa (Bula papal), traduz a Bíblia para o Alemão e fica abrigado na Saxônia. Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escapar do cativeiro do convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, com quem se casou em 13 de junho de 1525. Dessa união saíram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Em 1546, no dia 18 de fevereiro, aos 62 anos, Martinho Lutero faleceu.
à Eis suas reivindicações e críticas principais:
Substituição do Latim pelo idioma alemão nos cultos religiosos; Questiona a grande quantidade de sacramentos (Preserva dois sacramentos: batismo e eucaristia); Livre interpretação da Bíblia; Contra o Celibato; Rejeita a Hierarquia Religiosa da Igreja de Roma; pregava a Salvação pela fé; Negava a Transubstanciação – afirmava a Consubstanciação (misturados); Pecado Original: Marca do gênero Humano (nem Cristo, nem o Batismo o retiram);
O Luteranismo expandiu-se basicamente no Sacro Império Romano-Germânico e nos países escandinavos (Suécia, Noruega e Dinamarca), regiões essencialmente rurais, pouco desenvolvidas em termos comerciais. Através de suas idéias, eles desapropriam as terras da Igreja.
A REFORMA CALVINISTA
João Calvino (1509-1564) era francês, que inicia sua ruptura em Genebra, Suíça, por volta de 1536. Lá começa a publicar estudos sistemáticos sobre a nova religião. Funda uma nova doutrina que expande a Reforma. A burguesia dessa cidade havia adotado os princípios da reforma para lutar contra seu governante, o católico Duque de Savóia, o que favoreceu a atuação do reformador. Ele divergia de Lutero em alguns pontos, principalmente na questão da Salvação. Diferente de Lutero (salvação pela fé), ele defendia a idéia de que a fé não era suficiente, uma vez que o homem já nasce predestinado, ou seja, escolhido por Deus para a vida eterna ou para a sua condenação. Calvino tornou-se todo-poderoso, conseguindo impor sua doutrina, interferir nos costumes, nas crenças e na própria organização político-administrativa da cidade. O Calvinismo propagou-se rapidamente atingindo a França, a Holanda, a Inglaterra e a Escócia.
à Eis algumas de suas teorias e questionamentos:
- A riqueza material era um sinal da graça divina sobre o indivíduo. Essa teoria é assimilada pela burguesia local, que justificava não só seu comércio, como também as atividades financeiras e o lucro a elas associado. Ele justifica as atividades econômicas até então condenadas pela Igreja romana.
- Grande rigidez na moral
- Questiona a Liturgia da Missa (simplifica com o Sermão, a oração e a leitura da Bíblia).
- Questiona o uso das Imagens (houve quebra-quebra nas paróquias locais)
- Acaba com os jogos, dança ida ao teatro...
- “O homem que não quer trabalhar, não merece comer.” afirma.
- Livre Interpretação da Bíblia;
- Nega o culto aos santos e a Virgem;
- Questiona a autoridade do Papa;
- Defende a separação entre a Igreja e o Estado;
- Questiona o Celibato do clero;
- Questiona a Transubstanciação (propõe uma presença material, o Cristo está presente, mas não materialmente).
- Ele cria um conselho para reger a vida religiosa em Genebra de “12 anciãos”. Eles julgavam, ditavam regras. Consistório de Genebra.
- A doutrina afirma que não há certeza da salvação;
- Grande rigidez na moral
- Questiona a Liturgia da Missa (simplifica com o Sermão, a oração e a leitura da Bíblia).
- Questiona o uso das Imagens (houve quebra-quebra nas paróquias locais)
- Acaba com os jogos, dança ida ao teatro...
- “O homem que não quer trabalhar, não merece comer.” afirma.
- Livre Interpretação da Bíblia;
- Nega o culto aos santos e a Virgem;
- Questiona a autoridade do Papa;
- Defende a separação entre a Igreja e o Estado;
- Questiona o Celibato do clero;
- Questiona a Transubstanciação (propõe uma presença material, o Cristo está presente, mas não materialmente).
