Martinho Lutero
Este ilustre alemão, teólogo e reformador da Igreja, filho de Juan Lutero e Margarita Ziegler, nasceu em Eisleben, uma cidade da Saxônia, no condado de Mansfield, no dia 10 de novembro de 1483. 
A posição e condição de seus pais eram originalmente humildes, e a profissão de seu genitor era trabalhar nas minas; porém, é provável que por seu esforço e trabalho ajuntara uma fortuna para a sua família, porquanto, posteriormente, chegou a ser um magistrado de classe e dignidade. Lutero foi prontamente iniciado nos estudos, e aos treze anos de idade foi enviado a uma escola de Magdeburgo, e dali a Eisenach, na Turíngia, onde permaneceu por quatro anos, onde demonstrou as primeiras indicações de sua futura eminência. 
Em 1501, foi enviado à Universidade de Erfurt, onde passou pelos costumeiros cursos de lógica e filosofia. Aos vinte anos de idade, recebeu o título de licenciado, e passou logo a ensinar a física de Aristóteles, ética e outros assuntos ligados à filosofia. Posteriormente, por indicação de seus pais, dedicou-se à lei civil, a fim de trabalhar como advogado; porém, foi separado desta atividade devido ao incidente relatado a seguir. 
Ao andar certo dia pelos campos, foi lançado ao solo por um raio, enquanto um amigo morreu ao seu lado. Este fato afetou-o de tal modo que, sem comunicar o seu propósito a algum de seus amigos, retirou-se do mundo e enclausurou-se junto à ordem dos eremitas de Santo Agostinho. 
Dedicou-se ali à leitura das obras de Santo Agostinho e dos escolásticos; porém, ao vasculhar a biblioteca, encontrou, acidentalmente, uma cópia da Bíblia latina que jamais havia visto antes. Esta atraiu poderosamente a sua curiosidade; leu-a ansiosamente e sentiu-se atônito ao perceber que apenas uma pequena porção das Escrituras era ensinada ao povo. 
Fez a sua profissão de fé no mosteiro de Erfurt, após ter sido noviço durante um ano; e tomou ordens sacerdotais, ao celebrar a sua primeira missa em 1507. Um ano mais tarde foi transferido do mosteiro de Erfurt à Universidade de Wittenberg, pois, após a fundação da Universidade, pensava-se que nada seria melhor para dar-lhe reputação e fama imediata do que a autoridade e a presença de um homem tão célebre, por seu grande temperamento e erudição, como era Martinho Lutero. 
Em Erfurt havia um certo ancião no convento dos agostinianos, com quem Lutero, que pertencia à mesma ordem, como frade agostiniano, conversou sobre vários assuntos, especialmente a remissão dos pecados. Sobre este tema, este sábio padre foi franco com Lutero, ao dizer-lhe que o expresso mandamento de Deus é que cada homem creia particularmente que os seus pecados foram perdoados em Cristo; disse-lhe ainda que esta interpretação particular fora confirmada por São Bernardo: “Este é o testemunho que o Espírito Santo te dá em teu coração, quando diz: Os teus pecados te são perdoados. Porque este é o ensino do apóstolo, que o homem é livremente justificado pela fé”. 
Estas palavras não serviram somente para fortalecer Lutero, mas também para ensinar-lhe o pleno sentido do ensino do apóstolo Paulo, que insiste tantas vezes na seguinte frase: “Somos justificados pela fé”. E, após ler as exposições de muitos sobre esta passagem, logo percebeu, tanto pelo discurso do ancião como pelo conselho que recebeu em seu espírito, o quão vãs eram as interpretações que antes havia lido nos trabalhos dos escolásticos. E assim, pouco a pouco, ao ler e comparar os ditos e os exemplos dos profetas e dos apóstolos, com uma contínua invocação a Deus, e com a excitação da fé pelo poder da oração, deu-se conta desta doutrina com a maior evidência. 
Assim prosseguiu os seus estudos em Erfurt pelo período de quatro anos no mosteiro dos agostinianos. 
Em 1512, sete mosteiros de sua ordem tiveram uma divergência com o seu vigário geral. Lutero foi escolhido para ir a Roma e defender a sua causa. Naquela cidade, observou o papa e a sua corte, e teve também a oportunidade de contemplar as maneiras do clero, cujos modos precipitados, superficiais e ímpios de celebrar a missa foram severamente por ele criticados. Assim que ajustou a disputa que havia motivado a sua viagem, voltou a Wittenberg e foi constituído doutor em teologia, às custas de Federico, da Saxônia, que freqüentemente lhe ouvia pregar, e que estava familiarizado com o seu mérito, e que lhe reverenciava muito. 
Continuou na Universidade de Wittenberg de onde, como professor de teologia, dedicou-se à atividade de sua vocação. Neste ponto deu início à leitura extremamente intensa das conferências sobre os livros sagrados. Explicou a Epístola aos Romanos e os Salmos, que esclareceu e explicou de uma maneira tão completamente nova e diferente do que havia sido o estilo dos comentaristas anteriores, que “era como, após uma longa e escura noite, amanhecesse um novo dia, a juízo de todos os homens piedosos e prudentes”. 
Lutero dirigia de modo cuidadoso a mente dos homens ao filho de Deus, do mesmo modo que João Batista anunciava o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; do mesmo modo Lutero, ao resplandecer na igreja como uma luz brilhante após uma longa e tenebrosa noite, mostrou de maneira clara que os pecados são livremente remidos pelo amor do filho de Deus, e que cada pessoa deveria fielmente abraçar a este generoso dom. 
A sua vida estava de acordo com o que ele professava; e evidenciou-se de modo claro que as suas palavras não eram meramente a atividade de seus lábios, mas que procediam de seu próprio coração. Esta admiração por sua vida de santificação atraiu muito os corações de seus ouvintes. 
A fim de preparar-se melhor para a tarefa que havia empreendido, aplicou-se atentamente ao estudo dos idiomas grego e hebraico; e a isto estava dedicado quando se publicaram as indulgências gerais em 1517. 
Leão X, que sucedeu a Júlio II em março de 1513, teve o desígnio de reconstruir a magnífica Catedral de São Pedro em Roma, cujas obras haviam sido iniciadas por Júlio, mas que ainda precisava de muito dinheiro para ser concluída. Por esta razão, Leão X, em 1517, aprovou a concessão de indulgências gerais a toda Europa, em favor de todos os que contribuíssem com qualquer soma de dinheiro para a reedificação da catedral; e designou pessoas em diferentes países para proclamarem estas indulgências e receberem o dinheiro das mesmas. Estes estranhos procedimentos provocaram muito escândalo em Wittenberg e, de modo particular, inflamaram o zelo de Lutero, o qual era por natureza ardente e ativo. Neste caso, por ser incapaz de conter-se, estava decidido a declarar-se contrário a tais indulgências em todas as circunstâncias. 
Por esta razão, na véspera do dia de todos os santos, em 31 de outubro de 1517, fixou publicamente, na igreja adjacente ao castelo naquela cidade, as noventa e cinco teses contra as indulgências, onde desafiava a qualquer que se opusesse a elas, fosse por escrito ou por debate oral. As proposições de Lutero acerca das indulgências haviam sido publicadas há pouco, quando Tetzel, o frade dominicano comissionado para a sua venda, manteve e publicou suas teses em Frankfort, que continha um conjunto de proposições diretamente contrárias às de Lutero. Fez ainda mais: agitou o clero de sua ordem contra seu companheiro; considerou-o, do púlpito, um anátema e herege condenável, e queimou em público as suas teses em Frankfort. As teses de Tetzel também foram queimadas em Wittenberg, como reação, pelos luteranos. Porém o próprio Lutero negou ter parte nesta ação. 
Em 1518, Lutero, ainda que dissuadido disto por seus amigos, porém, para mostrar obediência à autoridade, foi ao mosteiro de Santo Agostinho em Heidelberg, onde havia uma assembléia reunida; ali manteve, no dia 26 de abril, um debate sobre a “justificação pela fé”, que Bucero, o qual na ocasião estava presente, tomou por escrito, e comunicou-a posteriormente a Beatus Rhenanus, sem poupar as maiores críticas. 
Enquanto isto, o zelo de seus adversários cresceu mais e mais contra ele; finalmente, foi considerado, diante de Leão X, um herege. Então, logo que regressou de Heidelberg, aquele papa lhe escreveu uma missiva nos termos mais submissos; Lutero enviou-lhe, ao mesmo tempo, uma explicação de suas proposições sobre as indulgências. Esta carta tinha a data do domingo da Trindade do ano de 1518, e foi acompanhada de um protesto no qual se declarava que ele não pretendia propor e nem defender algo em contrário às Sagradas Escrituras e nem à doutrina dos padres, recebida e observada pela Igreja de Roma, nem aos cânones nem aos decretos papais; contudo, pensava que possuía a liberdade suficiente para aprovar ou reprovar as opiniões de São Tomás, Boaventura e outros escolásticos e canonistas que não se baseavam em texto algum. 
O imperador Maximiliano estava igualmente solícito de que o papa detivesse a propagação das opiniões de Lutero na Saxônia, que eram perturbadoras, tanto para a igreja como para o império. Por esta razão, Maximiliano escreveu a Leão X uma carta datada de 5 de agosto de 1518, a fim de pedir-lhe que proibisse, por sua autoridade, estas inúteis, desconsideradas e perigosas disputas; também lhe assegurava que cumpriria estritamente, em seu império, tudo o que sua santidade ordenasse. 
Enquanto isto, Lutero, quando soube o que era levado a cabo em Roma, por sua causa, empregou todos os meios imagináveis para que não fosse levado para lá, e para fazer com que a sua causa fosse julgada na Alemanha. O governador também estava contrário a que Lutero fosse a Roma, e pediu ao cardeal Caetano que pudesse ser ouvido diante dele, como representante papal na Alemanha. Com isto, o papa consentiu que a sua causa fosse julgada diante do cardeal Caetano, a quem havia dado poderes para decidi-la. 
Por esta razão, Lutero dirigiu-se imediatamente a Augsburgo, e levava consigo cartas do governador. Lá chegou em outubro de 1518 e, após haver-se-lhe dado segurança, foi admitido na presença do cardeal. Porém, Lutero logo percebeu que tinha mais a temer por parte do cardeal do que pelas discussões sobre quaisquer temas; por esta razão, ao temer ser preso caso não se submetesse, retirou-se de Augsburgo no dia 20 de outubro. Porém, antes de partir, publicou uma apelação formal ao papa e, ao ver-se protegido pelo governador, transmitiu suas pregações sobre as mesmas doutrinas em Wittenberg, e enviou um desafio a todos os inquisidores que comparecessem e discutissem com ele. 
Quanto a Lutero, Miltitius, o camarista do papa, tinha ordem de exigir do governador que o obrigasse a se retratar, ou que lhe negasse a sua proteção; porém, as coisas não poderiam ser feitas com tanto orgulho, pois o crédito de Lutero estava demasiadamente bem estabelecido. Além disto, aconteceu que o imperador Maximiliano morreu no dia 12 daquele mês, o que alterou muito o aspecto das coisas, e fez com que o governador estivesse mais livre e capaz para decidir a sorte de Lutero. Por esta razão, Miltitius pensou que o melhor seria ver o que se poderia fazer por meios limpos e gentis, e com esta finalidade começou a conversar com Lutero. 
Durante todos estes acontecimentos a doutrina de Lutero era cada vez mais divulgada e prevalecia sobremaneira; e ele mesmo recebeu ânimo dos alemães e dos outros povos. 
            Naquela ocasião os boêmios lhe enviaram um livro do célebre Juan Huss, que havia sido martirizado durante a obra da reforma, e também cartas nas quais o exortavam à constância e à perseverança e reconheciam que a teologia que ele ensinava era pura, sã e ortodoxa. Muitos homens eruditos e eminentes colocaram-se ao seu lado. 
Em 1519, Lutero manteve um célebre debate em Leipzig com Juan Eccius. Porém, esta discussão terminou finalmente como todas as outras, e não teve o privilégio de ver as partes aproximar-se, de modo algum; mas que se sentiam ainda mais como inimigos pessoais, do que antes do debate. 
Por volta do final do ano, Lutero publicou um livro no qual defendia que a comunhão fosse celebrada de ambos os modos; isto foi condenado pelo bispo de Misnia em 24 de janeiro de 1520. 
Enquanto Lutero trabalhava para defender-se perante o novo imperador, e diante dos bispos da Alemanha, Eccius foi a Roma para pedir a sua condenação, o que, como se pode perceber, não seria agora tão difícil de conseguir. Certo é que as contínuas importunações dos adversários de Lutero perante Leão X levaram-no finalmente a publicar uma condenação contra ele, e o fez em uma bula datada de 15 de junho de 1520. Isto teve lugar na Alemanha, e foi ali publicada por Eccius, que a havia solicitado em Roma, e que estava encarregado da execução da mesma, juntamente com Jerónimo Alejandro, pessoa eminente por sua erudição e eloqüência. Enquanto isto, Carlos I da Espanha e Carlos V da Alemanha resolviam as suas dificuldades nos Países Baixos. Em seguida, Carlos V dirigiu-se à Alemanha, e foi coroado imperador no dia 21 de outubro de 1520, em Aquisgrán. 
Martinho Lutero, após ter sido acusado pela primeira vez em Roma, através da censura papal, em uma quinta-feira santa, dirigiu-se pouco depois da páscoa a Worms, onde compareceu diante do imperador e dos governantes de todos os estados da Alemanha. Manteve-se constante na verdade, defendeu-se e respondeu a todas as perguntas de seus adversários. 
Lutero permaneceu alojado, bem agasalhado, e visitado por muitos condes, barões, cavaleiros de ordem, homens gentis, sacerdotes e pelos membros do parlamento comum, que freqüentavam o seu alojamento durante a noite. 
Veio de modo contrário às expectativas de muitos, tanto dos adversários como dos amigos. Os seus admiradores deliberaram juntos, e muitos trataram de persuadi-lo para que não se aventurasse ao perigo de ir a Roma, pois consideraram que tantas vezes não se havia respeitado a promessa de segurança para as pessoas nesta condição. Ele, após ter ouvido todas as suas persuasões e conselhos, respondeu-lhes do seguinte modo: “No que a mim me diz respeito, uma vez que me chamaram, resolvi e estou certamente decidido a ir a Worms, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo; sim, mesmo sabedor de que há ali tantos demônios para resistir-me, em número tão grande como o das telhas que cobrem as casas da cidade de Worms”. 
Lutero na Dieta de Worms
No dia seguinte, ele foi conduzido de seu alojamento à corte do imperador, onde permaneceu até as seis horas da tarde, porque os príncipes estavam ocupados na solução de diversos problemas do reino; ao permanecer ali, encontrava-se rodeado de um grande número de pessoas, quase prensado por tamanha multidão... Logo, quando os príncipes terminaram a primeira reunião e o chamaram, entrou Lutero, e Eccius, o oficial, falou do seguinte modo: “Responda agora à demanda do imperador. Manterás todos os livros que reconheceste serem de tua autoria, ou revogarás parte dos mesmos e te humilharás?”.
Martinho Lutero respondeu modesta e humildemente; porém, não desprovido de uma determinada firmeza e constância cristãs: 
 “Considerando que vossa soberana majestade e vossos honoráveis demandais desejam uma resposta plena, isto digo e professo tão resolutamente quanto posso, sem dúvidas e nem sofisticações, que se não me convencerdes através do testemunho das Escrituras (pois não dou crédito nem ao papa e nem aos seus concílios gerais, que têm errado muitas vezes, e que têm sido contraditórios contra si mesmos), a minha consciência está tão ligada e cativa destas Escrituras que são a Palavra de Deus, que não me retrato nem posso me retratar de absolutamente nada, considerando que não é piedoso nem legítimo fazer qualquer coisa que seja contrária à minha consciência. Aqui estou e nisto descanso: nada mais tenho a dizer. Que Deus tenha misericórdia de mim!”. 
Os príncipes consultaram-se entre si sobre a resposta dada por Lutero e, após terem-no interrogado diligentemente, o porta-voz respondeu-lhe assim: 
“A majestade imperial demanda de ti uma simples resposta, seja negativa, seja afirmativa, se pretendes defender todos os teus livros como cristãos, ou não”. 
Então Lutero, dirigindo-se ao imperador e aos nobres, rogou-lhes que não o forçassem a ceder contra a sua consciência, confirmada pelas Sagradas Escrituras, sem os argumentos manifestos que os seus adversários alegaram, e declarou: 
“Estou atado pelas Escrituras”. 
Antes que se concluísse aquela reunião, chamada de Dieta de Worms, Carlos V fez com que se redigisse um edito, datado de 8 de maio, decretando que Martinho Lutero fora, de conformidade com a sentença do papa, considerado desde então membro separado da Igreja, cismático e um herege obstinado e notório. Enquanto a bula de Leão X, aceita por Carlos V, era divulgada por todo o império, Lutero ficou detido no castelo de Wittenberg; porém, cansado de seu silêncio obsequioso, voltou a aparecer em público em Wittenberg no dia 6 de março de 1522, após uma ausência de cerca de dez meses. 
Lutero promoveu então uma guerra aberta ao papa e aos bispos; e com a finalidade de conseguir que o povo menosprezasse a autoridade destes, tanto quanto fosse possível, escreveu um livro contrário à bula papal, e outro intitulado “A Ordem Episcopal”. Também publicou uma tradução no Novo Testamento no idioma alemão, que foi posteriormente revisado por ele e Melanton. 
Reinava a confusão na Alemanha, e não menos na Itália, porque surgiu uma contenda entre o papa e o imperador, durante a qual Roma foi tomada por duas vezes, e o pontífice, preso. Enquanto os príncipes estavam assim ocupados em suas pendências mútuas, Lutero levou adiante a obra da Reforma, ao opor-se também aos papistas e combater aos anabatistas e outras seitas fanáticas que, ao aproveitar o seu gesto de enfrentar a Igreja Romana, haviam surgido e se estabelecido em diversos lugares. 
Em 1527, Lutero sofreu um ataque de coagulação de sangue ao redor do coração, que quase pôs fim à sua vida. Ao perceber que as perturbações na Alemanha não pareciam ter fim, o imperador viu-se obrigado a convocar uma dieta na cidade de Spira, em 1529, para pedir a ajuda dos príncipes do império contra os turcos. Os reformadores de quatorze cidades alemãs, ou seja: 
Estrasburgo, Nuremberg, Ulm, Constanza, Retlingen, Windsheim, Memmingen, Lindow, Kempten, Hailbron, Isny, Weissemburg, Nortlingen, e St. Gal uniram-se contra o decreto da dieta e emitiram um protesto contra as sanções que lhes foram impostas, o qual foi redigido e publicado em abril de 1529. Este foi o célebre documento que deu aos reformadores da Alemanha o nome de “Protestantes”. 
Depois disto, os principais protestantes empreenderam a formação de uma aliança firme, e instruíram o governador da Saxônia e os seus aliados que haviam aprovado o que a dieta estabelecera; porém, os disputados redigiram uma apelação, e os protestantes apresentaram rapidamente uma apologia por causa de sua “Confissão”, a famosa declaração redigida por Melanton. Tudo isto foi firmado por vários príncipes, e Lutero já não tinha muito mais a fazer além de sentar-se e contemplar a magnânima obra que tinha levado a cabo. 
Por ser somente um monge, foi capaz de dar à Igreja de Roma um golpe tão rude, que apenas mais um da mesma intensidade seria o suficiente para derrubá-la completamente; por esta razão, esta pode ser considerada uma obra magnânima. 
Em 1533 Lutero escreveu uma epístola consoladora aos cidadãos de Oschatz, que haviam sofrido algumas penalidades por terem aderido à confissão de fé de Augsburgo; e, em 1534, foi impressa a Bíblia que Lutero havia traduzido para o alemão, como protótipo do antigo acordo fechado em Bibliópolis, por mãos do mesmo editor, e que foi publicada no ano seguinte. 
Naquele ano Lutero também publicou um livro, intitulado “Contra as Missas e a Consagração dos Sacerdotes”. 
Em fevereiro de 1537 foi celebrada uma assembléia em Smalkalda sobre questões religiosas, para a qual Lutero e Melanton foram convidados. Durante esta reunião, ele ficou tão enfermo, que não havia esperança de que se recuperasse. Enquanto o levavam de volta, escreveu o seu testamento, no qual legava a seus amigos e irmãos o seu desdém pelo papado. E assim esteve ativo até a sua morte, que aconteceu em 1546. 
Naquele ano, na companhia de Melanton, foi à Saxônia, sua província natal, que há muito tempo não visitava, e ali chegou são e salvo. Porém, pouco depois, foi chamado pelos condes de Mansfelt, para que arbitrasse umas diferenças que haviam surgido acerca de seus limites e, ao chegar, foi recebido por mais de cem ginetes e conduzido de maneira muito honrosa. Porém, ficou tão enfermo naquela ocasião, que se temeu que pudesse morrer. Lutero disse, então, que estes ataques de enfermidade sempre lhe sobrevinham quando tinha qualquer grande obra a empreender. Porém, nesta ocasião, não se recuperou, mas morreu no dia 18 de fevereiro, com sessenta e três anos de idade. Pouco antes de expirar, admoestou àqueles que estavam em volta de si a que orassem a favor da propagação do Evangelho, e disse-lhes: 
“Porque o Concílio de Trento, que teve uma ou duas reuniões, e o papa, inventarão coisas estranhas contra o Evangelho”. 
Ao sentir que se aproximava o desenlace fatal, antes das nove horas da manhã, encomendou-se a Deus com esta devota oração: “Meu Pai celestial, Deus eterno e misericordioso! Tu manifestaste a mim o teu amado Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ensinei a respeito dEle, e tenho-o conhecido; amo-o da mesma forma que preservo a minha própria vida, minha saúde e minha redenção; a Quem os malvados têm perseguido, caluniado e afligido com vitupérios. Leve a minha alma a Ti”. 
Depois disto, citou a frase a seguir, e repetiu-a por três vezes: “Em tuas mãos entrego o meu espírito. Tu me remiste, ó Deus, de verdade!”. 
Em seguida, citou João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. 
Após repetir as suas orações várias vezes, foi chamado à presença de Deus. 
Desta forma, a sua alma limpa foi pacificamente separada de seu corpo terrestre. 
Vida e Obra de Martinho Lutero
Biografia.
Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Foi criado em Mansfeld. Na sua fase estudantil, foi enviado às escolas de latim de Magdeburg(1497) e Eisenach(1498-1501). Ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505).
Seu pai, um aldeão bem sucedido pertencente a classe média, queria que fosse advogado. Tendo iniciado seus estudos, abruptamente, os interrompeu entrando no claustro dos eremitas agostinianos em Erfurt. É um fato estranho na sua vida, segundo seus biógrafos. Alguns historiadores dizem que este fato aconteceu devido a um susto que teve quando caminhava de Mansfeld para Erfurt. Em meio a uma tempestade, quase foi atingido por um raio. Foi derrubado por terra e em seu pavor, gritava "Ajuda-me Santa Ana! Eu serei um monge!". Foi consagrado padre em 1507.
Entre 1508 e 1512, fez preleções de filosofia na Universidade de Wurtenberg, onde também ensinou as Escrituras, especializando-se nas Sentenças de Pedro Lombardo. Em 1512 formou-se Doutor em Teologia.
Fazia conferências sobre Bíblia, especializando-se em Romanos, Gálatas e Hebreus. Foi durante este período que a teologia paulina o influenciou, percebendo os erros que a Igreja Romana ensinava, à luz dos documentos fundamentais do cristianismo primitivo.
Lutero era homem de envergadura intelectual e habilidades pessoais. Em 1515, foi nomeado vigário, responsável por onze mosteiros. Viu-se envolvido em controvérsias com respeito a venda de indulgências.
Suas Lutas Pessoais.
Lutero estava galgando os escalões da Igreja Romana e estava muito envolvido em seus aspectos intelectuais e funcionais. Por outro lado, também estava envolvido em questões pessoais quanto à salvação pessoal. Sua vida monástica e intelectual não forneciam resposta aos seus anseios interiores, às suas aflitivas indagações.
