segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

5.3 O Movimento Anti-Artístico




Depois do auge ocorrido no século XVIII, com o Renascimento, a arte sofreu um longo processo de decadência, iniciada no século XIX, buscando a desmistificação da arte com o cientificismo, o que a tornou num instrumento mecânico de expressão. Esse período tornou-se a antítese do anterior com idéias colaterais e extremistas. Esse período se caracterizou com o Movimento Anti-Artístico. Teve o reflexo das idéias comunistas, socialistas, nazistas e mecanicistas promovidas também pelo capitalismo e a industrialização. A desconstrução desse movimento só ocorreu no século XX com movimentos de quebra das impressões e da mecanicidade promovido por diversos artistas e iniciados por Salvador Dali (1931).
É bem verdade que o homem acaba sendo extremista, e nos períodos em que sucederam o Renascimento, o homem aderiu ao movimento anti-artístico e mecanicista, onde se baseava apenas nas leis científicas, principalmente na probabilidade. Só acreditava no que podia ver e comprovar cientificamente, o que presenciamos até os dias de hoje. Porém a força da linguagem visual possui uma característica surpreendente e é capaz de sobreviver ao tempo e aos conceitos e conservar sua mensagem expressa pela sua grandiosidade e beleza que impressionam nosso sentido através dos séculos, de geração em geração.
No movimento anti-artístico foram perdidas diversas obras de arte riquíssimas de conteúdo, com representação deste movimento principalmente no período Nazista, onde os ideais Marxistas e Leninistas tentavam reprimir o lado humano das pessoas tentando transformá-las em máquinas programadas através de sua “lavagem cerebral”. Tentavam inserir seu regime ditatorial de forma a inibir qualquer forma de expressão espiritual. Espiritual não apenas no caráter religioso, mas no que compete a complexidade psicológica do ser humano que busca o seu autoconhecimento através de suas criações, principalmente suas criações artísticas e culturais.
Como tudo o que o homem cria vem de si mesmo, consecutivamente torna-se um descobrimento próprio, como uma imagem de um espelho tridimensional que reflete o interior, o lado que muitos cientistas ainda buscam, mas que não se encontrou uma compreensão exata. Extrair a arte de um homem é como sujeitá-lo a um mero animal submetido aos caprichos da natureza que o torna parte de seu mecanismo orgânico.
A sede de conhecimento do Homem é a causadora tanto de seu progresso como de sua ruína, o que se verifica ao longo de toda a história da humanidade, e principalmente nos dias atuais, onde o homem quer conquistar o espaço sem possuir o conhecimento nem de sua própria psicologia, ou dos mecanismos desconhecidos que o movem e que o torna um ser dualista (BUENO, 2008).
A história nos mostra que o homem estabelece em si uma ânsia que carece do equilíbrio e da ordem o que acaba o levando a autodestruição. É através da arte que ele é capaz de encontrar este ponto de equilíbrio que expressa em suas diversas formas de linguagem, principalmente na linguagem visual. Esta é a relação intrínseca existente entre a arte e a linguagem que as escolas acabam amputando e tornando o estudo uma coisa restrita e mecânica. Mesmo que na atualidade se tenha buscado diversos métodos e meios para evitar a falência das escolas, os resultados são muito pouco significativos. Isso qualquer professor pode comprovar na prática, sendo que muitos de seus colegas fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem, formando assim alunos cada vez mais alienados (FASCIONI, 2001).
Mesmo com tanta tecnologia, ainda é inevitável a falência do sistema de ensino, isso se reflete em toda a sociedade, pois o professor deveria “educar para a vida”, mas o que se vê é um agravamento dos problemas sociais verificados hoje independentemente de classes sociais.
Isso se caracteriza pela perda dos valores essenciais do ser humano que se desintegram a cada nova geração pelos novos preceitos consumistas e capitalistas baseados em suma no individualismo egoísta e egocêntrico onde o que mais vale são as coisas supérfluas e superficiais que recebem mais valor do que a vida do próprio ser humano. Enquanto milhões de pessoas morrem todos os anos de fome, acidentes, desgraças naturais ou diversas outras mazelas da atualidade como vícios, doenças ou violência, as novas e as antigas gerações se preocupam com sua beleza física, com sua imagem na sociedade, com luxo e aquisição de bens.
São muito raros os que ainda conservam a integridade dos valores que existiam na antiguidade, mesmo em torno de grandes atrocidades. Pessoas que se preocupam com o próximo, que trabalham para um mundo melhor, e não apenas por dinheiro. É muito comum se dizer que o mundo está perdido, mas somos nós que acabamos nos perdendo no mundo, por não possuir uma base em que nos apoiar.
As diversas formas de linguagem podem expressar diversas coisas que não são essencialmente construtivas ou que não contribuem para o progresso real do ser humano, que é para o que se destinam. Somente unindo a arte à linguagem é possível se estabelecer um equilíbrio construtivo para a integridade e a evolução do ser humano. Muitos artistas se basearam na arte, mas não compreenderam os conceitos em que ela se baseia. A are se baseia principalmente no conceito de beleza. Este conceito não se caracteriza em uma superficialidade vazia de conteúdo um numa forma apreciativa e individualista e sim de conceitos universais e irrefutáveis, que se baseiam principalmente nos valores de virtude do ser humano.
Através da arte podemos verificar que o horrendo pode se esconder por tráz da beleza e vice-versa, isso se torna uma questão de ponto de vista e ângulo de visão, dependendo do nível em que se observa. Como exemplo, podemos citar a pornografia e o nu artístico comparativamente. Ambos podem constituir a mesma composição, porém fundamentos diferentes. Uma mulher despida pode significar pornografia para pessoas que observam de um ponto de vista e ângulo unilateral, mas para a arte pode significar a perfeição presente na criatura humana. Desta mesma forma uma cena de sexo pode tanto representar o poder maravilhoso da criação, da reprodução da espécie, como também a expressão luxuriosa da fornicação repulsiva e animalesca, dependendo apenas do ponto de vista e da doutrina do sujeito que cria ou que observa. Algumas culturas e doutrinas tratam o sexo como uma forma de transcendência do ser humano para o grau divino mais elevado, outras o repudiam e o consideram a perdição do ser humano que o levam ao nível mais baixo de existência. Tudo isso é expresso através da arte com sua própria linguagem visual conforme o nível de linguagem e apetrechos do autor e interpretados e assimilados pelo público de formas diversas (JOYCE, 2006).
O maior erro do movimento anti-artístico foi tentar inibir o desenvolvimento das faculdades, das capacidades mentais e emocionais latentes no ser humano, que já estão em estado de atrofia. Foi um movimento anti-humano de tentativa de extração das maiores características humanas, como o discernimento, a ponderação e os diversos efeitos que a arte visual provoca através de sua linguagem. Principalmente o reconhecimento, a peripércia, a catarse e diversos outros que ocasiona, dessa forma se utiliza de características como a mimeses, a verossimilhança, o mito, etc.

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