- Ele cria um conselho para reger a vida religiosa em Genebra de “12 anciãos”. Eles julgavam, ditavam regras. Consistório de Genebra.
- A doutrina afirma que não há certeza da salvação;
A REFORMA ANGLICANA
Os ingleses, durante a época dos Tudor, também criticavam os abusos da Igreja Romana, a ineficiência dos tribunais eclesiásticos e o favoritismo na distribuição de cargos públicos para membros do Clero, além de queixar-se do pagamento e do envio de dízimos para Roma. Durante o governo de Henrique VIII (1509-1547), a burguesia fazia pressão para o aumento do poder do parlamento. O rei, necessitando aumentar as riquezas do Estado, confisca as terras da Igreja, o que gera desentendimentos com o Papa. Isso se agrava quando o monarca solicita a anulação do casamento com Catarina de Aragão. Ele não tinha sucessores masculinos, temia que seu trono caísse em mãos espanholas. Toda a nação, com medo deste fato, apóia esse pedido. O Papa Clemente VII nega o pedido. O Rei rompe com o papado e faz uma reforma na Igreja Inglesa. Obriga seus membros a reconhecê-lo como chefe supremo e a jurar-lhe fidelidade e obediência. Obtém do clero inglês o divórcio e se casa com uma dama da corte, Ana Bolena. O Papa tenta intimidá-lo excomungando-o, mas não adianta.
Em 1534, Henrique VIII decreta o Ato de Supremacia, que consolida a separação entre a Inglaterra e o papa. Torna-se o chefe da Igreja de seu país. A Reforma anglicana, na prática, apresenta poucas modificações com a Igreja romana: Questiona o Culto aos santos; A autoridade máxima é o Rei e não o papa; Questiona o culto às relíquias; Prega a popularização da leitura da Bíblia. A Reforma anglicana resolveu, na prática, dois problemas para a monarquia: a questão da herança do trono e com a venda das terras da Igreja para a burguesia e nobreza, dá um suporte financeiro para a Coroa. O Anglicanismo se consolida no reinado de Elizabeth I, filha de Henrique VIII, que renova seu direito de soberania real sobre a Igreja, além de fixar os fundamentos da doutrina e do culto anglicano na Lei dos 39 Artigos, em 1563.
OBSERVAÇÃO - O Calvinismo também criou raízes na Inglaterra. Seus adeptos, os puritanos, iriam entrar em choque com os anglicanos, gerando inúmeros conflitos no século XVII, que levaram às imigrações maciças para a região da Nova Inglaterra, na América do Norte.
THOMAS MÜNTZER (1489 - 1525)
Liderou uma revolta em 1524 com camponeses da região do Reno. Além de atacar a Igreja pela cobrança de dízimos, passam a reivindicar a reforma agrária e a abolição dos privilégios feudais. Ele afirmava ser Luterano. O movimento se espalhou por várias regiões alemãs com assaltos a castelos, queima dos mosteiros e roubo de colheitas. A essas manifestações, seguiu-se uma repressão violenta, apoiada por Lutero em prol da Nobreza alemã. Müntzer foi preso e decapitado e houve o massacre de milhares de camponeses. Ele foi um dos grandes pregadores do ANABATISMO (os convertidos são batizados na idade adulta, mesmo já sendo batizados quando criança).
Tinham a necessidade de rebatizar os indivíduos, de separar a Igreja e o Estado, de abolir as imagens e o culto dos santos, queria uma igualdade absoluta entre os homens, viver com simplicidade, pois todos eram inspirados pelo Espírito Santo. Uma das principais questões de sua formulação teológica é a igualdade. Através do sacrifício de Cristo na cruz todos os homens se tornaram iguais perante Deus e livres do “jugo do pecado”. Com base nisso, Müntzer coloca no mesmo patamar tanto os senhores como os servos e é criticado por Lutero, uma vez que estaria reduzindo a liberdade a algo meramente carnal. Esse traço do pensamento de Müntzer (associado ao lema "omnia sunt communia") foi interpretado por alguns como uma formulação pré-socialista. No entanto, o que está em questão é algo muito diferente do socialismo do século XIX e à preocupação em se viver, em todos os sentidos, segundo a natureza humana do Filho de Deus.