Seus estudos paulinos deixaram-no mais agitado e inseguro, particularmente diante da afirmação "o justo viverá pela fé", Romanos 1:17. Percebia ele que a Lei e o cumprimento das normas monásticas, serviam tão-somente para condenar e humilhar o homem, e que nesta direção não se pode esperar qualquer ajuda no tocante à salvação da alma.
Martinho Lutero, estava trabalhando em "repensar o evangelho". Sendo monge agostiniano, fortemente influenciado pela teologia desta ordem monástica, paulina quanto aos seus pontos de vista, Lutero estava chegando a uma nova fé, que enfatizava a graça de Deus e a justificação pela fé.
Esta nova fé tornou-se o ponto fundamental de sua preleções. No seu desenvolvimento começou a criticar o domínio da filosofia tomista sobre a teologia romana. Ele estudava os escritos de Agostinho, Anselmo e Bernardo de Claraval, descobrindo nestes, a fé que começava a proclamar. Staupitz, orientou-o para que estudasse os místicos, em cujos escritos se consolou.
Em 1516, publicou o devocionário de um místico desconhecido, "Theologia Deutsch". Tornou-se pároco da igreja de Wittenberg, e tornou-se um pregador popular, proclamando a sua nova fé. Opunha-se a venda de indulgências comandada por João Tetzel.
As Noventa e Cinco Teses.
Inspirado por vários motivos, particularmente a venda de indulgências, na noite antes do Dia de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg, sua teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das Indulgências". Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à idéia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições temporais. Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do purgatório. Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos, durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação sacerdotal.
João Eck, denunciou Lutero em Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e excluído do Igreja Romana. Silvester Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o parecer condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano.
Em 1518. Lutero escreveu "Resolutiones", defendendo seus pontos de vista contra as indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Entretanto, o livro não alterou o ponto de vista papal a respeito de Lutero. Muitas pessoas influentes se declararam favoráveis a Martinho Lutero, tornando-se este então polemista popular e bem sucedido. Num debate teológico em Heidelberg, em 26 de abril de 1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.
Reação Papal.
A 7 de agosto de 1518, Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado como herege. Mas apelou para o príncipe Frederico, o Sábio, e seu julgamento foi realizado em território alemão em 12/14 de outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano, em Augsburg. Recusou-se a retratar-se de suas idéias, tendo rejeitado a autoridade papal, abandonando a Igreja Romana, o que ficou confirmado num debate em Leipzig com João Eck, entre 4 e 8 de julho de 1519.
A partir de então Lutero declara que a Igreja Romana necessita de Reforma, publica vários escritos, dentre os quais se destaca "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã Sobre a Reforma do Estado Cristão". Procurou o apoio de autoridades civis e começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. Em sua obra "Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que pelas Escrituras só podem ser distinguidos dois sacramentos o batismo e a Ceia do Senhor. Opunha-se à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, por ocasião da missa. Em outro livro, "Sobre a Liberdade Cristã", ele apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor.
Lutero obteve grande popularidade entre o povo, e também considerável influência no clero.
Em 15 de julho de 1520, a Igreja Romana expediu a bula Exsurge Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado, a menos que se retratasse publicamente. Lutero queimou a bula em praça pública. Carlos V, Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em praça pública.
Lutero compareceu a Dieta de Worms, de 17 a 19 de abril de 1521. Recusou-se a retratação, dizendo que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus, pelo que a retratação não seria seguro nem correto. Dizem os historiadores que concluiu a sua defesa com estas palavras : "Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém". Respondendo a Dieta em 25 de maio de 1521, formalizou a excomunhão de Martinho Lutero, e a Reforma nascente também foi condenada.
Influência Política e Social
Por medidas de precaução, Lutero este recluso no castelo de Frederico, o Sábio, cerca de 10 meses. Teve tempo de trabalhar na tradução do Novo Testamento para a língua alemã. Esta tradução foi publicada em 1532. Com a ajuda de Melancton e outros, a Bíblia inteira foi traduzida, e, então, foi publicada em 1532. Finalmente, essa tradução unificou os vários dialetos alemães, do que resultou o moderno alemão.
Tem-se dito que Lutero foi o verdadeiro líder da Alemanha, de 1521 até 1525. Houve a Guerra dos Aldeões em 1525, das classes pobres contra os seus líderes. Lutero tentou estancar o derramamento de sangue, mas, quando os aldeões se recusaram a ouvi-lo, ele apelou para os príncipes a fim de restabelecerem a paz e a ordem.
Fato notável foi o casamento de Lutero, com Catarina von Bora, filha de família nobre, ex-freira cisterciana. Tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham preferido adotar a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.
Houve controvérsia entre Lutero e Erasmo de Roterdã, que nunca deixou a Igreja Romana, por causa do livre-arbítrio defendido por este. Apesar de admitir que o livre-arbítrio é uma realidade quanto a coisas triviais, Lutero negava que fosse eficaz no tocante à salvação da alma.
Outras Obras.
Em 1528 e 1529, Lutero publicou o pequeno e o grande catecismos, que se tornaram manuais doutrinários dos protestantes, nome dado aqueles que decidiram abandonar a Igreja Romana, na Dieta de Speyer, em 1529.
Juntamente com Melancton e outros, produziu a confissão de Augsburg, que sumaria a fé luterana em vinte e oito artigos. Em 1537, a pedido de João Frederico, da Saxônia, compôs os Artigos de Schmalkald, que resumem seus ensinamentos.
Enfermidade e Morte.
Os últimos dias de Lutero tornaram-se difíceis devido a problemas de saúde. Com freqüência tinha acesso de melancolia profunda. Apesar disso era capaz de trabalhar tenazmente. Em 18 de fevereiro de 1546, em Eisleben, teve um ataque do coração, vindo a falecer.
A Teologia de Lutero.
Como monge agostiniano, Lutero dava preferência a certos estudos, dentre os quais se destacam a soberania de Deus, dando uma abordagem mais bíblica às questões religiosas e às doutrinas cristãs. Alguns pontos defendidos por Lutero são :
1.    Nem o papa nem o padre, tem o poder de remover os castigos temporais de um pecador. 
2.    A culpa pelo pecado não pode ser anulada por meio de indulgências. 
3.    Somente um autêntico arrependimento pode resolver a questão da culpa e do castigo, o que depende única e exclusivamente de Cristo. 
4.    Só há um Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo. 
5.    Não há autoridade especial no papa. 
6.    As decisões dos concílios não são infalíveis. 
7.    A Bíblia é a única autoridade de fé e prática para o cristão. 
8.    A justificação é somente pela fé. 
9.    A soberania de Deus é superior ao livre-arbítrio humano. 
10.                       Defendia a doutrina da consubstanciação em detrimento da transubstanciação. 
11.                       Há apenas dois sacramentos : o batismo e a ceia do Senhor. 
12.                       Opunha-se a veneração dos santos, ao uso de imagens nas Igrejas, às doutrinas da missa e das penitências e ao uso de relíquias. 
13.                       Contrário ao celibato clerical. 
14.                       Defendia a separação entre igreja e estado. 
15.                       Ensinava a total depravação da natureza humana. 
16.                       Defendia o batismo infantil e a comunhão fechada. 
17.                       Defendia a educação dos fiéis em escolas paroquianas. 
18.                       Repudiava a hierarquia eclesiástica. 
Bibliografia
1 - "Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia"; R. N. Champlin; J. M. Bentes; Candeia; 1994.
2 - "Enciclopédia Histórico-Teológica"; W. A. Elwell, ed.; Edições Vida Nova;1990.
3 - "Teologia dos Reformadores"; T. George; Edições Vida Nova; 1994.
4 - "História da Igreja Cristã"; R. H. Nichols; CEP;1992.
Quais foram os principais reformadores?
·       Na Alemanha, Martinho Lutero (1483/1546)
·       Na Suíça, Huldreich Zwínglio (1484/1531) e João Calvino (1509/1564)
Quais foram as principais obras de Lutero?
Lutero expressa suas ideias através de três obras. São elas:
a) A Liberdade Cristã.
b) Apelo à Nobreza. Aqui Lutero faz um apelo para o povo se unir contra a Igreja Católica Romana.
c) Cativeiro Babilônico da Igreja. Afirmava que a Igreja estava vivendo num cativeiro, assim como o povo de Israel esteve na Babilônia escravizado.
Quais eram as principais doutrinas defendidas por Lutero?
a) Justificação pela fé. Baseado nos ensinos de Paulo, ele ensinava que o homem não é justificado pelas suas obras, mas pela fé em Jesus Cristo.
b) A infalibilidade da Bíblia. Ele considerava a Bíblia infalível e acima de toda e qualquer tradição religiosa. Enquanto a Igreja Católica Romana defendia a ideia de que o papa era infalível e a Bíblia era sujeita à sua interpretação, Lutero afirmava que A Bíblia estava acima do papa, pois ela é a Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo.
c) Sacerdócio de todos os crentes. Lutero negava o conceito que afirmava ter o papa poderes sobrenaturais como intermediário entre o povo e Deus. Ele defendia a ideia de que todo crente é um sacerdote e tem livre acesso à presença de Deus. Não precisamos de um intermediário, o único intermediário entre o homem e Deus é o Senhor Jesus Cristo.
Quais eram os princípios fundamentais da Reforma?
a) Supremacia das Escrituras sobre a tradição.
b) A supremacia da fé sobre as obras.
c) A supremacia do povo sobre o sacerdócio exclusivo.
Lutero foi vitorioso?
Sim. Apesar das tentativas para condenarem Lutero, o papa e o Imperador Carlos V não conseguiram. Quando foi convocado a comparecer ao concílio diante do imperador, ele expressou-se destemidamente da seguinte forma: "É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Não posso confiar nas decisões de concílios e de Papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm contraditado uns aos outros. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus. Assim Deus me ajude. Amém".
Uma das expressões mais profundas do sentimento de Lutero está no hino Castelo Forte que diz:
"Que a Palavra ficará, sabemos com certeza, e nada nos assustará, com Cristo por defesa; se temos de perder os filhos bens, mulher, embora a vida vá, por nós Jesus está, e dar-nos-á seu Reino".  
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Florêncio Moreira de Ataídes é pastor da IPRB desde 09/12/1989.
Detentor do prontuário 521.
Desde 2009 é diretor da EMPA, Escola de Missões Priscila e Áquila - Assis, SP.
Artigo publicado no Jornal Aleluia de fevereiro de 2004.
Inserido no site em 28/10/2007.
Detentor do prontuário 521.
Desde 2009 é diretor da EMPA, Escola de Missões Priscila e Áquila - Assis, SP.
Artigo publicado no Jornal Aleluia de fevereiro de 2004.
Inserido no site em 28/10/2007.
|     Teologia Calvinista Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus Ef2.8  |   |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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October 3, 2011          
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Reforma      Protestante e Contra-Reforma
“Só a Fé Salva” – Martinho Lutero
“Deus criou vasos para a salvação e      vasos para a danação eterna. Se a Mão de Deus estiver sobre a tua cabeça      tu será beneficiado aqui na terra com muita saúde e prosperidade. Por este      indício compreenderás que estás predestinado à salvação” – João Calvino
              O      desenvolvimento do comércio e a conseqüente ampliação do poder político e      econômico da burguesia tornavam anacrônico o discurso da Igreja Católica      Romana, que pregava “ser mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma      agulha do que um rico entrar no reino dos céus” por um lado e, por outro,      vender indulgências e ficar com parte do lucro auferido “pecaminosamente”      daquele ponto de vista.
              A      Igreja Católica Romana tinha uma pregação – a cobiça, fundamentalmente,      era condenada pela Igreja! – e uma prática diferente de seu discurso (mais      ou menos como nossos governantes hoje fazem, dizem uma coisa e fazem      outra...). Por outro lado ao burguês que enriquecera comprando barato (ou      saqueando) e vendendo com largo lucro, além de cobrar juros, não era      interessante:
a) Partilhar a sua riqueza com um      clero cuja prática era incongruente com seu discurso.
b) Ouvir sermões ameaçando-o com      as penas do Inferno se não abandonasse a prática da usura, da “venda do      tempo”, etc.
              Com      isto, no Renascimento está formado o caldo de cultura necessário ao      surgimento do protestantismo.
              Dentro      do Individualismo, um dos principais valores renascentistas, o protestante      conversa diretamente com Deus; não encomenda a um padre uma missa pedindo      a um santo que interceda a Deus por ele numa hierarquia que já não lhe diz      respeito. O burguês conversa direta e individualmente com Deus.
O Início da Reforma – Lutero
              Tradicionalmente      diz-se que a Reforma Protestante foi iniciada por Martinho Lutero, monge      agostiniano alemão 91483 – 1546), cujo pensamento sofreu profunda      influência de São Paulo de Tarso.
              Numa      Epístola de Paulo aos Romanos encontrou a “chave” para consolidar uma      idéia nova de salvação: “O justo viverá pela fé.” E “não são as obras, mas      é a fé que conduz à salvação”. Não importa como você aja no mundo. Se a      sua fé for “do tamanho de uma raiz de mostarda” você está no caminho da      salvação, não importa o que faça. Desprezando olimpicamente os vários      trechos bíblicos que rezam: “o que é a fé sem as obras?”; “A fé sem as      obras é morta!” e “Mostra-me a tua fé sem as obras que eu, pelas minhas      obras, te mostrarei a minha fé!” Lutero criou um novo sistema religioso      abrindo um cisma com a Igreja Católica Romana.
              Em      1517 afixou na Abadia de Wittenberg suas famosas "95      Teses Contra a Venda de Indulgências"[11] , sendo excomungado e correndo o      risco de, a exemplo de Jan Hus e Thomas Münzer, ser martirizado pela      Igreja. A diferença é que estes dois, com profunda sinceridade de coração,      desejavam voltar ao princípio da fé cristã, em grande medida desvirtuada      pela Igreja, mas para tanto aliaram-se aos pobres, aos desvalidos e      deserdados da sociedade. Já Lutero, espertamente, aliou-se aos príncipes      interessados, como se disse, em apoderar-se das terras da Igreja...
              Lutero      encontrou terreno fértil à sua pregação nas regiões em que era      interessante aos nobres se apoderarem das terras da Igreja Católica.      Aliando-se aos príncipes, conseguiu principalmente o apoio do Imperador do      Sacro Império Romano-Germânico Carlos V, que convocou a “Dieta de Worms”      em 1521. As doutrinas luteranas causaram grande agitação, principalmente      sua idéia subversiva de confiscar os bens da Igreja.
              Sua      aliança aos príncipes fica mais clara à medida em que analisamos sua      reação aos camponeses da região da renânia que, uma vez convertidos,      passaram a apoderar-se dos bens da Igreja Católica Romana. Lutero apoiou      uma violenta repressão aos camponeses em 1525 dizendo: “A espada deve se      abater sobre estes patifes! Não punir ou castigar, não exercer esta      sagrada missão é pecar contra Deus!”
              Na      Dieta de Augsburgo, convocada pelo Imperador Carlos V em 1530,      estabeleceram-se as bases fundamentais da nova religião luterana. Ficava abolido      o celibato ao clero protestante; proibido o culto a “imagens de escultura      e a Virgem Maria”; proclamava a Bíblia e sua interpretação subjetiva do      leitor como autoridade, renegando os dogmas de Roma, entre outras medidas.
Aprofundando a reforma – Calvino -      Igreja Presbiteriana
              Uma      das principais conseqüências do cisma provocado por Lutero no seio da      cristandade foi a difusão de suas idéias como um rastilho de pólvora por      toda a Europa Central, onde se concentravam os burgueses enriquecidos e os      príncipes interessados no confisco dos bens da Igreja.
              A      Reforma foi aprofundada por alguns de seus seguidores, com particular      ênfase a João Calvino (1509 – 1564) que dinamizou o movimento protestante      através de novos princípios, como o da predestinação      absoluta, que enfatizava o quanto uma pessoa estava “sendo abençoada      por Deus” uma vez enriquecesse e o quanto estava predestinada à danação      eterna uma vez pobre, doente e miserável... Quem nisso acredita trabalha      como louco para “provar” a seus vizinhos, pelos aspectos exteriores de      suas posses e bem-estar físico e material que é um “vaso reservado para a      salvação”.
              Pense:      se você fosse um burguês enriquecido preferiria a pregação de um sacerdote      católico a acusá-lo de desonestidade, heresia por haver enriquecido      através da prática condenável do lucro e da usura ou a pregação de um      sacerdote protestante a informar que a sua riqueza é um sinal de que está      predestinado para a salvação eterna? Não é de admirar que os países mais      prósperos do mundo capitalista professem a fé protestante em seus mais      diversos matizes...
Um caso singular – Henrique VIII e      a Reforma Anglicana
              Vários      pregadores e potentados ingleses estavam ansiosos para aderir também à      Reforma e, com isso, confiscar terras da Igreja a exemplo do que havia      ocorrido em boa parte da Europa continental. O rei inglês Henrique VIII      (1509 – 1547), contudo, era muito devoto e recebeu uma comenda do papa      Clemente VII: “Defensor Perpétuo da Fé Católica”.
              De      repente, um coup de foudre      (paixão avassaladora) muda os rumos da situação: casado por interesse com      Catarina de Aragão, Henrique VIII apaixona-se cegamente por Ana Bolena e      solicitou ao papa a anulação de seu casamento para que pudesse contrair      novas núpcias. Diante da resposta do papa “o que Deus uniu o homem não      separará” e da pressão dos príncipes e pregadores ingleses, pelo Ato de      Supremacia proclamado pelo rei e votado pelo Parlamento inglês, a Igreja,      na Inglaterra, ficava sob total autoridade do monarca.
              Inicialmente      o anglicanismo manteve todas as características da Igreja Católica Romana,      excetuando-se o direito ao divórcio (de interesse do rei!) e a obediência      à infalibilidade do papa. Com o passar dos anos a Igreja Anglicana agrega      muitos dos valores do Calvinismo, afastando imagens de escultura, fazendo      uma leitura singular da Bíblia, etc.
Reação da Igreja Católica Romana –      a Contra Reforma
              Convocando      o Concílio de Trento (1545 – 1563), a Igreja Católica estabeleceu um      conjunto de medidas defensivas e ofensivas. A fim de impedir a      contaminação pelo protestantismo dos países ainda não atingidos, criou um      Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos), dentre os quais      encabeçavam as obras de Lutero, Calvino, etc. Reativou o Tribunal da Santa      Inquisição, com a finalidade de reprimir heresias. Criou o catecismo,      catequese e os seminários com vistas a discutir e persuadir os fiéis reconquistando      o terreno perdido. Além disso, receberam incentivo as novas Ordens de      pregadores apostólicos romanos com vistas a “levar a fé católica ao “Novo      Mundo”. Neste contexto surge a Companhia de Jesus, de Inácio de Loyola,      subordinada diretamente ao papa e que levava sua pregação ao continente      americano e até à Ásia. Também os dominicanos (domini = do Senhor; cani =      cães), portanto caninamente obedientes e devotados a propagar a fé      católica.
              Jamais      houve uma discussão ou um debate sério entre um papa e qualquer autoridade      protestante acerca de temáticas doutrinárias. Todos ficam presos às suas      metáforas e interpretações diferentes dos mesmos textos bíblicos e muito      sangue foi derramado por causa disso.
              A      relembrar ainda a coincidência entre o protestantismo e o capitalismo e,      de outro lado, entre o catolicismo e o tradicionalismo. Os países mais      prósperos, do ponto de vista burguês, capitalista (ou (“capetalista”, como      preferem os puristas) seguem todos majoritariamente a fé protestante em      seus diversos matizes: EUA, Inglaterra, Suíça, Holanda, Alemanha,      Suécia... Por outro lado, aqueles ligados ao catolicismo e à ética do amor      ao próximo, que não foram profundamente tocados pelo protestantismo,      seguem subdesenvolvidos do ponto de vista capetalista – casos dos países      Ibéricos e da América Latina, por exemplo.
Lázaro Curvêlo Chaves
Bibliografia:
História      das Sociedades – Rubem Aquino
A      Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo – Max Weber
Print version ISSN 0104-8775
Varia hist. vol.23 no.37 Belo Horizonte Jan./June 2007
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-87752007000100008
ARTIGOS
As      Reformas Religiosas na Europa Moderna notas para um debate historiográfico      
The Religious Reformation in Modern Europe notes for a historical      debate
Rodrigo      Bentes Monteiro
Doutor em História Social -      Universidade de São Paulo. Departamento de História - Universidade Federal      Fluminense. rodbentes@terra.com.br.      http://www.historia.uff.br/ciadasindias/
RESUMO
O artigo, como um verbete      destinado aos cursos em História, pretende analisar a produção      historiográfica, sobretudo européia, acerca das Reformas Religiosas no      início da Europa Moderna. Evidencia a crítica de abordagens mais      tradicionais adotadas por autores comprometidos com sua fé, e os estudos      meramente institucionais, doutrinários ou funcionalistas. O artigo destaca      a atenção dada por historiadores do século XX ao contexto da      "pré-reforma", à intensa devoção religiosa então vivida, e à      conexão entre aspectos da vida religiosa, cultural, política e social da      Europa Moderna.
Palavras-chave:      Reformas Religiosas, Europa Moderna, debate historiográfico
 ABSTRACT 
The      article, as an introduction aimed to the course in History, intends to      analyze the European historical production, related to the Religious      Reformation in the Early Modern Europe. It focuses the more traditional      approaches adopted by authors compromised with their own faith and on      merely institutional, theological and functional studies. The article      points to the attention given by the XXth Century historians, to the      "pre-reformation" context, to the profound faith of the time,      and to the connection of the religious, cultural, political and social      aspects of life in Modern Europe.
Key words: Religious Reformation,      Modern Europe, historical debate
Os      homens modernos 
não foram projetados no mundo,
mas para dentro de si próprios.
Hannah Arendt
não foram projetados no mundo,
mas para dentro de si próprios.
