3.3 Comunicação Através das Artes Plásticas
Diversos fatores influenciam direta ou indiretamente na aquisição, desenvolvimento e compreensão da linguagem visual, especificamente através das artes plásticas. Para compreendermos melhor estes fatores precisamos nos basear no conceito de Saussure (1916 apud FIORIN, 2002) o qual diz que a aquisição de qualquer tipo de linguagem inicia-se com a forma visual para formular uma associação de imagens para criar um conceito. Sua teoria é idêntica a de Chklovski, o que reforça ainda mais esta afirmação. Porém, a própria sociedade e seus fatores étnicos, culturais, políticos, religiosos e econômicos influenciam de diversas formas nesta associação e produção de conceitos, por meio das interpretações das imagens.
Realizando uma análise comparativa da linguagem verbal, não-verbal e visual através da linguística textual e dos gêneros textuais (BENTES, 2003, MARCUSCHI, 2000) podemos obter um aprofundamento maior da comunicação visual e das influências da cultura oriental sobre a ocidental, das quais diversas formas de expressão adquirem significados muito diferentes de suas origens. A linguagem visual é uma área da linguística que ainda é muito pouco explorada e que possui estudos ainda incompletos e com poucas definições, sem um aprofundamento real e plausível. Possivelmente por conta disto, há ainda uma grande dificuldade de se identificar o significado real de tantas obras ainda estudadas e muito discutidas até os dias atuais, sem se haver chegado a nenhuma conclusão objetiva.
Segundo Walter (1997) os signos e símbolos linguísticos usados nas civilizações modernas são, em sua maioria, adaptações de imagens da cultura indo-européia, que se acredita ser a raiz das demais civilizações existentes. É uma teoria que podemos verificar comparando-a com a nossa cultura, principalmente, que possui uma grande miscigenação e influência inter-cultural. Daí conclui-se que a linguagem em si é uma representação visual, mesmo na escrita e na fala, que remete ao campo mental de impressões e associações de imagens. Assim como na origem das letras escritas, que eram desenhos que representavam palavras ou até mesmo frases inteiras com um único desenho e os textos eram compostos de combinações destes desenhos. Assim também ocorre com o nosso alfabeto de origem romana, que é nada mais que adaptações destes desenhos através da história.
Atualmente, nos filmes exibidos em cinema, a linguagem visual toma uma força muito maior com uma evolução que perpassou os séculos. É uma forma de unir diversos gêneros de arte e de linguagem em uma só composição. O espectador sente-se presenciando os fatos que são exibidos na tela como se fizesse uma viagem virtual no tempo e no espaço com efeitos de imagens cada vez mais realistas e até mesmo ultra-realista, na ânsia de tornar real o que parece impossível. O que acaba acontecendo devido a inspiração e o impacto que causa.
Diversos recursos são utilizados na linguagem visual. Dentre eles podemos destacar além das imagens com formas dimensões, cores, texturas, tons sobre tons, relevos e perspectivas, a linguagem corporal e gestual, inúmeras expressões faciais e composições de cenários, paisagens, animais, plantas e objetos que produzem uma mensagem direta que outros tipos de linguagem produzem com certa deficiência ou mesmo com desfigurações.
Numa determinada obra de Arte Plástica, podemos verificar gêneros textuais distintos ou a miscigenação destes, seja na sua estrutura, composição ou no conjunto de técnicas utilizadas, como o alto-relevo e a mistura de materiais diversos, por exemplo. Toda a composição da obra de arte é minuciosamente analisada e estudada antes mesmo da elaboração e no decorrer desta, fazendo-se até mesmo cálculos matemá
Em sua estrutura podemos distinguir diversos tópicos frasais nos conceitos expressos visualmente, processados mentalmente, na interpretação, através da análise, da síntese, da classificação e descrição da obra. Também, é claro, com a paráfrase de outras obras e estruturas, fatos ou imagens reais presentes na composição. É lógico que isso pode ocorrer automaticamente, sem que se perceba ou use os termos técnicos, através da simples apreciação ou mais profundamente em um estudo minucioso, dependendo dos níveis de representação da linguagem.
Neste contexto, o sujeito do discurso é o tema principal da imagem, situado em um dos três planos do ângulo e do campo de visão. Qualquer imagem representada é fruto de uma pratica sócio-histórico-comunicativa, de acordo com a teoria do discurso de Marcusch (1983), com conceitos teóricos próprios e metodológicos presentes na realidade cultural do indivíduo ou da coletividade. Assim sendo, também estão presentes nas artes plásticas a polifonia do sujeito e a heterogeneidade do discurso, uma vez que é indispensável fazer uma associação de imagens e conceitos com fatos históricos, cotidianos ou até mesmo o registro de simples experiências práticas ou pessoais.
É um dialogismo visual empregado de forma clara e precisa. Qualquer trabalho realizado é a resposta, ampliação, representação ou criação de algo novo ou diferente. As formas estilísticas das artes plásticas correspondem perfeitamente com a literatura. Comparando o estilo presente na obra de Leonardo Da Vinci, o de Jofra ou Miguel Ângelo com Rafael ou algum outro, grandes representantes das artes e da linguagem visual, é claramente perceptível o uso de composições técnicas e artifícios distintos de cada um, assim como ocorre na linguagem escrita. Há uma comunicação, não obstante, direta ou indireta entre os diversos trabalhos artísticos, perceptíveis por qualquer leigo no assunto, uma vez que é uma forma de linguagem acessível a qualquer tipo de público e uma forma intercultural. Esta, assim como a música, pode ser considerada uma forma de linguagem universal, cuja mensagem chega diretamente ao receptor, quase sem embargos.
Com este prisma comparatista se encontrarão características surpreendentes sequenciadas em diversas fases históricas que dizem respeito ao Modernismo, Romantismo, Realismo e, num estudo mais profundo, que não é o caso deste, até mesmo períodos pré-históricos e primitivos ou períodos anteriores à própria literatura oficial.
Como o auge das Artes Plásticas foi o período renascentista foram herdadas e difundidas mundialmente através delas diversas características filosóficas, psicológicas, emotivas e até mesmo místicas, sem as quais há uma análise incompleta das características linguísticas presentes em qualquer obra de arte. Fazem parte da formação ideológica do povo e das transformações do caráter humano. Suas formas concretas, ou surreais, promovem grande influência com as imagens na psique humana, com efeitos, consequências e intervenções que são ainda desconhecidos pela maioria das pessoas que acabam rechaçando aquilo que não conhecem.
Diante de todo o já exposto, torna-se redundante fazer um aprofundamento, nesta ocasião, sobre a interdisciplinaridade desta área com todas as dimensões que lhe permitem analisar. Portanto, não é demais concluir este capítulo com a idéia de que existe muito mais em uma simples imagem, ou em uma simples obra de Arte Plástica, do que os nossos olhos podem enxergar superficialmente.
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