Com a decapitação do teólogo Thomas Müntzer, a 27 de maio de 1525, terminou a Guerra dos Camponeses, responsável pela morte de pelo menos cinco mil pessoas na região da Alemanha. Seus adeptos foram fortemente reprimidos seja nos Estados Católicos, Luteranos ou Calvinistas.
A CONTRA-REFORMA
"A situação da igreja católica, em meados do século XVI, era bastante difícil: ela perdera metade da Alemanha, toda a Inglaterra e os países escandinavos; estava em recuo na França, nos Países Baixos, na Áustria, na Boêmia e na Hungria. A Contra-Reforma, ou Reforma católica, foi uma barreira colocada pela Igreja contra a crescente onda do protestantismo.”
O avanço do Protestantismo, não só neste momento, levou a Igreja Romana a se reorganizar. Foi um movimento de reação ao protestantismo. A Igreja precisava se auto-reformar ou não sobreviveria, pois precisava, ainda, evitar que outras regiões virassem protestantes. Esse movimento de reforma interna já existia, mas é nesse momento que ele é aprofundado. Entre 1545 e 1563, foi convocado o CONCÍLIO DE TRENTO, pelo papa Paulo III (1534-1549) onde houve reafirmações e mudanças. O Concílio de Trento foi o mais longo da história da Igreja: é chamado Concílio da Contra-Reforma. Emitiu numerosos decretos disciplinares. O concílio especificou claramente as doutrinas católicas quanto à salvação, os sacramentos e o cânone bíblico, em oposição aos protestantes e estandardizou a missa através da igreja católica, abolindo largamente as variações locais. A nova missa estandardizada tornou-se conhecida como a "Missa Tridentina", com base no nome da cidade de Trento, onde o concílio teve lugar. Regula também as obrigações dos bispos e confirma a presença de Cristo na Eucaristia. São criados seminários como centros de formação sacerdotal e reconhece-se a superioridade do papa sobre a assembléia conciliar. É instituído o índice de livros proibidos Index Librorum Prohibitorum e reorganizada a Inquisição.
Eleito Papa em 13 de Outubro de 1534, procurou reformar a Igreja. Paulo III provou a criação da Companhia de Jesus de Inácio de Loyola em 1540. Convocou o Concílio de Trento em 1545. Excomungou Henrique VIII de Inglaterra, mas não conseguiu travar a Reforma Protestante. Concedeu a Inquisição em Portugal a D. João III. Lançou as bases da Contra-Reforma. Após a morte de Paulo III, assume o pontificado o papa Júlio III (1550-1555).
Em 1536 foi nomeado cardeal-bispo de Palestrina pelo Papa Paulo III, a quem serviu em importantes legações; ele foi o primeiro a presidir ao Concílio de Trento, abrindo a primeira sessão em Trento, em 13 de Dezembro de 1545, com uma breve oração. Durante o concílio, foi o líder do partido papal contra o imperador Carlos V, com quem entrou em conflito por variadas vezes, especialmente quando, em 26 de Março de 1547, transferiu o Concílio para Bolonha. Foi sucedido pelo papa Marcelo II (9 de abril de 1555 - 1 de maio de 1555), que faleceu provavelmente por causa de sua constituição débil e pela fadiga acumulada ao fim de 21 dias de pontificado. Essa nova eleição papal atrasou as reformas. Foi eleito para seu lugar o papa Paulo IV (1555-1559). Foi nomeado cardeal em 1536 e após o curtíssimo pontificado de Marcelo II, foi eleito papa em 23 de maio de 1555, apesar da decidida oposição dos cardeais do partido ligado ao imperador Carlos V. Mesmo com idade avançada, o papa, que assumiu o nome de Paulo IV, dedicou seus anos de governo, sobretudo à organização da Inquisição romana, fundada por Paulo III graças à sua sugestão, e à reconstrução administrativa e moral das altas hierarquias católicas.