Hannah Arendt
No século XVIII, com o      surgimento da filosofia da história em meio ao ambiente iluminista      potencialmente revolucionário e anti-eclesiástico, o movimento conhecido      como Reforma protestante era inserido no processo de modernização da      sociedade ocidental, conforme as idéias de Hegel. Era a "mundanização      positiva", diferente da conotação negativa atribuída pelo filósofo      alemão ao contexto anterior da Escolástica. Enquanto estudiosos laicos      entendiam a Reforma como fundação do caminho para a liberdade, católicos      ultramontanos, defensores da infalibilidade papal, observavam-na como um      equívoco que desestabilizou princípios de autoridade, ordem social e      disciplina, característicos da cristandade medieval.1      
Na primeira metade dos      Oitocentos, Leopold von Ranke inaugurou uma abordagem menos confessional e      apologética, concomitante ao estabelecimento da História como disciplina e      aos propósitos nacionais e políticos da Prússia após o Congresso de Viena,      em 1815. No preâmbulo de sua história sobre os papas, as nações nórdicas e      mediterrânicas ocultavam a tradicional dicotomia entre católicos e      protestantes. Ranke queria enfatizar as relações entre setentrionais e      meridionais, na passagem do século XV ao XVI. Mas, por trás de sua      conhecida erudição no lidar com fatos militares, políticos e diplomáticos,      subsistiam juízos de valor. Não obstante a aplicação do método de Barthold      Niebuhr no estudo crítico das fontes, o jovem e fervoroso luterano      centrou-se no período em que papado e império perdiam poder. Com a Reforma      luterana, nascia a Idade Moderna, quando o "povo" tornava-se      protagonista na história. Sua concepção de História Moderna não era assim      forjada apenas por governantes e sacerdotes. Ela harmonizava-se também às      necessidades do Estado prussiano, cuja política eclesiástica naquele      momento dependia dos delicados matrimônios mistos entre protestantes e      novos súditos católicos, cheios de soberba e inspirados nas tradições      renanas. Também em sua obra maior sobre a história alemã na época da      Reforma, Ranke mal disfarçou sua admiração por Lutero, embora afirmasse      fazer uma história desapaixonada e imparcial do papado, pois a Roma      católica já não ameaçava a nova e grande Prússia, fortalecida desde o      século XVIII, até a unificação alemã em 1870-1871. Reprovava-se assim a      Ranke a sua "malignidade protestante", bem como ter considerado      a história da Igreja e da cristandade, mormente em seus aspectos político      e institucional.2      
Em 1906 o teólogo e filósofo      Ernst Troeltsch - colega de Max Weber - apresentava seu livro sobre o      protestantismo e o mundo moderno em um congresso de historiadores. Seu      tema era a relação entre a herança religiosa do século XIV e a      modernidade. Sem dogmatismo, o autor expôs a influência do protestantismo      nas novas formas de ser e de pensar do final do século XVIII. Troeltsch      defendia que a religião protestante assemelhava-se ao catolicismo      medieval, em seu intento por restaurar a cultura religiosa antiga, com a      novidade de enfatizar a liberdade individual. Embora tenha assinalado      características próprias do luteranismo e do calvinismo, especialmente      ante as autoridades políticas, o estudo de Troeltsch, na linha de uma      teologia liberal, caracterizou-se por ser uma reflexão geral.3      
Fome de Deus
Com efeito, o tema das Reformas      Religiosas pertinente ao início da Época Moderna possui implicações que      ultrapassam as mudanças institucionais eclesiásticas no século XVI,      relacionando-se também a aspectos culturais, econômicos e de poder vividos      na Europa. A historiografia nem sempre foi atenta a esses desdobramentos e      relações, e pode-se afirmar que uma transformação significativa na análise      das questões religiosas referentes ao século XVI começou a ocorrer a      partir da década de trinta do século XX, com os trabalhos de Delio      Cantimori, Lucien Febvre e Hubert Jedin, até os anos cinqüenta. A      explicação das novidades desta tríade de estudiosos e de seus respectivos      desdobramentos, poderá esclarecer melhor o "antes" e o      "depois" da produção historiográfica sobre as Reformas.4      
Delio Cantimori é bastante      conhecido por suas reflexões acerca dos problemas de periodização do      Renascimento. Mas não somente. Em Umanesimo      e Religione nel Rinascimento, o historiador italiano que propôs o      termo Idade Humanística para a      Época Moderna também procura relações entre o humanismo e a Reforma,      concluindo que o protestantismo em seu advento representou o próprio      fracasso do ideal humanista, da autoconfiança exacerbada no potencial do      homem, otimismo excessivo em sua transformação através do livre arbítrio.      Dessa forma, o servo arbítrio de      Lutero seria não apenas o antídoto contra o livre arbítrio de Erasmo – princípio essencial à teologia      católica -, mas a confirmação da onipotência divina em oposição ao      programa educacional encetado pelos homens do Renascimento. Em Storici e Storia, grande obra do      estudioso acerca da discussão historiográfica sobre Renascimento e      Reforma, Cantimori coteja as interpretações realizadas sobre a Reforma      protestante, desde o século XIX até meados do XX. Transparece assim a      inovação do autor - também interessado em heterodoxias e heresias -, ao      defender uma pesquisa mais argumentativa, que contemple a piedade e a      sensibilidade religiosa, rompendo com controvérsias teológicas e      eclesiásticas que caracterizavam muitos dos estudos.5      
Lucien Febvre, como Delio      Cantimori, não se particularizava por realizar uma história confessional –      algo ainda relativamente novo entre estudiosos da Reforma – e como o      italiano propunha também uma história da espiritualidade mais abrangente      que as questões institucionais e teológicas vividas no século XVI, na      Europa ocidental. No célebre estudo sobre os "problemas de      conjunto", em Au Coeur      Religieux du XVIe Siècle, publicado postumamente, este historiador      interroga-se sobre as origens da Reforma em França. Febvre refere-se ao      problema dos historiadores franceses que, absorvidos pelas questões da      "especificidade", da "prioridade" e da      "nacionalidade", buscavam uma origem para a Reforma francesa em      Lefèvre d'Étaples – um dos primeiros "pré-huguenotes" a realizar      colóquios com Margarida de Valois, objeto de outro livro de Febvre -, em      comparação a Lutero. Ao questionar, neste caso, a validade da história      comparada, Lucien Febvre indica que o suposto primeiro reformador francês      não criticava os abusos da Igreja, e que o problema do surgimento da      Reforma deveria levar em conta a intensa religiosidade vivida na Europa –      inclusive na França – ao final do século XV e no início do século XVI: fidelidade      às velhas crenças, devoção tradicional, a fé concretizada nos      "testemunhos de pedra" do gótico tardio e no sucesso de obras      surgidas no século XV, como a Imitação      de Cristo, de Tomás de Kempis, que iria mais tarde conquistar a      admiração de Erasmo de Rotterdam. Se a realidade devocional era forte,      entre ela e o clero existia um abismo marcado pela insensibilidade. Deste      modo, o historiador francês justifica o sucesso da Reforma – na França e      alhures – mediante dois fatores: pelo surgimento da Bíblia em língua      vulgar, e pela questão da justificativa da salvação pela fé. Em      conclusivo, defende que a Reforma deve ser relacionada a uma crise moral e      religiosa de muita gravidade que assolou a Europa naquele tempo. Para      compreender este fenômeno, seria preciso pesquisar todas as manifestações      diversas então vividas, na política, na economia, na sociedade, na cultura      intelectual e artística. Portanto, para Febvre, os historiadores franceses      atrapalhavam-se, quando buscavam origens específicas em situações que eram      gerais. A história da Reforma, segundo o historiador dos Annales, não poderia limitar-se em      marcos institucionais, políticos e eclesiásticos. No entender de      Cantimori, Febvre seria o "historiador psicólogo" atento,      entretanto, às especificidades do homem do século XVI.6      
Pode-se afirmar que Jean      Delumeau desenvolveu e ampliou questões já estabelecidas por Lucien      Febvre. Em Un Chemin d'Histoire, Chrétienté      et Christianisation, Delumeau estuda os cristãos no tempo da Reforma      e, também como Febvre, indaga-se sobre as causas do movimento protestante,      mencionando a princípio duas explicações mais tradicionais: uma primeira      que remete aos abusos da Igreja, e outra de cunho economicista, sobre a      luta da burguesia contra o feudalismo. Delumeau argumenta que os protestos      contra os abusos da Igreja não eram novidade, e que esta possibilidade      explicativa não responde, por exemplo, ao fato de Erasmo, apesar de seus      "protestos", ter continuado na Igreja católica, e nem à situação      dos protestantes que não retornaram a ela quando o catolicismo se      reformou. A explicação marxista, por sua vez, não esclarece a razão da      Península Itálica, região próspera economicamente no início do século XVI,      ligada ao comércio mercantil, ter permanecido católica. O historiador      francês indica as fragilidades existentes neste tipo de discussão, mais      concentrada na difusão da Reforma que em suas causas, negligenciando      também aspectos teológicos do debate.7      
A seguir Delumeau – como já o      fizera Lucien Febvre – detém-se na análise dos comportamentos religiosos      na Europa do início do século XVI. Em resumo, ele verifica a existência de      um cristianismo popular mais íntimo e profundo, cristianismo vivido de      forma plena – em seu aspecto formal – somente pelas elites. Tratava-se      então de um mundo de ignorância religiosa, distante dos abusos da Igreja.      O historiador refere-se, como exemplo, ao livro de Keith Thomas, Religion and the Decline of Magic,      que retrata a sociedade inglesa do século XVI repleta de práticas mágicas      e crenças, relacionadas pelo autor aos mecanismos de solidariedade aldeã,      em contraposição à afirmação da propriedade privada e do individualismo.      Processo no qual o(a) outro(a), o(a) estranho(a), o(a) diferente, tendia a      ser acusado(a) de feitiçaria pelos vizinhos. Delumeau também – repetindo      Febvre – refere-se ao sucesso de Imitação      de Cristo, obra que resume o ideal de devotamento, pobreza e piedade      na Europa de então. Era um mundo também de medo – retomando um dos mais      conhecidos temas do historiador abordado em La Peur en Occident, tão bem expresso pelo holandês Johan Huizinga,      já em 1919, no seu Herfsttij der      Middeleeuwen, literalmente Outono      da Idade Média. Peste, fome e guerra estavam relacionadas ao pânico, e      à superstição como solução para os problemas. O combate à superstição      constitui outro tema desenvolvido por Delumeau, luta importante efetuada      por Lutero e Calvino. Tentando analisar os escritos dos reformadores como      material etnológico, o historiador francês concebe a Reforma como promoção      da vontade cristianizadora, contra o catolicismo, mas também contra a idolatria,      vilões não distintos para eles.8      
A realidade conflituosa e      mesclada em termos religiosos, recuperada por Delumeau, deve alertar os      estudiosos do período sobre a imprudência que podem demonstrar ao tentar      separar, sempre, o que é religioso      do que é mágico. São muitos os      exemplos procedentes em relação a esta questão: o estudo de Emmanuel Le      Roy Ladurie, Montaillou, village      occitan de 1294 à 1324, demonstra que, já no final da Idade Média, cristão e religioso não eram sinônimos. Em Le Carnaval de Romans. De      la chandeleur au mercredi des cendres 1579-1580, sobre os festejos      realizados naquela cidade francesa, que misturavam aspectos religiosos e      profanos, Ladurie verifica a mesma dificuldade de classificação, bem      percebida por Natalie Davis na coletânea de ensaios intitulada Society and Culture in Early Modern      France, sobre a Reforma e os grupos sociais populares franceses no      século XVI. O exemplo mais conhecido talvez seja o estudado por Carlo      Ginzburg – discípulo de Cantimori em sua atenção às heresias e à      micro-história - em Il Formaggio e i      Vermi. Il cosmo di un mugnaio del 500. Na cosmologia toda especial de      Menocchio, percebe-se não somente a circularidade cultural, mas a      dificuldade de tipificação do que seria a boa religião, aceita pelos      inquisidores. O moleiro era batizado e se confessava e, no entanto, foi      considerado blasfemador e herege pela Igreja. O livro de Ginzburg chama      atenção para a possibilidade de diferentes leituras sociais e culturais do      cristianismo. Em conclusivo, na obra há pouco referida, Jean Delumeau      concebe a marcha do cristianismo como progressiva e não triunfal dentro da      cristandade, sublinhando o equívoco perigoso para os historiadores que      lidam somente com os aspectos institucionais da filiação religiosa.9      
A consideração de outra obra do      mesmo historiador, Le Catholicisme      entre Luther et Voltaire, indica o caminho para a abordagem da Reforma      católica, e para o modo como o referido autor concebe as reformas: como      atos não seqüenciais entre si, tentando entender sua gênese para além da      tradicional questão em torno dos abusos da Igreja. Neste livro, Delumeau      argumenta que a renovação da Igreja se deu em dois momentos, o da      pré-reforma e o iniciado no Concílio de Trento (1545-1563), quando os      prelados ali reunidos atenderam alguns pleitos de João Huss, Bernardo de      Siena e Savonarola. O autor também chama atenção para o ambiente de      solidez teológica da Espanha no século XVI, onde surgiu a vocação      religiosa de Inácio de Loyola e o neotomismo da Universidade de Salamanca.      Em relação ao Concílio de Trento, Delumeau desenvolve seu estudo em torno      de uma questão: como um evento que contou com tantas dificuldades, que foi      iniciado com tanto ceticismo e com tão pouco expressivo número de      clérigos, como este acontecimento que enfrentou obstáculos por parte de      soberanos europeus como Francisco I, e que precisava tanto do apoio dos      chefes de Estado católicos, como pôde este evento marcar de tal forma a      história da Igreja. Delumeau responde a esta questão defendendo que a      grandeza do Concílio de Trento consistiu em atender às necessidades      religiosas de seu tempo, tal como a Reforma protestante. Estabelece um      paralelo entre o Édito de Nantes      (1598) e este concílio, pois os dois acontecimentos efetivamente      realizaram o que os anteriores decretos de tolerância – no caso do      primeiro – e as anteriores reformas, no segundo, não concretizaram,      permanecendo letra morta. Segundo o autor, a cristandade ocidental, em      meados do século XVI, vivia uma mutação profunda, tinha "fome de      Deus". Esta fome se manifestava, por um lado, pela busca da palavra da      vida, mas também pelo pânico dos pecados. A saciedade desta fome pode ser      percebida, após o Concílio, pelo comportamento mais moralizado de alguns      papas, pela renovação de Roma enquanto capital religiosa, pelos sínodos,      seminários e visitas pastorais intensificados, e pelas novas ordens      religiosas criadas. Algumas ordens, como a dos capuchinhos e das      ursulinas, precederam o próprio Concílio, impressionando a sensibilidade      religiosa da época. Outras se destacaram pela pujança de suas realizações,      como foi o caso notório dos jesuítas, soldados de Cristo que abrangeram o      além-mar, e dos carmelitas descalços liderados por Teresa d'Ávila,      renovando o catolicismo na Espanha de Felipe II. Deste modo, nesta obra, o      autor propõe duas leituras da Reforma católica: uma sobre o endurecimento      das estruturas, com um clero mais firme e com ênfase na catequese; e      outra, a falar de santidade e piedade, de exemplos heróicos testemunhados      nas vidas de papas e religiosos do século XVI.10      
Torna-se oportuno, assim, em se      tratando de Reforma católica, recuperar um nome apenas mencionado ao      início como componente de uma tríade fundamental para o entendimento das      inovações historiográficas sobre a Reforma. Coube a Hubert Jedin, jesuíta      alemão que conseguiu o acesso aos documentos do Concílio de Trento, a      criação do conceito de Reforma      católica, diferente de Contra-Reforma. Em sua história sobre o      Concílio de Trento, Jedin renova os estudos da estrutura organizacional da      Igreja no século XVI, contemplando também o período da pré-reforma, o que      possibilita pensar as mudanças vividas no papado durante os Quinhentos. O      autor alemão enfatiza as linhas de força do Concílio, caracterizadas pelo      reforço das escrituras e da tradição, seguindo passo a passo a marcha do      evento, analisando a diplomacia entre Roma, Trento e Salamanca, e a      influência das idéias erasmianas. Jedin é mencionado por Jean Delumeau      como o melhor historiador da Reforma católica.11      
Contudo, a Reforma católica,      como já foi indicado, não pode ser restrita ou tipificada apenas pelas      decisões conciliares. John Bossy, em Christianity      in the West 1400-1700, fornece-nos o interessante exemplo de uma      reforma silenciosa, caracterizada pela investida dos clérigos em      disciplinar as práticas do casamento - em oposição às fiançailles, que consumavam a união antes do laço institucional      definitivo -; do batizado logo após o nascimento; da confissão periódica.      Nesses casos, tratava-se de promover a passagem de uma cristandade      medieval para um moderno catolicismo, mediante rompimento dos vínculos de      uma solidariedade grupal para uma delegação de responsabilidades ao      indivíduo como católico.12      A Reforma católica em Portugal tem sido trabalhada por Federico Palomo com      ênfase neste catolicismo moderno. Retomaremos essa questão tão importante      sobre a "modernidade" das Reformas Religiosas ao final do      artigo.13      
Deve-se ainda mencionar, para      que se tenha noção de um quadro mais rico e complexo acerca do universo      religioso no século XVI - não necessariamente polarizado entre      protestantismo e catolicismo -, a existência de outras correntes de      pensamento não tão engajadas em disputas. O historiador italiano Alberto      Tenenti desenvolveu um já clássico estudo sobre o libertinismo, publicado      nos Annales, no qual se faz      evidente - mais uma vez - a dificuldade de classificação sobre o que seria      herético ou ortodoxo em termos religiosos. Não obstante, o autor indica      três tipos de libertinismo entre a metade do século XVI e o início do      século XVII. Um libertinismo espiritual, mais relacionado aos místicos      medievais; o demonstrado por Jean Bodin, em seu Heptaplomeres, que Tenenti relaciona a um tempo futuro, o das      Luzes; e aquele praticado por Pierre Charron, este sim, segundo o autor,      mais identificado ao seu tempo. Posteriormente, o libertinismo foi      estudado por Sergio Bertelli, em Rebeldes,      Libertinos y Ortodoxos en El Barroco. Este historiador italiano      organizaria ainda o colóquio Il      Libertinismo in Europa, que resultou em obra também publicada.14      
O quadro complexo, referente ao      universo religioso e cultural na Europa do início da Época Moderna, também      deveria englobar outros movimentos, dentro do próprio contexto de      pré-reforma no século XV, como o evangelismo e, posteriormente, no século      XVII, o jansenismo.15      Também seria importante aprofundar o entendimento do papel fundamental      desempenhado pela eloqüência e pela retórica na Reforma católica, em      especial na obra dos jesuítas, tema desenvolvido por Marc Fumaroli, em L'Âge d'Éloquence.16      
Secularização desencantada
Mas para se buscar coerência em      relação ao sugerido, sobre a indistinção na Europa de início da Época      Moderna entre múltiplos aspectos componentes daquele mundo e o tema das      Reformas Religiosas, alguns estudos complementam o argumento proposto.
Na segunda metade do século XX,      enquanto estudiosos marxistas identificavam na figura de Thomas Müntzer um      líder revolucionário em meio às guerras camponesas no século XVI,17      a historiografia revisionista esforçava-se por atacar modelos teóricos de      interpretação. Em ensaio bastante divulgado, Hugh Trevor-Roper dialoga com      a conhecida tese de Max Weber sobre a ética protestante e o espírito do      capitalismo. Após investigar trajetórias e comportamentos de empresários      calvinistas neerlandeses, soberanos católicos e protestantes, em meio à Guerra dos Trinta Anos (1618-1638)      que assolou a Europa, o historiador inglês conclui sobre a existência de      um vínculo indireto entre calvinismo e capitalismo na Europa ocidental – e      não direto, como advogavam interpretações marxistas e weberianas, ainda      que de modos muito distintos. Em síntese, Trevor-Roper constata uma      conversão generalizada de empresários "capitalistas" erasmianos (simpatizantes de      Erasmo), perseguidos pela Igreja de Roma e desfavorecidos pelas cortes      católicas, para o calvinismo. Esta conversão teria sido acompanhada de uma      migração dos mesmos de países católicos para repúblicas protestantes, por      conta do avanço da burocracia estatal das cortes européias, que sufocava o      capitalismo independente dos simpatizantes de Erasmo. Portanto, segundo o      autor, não seria propriamente o catolicismo a impedir diretamente o      capitalismo nas cidades do sul do Sacro Império, das Penínsulas Ibérica e      Itálica, pois nessas regiões já existiria um "capitalismo      medieval" feito por católicos – termo excêntrico empregado por Roper.      Nessa perspectiva seria imprópria a idéia weberiana acerca da ética      calvinista como principal motor, de forma direta, do desenvolvimento      capitalista. Talvez a tendência conservadora do autor na política inglesa      ajude a entender a redução excessiva que ele opera em relação ao peso das      causas e ideologias nas transformações sociais. Pinta, assim, um quadro de      meras disputas por oportunidades e conveniências ao hiperdimensionar o      avanço das cortes absolutistas como sistemas de poder. Mas é evidente em      sua análise o valor da pesquisa histórica em contraposição a modelos      sociológicos generalizantes. Não obstante também transparece de modo      diferente de outras análises economicistas, a relação entre a vida      econômica e social e a religião.18      
A menção crítica à sociologia      de Weber abre espaço para considerar a incidência de suas idéias nos      estudos históricos sobre a Reforma e o alvorecer da Idade Moderna,      sobretudo no que se refere à categoria de secularização. Segundo o filósofo Giacomo Marramo, o termo secularizar surgiu ao final do      século XVI nas disputas canônicas francesas, relacionado à passagem de um      religioso regular ao estado secular. Foi empregado também nas longas      negociações em Münster, 1646, para a Paz de Vestfália em 1648, sobre a      transferência de propriedades religiosas para mãos seculares. O neologismo      indicava a expropriação de bens eclesiásticos a favor de príncipes ou      igrejas reformadas. Desde as lutas pela Reforma, o termo relacionava-se à      afirmação de uma jurisdição secular – ou estatal – sobre setores da vida      social até então sob domínio da Igreja.19      
Como sabemos pelo trabalho de      Reinhart Koselleck, em meados do século XVIII era forjado o conceito de      progresso na forma que nos é familiar, com uma prospectiva futurizante.      Nesse tempo a secularização aparecia ligada ao conceito unitário de tempo      histórico. Surgia assim a idéia do progresso como temporalidade cumulativa      e irreversível, a representar o moderno processo de secularização.20      O tempo como mudança e transformação constante tornava-se assim a forma      por excelência da modernidade. No século XIX, a palavra secularização conheceu uma extensão      semântica, primeiro no campo político, com a expropriação dos domínios      religiosos pelo decreto napoleônico, de 1803, posteriormente na      sociologia.
Com efeito, o desenvolvimento      da moderna sociedade européia ocidental foi pensado pela primeira vez, de      forma completa, por Max Weber, no início do século XX, como "processo      de secularização". Por um lado, a expressão remetia a uma concepção      geral do processo cultural no Ocidente; mas por outro, a concepção deste      mesmo processo rompeu com as filosofias da História anteriores, na versão      idealista de Hegel, ou na materialista de Marx. Para Marramao, o papel da      secularização em Weber seria incompreensível sem a tese da ética do      protestantismo calvinista como base do espírito do capitalismo, aspecto do      crescente "racionalismo ocidental moderno". Contudo, a amplitude      do panorama não caracteriza uma filosofia da História na obra weberiana.      As categorias de Weber foram extraídas de uma seleção empírica e      comparativa que identificou traços peculiares no interior de expressões      genéricas como "capitalismo" ou "racionalismo      ocidental". Para explicar esse processo, Weber fez referência a      condições econômicas, científicas e jurídicas, mas também à capacidade e à      disposição dos agentes sociais para adotarem condutas racionais de vida. Nesta      via, evidenciou o fator ético do agir que, identificado na ascese      característica da Reforma, conectava-se à problemática da secularização.21      
Para Weber, o aspecto decisivo      da secularização ligava-se à prevalência de um modo de agir racional, que      encontrou sua expressão na ética da renúncia e da ascese no protestantismo      calvinista puritano. Mediante a doutrina da graça e sua ratificação      manifesta nas obras e no sucesso, a atitude protestante daria lugar a um      rigor religioso, mas também a uma aderência ao mundo que – constituindo o      espírito do capitalismo – induziria nas relações sociais um forte efeito      de dessacralização. Em Die      Protestantische Ethik un der Geits des Kapitalismus, a secularização      enquadrava-se nesse processo de desencantamento do mundo, traduzindo-se      numa recusa dos meios mágicos e sacramentais de busca da salvação. O      tópico foi esclarecido em Wirtschaft      und Gesellschaft, obra póstuma na qual o sociólogo separou as figuras      do profeta e do sacerdote pela vocação pessoal. Essa separação foi      decisiva para captar a dimensão dessacralizante do profetismo, como      manancial da dinâmica secularizante. Se o sacerdote era legitimado pelo      cargo, o profeta atuava em virtude dos seus dons pessoais. Pela amplitude      de perspectiva e riqueza de conteúdo, a sociologia religiosa de Weber      representou um divisor de águas nos estudos sobre a secularização.22      
Mas a grandeza da descoberta de      Weber sobre as origens do capitalismo encontra-se em demonstrar que uma      intensa atividade mundana era possível sem se desfrutar do mundo      excessivamente, apenas na valorização do trabalho, uma atividade cuja      motivação, ao contrário, era a preocupação e interesse de cada um por si      próprio. Segundo Marramao, a alienação do mundo, portanto, e não a      alienação de si, como pensava Marx, seria a característica distintiva da Idade      Moderna. Entretanto, a tese weberiana exerceu influência sob o signo do      processo de "desencantamento do mundo". O poder sugestivo desta      fórmula marcou a discussão sobre a secularização da sociedade moderna.23      
Nesse sentido, para Marramao, a      tese da dessacralização foi precipitadamente atribuída ao sociólogo      alemão. Em Weber, a análise da secularização excluiu qualquer sentimento      ou juízo de valor ameaçador da eficácia do processo. Ele perseguiu o nexo      entre secularização e racionalização, como um destino histórico      irreversível. Mas seu "desencantamento" não comportaria um mundo      desideologizado e dessacralizado. Faz-se evidente assim a inconsistência      do esquema sacro-profano para exprimir a complexidade da categoria de secularização.