Foi Papa de 25 de Dezembro de 1559, o papa Pio IV (1559-1565), sendo o 225º papa. Contaminado pelo nepotismo, mudou a política anti-imperial do Papa anterior, Paulo IV e conseguiu concluir o concílio de Trento (1562-1563) cujos decretos começaram a ser aplicados nos últimos dois anos de seu pontificado. Publicou um novo Índice de Livros Proibidos em 1564 e reformou o Sacro Colégio. A pedido do imperador, permitiu a Eucaristia sob as duas espécies a alemães, austríacos e húngaros em 1564 para frear o avanço do protestantismo. Fracassou porem esse seu intento no leste da Alemanha, França e Inglaterra, embora se abstivesse de excomungar a Rainha Elizabeth I. Condenou a Simonia.
O Concílio acabou sendo dividido em três períodos:
1º Período (1545-48) — Celebraram-se 10 sessões, promulgando-se os decretos sobre a Sagrada Escritura e tradição, o pecado original, a justificação e os sacramentos em geral e vários decretos de reforma;
2º Período (1551-52) — Celebraram-se 6 sessões, continuando a promulgar-se, simultaneamente, decretos de reforma e doutrinais ainda sobre sacramentos em geral, a eucaristia, a penitência, e a extrema-unção. A guerra entre Carlos V e os príncipes protestantes constituiu um perigo para os padres de Trento;
3º Período (1562-63) — Convocado pelo Papa Pio IV, foi presidido pelos legados cardeais Ercole Gonzaga, Seripando, Osio, Simonetta e Sittico. Estiveram ainda no concílio os cardeais Cristoforo Madruzzo, bispo de Trento e Carlos Guise. O Papa enviou os núncios Commendone e Delfino aos príncipes protestantes do império reunidos em Naumburgo, e Martinengo à Inglaterra para convidar os protestantes a virem ao concílio. Neste período realizaram-se 9 sessões, em que se promulgaram importantes decretos doutrinais, mas sobretudo decretos eficazes para a reforma da Igreja. Assinaram as suas actas 217 padres oriundos de 15 nações.
Os Papas da Contra-Reforma
Papa Paulo III Papa Júlio II Papa Marcelo II Papa Paulo IV Papa Pio IV
Eis as mais importantes resoluções vistas no Concílio de Trento:
- Esclarece a Doutrina;
- Conserva os sete Sacramentos e confirma os Dogmas;
- Afirma a presença real de Cristo na Eucaristia, a Transubstanciação;
- Inicia a redação de um Catecismo;
- Criação de Seminários para a formação de sacerdotes;
- Reafirma o Celibato, a veneração aos Santos e a Virgem;
- Aprova os Estatutos da Companhia de Jesus, criada antes do Concílio por Inácio de Loyola;
- Mantém o Latim como língua do Culto e tradução oficial das Sagradas Escrituras;
- Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos;
- Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da Transubstanciação;
- Confirma como texto autêntico, a tradução de São Jerônimo, no século IV;
- Fortalece a Hierarquia e, portanto a unidade da Igreja Católica, ao afirmar a supremacia do Papa como “Pastor Universal de toda a Igreja”
- Revê a prática das Indulgências, condenando os abusos.
- Revê a Simonia
- Reorganizou o tribunal da Inquisição ou Santo Ofício, que fica encarregado de combater a Reforma;
- Criação do “Índex” (índice), encarregada da censura de obras impressas, lista de livros cuja leitura era proibida aos fiéis;
- Conserva os sete Sacramentos e confirma os Dogmas;
- Afirma a presença real de Cristo na Eucaristia, a Transubstanciação;
- Inicia a redação de um Catecismo;
- Criação de Seminários para a formação de sacerdotes;
- Reafirma o Celibato, a veneração aos Santos e a Virgem;
- Aprova os Estatutos da Companhia de Jesus, criada antes do Concílio por Inácio de Loyola;
- Mantém o Latim como língua do Culto e tradução oficial das Sagradas Escrituras;
- Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos;
- Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da Transubstanciação;
- Confirma como texto autêntico, a tradução de São Jerônimo, no século IV;
- Fortalece a Hierarquia e, portanto a unidade da Igreja Católica, ao afirmar a supremacia do Papa como “Pastor Universal de toda a Igreja”
- Revê a prática das Indulgências, condenando os abusos.