Marramao observa o problema      desta ampliação de sentidos ocorrida com a palavra, pois secularização acabou figurando como      uma filosofia da história camuflada, um termo indeterminado e controverso,      interpretado como descristianização ou dessacralização. No âmbito      político, utilizado para tratar da perda de modelos tradicionais de valor      e de autoridade, fenômeno que, a partir da Reforma protestante, consistiu      na ruptura do monopólio da interpretação. Já no debate filosófico figura      como sinônimo da erosão dos fundamentos teológicos e da abertura à      dimensão da escolha, da responsabilidade e do agir do homem no mundo. Para      o filósofo italiano é necessário distinguir entre esses dois paradigmas: o      da secularização, do moderno como mundanização de um      núcleo original meta-humano; e o da laicização,      ou libertação, ou seja, do moderno      como desimpedimento do indivíduo em sua progressiva auto-afirmação.
É curioso perceber que os      fenômenos da expropriação de bens e da alienação do mundo, na construção      de uma identidade mais individualizada, coincidiram no tempo. A Idade      Moderna começou por alienar do mundo certos extratos da população.      Tendemos a negligenciar a importância desta alienação, porque sublinhamos      seu caráter secular, e identificamos a secularização também à reconquista      do mundo. No entanto, historicamente a secularização apenas significou a      separação entre Igreja e Estado, religião e política. De um ponto de vista      político, parece um retorno à máxima cristã "dar a César o que é de      César e a Deus o que é de Deus" e não o desaparecimento da fé na      transcendência, ou um interesse enfático pelas coisas do mundo. Portanto,      a suposta perda da fé na Idade Moderna não pode ser relacionada às      Reformas Religiosas. Lutero substituiu a religiosidade exterior pela      interior, a fé na autoridade      pela autoridade da fé.
Religião política
Entretanto, são muitos os      exemplos de interação entre religião e política, no início da Época      Moderna, em Cortes reformadas ou católicas, que relativizam a separação      entre Igreja e Estado no campo institucional ou nas idéias relativas ao      governo e à moral. Para Marc Bloch, no célebre Les Rois Thaumaturges, publicado em 1924, o absolutismo era      uma espécie de religião. Sob a influência da Sociologia de Durkheim, Bloch      estuda os rituais de cura de escrófulas, a unção régia e o leque de      legendas que envolvia as monarquias na Inglaterra e na França, desde      tempos medievais. O historiador francês deixa evidente a simbiose      existente entre a realeza e o sagrado, que perdurou na Corte inglesa até a      ascensão da dinastia Hanover, e na França até a Revolução, com uma      revivência efêmera na coroação de Carlos X, em 1825. Por sua vez, Ernst      Kantorowicz, inspirado na teologia política de Carl Schmitt, estuda em      dois capítulos inciais de The King's      Two Bodies a elaboração dos juristas da era Tudor em torno da ficção      dos dois corpos do rei inglês: quanto ao primeiro, sujeito a paixões e      morte como qualquer outro homem, mas quanto ao segundo, imortal e sagrado,      idéia também presente nas peças de Shakespeare. O tema seria retomado por      Ralph Giesey, discípulo de Kantorowicz, ao estudar os funerais dos reis      franceses nos séculos XV e XVI, em Le      Roi ne Meurt Jamais, e por Agostino Bagliani, ao sublinhar as      diferenças em relação ao funeral papal.24      
No âmbito das idéias políticas,      Quentin Skinner concede atenção em The      Fundations of Modern Political Thought às idéias de Erasmo e outros      humanistas, bem como a luteranos e calvinistas e suas concepções no século      XVI. Embora a Sociologia de Weber seja referencial na sua interpretação do      "moderno", o historiador de Cambridge contempla um universo      vasto de textos, muitos deles medíocres, de forma a estabelecer o      "contexto intertextual" e posicionar melhor obras consideradas      seminais do pensamento político moderno. Destaca-se o estudo sobre a      mudança da política protestante: da consideração do príncipe como      predestinado por Deus, ao dever de resisitir e lutar pela deposição de um      tirano, mormente em Cortes católicas, como Escócia e França. O universo      neotomista também é contemplado no ambiente da Reforma católica e do      caráter contratual vigente nas monarquias ibéricas.25      
Em perspectiva diferente de      Skinner, pela maior especificação das situações políticas, encontram-se os      estudos dos irmãos Firpo. Luigi Firpo é autor de uma introdução primorosa      a uma edição italiana de O lamento      pela paz, texto de Erasmo feito para o encontro em Cambrai, 1516,      reunindo o imperador, os reis de França e da Inglaterra. O historiador      italiano ressalta a influência do contexto do ducado da Borgonha e suas      possessões – entre elas Rotterdam – no pensamento de Erasmo pela paz e por      uma monarquia universal. Após narrar os episódios que culminaram na      derrota borgonhesa em Nancy, Firpo interpreta o "lamento" de      Erasmo como melancolia pelo ocaso de uma civilização perdida – a da      Borgonha -, que buscava, pela diplomacia, algum melhor tratamento entre      soberanos mais poderosos. Por sua vez, Massimo Firpo escreve sobre os      homens do clero no artigo intitulado O      cardeal, na obra organizada por Eugénio Garin acerca do homem      renascentista. Ante o quadro comumente aceito para pintar o vértice da      Igreja em Roma, no início do século XVI, de violência, devassidão, avidez      e corrupção, o autor observa que, naquele tempo, nada disso provocava      escândalo, pois a consciência comum não separava clérigos e leigos. Uma      imagem austera e contrita da vida religiosa só seria afirmada no contexto      posterior da Reforma católica. Firpo evita assim as avaliações moralistas      sobre a mundanidade da hierarquia eclesiástica entre os séculos XV e XVI,      e o anacronismo das interpretações.26      
Particularizando o âmbito      católico, os estudos inquisitoriais têm sido altamente renovados em Roma,      para o caso itálico, com a recente abertura do Archivio della Congregazione per la Dottrina della Fede, do      extinto Santo Ofício, projeto que compreende em sua comissão Massimo      Firpo, Carlo Ginzburg e Adriano Prosperi, entre outros. Neste setor também      destacam-se os estudos ibéricos, pela riqueza dos arquivos existentes. Em      síntese, a farta bibliografia sobre inquisição espanhola pode ser      tipificada em duas vertentes principais: os estudos de historiadores      espanhóis sobre tribunais, capitaneados por Jaime Contreras, e uma linha      socio-cultural exemplificada pelos livros de Bartolomé Benassar. Trata-se      de uma historiografia mais concentrada nos resumos dos processos. No meio      portuguuês, destacam-se os trabalhos de Francisco Bethencourt, que      produziu uma visão de conjunto sobre a dinâmica inquisitorial em Portugal,      Espanha e Itália. A superação de uma abordagem mais institucional tem sido      empreendida por José Pedro Paiva, seja pela contemplação da fetiçaria      lusa, seja pelo instigante capítulo que assina na História Religiosa de Portugal, no qual versa sobre a      interpenetração entre Igreja e Estado no Portugal do Antigo Regime.27      
Entretanto, pode-se explicitar      com mais vagar um caso de vínculos estreitos entre as Reformas Religiosas      e as questões políticas, desfazendo fronteiras entre religião, magia,      filosofia, e o próprio exercício do poder. Ao enveredar pelo ambiente      intelectual da monarquia francesa no tempo das Guerras de Religião (1559-1598), Denis Crouzet identifica,      após a eclosão dos conflitos, duas respostas da realeza – não excludentes      entre si - às violências interconfessionais. A mais evidente, de matriz      humanista, tentava fundar a paz pela tolerância da fé reformada.      Provavelmente de fonte erasmiana, foi dominante de 1560 a 1568, liderada      pelo chanceler Michel de L'Hôspital, que se esforçou com alguns      intelectuais – os politiques,      entre eles Jean Bodin - para tornar política uma visão da ordem régia.      Além dos ódios, existia a solução da tolerância como preservação do      Estado, pois sem um poder dominante, os homens guerreariam ao infinito. O      rei devia manter a paz, justificativa da organização social e política      capaz de findar os conflitos.28      
Mas havia outra corrente      filosófica que convém enfatizar. No século XVI, diálogos de Platão eram      lidos nas academias italianas, sobretudo em Florença, onde conferências      sobre a filosofia do amor eram      freqüentes. Obras de Platão e dos antigos platônicos, além das atribuídas      a Orfeu, Zoroastro, Hermes e aos pitagóricos, eram editadas em grego e      latim. Os escritos platônicos renascentistas também foram difundidos em      línguas vernáculas, sobretudo francesa e italiana. Na França, doutos como      Lefèvre d'Etaples e poetas religiosos como Margarida de Valois valiam-se      das idéias de Marsílio Ficino, no seu apelo à contemplação e à experiência      interior. O amor platônico tornava-se então uma moda nas academias      literárias. A influência do platonismo também ocorria na matemática      apreciada por Platão e seus seguidores, a expressar a superioridade do      conhecimento quantitativo sobre o qualitativo, da matemática sobre a      física, do platonismo sobre o aristotelismo.
Nesse âmbito, segundo Crouzet,      o poder régio francês da Renascença se caracterizava pela capacidade do      rei governar como um iniciado nos segredos do universo. No sistema      neoplatônico de Ronsard, poeta da corte, o universo era regido por uma lei      de alternância. Mesmo que o dia seguisse a noite, que as estações se      sucedessem, o bom tempo viria após a tempestade. Em 1566, um teórico      definia o príncipe como aquele que devia, por suas virtudes, ser sábio      para guiar o povo aos bons modos, na crença e no amor de Deus. As festas      da Corte no tempo de Catarina de Médici e de seus filhos podiam chocar      pela suntuosidade. Mas a diversão civilizada afirmava a virtude      pacificadora do príncipe que vivia em tranqüilidade, oferecendo prazeres e      diferenciando-se do tirano, que proporcionava opressão, angústias, medos.      As festas eram então espelhos da justiça e piedade régias, incluindo os      presentes na consagração das virtudes, reflexos da beleza universal cuja sabedoria      só o príncipe possuía. Nesse      sentido, festas, quadros, túmulos e poesias organizados na corte Valois      atuavam como talismãs, inspirados em teorias neoplatônicas e herméticas.
A educação principesca, através      de Plutarco, visava fazer de Carlos IX um rei filósofo à semelhança dos      descritos na República de Platão. Como a força unificadora do mundo era um      fogo, a chama da realeza por meio da educação e da ciência devia ser      mantida acesa, contra a degenerescência. Rei filósofo e mago que se      ocupava das ciências da natureza e agia no plano natural. Contra a      violência, uma realeza da harmonia dos contrários se impunha. Os problemas      da França eram naturalizados assim pela lógica da instabilidade das coisas      humanas, da bonança ao sofrimento, e vice-versa. A harmonia universal era      esse movimento pendular incessante, cabendo aos governantes promover a      concórdia.
Nesse mundo religioso      dilacerado, o amor neoplatônico era a última defesa contra a ruptura,      tentativa de adesão da monarquia ao movimento universal, a esta sabedoria      ou prudência que afastava os efeitos astrais, superando os desafios      políticos e religiosos, pela harmonia de contrários que assegurava a      perpetuação da vida. O homem era, portanto, ambivalente, definindo-se numa      dualidade conservadora das coisas. Os que detinham o poder político deviam      atuar segundo essa compensação para atingir o equilíbrio. Catarina de      Médici, nos libelos huguenotes, após o massacre de 1572, tornou-se uma      feiticeira, responsável pelos males da França. De fato, ela pertencia a uma      cultura mágica. Na Renascença, poder significava também atração de forças,      comunhão com o fluxo vital, parte de um sistema esotérico de conhecimento      que condicionava a política. Além dos eventos das guerras de religião,      existia uma cultura que aglutinava poder monárquico, neoplatonismo e      hermetismo, ou seja, realeza, filosofia e magia. A "religião"      dos últimos Valois era então diferente das confrontantes, catolicismo e      protestantismo, ao fazer da arte política uma arte mística. Denis Crouzet      defende a busca do poder na França, da segunda metade do século XVI, nas      imagens do mundo que seus contemporâneos compunham, em função dos seus      sistemas filosófico-metafísicos.
Ao conceber o poder como      discurso, o historiador francês explica o massacre de 24 de agosto de 1572      como um sonho perdido da Renascença, e alivia o drama da violência      religiosa na França do século XVI, que recebeu outra abordagem, por      exemplo, de Natalie Davis. No ensaio, intitulado Ritos de violência, a historiadora de tendência etnográfica recupera      cenas cotidianas que opunham católicos e protestantes, demonstrando que os      massacres não podem ser explicados apenas pelas ordens vindas de cima, nem      pela alta dos preços, nem como loucura coletiva. Segundo Davis, a religião      era vivida de forma violenta por vários segmentos sociais. Deste modo a      autora recupera o tema da devoção religiosa, e aproxima sua análise das      anteriores inovações de Febvre e Delumeau, ao rejeitar explicações      puramente economicistas ou institucionais.29      
Não obstante a leveza dos      conflitos inerentes às guerras religiosas no ensaio de Crouzet, ele      desenvolve versões acerca do evento e da família real, católicas e      protestantes, que lhe permitem trabalhar a construção de estereótipos      políticos de personagens como Catarina de Médici e Carlos IX: a rainha      feiticeira, o rei caçador. Entretanto, o ponto central para a argumentação      proposta neste artigo surge ao se buscar a ponte com a idéia lançada por      Delio Cantimori, sobre a Reforma como "fracasso" do humanismo.30      Denis Crouzet aborda o massacre de 24 de agosto de 1572 como um sonho      perdido da Renascença, um ideal neoplatônico de amor e tolerância      religiosa - expresso nas formações intelectuais e de governo incidentes em      membros da família real dos Valois Angoulême. Sonho destruído pela      estratégia do malfadado assassínio do almirante Gaspar de Coligny – na      época influente sobre o rei Carlos -, pelo acuamento político da família      régia ante os radicais protestantes, e pela falência da tolerância      religiosa promovida pela monarquia. Esse conjunto resultaria no plano do      massacre, polêmico no referente à extensão da ordem do rei, se dirigida      aos chefes protestantes, ou a todos os huguenotes em Paris. De qualquer      modo, a fúria coletiva foi desencadeada em todo o reino, mediante      oposições religiosas que eram ao mesmo tempo políticas.31      
Reforma moderna
Atento às relações entre linguagem e história, Koselleck observa que - ao menos no espaço alemão -,      somente nos Setecentos começou-se a tratar dos "tempos      modernos", o termo implantando-se lexicalmente no século XIX. Assim,      o conceito de modernidade impôs-se séculos após o início do período que      pretendia abarcar - o século XVI. Como sabemos, a expressão relaciona-se à      criação do conceito de Idade Média.      O recurso dos humanistas ao modelo da Antiguidade limitava o ínterim      bárbaro em um período, e conduzia Petrarca, no século XIV, ao primeiro uso      histórico do medium tempus.      Embora o termo tenha ingressado nos círculos eruditos, a Idade Média como período despontou      apenas no século XVIII, solidificando-se no XIX. Como o seu par moderno.32      
Com efeito, Idade Média e Idade Moderna encontram-se entrelaçadas a Renascimento e Reforma.      Mas, enquanto a idéia do Renascimento      em oposição aos tempos medievais necessitou de tempo até consolidar-se      como um período nos Oitocentos, a palavra Reforma no âmbito protestante ganhou rapidamente um sentido,      evoluindo depois para a concepção de um período específico. Inicialmente      apresentava um significado não cronológico, referindo-se à vida religiosa,      ao ordenamento da Igreja ou ao direito tradicional. Posteriormente, a      historiografia protestante singularizou a expressão como um conceito de      época - a Reforma de Lutero e seus companheiros, vinculada à restauração      da pureza da mensagem da sagrada escritura, inaugurando o último período      cristão.
Entretanto, a remissão ao      ensaio de Delio Cantimori encaminha melhor a reflexão final do artigo,      sobre as Reformas Religiosas como tópico característico da Época Moderna.      Lembrando ainda as idéias do historiador italiano, percebe-se a      aproximação feita por ele entre os dois movimentos culturais, Humanismo e      Reforma: pelo espírito crítico presente em ambos, e pelo conhecimento do      idioma a fim de se conhecer a verdade no lidar com os textos antigos – os      provenientes de autores clássicos, ou a Bíblia traduzida e interpretada.      Cantimori também enfatiza o autoconhecimento como aspecto fundamental aos      humanistas autores de tratados de educação, bem como aos reformadores      protestantes e seus adeptos. Em sua digressão, identifica diferentes      gerações de humanistas, desde o otimismo de Ficino e Mirandola na oração      que dignificava o homem, até o realismo moralista de Erasmo ou o      pessimismo racional de Maquiavel, a observarem a mesma natureza humana de      modos diferentes. Não obstante, humanistas e reformadores concediam a ela      grande atenção. A passagem do tempo do Humanismo ao tempo da Reforma, da      grandeza do homem a sua pequenez perante Deus, teria seu marco simbólico      no saque de Roma em 1527, quando tropas de Carlos V mostraram à Península      Itálica a impotência daquela civilização brilhante. No dispersar dos      humanistas, solapava-se o entusiasmo restaurador de uma idade do ouro, que      cedia lugar às controvérsias doutrinais, e ao espírito teológico dos      reformadores. Desse modo, no original ensaio do historiador italiano, a      Reforma protestante manifestou-se historicamente como inimiga do Humanismo.      Não por acaso, alguns humanistas italianos e franceses posicionaram-se a      favor da Reforma católica, mais simpática à idéia de livre-arbítrio.33      
Contudo, será preciso recuperar      um elemento comum aos dois movimentos – Reformas Religiosas e Humanismo -,      e situá-lo no contexto tratado. Ele se encontra na negativa da oposição      entre os conceitos laico e religioso. Vimos como Giacomo      Marramao sublinhou o despertar da consciência individual, presente na      Reforma, como gérmen da modernidade ocidental, no âmbito filosófico que      destaca a laicização como libertação do homem em relação às      instâncias universais. Por sua vez, Hannah Arendt disserta sobre um limiar      da Idade Moderna, que consistiria em três grandes eventos, entre eles a      Reforma protestante. Por meio da estatização de bens eclesiásticos, o      movimento reformador desencadearia o duplo processo de expropriação e de      acumulação de riqueza social. Mas Arendt também identifica um traço da      modernidade no fenômeno religioso da alienação do mundo que, sob o nome de      ascetismo mundano, Weber identificou como origem da nova mentalidade      capitalista. Para Arendt, longe de contradizerem-se, as duas tendências –      a expropriação e a alienação do mundo – coincidem. A secularização não      implica o desaparecimento da fé ou um novo interesse pelas coisas deste      mundo. Consequentemente, o perfil do homem moderno não seria dado pela      mundanidade, mas pela sua interioridade.34      
Não obstante as      descontinuidades entre linguagem      e história para a conceituação      de uma Época Moderna desde o século XVI - já apontadas por Koselleck -,      verifica-se o surgimento da questão da individualidade em meio ao contexto      das Reformas Religiosas. Uma consciência mais individual encontra-se      contemplada no incentivo ao conhecimento de si mesmo apregoado por Lutero      e Calvino. Mas também na ação católica de maior vigilância sobre os fiéis,      exemplificada pelos trabalhos de Hubert Jedin e John Bossy. Processo      concomitante à construção de identidades próprias mediante a constatação      das diferenças alheias, algo tão característico do homem moderno – ou renascentista,      na acepção de Garin -, evidente na dimensão antropológica dos trabalhos de      Carlo Ginzburg, entre outros.35      Portanto, parece apropriada a acepção das Reformas Religiosas como      elementos de uma modernidade germinal, não obstante as permanências      vigentes nos séculos XVI, XVII e XVIII.
 O debate apresentado, ao eleger      como objeto principal as Reformas Religiosas na Europa ocidental durante o      século XVI, mostrou a consideração do mundo popular, devocional e mágico,      além das questões puramente institucionais e teológicas, ou exclusivamente      econômicas, em relação a outros aspectos do mundo moderno. Tal quadro era      composto por uma realidade plural e multifacetada, destacada no âmbito      religioso. Ao priorizar trabalhos historiográficos de meados do século XX,      o artigo também cotejou a incidência de certos modelos de interpretação      nos estudos históricos, e a discussão sobre a "modernidade" pertinente      ao tema. No presente, novos objetos de pesquisa, recortes conceituais e      abordagens possibilitam pensar as Reformas Religiosas com um      distanciamento que Cantimori, Febvre e Jedin, por exemplo, não puderam      vivenciar. As hagiografias, o culto aos santos, o messianismo e os      sermões, as festas e a vida paroquial, as visitas inquisitoriais como      percepção da comunidade, a mestiçagem cultural e as histórias de grupos      eclesiásticos representam algumas dessas perspectivas temáticas, dos temas      e abordagens encontrados em vários trabalhos acerca do universo      colonizador nas Américas espanhola e portuguesa, alguns deles inspirados      em autores citados no decorrer deste texto. Mas esta já seria uma outra      história, certamente objeto para outro artigo.