- Revê a Simonia
- Reorganizou o tribunal da Inquisição ou Santo Ofício, que fica encarregado de combater a Reforma;
- Criação do “Índex” (índice), encarregada da censura de obras impressas, lista de livros cuja leitura era proibida aos fiéis;
A T E N Ç Ã O
Essas deliberações vistas em Trento foi uma resposta às acusações de Lutero e demais protestantes. Muitos pontos foram reafirmados utilizando apenas a Bíblia para tal. Muitos se perguntam como eles refletiram sobre essas questões e como preparam a sua posição perante tais fatos.
Eis dois exemplos de como os bispos responderam a essas duas acusações:
-- Questionando a Transubstanciação: Essa questão diz respeito à presença real de Jesus na Eucaristia, na Hóstia e no Vinho sendo transformados em Corpo e Sangue de Jesus. Bem, o que os bispos assinalaram é o que está escrito nos Evangelhos, principalmente nos fatos ocorridos na última ceia, onde se lê: “Isto é o meu corpo (...). Isto é o meu sangue (...) fazei sempre isso em minha memória” (Mt 26, 26-28) E o que foi analisado é exatamente o sentido desses trechos, onde foi dito que o pão deixa de ser pão, da mesma forma que o vinho deixa de ser vinho. Há a transformação da substância. Assim, eles rebatem as definições de Lutero, que achava que ali havia pão e corpo misturados, vinho e sangue misturados (Consubstanciação); e também refutam a visão de Calvino, o qual afirmava que não muda as formas, e que em nossos corações saberíamos que era sangue e corpo.
-- Questionando os 7 Sacramentos: Essa questão diz respeito às críticas de Lutero e demais reformadores assinalando o Excesso de Sacramentos. Lutero assinala que apenas dois seriam necessários (Batismo e Ceia). Bem, o Concílio respondeu também utilizando as Escrituras, focando que os sete sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo. Foi visto que durante a vida e obra de Jesus, ele foi assinalando cada um deles. Batismo: O próprio Jesus foi Batizado por João Batismo; Eucaristia: Jesus, na última ceia, a institui junto com seus discípulos. Confissão: Jesus assinala que a quem os discípulos perdoarem os pecados eles serão perdoados e a quem eles não perdoarem, eles serão retidos; Matrimônio: Jesus nasceu dentro de uma família, vivenciou e cresceu com seus pais e no episódio ocorrido nas Bodas de Caná da Galiléia, onde vemos a presença dele prestigiando a festa de casamento e vemos Jesus atendendo ao pedido de sua mãe para ajudar na questão do vinho. Ordem: Jesus foi o maior de todos os sacerdotes e ele escolheu doze pessoas para segui-lo, para aprenderem com ele seus ensinamentos e, após sua morte, continuaram essa missão; Crisma: É o Sacramento do Espírito Santo. Ele foi instituído no dia de Pentecostes, onde Jesus aparece em meio aos seus discípulos e “sopra sobre eles o Espírito Santo”; Unção dos Enfermos: Jesus curou muitas pessoas, tanto fisicamente quanto espiritualmente. E tais atos foram passados aos seus discípulos, os quais passaram a curar os doentes e a evangelizar aos pecadores.
Os séculos se passam...
As orientações do Concílio de Trento guiaram os católicos de todo o mundo durante 400 anos. Houve o Concílio Vaticano I (08/12/1869 - 20/10/1870), convocado pelo Papa PIO IX (1846-1878), mas que foi interrompido devido à Guerra Franco-Alemã que havia iniciado. As maiores mudanças começariam a acontecer apenas em 1962, quando o papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II (11/10/1962 a 07/12/1965), para redefinir as posições da Igreja e adequá-la às necessidades e desafios do mundo contemporâneo.
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