Artigo recebido 10/01/2007.      Aprovado em 15/04/2007.
|          O        PROTESTANTISMO E AS IGREJAS DA REFORMA Sérgio Bradanini Revisão: Francisco Cézar Fernandes Alves Origem e significado do termo O uso do termo "protestante" pode indicar, numa primeira e superficial interpretação, os cristãos que se separaram da Igreja de Roma. Se, por um lado, isso pode sugerir uma conotação negativa, por outro, há todo um embasamento histórico que não pode ser desconsiderado. Assim,        "protestante" deriva de um fato histórico, isto é, da grande        manifestação feita por alguns Estados e príncipes alemães, em 1529, em        protesto contra decisões de caráter religioso, mas de motivação também        política. O termo ainda foi        utilizado em referência aos movimentos reformadores que se seguiram. No        entanto, procurando evitar a acentuação crítica contra a Igreja de Roma,        muitos preferem empregar o termo "evangélico", certamente        menos polêmico e que lembra uma das características positivas de todo o        movimento reformador: a volta à mensagem evangélica original. Muitas Igrejas surgidas        desse movimento também se denominaram "Igrejas reformadas",        evocando o propósito de uma permanente disponibilidade à conversão e à        renovação. Um pouco de história O surgimento da Reforma protestante foi e continua sendo considerado um dos mais importantes acontecimentos da história, pois suas conseqüências, ainda hoje, permanecem vivas em nível religioso, político, econômico e cultural. Para entender esse fenômeno, devemos enquadrá-lo no contexto da época e, sobretudo, evidenciar as causas que o determinaram. Antes de mais        nada, é necessário limpar o terreno da interpretação preconcebida, muito        difundida no passado entre protestantes e católicos e que ainda encontra        seguidores nas obras de divulgação e nos meios de comunicação social e        esclarecer que a causa da Reforma protestante não foram apenas os abusos        e desordens tão comuns na Igreja de então, sobretudo na cúria romana. O        próprio Lutero desmente tal causa: " A vida é má entre nós como        entre os papistas, mas nós não os condenamos por sua vida prática. A        questão é outra: se eles seguem a verdade".  Causas da Reforma Causas político-religiosas A partir do        século XIV, a autoridade dos papas sofreu um forte declínio: de um lado,        perderam a força política com que, embora em meio a lutas e resistências,        nos séculos anteriores conseguiram erigir-se como supremos moderadores        nas controvérsias políticas. No século XIV, na Europa, começou a        afirmar-se o nacionalismo com os soberanos locais, que se desvinculavam        da submissão ao imperador e ao papa. Do outro lado, o        exílio de Avinhão (1309-1376), com a dependência do papa ao rei da        França, e o cisma do Ocidente (1378-1417), durante o qual houve até três        papas ao mesmo tempo, abalaram muito a autoridade e o prestígio do        pontífice romano diante do povo. Nesse contexto, surgiram teorias        chamadas conciliaristas, que sustentavam a superioridade do concílio        sobre o papa, chegando a propor modelos de Igreja de tipo        "democrático". Como conseqüência de tudo isso, afirmou-se a        tendência para a formação de Igrejas nacionais (na França, Alemanha e        Inglaterra), o que constituiu uma das principais causas da revolução        protestante. Causas culturais Um vento de        novidade percorreu a Europa a partir do século XV: era o Renascimento        que, reagindo à fuga do mundo e à subordinação direta de tudo à        religião, típicas da Idade Média, reivindicava a necessidade da        autonomia das atividades humanas, com o risco, porém, de chegar à        separação. Era o início do caminho que levou o homem ocidental ao        progressivo afastamento e até negação de Deus, característicos da época        moderna e contemporânea. Ao mesmo tempo, a        teologia perdera o contato com a reflexão dos grandes autores medievais        (Tomás de Aquino, Boaventura) para reduzir-se a discussões vazias, longe        da realidade (nominalismo). Occam, que exerceu grande influência sobre        Lutero, reduzia muito a capacidade da mente humana de atingir a        realidade, enquanto exacerbava a onipotência divina. Em geral, "a        teologia", como dizia o próprio Lutero, "está reduzida a meras        opiniões... sem mais certeza alguma". Wycleff, Hus e        Wessel, fundadores de movimentos reformadores nos séculos XIV e XV,        contrapunham à Igreja visível uma Igreja espiritual e pobre, sem poderes        nem estruturas. Nesses mesmos        séculos, difundiram-se correntes espirituais e místicas, que acentuavam        a dimensão íntima e subjetiva na experiência com Deus ou que        evidenciavam unilateralmente a onipotência da graça divina, chegando até        a considerar inúteis as obras do cristão para sua salvação. Essas idéias        terão lugar fundamental na doutrina luterana. Causas religiosas Além daquelas que        apareceram anteriormente, há uma causa que já lembramos: a corrupção da        Igreja. Dissemos que esta não pode ser considerada a causa principal da        Reforma protestante, mas é inegável que ela tornou mais fácil a difusão da        revolta. Os bispos provinham exclusivamente da nobreza, levavam uma vida        mundana, ocupados em ficar cada vez mais ricos, sem preocupar-se com sua        responsabilidade pastoral. Os sacerdotes eram numerosos, mas        constituíam, sobretudo no campo, o proletariado clerical: pobres, pouco        instruídos, em sua grande maioria não observavam o celibato. Também nos        conventos, masculinos e femininos, a situação muitas vezes era        lamentável. Isso, porém, não        deve fazer esquecer que, já antes de Lutero, havia notáveis iniciativas        de reforma em toda a Igreja por parte de religiosos, bispos e leigos. Causas sociais Sobretudo na        Alemanha, duas classes sofriam com a crise econômica surgida após a        descoberta da América: os cavaleiros e os camponeses. Os primeiros        tinham perdido seu antigo poder e procuravam o meio para recuperá-lo:        assim, a posse dos bens da Igreja poderia oferecer-lhes uma cômoda e        fácil oportunidade. Entre os camponeses, ainda na condição de escravos,        há muito estava incubado o fermento revolucionário, que já havia        explodido com violência em revoltas que, periodicamente, sacudiam a        Alemanha, desde o final do século XV. Eles esperavam a hora da própria        libertação. Todo esse        conjunto de fatores religiosos, culturais, políticos e sociais        constituía um imenso material explosivo. Bastava uma centelha para        fazê-lo estourar. Lutero foi o estopim, com sua personalidade forte e        inspirada. A data exata do começo desse processo foi estabelecida a        partir das 95 teses de Lutero,        publicadas em novembro de 1517 (e não fixadas no dia 31 de outubro nas        portas da Igreja de Wittenberg, como tradicionalmente se pensava). ·             Na mesma época,independentemente de        Lutero,começaram sua pregação Zwinglio,        na Suíça de língua alemã, e João        Calvino, na de língua francesa.O movimento reformador, surgido em        países diferentes e em determinadas situações históricas, apresenta -        dentro de algumas diferenças inevitáveis - uma característica de unidade        fundamental.  Antes, porém, de        apresentarmos os grandes protagonistas da Reforma e suas idéias, é        necessário levarmos em consideração um pouco mais de história. Os principais acontecimentos Em primeiro        lugar, é preciso lembrar o fato de que o movimento evangélico da Reforma        teve seu epicentro na Alemanha, com Lutero, e daí envolveu toda a        Europa. 1.º No final de        1517, Lutero interveio contra os abusos relacionados com a venda das        indulgências, publicando 95 teses sobre o assunto e que se difundiram        rapidamente, suscitando um grande movimento de cunho nacionalista, tendo        como alvo principal a cúria romana. A briga com Roma já vinha se        arrastando,quando Lutero foi defendido pelo príncipe da Saxônia,        Frederico o Sábio,na disputa, sem êxito, com o cardeal Caetano, em        Augusta (1518). Após a disputa em Lípsia (1519), com o teólogo João Eck,        o mais duro adversário de Lutero, evidenciou-se o abismo intransponível        entre as duas posições a respeito da doutrina do papado e da Igreja. A        ruptura foi selada em 1521, quando Lutero acabou sendo excomungado por        Roma. O imperador Carlos V, que era o mais fiel e decidido defensor da        Igreja católica, convidou Lutero a retratar-se diante dos príncipes, na        Dieta de Worms(1521), mas ele se recusou. Assim, o movimento evangélico        desencadeado ia crescendo e não podia mais ser reprimido. O imperador        não pôde intervir, porque estava ocupado em outro lugar, defendendo-se        das agressões da França e das invasões dos turcos. 2.º Os anos        1519-1525 representaram o ponto culminante da Reforma, na medida em que        o movimento evangélico suscitou também o entusiasmo popular que        encontrava nas idéias luteranas a base para sustentar suas        reivindicações (revolução dos cavaleiros, dos anabatistas e dos        camponeses). Mas o movimento escapou das mãos do reformador e a anarquia        e o caos alastraram-se pela Alemanha. Lutero, que inicialmente        reconhecera como justas muitas reivindicações dos camponeses, depois        exortou os príncipes a sufocar a rebelião em sangue(1525). Essa aliança        com os príncipes acarretou-lhe uma grande perda de popularidade. Foi um        momento crucial para Lutero que, embora sabendo dos perigos ao encontro        dos quais caminhava, acabou reconhecendo no príncipe e no Estado o apoio        de que sua reforma tinha necessidade. Com a sujeição do movimento ao        poder civil, a renovação interior da Igreja por ele pregada recebia um        duro golpe. A partir de 1524, começou a divisão política e confessional        da Alemanha, segundo o princípio posteriormente aprovado na Paz de        Augusta entre protestantes e católicos (1555): "Cuius regio, eius        et religio"("Quem manda na região, manda também na        religião", isto é, os súditos devem seguir a religião do príncipe).        Nesses anos, foi criada a palavra "protestante", quando um        grupo de príncipes e de cidades protestaram contra a decisão do        imperador Carlos V de revogar uma decisão anterior (primeira Dieta de        Espira em 1526), que dava aos príncipes a liberdade de aderirem ou não        ao movimento da Reforma (segunda Dieta de Espira em 1529). Houve também        profundas mudanças da liturgia, nas comunidades e nas Igrejas        territoriais evangélicas. Muitos conventos ficaram vazios, muitos        frades, freiras e padres diocesanos casaram. 3.º Na Dieta de        Augusta (1530), os luteranos apresentaram sua profissão de fé (Confissão        Augustana), que assumiu para a Igreja luterana o valor de um símbolo de        fé. A Igreja católica replicou, mas a conseqüência de tudo foi simplesmente        a constatação de que a divisão era um fato consumado e irreversível. Com        efeito, os Estados evangélicos formaram, em 1531, a Liga de Esmalcalda,        sinal de que a Alemanha setentrional tornara-se quase totalmente        luterana. Houve também tentativas de reconciliar algumas divergências        doutrinais, que tinham surgido dentro do próprio movimento evangélico,        mas sem êxito. O imperador Carlos V conseguiu dominar a oposição        protestante, derrotando a Liga de Esmalcalda em Mühlberg (1547), mas        essa vitória militar contra um movimento espiritual não deu nenhum        resultado. 4.º O Concílio de        Trento, convocado pelo papa em 1536 e iniciado só no final de 1545,        chegou tarde demais para restabelecer a unidade da Igreja. A Paz de        Augusta (1555) não tinha outra alternativa senão a de reconhecer a        situação existente naquele momento, sancionando a divisão da Alemanha,        segundo a geografia religiosa. A Reforma dividiu-se em duas tendências -        luterana e calvinista - que se combateram constantemente e de forma        acentuada. O período de 1555 a 1648 representou o ponto culminante do        absolutismo confessional. Em resumo, quem tomou conta das Igrejas foi        mais uma vez o poder político: na qualidade de "summus        episcopus"(bispo supremo), assistido por representantes eclesiásticos,        estava o príncipe. Essa função do soberano permaneceu na Alemanha        evangélica, até a queda do imperador, em 1918. 5.º Uma reforma        marcada pelo humanismo bíblico e fortemente politizada foi introduzida        na Suíça por Zwinglio e influenciou as regiões da Alemanha meridional,        mas foi logo absorvida pelo calvinismo. Este, muito mais importante,        iniciou-se em Genebra, na Suíça de língua francesa, espalhou-se pela        França e por outros países europeus (Inglaterra, Escócia, Hungria,        Polônia, Holanda e também por muitos territórios e cidades da Alemanha).        Calvino deu ao seu movimento de reforma um caráter        "presbiteriano-democrático", frisando quatro ministérios        eclesiais (pregador, doutor, ancião, diácono) e introduzindo uma        rigorosa disciplina eclesiástica. A Igreja "reformada" ou        "presbiteriana" acabou se transformando numa poderosa força        política. Um pouco mais tarde, tornou-se uma Igreja militante        internacional, protagonista no desenvolvimento cultural e econômico nos        países onde se instalou. O resultado final        do movimento da Reforma não foi o restabelecimento do cristianismo das        origens, mas uma de suas mais dolorosas divisões. Da única Igreja de        Cristo surgiram várias Igrejas que combatiam duramente no campo        confessional com a Igreja católica e entre si, provocando graves conseqüências        ao longo desses últimos séculos. Todas as tentativas de reconciliação        não tiveram êxito. Somente no séc.        XX acordou, em todas as Igrejas cristãs, a consciência da pertença comum        e a aspiração de todos os cristãos para formar uma autêntica fraternidade        na única Igreja de Cristo. A doutrina essencial do processo da        Reforma Podemos dizer que        a doutrina comum e fundamental sustentada pelos três grandes        reformadores - Lutero, Zwinglio e Calvino - apresenta resumidamente três        dimensões: a prioridade das Escrituras, a justificação pela fé e o sacerdócio universal dos fiéis. A        prioridade das Escrituras. Para as Igrejas surgidas da Reforma,        o conjunto de textos do Antigo e Novo Testamento - as Escrituras -        representam a única autoridade em matéria de fé, isto é, toda verdade em        que acreditamos deve estar contida neles. A Escritura é uma mensagem de        Deus para nós: ela narra o encontro misterioso de Deus com seu povo, o        povo escolhido, ou seja, o povo judeu e agora, a Igreja, o novo povo de        Deus. Narra também a encarnação de Deus em Jesus Cristo morto e        ressuscitado e deixa transparecer a verdade e a justiça do Criador. Se a        Escritura é mensagem de Deus, cada um pode e deve se alimentar dessa        Palavra. Para ajudar as        pessoas a ler e a entender a Bíblia, o Espírito Santo dá, segundo o        pensamento de Lutero, seu testemunho interior, iluminando as mentes e        dirigindo os corações dos fiéis, sem a necessidade da interpretação da        Igreja: é o princípio do "livre exame" da Palavra de Deus. É preciso        reconhecer que Lutero teve grandes méritos no que se refere à divulgação        da Palavra de Deus: de um lado, ele estimulou sua leitura no meio do        povo, do outro, os estudos para um conhecimento cada vez mais        aprofundado dos textos sagrados. Uma parte da        Bíblia foi escrita em hebraico, outra, em grego e, mais tarde, foi        traduzida para o latim. Até a Reforma, ela só podia ser lida nessas        línguas e, portanto, poucas pessoas tinham acesso direto à Palavra de        Deus. O povo podia conhecê-la apenas através das homilias e da        catequese. Assim, a primeira coisa que os reformadores fizeram foi        traduzir as Escrituras para torná-las acessíveis a todos visto que,        segundo eles, essas não necessitam de intermediários para serem        compreendidas. Com efeito, os        reformadores recorrem ao testemunho da Bíblia para interpretar os        acontecimentos vividos pelo povo de Deus ao longo do tempo, mas        procurando fugir de um perigo: o de pensar que precisamos entender tudo        o que está na Bíblia ao pé da letra, como se ela fosse um código        definitivamente fixo e imutável. Uma palavra, uma frase e certas        comparações podem ter, agora, alguns milhares de anos depois, um        significado diferente do que tinham quando foram escritas. É preciso        buscar o verdadeiro significado do que se encontra na Bíblia para        entender o que o autor quis dizer quando escreveu um determinado texto. É assim que        Lutero entendia que a Bíblia devia ser interpretada, é assim que os        católicos pensam também. Algumas seitas, que se chamam cristãs e que        vieram muito tempo depois da Reforma, tendem a interpretar cada palavra        da Bíblia ao pé da letra: é uma atitude perigosa que pode levar ao        fundamentalismo e ao radicalismo. Por isso, o        movimento da Reforma introduziu o princípio do estudo da Palavra de Deus        à luz da pesquisa crítica, histórica, lingüística e teológica. Para a Igreja        católica e ortodoxa, a Tradição também é um critério para julgar a        veracidade da fé cristã. Quando falamos em Tradição, entendemos as obras        dos escritores cristãos da Igreja primitiva (época patrística), as        definições dos concílios (reuniões gerais de todos os bispos convocadas        pelo papa), o ensinamento oficial da Igreja (Magistério) e a fé do povo.        Isso quer dizer que a Igreja católica e a ortodoxa não se baseiam        somente na Sagrada Escritura para fundamentar as verdades da fé, mas também        nas outras fontes. Lutero        não aceitou a Tradição. Numa atitude polêmica contra a Igreja        católica, considerou a Bíblia como único critério sobre o qual se baseia        nossa fé. Por exemplo, analisando os sete sacramentos a partir das bases        bíblicas, ele chegou à conclusão de que só o Batismo e a Ceia        (Eucaristia) estão em conformidade com a Escritura e que todos os outros        foram instituídos pela Igreja.  A        justificação pela fé. A doutrina da justificação pela fé, uma        das causas da ruptura de Roma com Lutero e de Lutero com Roma, segundo        interpretação dos reformadores, decorre essencialmente do pensamento de        são Paulo, sobretudo na Carta aos Romanos. Lutero quis realçar o fato de        que a salvação não seria fruto da conquista do homem mediante suas        obras, mas dom do amor de Deus. Isso poderia levar à conclusão de que        não adianta esforçar-se para fazer o bem e conseguir a salvação eterna,        pois a sorte de cada um já estaria determinada por Deus,        independentemente do fato de a pessoa agir bem ou mal nesta vida. Basta aceitar,        diz Lutero, Cristo como Salvador, isto é, basta crer com confiança que        Deus Pai, em vista dos méritos de Jesus, não leva em conta os pecados do        indivíduo: assim, a fé confiante faz com que Deus nos recubra com o        manto dos méritos de Cristo, declarando-nos justos. A doutrina da        justificação pela fé não nega que as boas obras tenham seu valor, mas        nega que influam na salvação, pois não passam de sinal da fé e de ato de        culto que o homem presta a Deus. Não podemos esquecer o fato de que a        intuição reformadora da justificação pela fé surgiu de uma experiência        pessoal de Lutero que, em sua crise espiritual, buscava um Deus        misericordioso que salva apenas por um ato de sua bondade infinita. Podemos lembrar        também algumas afirmações de Lutero sobre as quais se baseia a doutrina        da justificação: ·             a natureza humana está radicalmente        corrompida pelo pecado original;  ·             a vontade humana não pode fazer nada para        alcançar a salvação;  ·             a má inclinação e a tendência ao mal, no        homem, não podem ser eliminadas;  ·             o processo de salvação está relacionado        unicamente com a fé.  Se é Deus quem        faz tudo, se a vontade humana nada pode fazer e se as obras do homem não        servem para alcançar a salvação, Lutero conclui que não é necessário        nenhum sacerdócio, nem conventos nem votos religiosos, pois estes não        passam de instituições em que o homem ocupa um lugar que seria de Deus.        Tudo isso foi o principal instrumento de luta contra os abusos e as        deformações do cristianismo da época e, particularmente, contra a cúria        romana e o papado que o reformador identificava com o anticristo. Toda        essa polêmica visava a reconduzir a Igreja a uma renovação e a uma        reforma que levasse a viver a vida cristã com mais seriedade e        profundidade, visto que, muitas vezes, esta se reduzia a meros gestos exteriores        e sem vida. Além do mais, Lutero queria dar destaque e importância a        Deus e a Jesus Cristo, em oposição às tendências da época - o        Renascimento - que valorizava demais as capacidades intelectuais        humanas. Tanto Lutero como todos os outros reformadores proclamaram que        somente Deus, por uma graça absolutamente gratuita, oferece aos homens a        salvação que não pode ser 'comprada' nem 'merecida', em vista do que        fizemos de bom na vida, mas que é dada a quem tem fé, isto é, àquele que        aceita que somente Deus pode salvar. Em outros termos, não seria        necessário que o homem tivesse um bom comportamento para ser amado por Deus, basta que o tenha porque ele é amado por Deus!        Portanto, a doutrina da justificação pela fé opõe-se a toda tentativa de        obedecer às leis, à moral e de fazer o bem, práticas vistas como meios        que garantem a salvação. Devemos fazer isso, sim, mas de maneira        desinteressada, como resposta ao amor de Deus por nós. O        sacerdócio universal dos fiéis. As Igrejas da Reforma não se        apresentam como uma instituição imutável. Para elas, é natural evoluir,        transformar-se e enriquecer-se de novas perspectivas. Com efeito, a        Igreja existe em conformidade com a Palavra de Cristo: "Onde dois ou três estiverem        reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles" (Mt.18, 20).        Isso significa que a Igreja - organização humana e, portanto, falível -        não pode ser considerada, pelos reformadores, como intermediária entre        Deus e os fiéis: ela é simplesmente o espaço e o tempo reservado ao        anúncio da Palavra de Deus. Para o        protestante, entre o homem justificado pela fé e Deus, não há sacerdote        a não ser Jesus, que está nos céus, e não há outro mestre a não ser o        Espírito Santo, que fala nas Escrituras e no coração de cada um. Os pastores, nas        Igrejas da Reforma, não são sacerdotes: eles não possuem nenhum poder        especial que os distinga dos leigos. Esses, teoricamente, podem realizar        as mesmas funções, todas as vezes que houver necessidade, ou que a        autoridade o peça. Lutero, ao falar do sacerdócio de todos os fiéis,        afirmou, em 1520, que "todos os cristãos batizados podem gloriar-se        de ser padres, bispos e papa", embora nem sempre seja conveniente        que isso aconteça. Com isso, Lutero quis mostrar que todos os leigos são        chamados a participar ativamente da vida da Igreja.  A Igreja anglicana O movimento        reformador de Lutero não foi o único daquela época. Também na        Inglaterra, quase na mesma época, mas por outros motivos, houve uma        revolta contra a Igreja católica que levou à separação entre Roma e        Cantuária (sé do arcebispo primaz da Igreja anglicana). É freqüente ver        nessa ruptura apenas a conseqüência das paixões de Henrique VIII da        Inglaterra. O rei, que havia sido declarado "defensor da fé"        pelo papa Leão X, pediu a anulação do seu casamento com Catarina de        Aragão, mas o pontífice não a concedeu. Assim, em 1534, Henrique VIII        deixou de reconhecer a autoridade papal e separou-se da Igreja católica.        Considerar esse como o único ou, praticamente, o mais importante fator        da separação da Igreja inglesa de Roma é fruto de uma mentalidade        simplista que desconhece a história. Na separação, influiu e muito        também o caráter particularista do povo inglês, o seu desejo de        independência ou, pelo menos, de grande autonomia. O Prayer Book        (Livro da Oração Comum) da Igreja anglicana afirma que eles se        consideram "uma Igreja católica para toda a verdade de Deus e        protestante contra todos os erros dos homens". A Igreja anglicana        não reconhece a autoridade do papa e distancia-se de Roma a respeito de        algumas questões de doutrina. No entanto, conserva vários elementos        católicos, como os sacramentos, os ritos litúrgicos e o conceito de        hierarquia, baseado nas figuras do padre e do bispo; ao mesmo tempo,        introduz alguns elementos característicos da reforma protestante, como a        abolição das ordens religiosas, o casamento dos padres e o lugar central        da Bíblia nas celebrações religiosas. Na Igreja        anglicana distinguem-se a High        Church (literalmente Igreja Alta, "anglo-católica" muito        próxima ao catolicismo), e a Low        Church, (Igreja Baixa, com muitos elementos protestantes,        praticamente "evangelical"). Todavia, trata-se        de uma única Igreja. Numa mesma diocese, encontramos paróquias com        traços acentuadamente católicos e outras com expressões mais        evangélicas, porém, ambas em plena comunhão com o bispo local. No mundo inteiro,        existem 34 províncias ou Igrejas nacionais em plena comunhão com a Sé de        Cantuária. Por isso, o arcebispo de Cantuária é o símbolo da unidade        Anglicana. As Igrejas da Unidade Anglicana estão interligadas por laços        de afeição e lealdade comum. Em cada país, cada província tem um nome        próprio. Ex. : em Portugal, Igreja evangélica católica lusitana; na        Espanha, Igreja episcopal reformada; na Inglaterra, simplesmente Igreja        da Inglaterra e no Brasil, Igreja episcopal anglicana do Brasil. Atualmente,        existe uma comissão de alto nível, nomeada pela Santa Sé e pela Sé de        Cantuária, que se reúne periodicamente e que vem produzindo vários        documentos, mostrando os pontos de convergência entre as comunhões        romana e anglicana. Desde a década de        60, o arcebispo de Cantuária tem mantido encontros com o papa. Vale        lembrar que, quando João Paulo II esteve na Inglaterra, visitou a        catedral de Cantuária. A Igreja metodista Pela iniciativa        de John Wesley (1703-1791), pastor anglicano formado pela Universidade        de Oxford, surgiu, nos meados do século XVIII, outro movimento de        renovação religiosa. Suas características espirituais marcantes são:        estudo metódico da Bíblia (daí o nome de "metodista"); horas        fixas reservadas diariamente à oração; participação quotidiana da santa        Ceia e prática de obras de caridade. Quando a Igreja        Anglicana proibiu a John Wesley de pregar em seus templos, ele começou        sua pregação itinerante ao ar livre, dirigindo-se principalmente às        massas proletárias provenientes da incipiente Revolução Industrial. Do        ponto de vista espiritual, o movimento metodista exigia conversão e        mudança radical de estilo de vida. No aspecto social, organizava        "cruzadas" contra a escravidão, o alcoolismo, a prostituição e        promovia obras assistenciais em favor das vítimas de calamidades        sociais. O movimento não chegou a formar uma Igreja separada da        anglicana, embora conservasse, de forma simplificada, a mesma riqueza        litúrgica. Mais do que doutrina, o metodismo acentua a vida prática e a        experiência religiosa. Wesley morreu        como presbítero, em plena comunhão com a Igreja anglicana. Só anos após        sua morte é que seus seguidores romperam com a Igreja da Inglaterra.        Hoje, porém, existe um forte movimento trabalhando para a união de        metodistas e anglicanos.  O movimento anabatista Para muitos        protestantes do século XVI, a Reforma não pareceu bastante radical.        Outro grupo,denominado "anabatista", visava a uma renovação da        Igreja até às conseqüências mais extremas. Queriam seus        idealizadores uma Igreja espiritual, sem hierarquia visível e        constituída exclusivamente por pessoas cuja adesão à Palavra de Deus        fosse plenamente consciente. O batismo, portanto, deveria ser ministrado        só aos adultos e não às crianças. Todo fiel que quisesse aderir a esse        movimento, deveria ser rebatizado. Daí, o nome de        "anabatistas" ou "rebatizadores". Pregavam eles uma        total independência frente às autoridades civis; queriam viver separados        do "mundo". Alguns isolaram-se pacificamente para fundar suas        comunidades; outros enfrentaram violentamente a autoridade civil,        considerada corrupta e perseguidora. Em 1534, um grupo ocupou a cidade        de Münster, na Alemanha, matando os adversários do regime político e        denominando a cidade "Nova Jerusalém". No ano seguinte, a        cidade foi ocupada pelas tropas fiéis ao governo e toda a população        masculina foi massacrada. A partir dessa        data, os anabatistas foram sempre perseguidos, contudo, uma parte deles,        relacionada com o calvinismo holandês, organizou-se nas comunidades dos        menonitas, assim chamados por causa de seu fundador, Menno Simons. Eles        também só aceitavam o batismo de adultos, mas eram pacíficos e        reconheciam a autoridade civil, desde que não lhes impusesse obrigações        em oposição à Palavra de Deus. A Igreja batista O pastor        anglicano inglês John Smyth (1570-1612) é considerado fundador das        primeiras comunidades denominadas "batistas". Também ele        queria uma reforma mais radical e não se conformava com a organização        hierárquica da Igreja anglicana, isto é, com o fato de bispos e padres        ocuparem os lugares de comando. Perseguido por suas idéias, teve que se        refugiar na Holanda. Lá encontrou um padeiro menonita que o convenceu da        não validade do batismo ministrado às crianças. Ele mesmo se batizou        novamente e, voltando à Inglaterra, fundou a Igreja batista que, no        século XVIII, estabeleceu-se sobretudo nos Estados Unidos,        espalhando-se, em seguida, pelo resto do mundo. Características        típicas dessa religiosidade viva, que constantemente apela para uma        decisão e um compromisso pessoal, são: ·             batismo dos fiéis como testemunho de fé e        sinal da graça divina;  ·             sacerdócio universal dos fiéis, sem        qualquer distinção entre pastores e leigos;  ·             estrutura eclesial que afirma a autonomia        da comunidade local;  ·             negação de todo ritualismo, para deixar        espaço à religiosidade espontânea e individual.  A Igreja adventista do sétimo dia (ou sabatistas) O termo        "adventista" decorre de uma doutrina fundamentada sobre a        espera da volta de Cristo à terra para proclamar o "fim dos        tempos". O movimento surgiu nos Estados Unidos com a pregação de um        batista, William Miller (1792-1849), que havia profetizado que Jesus        viria em 1844. A profecia não se realizou e os seguidores de Miller        dividiram-se em vários grupos, sendo que o mais importante assumiu a        denominação de "adventistas do sétimo dia". Além de        estabelecer o sábado como "Dia do Senhor", esse movimento        pratica o princípio bíblico do dízimo, está relacionado com o movimento        milenarista que coloca no centro de seu interesse o retorno de Cristo        para os últimos tempos, reconhece a autoridade da Bíblia, o dogma da        Trindade, mas tem uma concepção peculiar quanto à ressurreição dos        mortos e ao reino de Deus. Proíbe o uso de álcool, cigarro e carne de        porco e promove um tipo de vida natural. Essa Igreja possui muitas        clínicas e casas de repouso onde seus princípios são aplicados. Movimentos colaterais à Reforma Entre as        correntes religiosas da época, podemos lembrar a dos antitrinitários,        chefiados por Miguel Servet, o qual foi condenado à fogueira em 1553, em        Genebra, por Calvino. Não podem ser        consideradas parte integrante do protestantismo os movimentos        pseudo-cristãos: mórmons, testemunhas de Jeová, Igreja universal do        Reino de Deus, os meninos de Deus. Conclusão Os objetivos da        Reforma acabaram também sendo instrumentalizados pelo poder político. A        tão proclamada liberdade do Evangelho e de seus pregadores, em pouco        tempo, foi fechada dentro de um sistema de Igrejas de Estado ou de        Igrejas nacionais, sob controle dos príncipes. A partir da        intuição e do desejo de reforma e de renovação do cristianismo e da        Igreja, surgiram muitas Igrejas cristãs e novos movimentos religiosos, com diversas e diferentes        confissões de fé. O luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo foram as        principais Igrejas dentro de um movimento complexo e diversificado. Para a Igreja        católica, tudo isso representou uma das mais amargas experiências de sua        história. A Europa setentrional, de cultura germânica, e muitas outras        regiões européias separaram-se da antiga Igreja. Nas Igrejas        territoriais evangélicas, foi suprimido todo elemento católico. Houve        muita desconfiança, luta, incompreensão entre as Igrejas cristãs e só        mais tarde, a partir do movimento filosófico chamado Iluminismo,        abriu-se o caminho da tolerância recíproca entre elas. Aos poucos,        percebeu-se também que é preciso algo mais que a simples tolerância.        Neste século, diante da constatação da existência de várias Igrejas que        querem ser cristãs, começou a surgir esta preocupação: como eliminar as        barreiras e os preconceitos para chegar a uma convivência pacífica e até        a uma verdadeira amizade entre os cristãos? Já no século passado, na Europa, com o movimento de Oxford        buscava-se a união das Igrejas. E no começo deste século, as igrejas de        tradição evangélica deram início ao movimento ecumênico que as levou,        mais tarde, a fundar o Conselho Mundial de Igrejas. O próprio papa        João XXIII falou em "encontrar-se para conhecer-se e conhecer-se        para amar-se". O movimento        ecumênico conseguiu sensibilizar os católicos, especialmente após o        Concílio Vaticano II (1963-1965). Antes, já se        falava dos protestantes como irmãos separados, mas se pensava assim:        eles, que saíram da Igreja, devem voltar e então, haverá unidade. Agora,        pensamos assim: todas as Igrejas cristãs devem fazer uma boa reflexão        para ver se são totalmente fiéis ao ensinamento de Cristo e se aceitam        todo o Evangelho ou só em parte. Esse exame de consciência, essa        conversão a Cristo, que todos os cristãos devem fazer, são condições        iniciais e indispensáveis para que se possa continuar o discurso sobre        unidade entre os cristãos, eliminando, aos poucos, as barreiras e as        incompreensões. Na Igreja        católica, depois do Concílio, houve, com efeito, profundas mudanças na        liturgia, no relaçionamneto da Igreja com o mundo, com as outras Igrejas        e religiões, com as ideologias não religiosas e até com o ateísmo. A        perspectiva atual das Igrejas cristãs não é mais de desconfiança ou de        condenação, mas de positiva e recíproca compreensão, na acolhida de        novas idéias e experiências. Questões        para sua reflexão 1.º Se fosse        possível fazer um julgamento crítico da atuação de Lutero e considerando        a situação histórica daquela época, quais outras atitudes você acha que        ele poderia ter tomado e que não levassem à separação? 2.º Em sua        opinião, quais são os pontos mais significativos que unem e        "separam" protestantes, anglicanos e católicos? 3.º Procure        descobrir a diferença entre "ecumenismo"e "diálogo        inter-religioso" e analise quais as mudanças que ambos poderiam        trazer para as relações entre os povos. 
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No século XVI a Europa foi abalada por uma série de      movimentos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da igreja      católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos      genericamente como Reforma, foram sem dúvida de cunho religioso. No      entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo que as mudanças na economia      européia, juntamente com a ascensão da burguesia. Por isso, algumas      correntes do movimento reformista se adequavam às necessidades religiosas      da burguesia, ao valorizar o homem “empreendedor” e ao justificar a busca      do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica. 
Os fatores que desenvadearam a Reforma
Uma das causas importantes da Reforma foi o humanismo      evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado muito      de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade,      sofrimento. No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e      ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura (1509),      de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho      Lutero efetivasse o rompimento com a igreja católica. 
O papa Leão X, no centro, em pintura de Rafael Sanzio, de 1518.
Durante o seu papado (1483 - 1520) surgiu o movimento reformista,
que levaria à divisão do Cristianismo na Europa (Galeria delli Uffizi, Florença)
Moralmente, a Igreja estava em decadência:      preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as      questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja      recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos      eclesiásticos, venda de relíquias e, principalmente, a venda das famosas      indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Lutero. O papado      garantia que cada cristão pecador poderia comprar o perdão da Igreja. 
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um      sentimento de nacionalidade às pessoas que habitavam uma mesma região,      sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o      declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais      importantes. 
Outro fator muito importante, ligado ao anterior, foi      a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que representou na      formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi      fundamental na Reforma religiosa. Ora, na ideologia católica, a única      forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades      bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que      é a essência do capital, era pecado. A burguesia precisava, portanto, de      uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse      as atividades ligadas ao comércio. 
A doutrina protestante, criada pela Reforma,      satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo      de capital como forma de obtenção do paraíso celestial. Assim, grande      parte da burguesia, ligada às atividades lucrativas, aderiu ao movimento      reformista. 
Por que a Reforma começou na Alemanha?
No século XVI, a Alemanha não era um Estado      politicamente centralizado. A nobreza era tão independente que cunhava      moedas, fazia a justiça e recolhia impostos em suas propriedades. Para      complementar sua riqueza, saqueava nas rotas comerciais, expropriando os      mercadores e camponeses. 
A burguesia alemã, comparada à dos países da Europa,      era débil: os comerciantes e banqueiros mais poderosos estabeleciam-se no      sul, às margens do Reno e do Danúbio, por onde passavam as principais      rotas comerciais; as atividades econômicas da região eram a exportação de      vidro, de metais e a “indústria” do papel; mas o setor mais forte da      burguesia era o usurário.
Quem se opunha à igreja na Alemanha.
A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores      domínios se localizavam às margens do Reno, chamadas de “caminho do      clero”, e eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à      Igreja. 
A Igreja era sempre associada a tudo que estivesse      ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a Igreja como inimiga.      Seus anseios eram por uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos      impostos e, principalmente, que não condenasse a prática de ganhar      dinheiro. 
Os senhores feudais alemães estavam interessados nas      imensas propriedades da Igreja e do clero alemão. 
Os pobres identificavam a Igreja com o sistema que os      oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal,      a quem deviam muitos impostos. 
Às vésperas da Reforma, a luta de classes e política      acabou assumindo uma forma religiosa. 
Fonte: www.saberhistoria.hpg.ig.com.br
Reforma Protestante
O movimento reformista deu-se num período em que as exigências      espirituais dos fiéis já não mais encontravam respaldo na Igreja Católica.      Ao final da Idade Média, havia um clima de total inquietação religiosa      entre a população européia, que se sentia culpada e certa de que seria      castigada após a morte. 
Contribuiu para isso as desgraças que marcavam a      época (guerras, pestes) e as profecias de pregadores populares, que viam      aqueles anos como prenúncio do Juízo Final. A Igreja Católica tirava      proveito desse contexto. Seus representantes entoavam sermões apocalípticos,      denunciavam pecados e exigiam do povo que recebesse, com passividade, seu      destino. Havia, contudo, uma maneira de se salvar: as indulgências. 
Em resumo, os pontífices vendiam a salvação aos seus      fiéis e, em virtude da mentalidade da época, isso gerou lucros fabulosos      para a Igreja, que explorava uma população já miserável e carente,      desvirtuando-se totalmente de sua mensagem original: a da fé. Para      completar, inúmeros indivíduos que exerciam atividades eclesiásticas eram      completamente despreparados para a função e preocupavam-se exclusivamente      com os lucros fáceis que ela, e a posição social que dela advinha, gerava.      No entanto, certos teólogos passaram a denunciar todo esse panorama e,      gradualmente, a Igreja Católica caiu em descrédito. Membros da elite      intelectual eclesiástica passaram a estudar novas formas de      espiritualidade, baseando-se no humanismo, misticismo, filosofia clássica      e outras vertentes do pensamento humano. 
Porém, aquele que detonou a Reforma foi Martinho      Lutero. Seu pensamento foi concebido a partir das Cartas de São Paulo e,      em suma, pregava que Deus julgava os mortais por sua fé e não por seus      pecados e obras. Assim, era impossível atribuir-se valor a obras de      caridade: condenava-se a prática da venda de indulgências. Lutero foi mais      longe, afirmando que apenas Deus perdoava, sendo que o papa ou poder algum      possuía nesse sentido. A reação da Igreja Católica foi imediata. Toda a      classe eclesiástica repudiou as convicções de Lutero e proibiu que seus      fiéis a seguissem. Mas logo o luteranismo difundiu-se, com o apoio de      intelectuais, humanistas, estudantes e da nobreza, que sonhava em      abocanhar os bens da Igreja. 
A partir daí, inúmeras religiões foram formadas,      sempre tendo um pensador central como seu mentor. 
Ulrich Zwinglio, João Calvino (Calvinismo) e Henrique      VIII (Anglicanismo), dentre muitos outros, fundaram suas próprias      religiões, impulsionando a revolução protestante. Contudo, a partir de      meados de 1540, a Igreja Católica contra-atacou. Condenou o protestantismo      e instituiu a Santa Inquisição, que perseguia todos aqueles que se      guiassem pelas novas crenças em detrimento da ortodoxia católica. A      Inquisição deu resultado na Itália e, principalmente, na Espanha.      Paralelamente a isso, os candidatos à vida eclesiástica passaram a ser      cuidadosamente selecionados e submetidos a uma rigorosa educação antes de      passar a exercer suas funções espirituais, criou-se ordens (como a dos      capuchinhos e a Companhia de Jesus) para disseminar a religião e      proibiu-se a leitura de diversos livros reformistas. O intuito era brecar      o avanço protestante e, apesar de apenas reafirmar todos os seus ortodoxos      preceitos, a Contra-Reforma permitiu que a Igreja Católica continuasse      sustentando-se nessa nova era.
Reforma Calvinista
A Reforma de Lutero causou reviravoltas religiosas em      toda a Europa. O protestantismo alastrou-se rapidamente e ganhou inúmeras      novas interpretações em todo o continente. Uma dessas novas interpretações      foi perpetrada pelo humanista João Calvino, francês que, logo que se      converteu à religião protestante, passou a estudar sistematicamente essa      nova crença. Do seu pensamento, surgiram tratados religiosos que traziam      uma nova visão da Reforma e logo uma nova doutrina foi formada, o      calvinismo. 
Apesar da nacionalidade francesa de seu criador, o      calvinismo alcançou particular influência na Suíça, onde a burguesia local      lutava contra os desmandos do católico Duque de Savóia, adotando ideais      protestantes. Calvino percebeu que se pregasse para uma população propensa      a aceitar suas idéias, como estavam os suíços, o sucesso seria inevitável,      o que, de fato, aconteceu. Segundo o calvinismo, o homem nasce      predestinado, não detém o menor controle sobre o seu destino. Ao contrário      do que afirmava Lutero (que pregava que o homem poderia ser salvo pela      fé), a doutrina de Calvino afirmava que Deus já escolhera os indivíduos      que seriam salvos e os que seriam condenados, e suas ações no campo      terreno de nada adiantavam para reverter sua situação. No que se refere às      questões éticas e morais, o calvinismo era conservador e tinha como      particularidade a rigidez de costumes que impunha aos fiéis. Na Suíça, por      exemplo, após a queda do Duque de Savóia, implementou-se o governo da      Igreja Calvinista do país. Resultado: foi adotado um severo órgão de      vigilância, responsável por fiscalizar a existência de atividades amorais      e de punir aqueles que as praticassem. Proibiu-se a dança e os jogos, os      altares foram retirados dos templos e a liturgia foi extremamente      simplificada, de modo que se tornasse inteligível não só para os      intelectuais clericais. Talvez aí esteja o maior motivo para explicar o      fascínio que o calvinismo, tão opressor, causou na Europa, encontrando      muitos adeptos na Europa, em especial na Suíca, França, Holanda, Escócia e      Inglaterra.
Reforma Anglicana
A Reforma Protestante de Lutero causou reviravoltas      religiosas praticamente em toda a Europa. As novas religiões, baseadas no      princípio da livre interpretação bíblica, expandiram-se por todo o      continente. Uma delas, o anglicanismo, foi criada pelo rei inglês Henrique      VIII. Durante o governo desse monarca (1509-1547), a burguesia exercia      enorme pressão para que o aumento do poder do Parlamento fosse autorizado      pelo monarca. Com isso, os burgueses buscavam fortalecer sua presença na      sociedade, o que apenas um Parlamento (formado por burgueses e senhores      simpáticos a eles) forte poderia garantir. Caso conseguisse seu intento, a      burguesia passaria a ter poder para legislar sobre as atividades      comerciais e financeiras, diminuindo o poder da Igreja e do próprio rei.      Henrique VIII, para não ceder às pressões, necessitava angariar mais      fundos para o Estado. Assim, confiscou bens da Igreja. Essa decisão      enfureceu o papa, que ficou ainda mais abestalhado quando Henrique      solicitou a anulação de seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão.      Com o divórcio, o monarca pretendia impedir que a Inglaterra viesse a cair      em mãos espanholas após sua morte, já que não possuía herdeiros masculinos      com a princesa. A população britânica também apavorava-se com a idéia de      um possível jugo espanhol sobre si e apoiou totalmente seu rei na questão      com o papa. Este último, contudo, emburrado com o confisco de riquezas,      negou o pedido. Por seu lado, Henrique rompeu com o Vaticano e, alegando      fidelidade aos princípios da Reforma, iniciou uma na Igreja inglesa.      Autocoroou-se chefe religioso e obrigou os líderes clericais do país a      reconhecê-lo como tal, jurando-lhe fidelidade. Com a artimanha, conseguia      não só calar o papa, como também livrava-se de Catarina. Mais: assegurou a      continuidade da soberania inglesa sobre seu próprio trono e, com a      apropriação (agora legal, já que o rei era também chefe religioso) das      riquezas da Igreja, financiou a Coroa, calando as pressões burguesas. Em      suma, porém, o anglicanismo não representou uma Reforma teórica de fato      (como o foi o calvinismo, por exemplo). Foi, isso sim, uma autêntica      manobra política, sagaz e oportuna, que foi tão bem sucedida que tornou-se      uma religião de fato (embora muitos de seus preceitos sejam idênticos aos      católicos) _ principalmente após 1563, com a publicação da Lei dos Trinta      e Nove Artigos, onde se encontram todos os fundamentos da doutrina      anglicana, pela rainha Elizabeth I.
Fonte: www.renascebrasil.com.br
Reforma Protestante
O movimento reformista deu-se num período em que as      exigências espirituais dos fiéis já não mais encontravam respaldo na      Igreja Católica.
Ao final da Idade Média, havia um clima de total      inquietação religiosa entre a população européia, que se sentia culpada e      certa de que seria castigada após a morte.
Contribuiu para isso as desgraças que marcavam a      época (guerras, pestes) e as profecias de pregadores populares, que viam      aqueles anos como prenúncio do Juízo Final.
A Igreja Católica tirava proveito desse contexto.      Seus representantes entoavam sermões apocalípticos, denunciavam pecados e      exigiam do povo que recebesse, com passividade, seu destino.
Havia, contudo, uma maneira de se salvar: as      indulgências. Em resumo, os pontífices vendiam a salvação aos seus fiéis      e, em virtude da mentalidade da época, isso gerou lucros fabulosos para a      Igreja, que explorava uma população já miserável e carente,      desvirtuando-se totalmente de sua mensagem original: a da fé.
Para completar, inúmeros indivíduos que exerciam      atividades eclesiásticas eram completamente despreparados para a função e      preocupavam-se exclusivamente com os lucros fáceis que ela, e a posição      social que dela advinha, gerava.
No entanto, certos teólogos passaram a denunciar todo      esse panorama e, gradualmente, a Igreja Católica caiu em descrédito.      Membros da elite intelectual eclesiástica passaram a estudar novas formas      de espiritualidade, baseando-se no humanismo, misticismo, filosofia      clássica e outras vertentes do pensamento humano.
Porém, aquele que detonou a Reforma foi Martinho      Lutero. Seu pensamento foi concebido a partir das Cartas de São Paulo e,      em suma, pregava que Deus julgava os mortais por sua fé e não por seus      pecados e obras.
Assim, era impossível atribuir-se valor a obras de      caridade: condenava-se a prática da venda de indulgências. Lutero foi mais      longe, afirmando que apenas Deus perdoava, sendo que o papa ou poder algum      possuía nesse sentido.
A reação da Igreja Católica foi imediata. Toda a      classe eclesiástica repudiou as convicções de Lutero e proibiu que seus      fiéis a seguissem. Mas logo o luteranismo difundiu-se, com o apoio de      intelectuais, humanistas, estudantes e da nobreza, que sonhava em      abocanhar os bens da Igreja.
A partir daí, inúmeras religiões foram formadas,      sempre tendo um pensador central como seu mentor. Ulrich Zwinglio, João      Calvino (Calvinismo) e Henrique VIII (Anglicanismo), dentre muitos outros,      fundaram suas próprias religiões, impulsionando a revolução protestante.
Contudo, a partir de meados de 1540, a Igreja      Católica contra-atacou. Condenou o protestantismo e instituiu a Santa      Inquisição, que perseguia todos aqueles que se guiassem pelas novas      crenças em detrimento da ortodoxia católica.
A Inquisição deu resultado na Itália e,      principalmente, na Espanha. Paralelamente a isso, os candidatos à vida      eclesiástica passaram a ser cuidadosamente selecionados e submetidos a uma      rigorosa educação antes de passar a exercer suas funções espirituais,      criou-se ordens (como a dos capuchinhos e a Companhia de Jesus) para      disseminar a religião e proibiu-se a leitura de diversos livros reformistas.
O intuito era brecar o avanço protestante e, apesar      de apenas reafirmar todos os seus ortodoxos preceitos, a Contra-Reforma      permitiu que a Igreja Católica continuasse sustentando-se nessa nova era.
Reforma Luterana
Martinho Lutero (1483-1546) procurou aproximar o povo      da celebração do culto, além de introduzir o canto coral coletivo na      igreja.
O Canto Gregoriano foi substituído por canções      rimadas e divididas em estrofes, muitas delas oriundas do cancioneiro      popular. Consciente dos grandes valores do canto litúrgico, Lutero      (1483-1546) introduziu, na música religiosa, sensíveis modificações, que      culminaram com a popularização dos Corais.
Reforma Anglicana
A Reforma Protestante de Lutero causou reviravoltas      religiosas praticamente em toda a Europa. As novas religiões, baseadas no      princípio da livre interpretação bíblica, expandiram-se por todo o      continente.
Uma delas, o anglicanismo, foi criada pelo rei inglês      Henrique VIII. Durante o governo desse monarca (1509-1547), a burguesia      exercia enorme pressão para que o aumento do poder do Parlamento fosse      autorizado pelo monarca.
Com isso, os burgueses buscavam fortalecer sua      presença na sociedade, o que apenas um Parlamento (formado por burgueses e      senhores simpáticos a eles) forte poderia garantir. Caso conseguisse seu      intento, a burguesia passaria a ter poder para legislar sobre as      atividades comerciais e financeiras, diminuindo o poder da Igreja e do      próprio rei.
Henrique VIII, para não ceder às pressões,      necessitava angariar mais fundos para o Estado. Assim, confiscou bens da      Igreja. Essa decisão enfureceu o papa, que ficou ainda mais abestalhado      quando Henrique solicitou a anulação de seu casamento com a espanhola      Catarina de Aragão.
Com o divórcio, o monarca pretendia impedir que a      Inglaterra viesse a cair em mãos espanholas após sua morte, já que não      possuía herdeiros masculinos com a princesa. A população britânica também      apavorava-se com a idéia de um possível jugo espanhol sobre si e apoiou      totalmente seu rei na questão com o papa.
Este último, contudo, emburrado com o confisco de      riquezas, negou o pedido. Por seu lado, Henrique rompeu com o Vaticano e,      alegando fidelidade aos princípios da Reforma, iniciou uma na Igreja      inglesa.
Autocoroou-se chefe religioso e obrigou os líderes      clericais do país a reconhecê-lo como tal, jurando-lhe fidelidade. Com a      artimanha, conseguia não só calar o papa, como também livrava-se de      Catarina.
Mais: assegurou a continuidade da soberania inglesa      sobre seu próprio trono e, com a apropriação (agora legal, já que o rei      era também chefe religioso) das riquezas da Igreja, financiou a Coroa,      calando as pressões burguesas.
Em suma, porém, o anglicanismo não representou uma      Reforma teórica de fato (como o foi o calvinismo, por exemplo).
Foi, isso sim, uma autêntica manobra política, sagaz      e oportuna, que foi tão bem-sucedida que tornou-se uma religião de fato      (embora muitos de seus preceitos sejam idênticos aos católicos) _      principalmente após 1563, com a publicação da Lei dos Trinta e Nove      Artigos, onde se encontram todos os fundamentos da doutrina anglicana,      pela rainha Elizabeth I.
Reforma Calvinista
A Reforma de Lutero causou reviravoltas religiosas em      toda a Europa. O protestantismo alastrou-se rapidamente e ganhou inúmeras      novas interpretações em todo o continente.
Uma dessas novas interpretações foi perpetrada pelo      humanista João Calvino, francês que, logo que se converteu à religião      protestante, passou a estudar sistematicamente essa nova crença.
Do seu pensamento, surgiram tratados religiosos que      traziam uma nova visão da Reforma e logo uma nova doutrina foi formada, o      calvinismo.
Apesar da nacionalidade francesa de seu criador, o      calvinismo alcançou particular influência na Suíça, onde a burguesia local      lutava contra os desmandos do católico Duque de Savóia, adotando ideais      protestantes.
Calvino percebeu que se pregasse para uma população      propensa a aceitar suas idéias, como estavam os suíços, o sucesso seria      inevitável, o que, de fato, aconteceu.
Segundo o calvinismo, o homem nasce predestinado, não      detém o menor controle sobre o seu destino. Ao contrário do que afirmava      Lutero (que pregava que o homem poderia ser salvo pela fé), a doutrina de      Calvino afirmava que Deus já escolhera os indivíduos que seriam salvos e      os que seriam condenados, e suas ações no campo terreno de nada adiantavam      para reverter sua situação.
No que se refere às questões éticas e morais, o      calvinismo era conservador e tinha como particularidade a rigidez de      costumes que impunha aos fiéis. Na Suíça, por exemplo, após a queda do      Duque de Savóia, implementou-se o governo da Igreja Calvinista do país.
Resultado: foi adotado um severo órgão de vigilância,      responsável por fiscalizar a existência de atividades amorais e de punir      aqueles que as praticassem.
Proibiu-se a dança e os jogos, os altares foram      retirados dos templos e a liturgia foi extremamente simplificada, de modo      que se tornasse inteligível não só para os intelectuais clericais.
Talvez aí esteja o maior motivo para explicar o      fascínio que o calvinismo, tão opressor, causou na Europa, encontrando      muitos adeptos na Europa, em especial na Suíca, França, Holanda, Escócia e      Inglaterra.
Fonte: urs.bira.nom.br
Reforma Protestante
A história da Reforma Protestante e a Contra-Reforma Católica
Introdução
A Igreja foi uma poderosa instituição medieval. Mas      entre os séculos XI e XIII, ela passou por diversas crises e mudanças,      surgindo daí inúmeros movimentos que criticavam seus valores e posturas:
As heresias, que contestavam certos dogmas da Igreja      Católica e por isso foram duramente perseguidas;
As ordens mendicantes, correntes internas que      questionavam a preocupação da Igreja com as questões materiais;
As reações da própria Igreja para combater esses      movimentos, principalmente a reforma gregoriana (do papa Gregório VII, na      primeira metade do século XI) e a instituição da Santa Inquisição, no      século XIII.[1}
A partir do século XV as críticas à Igreja Católica      retornaram, ganhando muitas forças no século XVI. Os conflitos e as      diferenças dentro da Igreja tornaram-se tão séria neste século, que      acabaram gerando uma cisão na cristandade por meio da Reforma Protestante.
Alguns fatores gerais
No século XV, com as profundas transformações que      ocorriam na Europa (a expansão marítima, o renascimento urbano e comercial      e o humanismo/Renascimento), os movimentos que questionavam o excessivo      comprometimento da Igreja Católica com os problemas mundanos e materiais      ganharam mais espaço e força para se desenvolverem.
Dois fatos      colaboraram muito para agravar ainda mais a situação da Igreja ao longo      dos séculos XV e XVI:
A crescente onda de corrupção com a venda de      indulgência, relíquias religiosas e cargos eclesiásticos importantes, bem      como a concubinagem do clero.
E, ao mesmo tempo que o papa (autoridade máxima da      Igreja) perdia poder para monarquias nacionais, enfraquecendo-se, cometia      abusos políticos, envolvendo-se em acordos e golpes políticos com o      objetivo de universalizar sua influência na Europa católica.
A Igreja tornava-se cada vez mais vulnerável tanto no      aspecto moral quando no religioso. As insatisfações generalizavam-se por      toda a Europa.
A burguesia estava insatisfeita porque seus      interesses chocavam-se com as posturas da Igrejas, como, por exemplo, a      condenação da usura (lucro proveniente de juros exagerados) e da cobiça      (desejo de possuir bens materiais e poder). Os Estados nacionais (ou o      rei) queriam limitar os poderes temporais da Igreja nas suas fronteiras. O      fiel de origem humilde via a Igreja defendo a exploração feudal e não      encontrava nela o apoio espiritual de que tanto precisava naquela época de      crise.
No aspecto teórico, o Renascimento foi muito      importante, uma vez que, de acordo com sua postura antropocêntrica      valorizava o homem e sua individualidade e ainda o espírito critico do      intelectual e cientista. Isto contribuiu muito para uma aproximação entre      fé e razão e para a revisão de atitudes religiosas, como a idéia de que a      interlocução com Deus poderia ser individual, sem a mediação do clero; ou      ainda que a interpretação da Bíblia deveria ser livre e pessoal.
Gradativamente, forma sendo criadas na Europa      condições para o surgimento de religiões mais adaptadas ao espírito      capitalista.
Nesse quadro de insatisfações surgiram os primeiros      reformistas [também chamados de pré-reformadores]: o inglês John Wycliffe,      professor da Universidade de Oxford, já defendia (entre o final do século      XIV e o início do XVI) a livre interpretação da Bíblia, o fim dos impostos      clericais e questionava a existência da hierarquia eclesiástica.
O tcheco John Huss, professor da Universidade de      Praga, foi um seguidor das idéias de John Wycliffe. Ele defendia, nessa      mesma época, a utilização das línguas nacionais nos cultos religiosos, em      vez do latim; chegou até a traduzir a Bíblia para seu idioma, o que era um      sacrilégio. Foi condenado pela Igreja em 1417 e morto na fogueira.
Essas primeiras iniciativas não tiveram muita      repercussão, ficando restrita às igrejas de seus países, o que não ocorreu      com os reformadores seguintes.
A Reforma Protestante na Alemanha
No século XVI a Alemanha não existia como a      conhecemos hoje; ela fazia parte de um império mais extenso, o Sacro      Império Romano-Germânico. O Império estava divido em diversas regiões      independentes, os principados. Logo, o poder estava descentralizado nas      mãos dos príncipes (a centralização do Estado alemão só viria a ocorrer no      século XIX), que comandavam todas as ações na sua região.
O Sacro Império e a Igreja Católica disputavam o      poder na região, produzindo alguns conflitos. Grande proprietária de      terras, a Igreja alemã continuava vinculada ao mundo feudal, explorando os      camponeses e impedindo o desenvolvimento do comércio e, conseqüentemente,      da burguesia. Além disso, em razão da sua grande força nas questões      temporais, a corrupção e a decadência moral da Igreja assumiam grandes      proporções na Alemanha. A sociedade, de maneira geral, a via de forma      muito negativa.
Por isso, em outro de 1517, o monge agostiniano      (portanto, membro da Igreja Católica) e professor universitário Martinho      Lutero (1483 – 1546) afixou na porta da catedral de Wittenberg 95 teses e      que denunciava e protestava contra a venda de indulgências.
O papa, na época Leão X, exigiu sua retratação, o que      não ocorreu, prolongando o conflito por cerca de três anos. Finalmente, em      1520, Lutero foi excomungado pelo papa. Para demonstrar sua insatisfação,      ele queimou em público a bula papal que o condenava. Em virtude de sua      radicalidade, Lutero foi proscrito do Império. No entanto, o príncipe      Frederico da Saxônia o acolheu em seu castelo.Protegido no castelo,      Martinho Lutero traduziu a Bíblia do latim para o alemão (o que era      proibido na Época [pela Igreja Católica]).
A difusão da Reforma e as lutas religiosas
As idéias da Reforma Luterana espalharam-se pelo      Sacro império Romano-Germânico e provocaram diversos conflitos sociais,      políticos e religiosos.
Alguns nobres, por exemplo, apropriaram-se de terras      da Igreja, pela conversão ao luteranismo. De outro lado, de forma      violenta, vários nobres decadentes atacaram, em 1522 e 1523, principados      católicos (a Revolta dos Cavaleiros) par se apoderarem de suas riquezas. Houve      reação dos católicos, que impediram e esmagaram a revolta.
Esses conflitos armados motivaram a organização de      camponeses e trabalhadores urbanos envolvidos na Revolta dos Cavaleiros.      Liberados pelo sacerdote luterano Thomas Munzer, esse movimento foi profundamente      influenciado pelo anabatismo.
O anabatismo era um corrente reformista mais radical;      rejeitava qualquer sacerdócio, já que Deus se comunicava diretamente com      os eleitos, combatia a riqueza, a miséria e a propriedade privada e      pregava a igualdade social. Por causa desses princípios, o anabatismo era      muito divulgado entre a população mais pobre e deu um tom revolucionário      às revoltas.
Temendo p desenvolvimento das revoltas populares,      nobres e burgueses, católicos e luteranos (com a concordância de Lutero)      uniram-se pra combater o inimigo comum. Em 1525 um grande exército marchou      contra os revoltosos, eliminando cerca de cem mil pessoas e decapitando o      líder Thomas Munzer.
Após o fim das revoltas populares, as nobrezas      católicas e luterana voltaram a se enfrentar, lutando por terras e poder.      O imperador Carlos V, fiel à Igreja, procurou pôr fim às agitações      convocando, em 1530, a Dieta de Augsburgo (uma espécie de assembléia de      nobres) para discutir os conflitos. Ele tentava conciliar as posições de reformistas      e católicos. Mas os luteranos, através de Melachton, discípulo de Lutero,      reafirmaram suas posições na Confissão de Augsburgo , e as lutas      reiniciaram.
A nobreza luterana organizou uma Liga militar (Liga      de Esmalcalda), para combater os exércitos imperiais. As lutas      estenderam-se até 1555, quando foi assinada, pelo novo imperador Fernando      I, a paz em Augsburgo. Este tratado de paz reconheceu a divisão religiosa      da Alemanha e determinou que o povo da cada principado deveria seguir a      religião de seu príncipe.
Com o fortalecimento de luteranismo na Alemanha, ele      começou a influenciar os paises escandinavos (Suécia, Dinamarca e      Noruega). Todos os reis dessa região se converteram à Reforma Protestante,      determinando o fim da influencia católica nesses paises.
A Reforma Protestante na Europa
O Calvinismo
Na França, antes da forte influência luterana, alguns      humanistas haviam tentado realizar uma reforma religiosa mais pacífica,      mas não alcançaram nenhum sucesso. O catolicismo na França era bastante      forte e tinha o apoio da monarquia.
As idéias de Lutero continuavam se espalhando pela      Europa. Na França, um estudioso das artes liberais e de Direito chamado      João Calvino (1509 – 1564) aderiu à reforma pregada por Lutero. O      reformismo Luterano ganhou certa radicalidade nas concepções da Calvino: 
O homem, um pecador, só podia ser salvar pela fé (Ef      2.1, 8). [Depravação total - Todos os homens nascem totalmente depravados,      incapazes de se salvar ou de escolher o bem em questões espirituais.]
Deus é transcendente (superior, acima do mundo real)      e incompreensível; Ele só revelou aquilo que quis revelar através das      Escrituras. [Soberania de Deus - Spurgeon (1834-1892) enfatiza      corretamente: “Deus é independente de tudo e de todos. Ele age de acordo      com Sua própria vontade. Quando Ele diz: ‘eu farei’, o que quer que diga      será feito. Deus é soberano, e Sua vontade, não a vontade do homem, será      feita”. Deus se apresenta nas escrituras como todo-poderoso (onipotente),      com capacidade para fazer todas as coisas conforme sua vontade (SI 115:3;      135:6; Is 46:10; Dn 4:35; Ef 1:11) [a]] 
A predestinação divina absoluta já destinava o futuro      do homem à salvação ou à condenação. [A doutrina da Predestinação - Deus      escolheu dentre todos os seres humanos decaídos um grande número de pecadores      por graça pura, sem levar em conta qualquer mérito.
Perseguido, Calvino refugiou-se na cidade suíça de      Genebra, 1536 [b]. A Suíça era um país onde as idéias reformistas      luteranas já tinham alguma força devido à pregação de Úlrico Zwinglio      (1484-1531). 
Apoiado pela burguesia local. Calvino desenvolveu      suas idéias e deu um novo vigor militante ao reformismo. Ele pregava a      valorização do trabalho (veja artigo de Hermisten M. P. Costa sobre A      Reforma e o Trabalho); não condenava o empréstimo de dinheiros a juros,      como a Igreja Católica fazia.
Por isso, Calvino acumulou força política e assumiu o      governo da cidade. Governando como [autoridade], sua administração impôs      rígidos costumes morais: proibindo o jogo de cartas, a dança e o teatro. 
Como suas idéias iam diretamente ao encontro das      necessidades burguesas de acúmulo de capital (veja artigo Calvinismo e      Capitalismo: Qual é Mesmo a Sua Relação? [d]) e de valorização do      trabalho, o calvinismo se espalhou rapidamente pela Europa. Na Escócia foi      organizada a Igreja Presbiteriana (leia sobre John Knox e também John      Knox: O Reformador da Escócia ); no norte dos Paises Baixos (Holanda),      originou-se o movimento dos puritanos, que se difundiu para a Inglaterra e      para a França. (na França os Calvinistas eram chamados de huguenotes, na      Inglaterra de puritanos). [O presbiterianismo (igreja Calvinistas) foi      levado da Escócia para a Inglaterra; de lá, para os Estados Unidos da      América. Em 1726 teve início um grande despertamento espiritual nos      Estados Unidos. Este despertamento levou os presbiterianos a se      interessarem por missões estrangeiras. Missionários foram enviados para      vários países, inclusive o Brasil. No dia 12 de agosto de 1859 chegou ao      nosso país o primeiro missionário presbiteriano: Ashbel Green Simonton.      Este foi fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil www.ipb.org.br.] Leia      a História do Presbiterianismo e sua confissão de Fé - Westminster.
O anglicanismo
A Reforma na Inglaterra tomou um caráter bem      original. 
A igreja católica, ao mesmo tempo que era muito rica      em terras, dependia da proteção do Estado. Henrique VIII, rei da      Inglaterra, condenou, a principio, o ideário luterano e perseguiu seus      seguidores, sendo condenando pela igreja como “Defensor da Fé”.
Por outro lado, o rei pretendia assumir as terras e      as riquezas da igreja católica e, ao mesmo tempo, enfraquecer sua      influência.
A justificativa para concretizar o cisma foi a recusa      do papa em dissolver o casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão,      que não podia lhe dar um filho herdeiro (o que criaria problemas políticos      de hereditariedade do Reino). O rei não recuou diante da recusa da Igreja      e casou-se novamente com Ana Bolena, sendo excomungado. Henrique VIII      repetiria o ato, de acordo com seus interesses políticos, casando-se seis vezes.
O rompimento oficial deu-se em 1534, quando o      Parlamento inglês aprovou o Ato de Supremacia, que colocava a Igreja sob a      autoridade do rei. As propriedades da Igreja Católica passaram às mãos do      rei e da nobreza. Todos os dogmas da Igreja Católica forma mantidos,      exceto a autoridade papal, que devia se submeter à do rei. Nasci, assim, a      Igreja Anglicana, gerando insatisfação entre católicos e protestantes.      Portanto, as razões da separação entre o Estado e a Igreja não eram      religiosos, mas políticos e econômicas.
Após a morte de Henrique VIII, assumiu o trono seu      filho Eduardo VI, assumiu o trono seu filho Eduardo VI, que morreu logo em      seguida, ainda criança. Ele foi sucedido por Maria Tudor, filha da      Catarina de Aragão; católica, perseguiu os protestantes durante todo seu      reinado (1547 – 1558), gerando inúmeros conflitos político-religiosos.
Nesse clima tenso assumiu o trono Elizabeth I, filha      de Henrique VIII com Ana Bolena. Nesse período (1558-1603), a Inglaterra      alcançou a paz religiosa, e o anglicanismo ganhou uma face mais definida,      misturando elementos do ritual católico com os princípios da fé      calvinista.
Trinta e nove artigos da Igreja da Inglaterra (1563)
Em 1552, o arcebispo de Cantebury, Thomas Cranmer,      elaborou com outros clérigos Quarenta e Dois Artigos da Religião; após      minuciosa revisão, foram publicados em 1553 sob a autoridade do rei da      Inglaterra, Eduardo VI. Mais tarde, esses Artigos foram revistos e      reduzidos a 39 pelo arcebispo de Cantebury, Matthew Parker (1504-1575), e      outros bispos. Esse trabalho de revisão e redução foi ratificado pelas      duas Casas de Convocação, sendo os Trinta e nove artigos publicados por      autoridade do rei em 1563. Em 1571, tornou-se obrigatória a subscrição      desses Artigos por todos os ministros ingleses. Os Trinta e nove artigos e      o Livro de oração comum (1549) são os símbolos de fé da Igreja da      Inglaterra e, com algumas alterações, das demais igrejas da Comunhão      Anglicana. Leia a Confissão de Fé da Igreja da Inglaterra.
A Contra-Reforma Católica
A Reforma Protestante implicou mudanças sócias e      políticas em toda a Europa. Com a crise da Igreja Católica romana, a      maioria das populações do centro e do norte da Europa convertia-se ao      protestantismo, principalmente porque ele se ajustava melhor ao universo      do capitalismo em evolução[e]. Isso causou imediatamente sérios problemas      políticos, levando ao conflito violento os adeptos das duas religiões e ao      confronto os Estados católicos e protestantes.
A Igreja católica romana cada vez mais perdia espaços      no quadro geopolítico europeu, além de sofrer pesadas perdas de fiéis.      Procurando impedir o avanço da Reforma Protestante, ela realizou sua      própria reforma nos padrões mais tradicionais do catolicismo, também      conhecida como a Contra-Reforma.
A Igreja católica tentaria combater o protestantismo      e restaurar a hegemonia do catolicismo por meio de doutrina e força. Para      alcançar tal objetivo a Igreja precisou tomar algumas atitudes:
A reativação da Inquisição, ou Tribunal do Santo      Ofício. A Inquisição foi criada no século XIII para julgar e punir os      hereges. Ela reassumiu esse papel, no século XVI, e obteve muita força nas      monarquias católicas de Portugal e Espanha, que usaram a Inquisição para      perseguir principalmente os judeus; estes transferiram-se em grande número      para os Paises Baixos ou se converteram (os cristãos novos).
A criação da Companhia de Jesus, em 1534, por Inácio      de Loyola, com o objetivo de divulgar o catolicismo, principalmente por      meio da educação. Organizados em moldes quase militantes, os jesuítas      foram muito importantes para a defesa do catolicismo e sua propagação na      América e na África. Nesses dois continentes recém-colonizados eles      conseguiram um grande espaço para o catolicismo pela educação e      catequização dos indígenas (é o caso de lembrar aqui dois destacados      jesuítas na catequização dos índios brasileiros, José de Anchieta e Manoel      da Nóbrega).
No campo doutrinário, o papa Paulo III organizou o      Concílio de Trento (1545 – 1563) para definir quais as novas posturas      católicas. De forma geral, todos os dogmas e sacramentos condenados pelos      protestantes foram reafirmados nesse Concílio.
Foi criado o Índice de Livros Proibidos (Index      Librorum Prohibitorum), em 1564. Tratava-se de uma lista de livros      proibidos elaborada pelo Tribunal do Santo Ofício. Toda obra impressa      deveria passar pela análise do Tribunal, que o “recomendava” ou não aos      católicos. Na realidade a Igreja estava censurando obras artísticas,      cientificas, Filosóficas e teologias. Um cientista que teve suas obras      reprovadas foi Galileu Galilei.
Foi reafirmada a infalibilidade do papa, defendendo      sua autoridade sobre todos os católicos.
As obras e sacramentos foram mantidos com      fundamentais para a salvação da alma.
Foram criados seminários para formação intelectual e      religioso dos padres.
Foi proibida a venda de indulgência e relíquias      eclesiásticas.
Foi mantido o celibato clerical (proibição do      casamento de padres e freiras).
Como se vê, a Contra-Reforma mantinha-se dentro da      tradição. Tal postura acabou produzindo intolerância religiosa de ambos os      lados, acirrando os conflitos entre católicos e protestantes por toda a      Europa.
Nota: 
[1] colar aqui parte do cap 14, und 3 
Nota do editor      do site:
[a] Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, Fundamentos      da Teologia Reformada, Editora Mundo Cristão.
[b] Em 1536 João Calvino escreve a obra prima da      Reforma protestante chamado Institutio christianae religionis (Instituição      da Religião Cristã) onde ele faz uma suma da fé reformada calvinista. Leia      esta obra na seção Institutas.
[c] Hermisten Maia Pereira da Costa, Coleção      Pensadores cristãos - Calvino de A a Z, Editora Vida,
[d] Leia também o seguinte artigo A “Ética      Protestante e o Espírito do Capitalismo” de Franklin Ferreira
[e] Contrário à descrição do autor, neste todos se      tornavam reformados por esta razão, mas muitos se converterão por obra do      Espírito Santo. Por primeiramente a Reforma era espiritual. O retorno as      Escrituras. Leia excelente estudo: As doutrinas dos cinco solas da      Reforma: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo      Gloria
Autor: José Geraldo Vinci de Moraes
Fonte: Caminhos das Civilizações – Da Pré-História      aos dias atuais / José Geraldo Vinci de Moraes. – São Paulo : Atual, 1993.      pg. 173-180.
Adaptado por Nilson Mascolli Filho com textos entre      chaves e tabela acrescentados e links..
Fonte: www.teuministerio.com.br
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|          Por: Juberto Santos  |        ||||
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Foi      o movimento que rompeu a unidade do Cristianismo centrado pela Igreja de      Roma. Esse movimento é parte das grandes transformações econômicas,      sociais, culturais e políticas ocorridas na Europa nos séculos XV e XVI,      que enfraqueceram a Igreja permitindo o surgimento de novas doutrinas      religiosas – Protestantes. A Igreja estava em crise, a burguesia crescia      em importância, o nacionalismo desenvolvia-se nos Estados modernos e o      Renascimento Cultural despertava a liberdade de Crítica.  O aumento      populacional somado às transformações que vêm junto com esse aumento      acarreta em um baque entre a Igreja e essas transformações. Os      intelectuais das cidades pensam hipóteses, passam a ter idéias, problemas que      antes não existiam.  O termo “Igreja Católica” é posterior ao      Concílio de Trento, uma forma de diferenciação perante os      protestantes.  Antes só existia a Cristandade.
A esse movimento de divisão no cristianismo e      surgimento das novas doutrinas dá-se o nome de REFORMA e à reação da      Igreja, realizando modificações internas e externas, de CONTRA-REFORMA.      Contudo, esse movimento foi precedido por várias manifestações nos séculos      anteriores, mas nenhuma delas conseguiu o rompimento definitivo com a      Igreja Romana. Dentre elas, vemos:
-      Heresias Medievais (Arianismo, Valdenses, Albigenses);
- Querela de Investiduras (disputas entre os papas e os imperadores da Alemanha a partir de 1074, pelo direito de nomear bispos e abades. Só se resolve no século XII);
- Cisma do Ocidente – (Ocorrido em 1378, em que a Igreja passa a ser governada por TRÊS papas – ela se unifica em 1417);
- Movimentos Reformadores – John Wiclif (1320? -1384) e Jonh Huss (1369-1415;.
- Querela de Investiduras (disputas entre os papas e os imperadores da Alemanha a partir de 1074, pelo direito de nomear bispos e abades. Só se resolve no século XII);
- Cisma do Ocidente – (Ocorrido em 1378, em que a Igreja passa a ser governada por TRÊS papas – ela se unifica em 1417);
- Movimentos Reformadores – John Wiclif (1320? -1384) e Jonh Huss (1369-1415;.
Os primeiros questionamentos são referentes à questão      das Indulgências (documentos assinados pelo papa, que absolviam o      comprador de alguns pecados cometidos,  diminuindo o tempo de sua      pena no purgatório, era um comércio em vista da salvação); a Simonia      {comercialização de coisas sagradas (Cargos eclesiásticos, cobrança por      sacramentos, objetos...)}; o celibato, culto às imagens, excesso de      sacramentos, atitude mundana do Alto Clero, dentre outras. Havia um abismo      muito grande entre o que a Igreja pregava e o que fazia.
A      REFORMA LUTERANA
A região da atual Alemanha não está centralizada, é agrária e feudal. A Igreja possui um terço das terras. Há descontentamento geral. Vendo tantos abusos por parte do Clero, o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) não se calou. Elaborou 95 teses e afixou-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 1517. A maioria era contra as indulgências. Principalmente as indulgências visando à construção da Basílica de São Pedro. Apoiado pela nobreza alemã, Lutero pôde divulgar suas idéias, calcada em dois princípios que se constituiriam no núcleo de sua doutrina: A Salvação somente pela fé e não pelas práticas religiosas e a Inutilidade dos Mediadores (Clero).
A região da atual Alemanha não está centralizada, é agrária e feudal. A Igreja possui um terço das terras. Há descontentamento geral. Vendo tantos abusos por parte do Clero, o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) não se calou. Elaborou 95 teses e afixou-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 1517. A maioria era contra as indulgências. Principalmente as indulgências visando à construção da Basílica de São Pedro. Apoiado pela nobreza alemã, Lutero pôde divulgar suas idéias, calcada em dois princípios que se constituiriam no núcleo de sua doutrina: A Salvação somente pela fé e não pelas práticas religiosas e a Inutilidade dos Mediadores (Clero).
Em Junho de 1518 foi aberto o processo contra Lutero,      com base na publicação das suas 95 Teses. Alegava-se que este incorria em      heresia, a ser examinado pelo processo. Nas aulas que dava na Universidade      de Wittenberg, espiões registram os comentários negativos de Lutero sobre      a excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo é alterado para      heresia notória. Lutero é convidado para ir a Roma, onde desmentiria sua      doutrina. Lutero recusa-se a fazê-lo, alegando razões de saúde e pretende      uma audiência em território alemão. O seu pedido foi aceito, ele foi      convidado para uma audiência com o cardeal Caetano de Vio (Tomás Caetano),      durante a reunião das cortes (Reichstag) imperiais de Augsburg. Entre 12 e      14 de Outubro de 1518, Lutero fala a Caetano. Este pede-lhe que revogue a      sua doutrina. Lutero recusa-se a fazê-lo.
Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa      da morte de Imperador Maximiliano I (Janeiro de 1519), houve uma pausa de      dois anos. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de junho de      1519), o processo de Lutero voltará a ser reatado. Em junho de 1520      reaparece a ameaça no escrito "Exsurge Domini", em Janeiro de      1521 a bula "Decet Romanum Pontificem". Com ela foi excomungado      Lutero.
Ele queima publicamente a carta do papa (Bula papal),      traduz a Bíblia para o Alemão e fica abrigado na Saxônia. Em abril de      1523, Lutero ajudou 12 freiras a escapar do cativeiro do convento de      Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, com quem      se casou em 13 de junho de 1525. Dessa união saíram seis filhos: Johannes,      Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Em 1546, no dia 18 de      fevereiro, aos 62 anos, Martinho Lutero faleceu.
à      Eis suas reivindicações e críticas principais:
Substituição      do Latim pelo idioma alemão nos cultos religiosos; Questiona a grande      quantidade de sacramentos (Preserva dois sacramentos: batismo e      eucaristia); Livre interpretação da Bíblia; Contra o Celibato; Rejeita a      Hierarquia Religiosa da Igreja de Roma; pregava a Salvação pela fé; Negava      a Transubstanciação – afirmava a Consubstanciação (misturados); Pecado      Original: Marca do gênero Humano (nem Cristo, nem o Batismo o retiram);
O Luteranismo expandiu-se basicamente no Sacro      Império Romano-Germânico e nos países escandinavos (Suécia, Noruega e      Dinamarca), regiões essencialmente rurais, pouco desenvolvidas em termos      comerciais. Através de suas idéias, eles desapropriam as terras da Igreja.
A      REFORMA CALVINISTA
João      Calvino (1509-1564)      era francês, que inicia sua ruptura em Genebra, Suíça, por volta de 1536.      Lá começa a publicar estudos sistemáticos sobre a nova religião. Funda uma      nova doutrina que expande a Reforma. A burguesia dessa cidade havia      adotado os princípios da reforma para lutar contra seu governante, o      católico Duque de Savóia, o que favoreceu a atuação do reformador. Ele      divergia de Lutero em alguns pontos, principalmente na questão da      Salvação. Diferente de Lutero (salvação pela fé), ele defendia a idéia de      que  a fé não era suficiente, uma vez que o homem já nasce      predestinado, ou seja, escolhido por Deus para a vida eterna ou para a sua      condenação. Calvino tornou-se todo-poderoso, conseguindo impor sua doutrina,      interferir nos costumes, nas crenças e na própria organização      político-administrativa da cidade. O Calvinismo propagou-se rapidamente      atingindo a França, a Holanda, a Inglaterra e a Escócia. 
à      Eis algumas de suas teorias e questionamentos:
- A riqueza material era um sinal da graça divina      sobre o indivíduo. Essa teoria é assimilada pela burguesia local, que      justificava não só seu comércio, como também as atividades financeiras e o      lucro a elas associado. Ele justifica as atividades econômicas até então      condenadas pela Igreja romana.
- Grande rigidez na moral
- Questiona a Liturgia da Missa (simplifica com o Sermão, a oração e a leitura da Bíblia).
- Questiona o uso das Imagens (houve quebra-quebra nas paróquias locais)
- Acaba com os jogos, dança ida ao teatro...
- “O homem que não quer trabalhar, não merece comer.” afirma.
- Livre Interpretação da Bíblia;
- Nega o culto aos santos e a Virgem;
- Questiona a autoridade do Papa;
- Defende a separação entre a Igreja e o Estado;
- Questiona o Celibato do clero;
- Questiona a Transubstanciação (propõe uma presença material, o Cristo está presente, mas não materialmente).
- Ele cria um conselho para reger a vida religiosa em Genebra de “12 anciãos”. Eles julgavam, ditavam regras. Consistório de Genebra.
- A doutrina afirma que não há certeza da salvação;
- Grande rigidez na moral
- Questiona a Liturgia da Missa (simplifica com o Sermão, a oração e a leitura da Bíblia).
- Questiona o uso das Imagens (houve quebra-quebra nas paróquias locais)
- Acaba com os jogos, dança ida ao teatro...
- “O homem que não quer trabalhar, não merece comer.” afirma.
- Livre Interpretação da Bíblia;
- Nega o culto aos santos e a Virgem;
- Questiona a autoridade do Papa;
- Defende a separação entre a Igreja e o Estado;
- Questiona o Celibato do clero;
- Questiona a Transubstanciação (propõe uma presença material, o Cristo está presente, mas não materialmente).
- Ele cria um conselho para reger a vida religiosa em Genebra de “12 anciãos”. Eles julgavam, ditavam regras. Consistório de Genebra.
- A doutrina afirma que não há certeza da salvação;
A      REFORMA ANGLICANA
Os ingleses, durante a época dos Tudor, também      criticavam os abusos da Igreja Romana, a ineficiência dos tribunais      eclesiásticos e o favoritismo na distribuição de cargos públicos para membros      do Clero, além de queixar-se do pagamento e do envio de dízimos para Roma.      Durante o governo de Henrique      VIII (1509-1547),      a burguesia fazia pressão para o aumento do poder do parlamento. O rei,      necessitando aumentar as riquezas do Estado, confisca as terras da Igreja,      o que gera desentendimentos com o Papa. Isso se agrava quando o monarca      solicita a anulação do casamento com Catarina de Aragão. Ele não tinha      sucessores masculinos, temia que seu trono caísse em mãos espanholas. Toda      a nação, com medo deste fato, apóia esse pedido. O Papa Clemente VII nega      o pedido. O Rei rompe com o papado e faz uma reforma na Igreja Inglesa.      Obriga seus membros a reconhecê-lo como chefe supremo e a jurar-lhe      fidelidade e obediência. Obtém do clero inglês o divórcio e se casa com      uma dama da corte, Ana Bolena. O Papa tenta intimidá-lo excomungando-o,      mas não adianta. 
Em 1534, Henrique VIII decreta o Ato de Supremacia,      que consolida a separação entre a Inglaterra e o papa. Torna-se o chefe da      Igreja de seu país. A Reforma anglicana, na prática, apresenta poucas      modificações com a Igreja romana: Questiona o Culto aos santos; A      autoridade máxima é o Rei e não o papa; Questiona o culto às relíquias;      Prega a popularização da leitura da Bíblia. A Reforma anglicana resolveu,      na prática, dois problemas para a monarquia: a questão da herança do trono      e com a venda das terras da Igreja para a burguesia e nobreza, dá um      suporte financeiro para a Coroa. O Anglicanismo se consolida no reinado de      Elizabeth I, filha de Henrique VIII, que renova seu direito de soberania      real sobre a Igreja, além de fixar os fundamentos da doutrina e do culto      anglicano na Lei dos 39 Artigos, em 1563.                         
OBSERVAÇÃO      - O Calvinismo também criou raízes na Inglaterra. Seus adeptos, os      puritanos, iriam entrar em choque com os anglicanos, gerando inúmeros      conflitos no século XVII, que levaram às imigrações maciças para a região      da Nova Inglaterra, na América do Norte.
THOMAS      MÜNTZER (1489 - 1525)
Liderou uma revolta em 1524 com camponeses da região      do Reno. Além de atacar a Igreja pela cobrança de dízimos, passam a      reivindicar a reforma agrária e a abolição dos privilégios feudais. Ele      afirmava ser Luterano. O movimento se espalhou por várias regiões alemãs      com assaltos a castelos, queima dos mosteiros e roubo de colheitas. A      essas manifestações, seguiu-se uma repressão violenta, apoiada por Lutero      em prol da Nobreza alemã. Müntzer foi preso e decapitado e houve o      massacre de milhares de camponeses. Ele foi um dos grandes pregadores do      ANABATISMO (os convertidos são batizados na idade adulta, mesmo já sendo      batizados quando criança). 
Tinham a necessidade de rebatizar os indivíduos, de      separar a Igreja e o Estado, de abolir as imagens e o culto dos santos,      queria uma igualdade absoluta entre os homens, viver com simplicidade,      pois todos eram inspirados pelo Espírito Santo. Uma das principais      questões de sua formulação teológica é a igualdade. Através do sacrifício      de Cristo na cruz todos os homens se tornaram iguais perante Deus e livres      do “jugo do pecado”. Com base nisso, Müntzer coloca no mesmo patamar tanto      os senhores como os servos e é criticado por Lutero, uma vez que estaria      reduzindo a liberdade a algo meramente carnal. Esse traço do pensamento de      Müntzer (associado ao lema "omnia sunt communia") foi      interpretado por alguns como uma formulação pré-socialista. No entanto, o      que está em questão é algo muito diferente do socialismo do século XIX e à      preocupação em se viver, em todos os sentidos, segundo a natureza humana      do Filho de Deus. 
Com a decapitação do teólogo Thomas Müntzer, a 27 de      maio de 1525, terminou a Guerra dos Camponeses, responsável pela morte de      pelo menos cinco mil pessoas na região da Alemanha. Seus adeptos foram      fortemente reprimidos seja nos Estados Católicos, Luteranos ou Calvinistas.      
A CONTRA-REFORMA
"A situação da igreja católica, em meados do      século XVI, era bastante difícil: ela perdera metade da Alemanha, toda a      Inglaterra e os países escandinavos; estava em recuo na França, nos Países      Baixos, na Áustria, na Boêmia e na Hungria. A Contra-Reforma, ou Reforma      católica, foi uma barreira colocada pela Igreja contra a crescente onda do      protestantismo.”
O avanço do Protestantismo, não só neste momento, levou a Igreja Romana a se reorganizar. Foi um movimento de reação ao protestantismo. A Igreja precisava se auto-reformar ou não sobreviveria, pois precisava, ainda, evitar que outras regiões virassem protestantes. Esse movimento de reforma interna já existia, mas é nesse momento que ele é aprofundado. Entre 1545 e 1563, foi convocado o CONCÍLIO DE TRENTO, pelo papa Paulo III (1534-1549) onde houve reafirmações e mudanças. O Concílio de Trento foi o mais longo da história da Igreja: é chamado Concílio da Contra-Reforma. Emitiu numerosos decretos disciplinares. O concílio especificou claramente as doutrinas católicas quanto à salvação, os sacramentos e o cânone bíblico, em oposição aos protestantes e estandardizou a missa através da igreja católica, abolindo largamente as variações locais. A nova missa estandardizada tornou-se conhecida como a "Missa Tridentina", com base no nome da cidade de Trento, onde o concílio teve lugar. Regula também as obrigações dos bispos e confirma a presença de Cristo na Eucaristia. São criados seminários como centros de formação sacerdotal e reconhece-se a superioridade do papa sobre a assembléia conciliar. É instituído o índice de livros proibidos Index Librorum Prohibitorum e reorganizada a Inquisição.
Eleito Papa em 13 de Outubro de 1534, procurou      reformar a Igreja. Paulo III provou a criação da Companhia de Jesus de      Inácio de Loyola em 1540. Convocou o Concílio de Trento em 1545.      Excomungou Henrique VIII de Inglaterra, mas não conseguiu travar a Reforma      Protestante. Concedeu a Inquisição em Portugal a D. João III. Lançou as      bases da Contra-Reforma. Após a morte de Paulo III, assume o pontificado o      papa Júlio      III (1550-1555). 
Em 1536 foi nomeado cardeal-bispo de Palestrina pelo Papa Paulo III,      a quem serviu em importantes legações; ele foi o primeiro a presidir ao      Concílio de Trento, abrindo a primeira sessão em Trento, em 13 de Dezembro      de 1545, com uma breve oração. Durante o concílio, foi o líder do partido      papal contra o imperador Carlos V, com quem entrou em conflito por      variadas vezes, especialmente quando, em 26 de Março de 1547, transferiu o      Concílio para Bolonha. Foi sucedido pelo papa Marcelo II (9 de abril de      1555 - 1 de maio de 1555), que faleceu provavelmente por      causa de sua constituição débil e pela fadiga acumulada ao fim de 21 dias      de pontificado. Essa nova eleição papal atrasou as reformas. Foi eleito      para seu lugar o papa Paulo      IV (1555-1559). Foi nomeado cardeal em 1536 e após o      curtíssimo pontificado de Marcelo II, foi eleito papa em 23 de maio de      1555, apesar da decidida oposição dos cardeais do partido ligado ao imperador      Carlos V. Mesmo com idade avançada, o papa, que assumiu o nome de Paulo      IV, dedicou seus anos de governo, sobretudo à organização da Inquisição      romana, fundada por Paulo III graças à sua sugestão, e à reconstrução      administrativa e moral das altas hierarquias católicas. 
Foi Papa de 25 de Dezembro de 1559, o papa Pio IV      (1559-1565), sendo o 225º  papa. Contaminado pelo nepotismo, mudou a      política anti-imperial do Papa anterior, Paulo IV e conseguiu concluir o      concílio de Trento (1562-1563) cujos decretos começaram a ser aplicados      nos últimos dois anos de seu pontificado. Publicou um novo Índice de      Livros Proibidos em 1564 e reformou o Sacro Colégio. A pedido do      imperador, permitiu a Eucaristia sob as duas espécies a alemães,      austríacos e húngaros em 1564 para frear o avanço do protestantismo.      Fracassou porem esse seu intento no leste da Alemanha, França e      Inglaterra, embora se abstivesse de excomungar a Rainha Elizabeth I.      Condenou a Simonia.
O      Concílio acabou sendo dividido em três períodos:
1º      Período (1545-48) — Celebraram-se 10 sessões,      promulgando-se os decretos sobre a Sagrada Escritura e tradição, o pecado      original, a justificação e os sacramentos em geral e vários decretos de      reforma; 
2º      Período (1551-52) — Celebraram-se 6 sessões, continuando a      promulgar-se, simultaneamente, decretos de reforma e doutrinais ainda      sobre sacramentos em geral, a eucaristia, a penitência, e a extrema-unção.      A guerra entre Carlos V e os príncipes protestantes constituiu um perigo      para os padres de Trento; 
3º      Período (1562-63) — Convocado pelo Papa Pio IV, foi      presidido pelos legados cardeais Ercole Gonzaga, Seripando, Osio,      Simonetta e Sittico. Estiveram ainda no concílio os cardeais Cristoforo      Madruzzo, bispo de Trento e Carlos Guise. O Papa enviou os núncios Commendone      e Delfino aos príncipes protestantes do império reunidos em Naumburgo, e      Martinengo à Inglaterra para convidar os protestantes a virem ao concílio.      Neste período realizaram-se 9 sessões, em que se promulgaram importantes      decretos doutrinais, mas sobretudo decretos eficazes para a reforma da      Igreja. Assinaram as suas actas 217 padres oriundos de 15 nações.
Os Papas da Contra-Reforma
Papa Paulo III Papa Júlio II Papa Marcelo II Papa Paulo IV Papa Pio IV
Eis      as mais importantes resoluções vistas no Concílio de Trento:
- Esclarece a Doutrina;
- Conserva os sete Sacramentos e confirma os Dogmas;
- Afirma a presença real de Cristo na Eucaristia, a Transubstanciação;
- Inicia a redação de um Catecismo;
- Criação de Seminários para a formação de sacerdotes;
- Reafirma o Celibato, a veneração aos Santos e a Virgem;
- Aprova os Estatutos da Companhia de Jesus, criada antes do Concílio por Inácio de Loyola;
- Mantém o Latim como língua do Culto e tradução oficial das Sagradas Escrituras;
- Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos;
- Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da Transubstanciação;
- Confirma como texto autêntico, a tradução de São Jerônimo, no século IV;
- Fortalece a Hierarquia e, portanto a unidade da Igreja Católica, ao afirmar a supremacia do Papa como “Pastor Universal de toda a Igreja”
- Revê a prática das Indulgências, condenando os abusos.
- Revê a Simonia
- Reorganizou o tribunal da Inquisição ou Santo Ofício, que fica encarregado de combater a Reforma;
- Criação do “Índex” (índice), encarregada da censura de obras impressas, lista de livros cuja leitura era proibida aos fiéis;
- Conserva os sete Sacramentos e confirma os Dogmas;
- Afirma a presença real de Cristo na Eucaristia, a Transubstanciação;
- Inicia a redação de um Catecismo;
- Criação de Seminários para a formação de sacerdotes;
- Reafirma o Celibato, a veneração aos Santos e a Virgem;
- Aprova os Estatutos da Companhia de Jesus, criada antes do Concílio por Inácio de Loyola;
- Mantém o Latim como língua do Culto e tradução oficial das Sagradas Escrituras;
- Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos;
- Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da Transubstanciação;
- Confirma como texto autêntico, a tradução de São Jerônimo, no século IV;
- Fortalece a Hierarquia e, portanto a unidade da Igreja Católica, ao afirmar a supremacia do Papa como “Pastor Universal de toda a Igreja”
- Revê a prática das Indulgências, condenando os abusos.
- Revê a Simonia
- Reorganizou o tribunal da Inquisição ou Santo Ofício, que fica encarregado de combater a Reforma;
- Criação do “Índex” (índice), encarregada da censura de obras impressas, lista de livros cuja leitura era proibida aos fiéis;
A T E N Ç Ã O
Essas      deliberações vistas em Trento foi uma resposta às acusações de Lutero e      demais protestantes. Muitos pontos foram reafirmados utilizando apenas a      Bíblia para tal. Muitos se perguntam como eles refletiram sobre essas      questões e como preparam a sua posição perante tais fatos.
Eis      dois exemplos de como os bispos responderam a essas duas acusações:
--      Questionando a Transubstanciação: Essa questão diz      respeito à presença real de Jesus na Eucaristia, na Hóstia e no Vinho      sendo transformados em Corpo e Sangue de Jesus. Bem, o que os      bispos assinalaram é o que está escrito nos Evangelhos, principalmente nos      fatos ocorridos na última ceia, onde se lê: “Isto é o meu corpo (...). Isto é      o meu sangue (...) fazei sempre isso em minha memória” (Mt 26,      26-28) E o que foi analisado é exatamente o sentido desses trechos, onde      foi dito que o pão deixa de ser pão, da mesma forma que o vinho deixa de      ser vinho. Há a transformação da substância. Assim, eles rebatem as      definições de Lutero, que achava que ali havia pão e corpo misturados,      vinho e sangue misturados (Consubstanciação); e também refutam a visão de      Calvino, o qual afirmava que não muda as formas, e que em nossos corações      saberíamos que era sangue e corpo.
--      Questionando os 7 Sacramentos: Essa questão diz respeito      às críticas de Lutero e demais reformadores assinalando o Excesso de      Sacramentos. Lutero assinala que apenas dois seriam necessários (Batismo e      Ceia). Bem, o Concílio respondeu também utilizando as Escrituras, focando      que os sete sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo. Foi visto que      durante a vida e obra de Jesus, ele foi assinalando cada um deles. Batismo: O      próprio Jesus foi Batizado por João Batismo; Eucaristia:      Jesus, na última ceia, a institui junto com seus discípulos. Confissão:      Jesus assinala que a quem os discípulos perdoarem os pecados eles serão      perdoados e a quem eles não perdoarem, eles serão retidos; Matrimônio:      Jesus nasceu dentro de uma família, vivenciou e cresceu com seus pais e no      episódio ocorrido nas Bodas de Caná da Galiléia, onde vemos a presença      dele prestigiando a festa de casamento e vemos Jesus atendendo ao pedido      de sua mãe para ajudar na questão do vinho. Ordem: Jesus      foi o maior de todos os sacerdotes e ele escolheu doze pessoas para      segui-lo, para aprenderem com ele seus ensinamentos e, após sua morte,      continuaram essa missão; Crisma:      É o  Sacramento do Espírito Santo. Ele foi instituído no dia de      Pentecostes, onde Jesus aparece em meio aos seus discípulos e “sopra sobre      eles o Espírito Santo”; Unção      dos Enfermos: Jesus curou muitas pessoas, tanto      fisicamente quanto espiritualmente. E tais atos foram passados aos seus      discípulos, os quais passaram a curar os doentes e a evangelizar aos      pecadores.
Os      séculos se passam...
As orientações do Concílio de Trento guiaram os      católicos de todo o mundo durante 400 anos. Houve o Concílio Vaticano I      (08/12/1869 - 20/10/1870), convocado pelo Papa PIO IX (1846-1878), mas      que foi interrompido devido à Guerra Franco-Alemã que havia iniciado. As      maiores mudanças começariam a acontecer apenas em 1962, quando o papa João XXIII      convocou o Concílio      Vaticano II (11/10/1962 a 07/12/1965), para redefinir as      posições da Igreja e adequá-la às necessidades e desafios do mundo      contemporâneo.
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